Capítulo 51: Um Barco para a Vida
O sol poente lançava sua luz sobre um pequeno caminho que subia pela montanha. Os raios dourados pareciam um delicado véu de seda estendido sobre os degraus de pedra, conferindo a tudo uma aura sagrada. Caminhar por ali era como andar sobre a luz do sol, em direção à glória. De ambos os lados do caminho, cresciam plantas frondosas e floridas. A brisa da montanha trazia consigo o aroma das flores e da terra, que se misturava ao ar úmido do mar e preenchia o coração e a mente de quem passava. Havia também muitas árvores, e o som melodioso dos pássaros cantando entre os galhos parecia uma música composta especialmente para quem segue por ali — inclusive para o grupo atual.
Eram cinco pessoas, incluindo o cultivador de rosto redondo à frente, que caminhava com as mãos cruzadas nas costas enquanto apresentava a seita a Xu Qing e aos outros.
“Já que todos vocês agora fazem parte dos Sete Olhos de Sangue, permitam-me explicar um pouco sobre a seita. Na verdade, sob meu ponto de vista, os Sete Olhos de Sangue nem são uma seita de verdade. Ela apenas se chama assim. No fundo, é um negócio… muito lucrativo!”
Os quatro novos discípulos se surpreenderam com aquelas palavras.
Além de Xu Qing, o grupo era formado por Zhou Qingpeng, Li Zimei e uma jovem chamada Xu Xiaohui. Usava o cabelo preso em um rabo de cavalo e vestia roupas simples. Não parecia ser de uma família rica, mas também não era uma saqueadora. Provavelmente vinha de alguma cidade pequena.
Ela tentou puxar conversa com Xu Qing, mas esse tipo de interação não era o forte dele — e, além disso, não gostava de pessoas se aproximando demais —, então apenas assentiu educadamente. Com o tempo, Xu Xiaohui voltou sua atenção para Zhou Qingpeng.
Zhou Qingpeng tinha um sorriso afável e caloroso, o oposto do comportamento reservado de Xu Qing. Por isso, ele e Xu Xiaohui logo se deram bem, conversando baixinho durante o percurso.
Li Zimei parecia contida e cautelosa, talvez até um pouco insegura, então seguia na retaguarda, mantendo certa distância dos demais.
Zhou Qingpeng fez questão de incluir tanto Xu Qing quanto Li Zimei nas conversas, mostrando-se bastante amigável. Como resultado, Li Zimei logo começou a se sentir mais à vontade.
A brisa da montanha balançava os cabelos de todos enquanto caminhavam, e o cultivador de rosto redondo continuava com sua explicação.
“Os Sete Olhos de Sangue são divididos em duas partes: chamamos de Pico Superior e Pico Inferior. São dois mundos completamente distintos. Vocês quatro são… discípulos do Pico Inferior. Apenas cultivadores que atingiram o Estabelecimento da Fundação têm o direito de viver no Pico Superior — e, com isso, também recebem uma parte dos lucros gerados pelos Sete Olhos de Sangue.
“Já os discípulos Pico Inferior vivem em um mundo cruel e amargo, onde precisam lutar para sobreviver. Por isso, todos almejam ser promovidos ao Pico Superior. Sabem quantas pessoas vivem na capital no Pico Inferior?”
O cultivador olhou para os jovens atrás dele. Nenhum respondeu.
“Três milhões!” ele disse, levantando três dedos. “A maioria da população é composta por cidadãos comuns, mas também inclui discípulos de baixo escalão de diversos picos. Agora, isso inclui vocês.
“Como todos os outros, vocês precisam obedecer às regras dos Sete Olhos de Sangue. As regras são simples. Todos os habitantes da cidade do Pico Inferior — discípulos e cidadãos — devem pagar trinta pontos de mérito por dia para continuar vivendo lá. Trinta moedas espirituais também são aceitas. Esses valores serão deduzidos automaticamente do medalhão de identidade, como já devem ter notado. Se o saldo ficar negativo, vocês serão expulsos da seita. E isso vale para todos. Se alguém se recusar a sair, será morto pela formação de feitiço em até duas horas.”
Xu Qing ficou tão surpreso quanto os outros. Até Zhou Qingpeng demonstrou certa apreensão.
“Claro, esse é apenas o custo básico. Vocês precisarão cuidar da própria alimentação e hospedagem. É a sobrevivência do mais forte. E tudo na capital é caro — principalmente os recursos de cultivo.”
Xu Qing permaneceu em silêncio, enquanto os demais pareciam visivelmente abalados.
Após um tempo, Xu Xiaohui perguntou com hesitação:
“Se é assim, por que tantos cidadãos comuns querem viver aqui? Trinta moedas espirituais por dia dá… uma pedra espiritual por mês. Isso é caro demais. E se até discípulos têm que pagar esse valor, qual é exatamente a vantagem de ser discípulo?”
O cultivador olhou para ela.
“Não é barato se teletransportar para cá. Então, por padrão, quem chega é porque tem habilidade ou recursos. Eles vêm atrás do melhor. Na capital, garantimos segurança. Discípulos não podem sair por aí matando inocentes. Além disso… a formação de feitiço impede a contaminação por mutagênico e prolonga a vida.
“Comparado à vida fora da cidade — onde há mutagênico por toda parte, feras e foras da lei —, nossa capital é o sonho de muita gente.
“Quanto à vantagem de ser discípulo?
“Primeiro: apenas discípulos têm acesso a recursos de cultivo. Cidadãos comuns não podem comprá-los. E vendê-los fora da seita é proibido. Quem for pego será executado.
“Segundo: apenas os discípulos que cultivam as técnicas dos Sete Olhos de Sangue podem, ao alcançar o Estabelecimento da Fundação, viver no Pico Superior e receber uma parte dos lucros da seita. Vocês quatro terão que se esforçar para chegar lá. Ah, e embora a seita proíba formalmente os discípulos de se matarem, todos os meses… muitos simplesmente desaparecem. A verdade é que a seita fecha os olhos para isso. É como colocar insetos venenosos em um frasco e deixá-los brigar entre si. Mortes são esperadas.
“Se um cultivador de fora no Estabelecimento da Fundação atacar um discípulo nosso no Estágio de Condensação de Qi, ele será punido. Mas, se for apenas um Condensação de Qi de fora… os Sete Olhos de Sangue não se importam.”
O cultivador sorriu de forma significativa.
Ao ouvir isso, Xu Qing soltou um suspiro de alívio — essa era uma das razões pelas quais ele havia vindo para os Sete Olhos de Sangue.
Li Zimei, hesitante, fez mais uma pergunta:
“Dado tudo isso, como a seita cria um senso de pertencimento entre os discípulos? O que os une?”
O cultivador deu uma boa risada.
“O que os une? O que você quer dizer com isso? Amizade pode unir. Gratidão também. Até a reverência pode. Mas nenhuma dessas coisas é confiável. No mundo brutal e caótico em que vivemos, a única força que realmente une as pessoas… é o lucro.
“Apenas discípulos dos Sete Olhos de Sangue podem usar nossas técnicas para alcançar o Estabelecimento da Fundação e viver no Pico Superior. Quando conseguem, recebem uma parte dos lucros da seita.
“Aliás, o lucro mensal dos Sete Olhos de Sangue é público. Ele vem das taxas de residência, da venda de recursos de cultivo e do comércio no porto. A renda diária gira em torno de 500 milhões de moedas espirituais. Convertendo, dá 500 mil pedras espirituais. Multiplicando por um mês… são 15 milhões de pedras espirituais.
“O lucro é dividido com base no nível de cultivo. Parte vai para despesas da seita, mas o restante é distribuído entre os discípulos no Estabelecimento da Fundação e acima. Quanto maior o seu nível, maior a parte. Um discípulo no início do Estabelecimento da Fundação recebe cerca de cinco mil pedras espirituais por mês. Um no Núcleo Dourado, cerca de dez mil.
“É por isso que eu digo que os Sete Olhos de Sangue são como uma empresa. Os discípulos do Pico Superior são investidores. A cada dia que vivem, recebem lucro.
“Agora me diga: se você tivesse um negócio e alguém tentasse te roubar, você não revidaria?”
As palavras do cultivador fizeram os olhos de Xu Qing brilharem com um olhar profundo. Agora ele entendia como funcionava a estrutura dos Sete Olhos de Sangue.
E talvez fosse verdade que, em um mundo tão caótico, o único elo confiável… fosse, como o homem disse, o lucro.
Li Zimei não fez mais perguntas.
O cultivador de rosto redondo deu uma risada e continuou andando, repetindo as ideias principais: que viviam em um mundo caótico, e que o lucro era a única constante. Em determinado momento, apontou para a base da montanha.
“Deixem-me mostrar um pouco da prosperidade dos Sete Olhos de Sangue. Estão vendo aquilo? É o maior porto da Fênix do Sul. Todos os dias, navios chegam e partem. Inclui embarcações comerciais e os discípulos do Sétimo Pico saindo para missões no mar. Nosso pico controla o porto.
“Por isso, os navios são… extremamente importantes para o cultivo dos discípulos do Sétimo Pico. Nós os chamamos de Barcos Dharma.”
Seguindo o gesto do cultivador, Xu Qing olhou para o porto, agora banhado pela luz do entardecer. Ele era enorme, com docas em forma de ferradura, cada uma com comportas e faróis imponentes. Havia mais de uma centena, e todas eram vastas, capazes de abrigar muitos navios.
Mesmo à distância, notou que os portos tinham cores diferentes. Cerca de metade era branca, com enormes navios mercantes. A outra metade era violeta, com embarcações pequenas e numerosas.
“A parte branca é para forasteiros”, explicou o cultivador. “A violeta é onde vivem os discípulos do Sétimo Pico. Todos os navios ali são barcos dharma!
“Nossos barcos dharma são famosos em toda a Fênix do Sul. São como o coração e a alma do cultivo no Sétimo Pico.
“Seu barco dharma será, ao mesmo tempo, sua caverna de cultivo e sua montaria. Mais que isso, será seu parceiro de batalha e a chave para obter recursos. Você pode tratá-lo como… um tesouro mágico!”
Ao ouvir isso, os olhos de Li Zimei e Xu Xiaohui se arregalaram. Claramente, sabiam o que era um tesouro mágico. Zhou Qingpeng também olhou para os navios com brilho nos olhos.
Xu Qing teve a mesma reação. Ele sabia o quão raros e caros esses tesouros eram. Mas, ao ver tantos barcos na área violeta, começou a se perguntar se “raros” era mesmo o termo correto.
“Claro, eles não são realmente tesouros mágicos”, continuou o cultivador. “Mas os barcos dharma do Sétimo Pico podem ser aprimorados. À medida que sua base de cultivo cresce, você pode refiná-lo e, eventualmente, transformá-lo em um verdadeiro tesouro.
“De todo modo, todo novo discípulo deseja um barco dharma. Infelizmente, mesmo um novinho custa cem mil pontos de mérito, ou cem pedras espirituais.
“E mais: apenas discípulos com barco dharma podem viver e trabalhar no porto. Aqueles que não têm precisam juntar dinheiro para comprar um. Se não conseguirem em até três anos, terão a base de cultivo destruída e serão expulsos.
“Isso porque as técnicas do Sétimo Pico estão todas ligadas ao mar e exigem o barco para serem cultivadas. Os barcos têm formações de convergência espiritual que economizam esforço e potencializam os resultados. Ah, e as técnicas são gratuitas para discípulos.”
As palavras do cultivador acenderam em Xu Qing o forte desejo de possuir um barco dharma — e também lhe deram uma compreensão mais clara do Sétimo Pico.
A única maneira de atingir o Estabelecimento da Fundação aqui é se focando no barco dharma e no cultivo. Essa é a chave para a sobrevivência. Eu preciso de um barco dharma!
Naquele ponto da caminhada, o grupo já havia chegado à metade da montanha. Era ali que seus medalhões de identidade seriam totalmente ativados, e onde receberiam a técnica de cultivo e a túnica daoista. Havia apenas um modelo de túnica: cinza, o uniforme padrão de todos os discípulos do Pico Inferior, independentemente do pico.
Ativar o medalhão custava mil pontos de mérito. Depois disso, ele passaria a registrar todas as informações do discípulo — inclusive seus pontos de mérito — e também serviria como ferramenta de comunicação.
Quando Xu Qing recebeu a túnica, percebeu flutuações espirituais vindas dela. O tecido era macio e não amarrotava facilmente. Fora da seita, algo assim certamente custaria uma fortuna.
Li Zimei parecia tão impressionada quanto Xu Qing. Já Xu Xiaohui observava os outros, tentando imitar Zhou Qingpeng.
Zhou Qingpeng olhou para o cultivador e para os anciãos que distribuíam os itens, e disse baixinho: “Sênior, eu quero comprar um barco dharma.”
O cultivador sorriu. O encarregado pela entrega era um ancião magro, que olhou para Zhou Qingpeng e respondeu com frieza:
“Cem mil pontos de mérito. Ou cem pedras espirituais.”
Li Zimei e Xu Xiaohui prenderam a respiração. Para elas, esse valor era praticamente um sonho.
Zhou Qingpeng, por sua vez, deu um passo à frente e tirou, com as duas mãos, uma nota dourada, oferecendo-a com respeito.
“Uma nota espiritual do Segundo Pico? Serve.” O velho pegou a nota e entregou a Zhou Qingpeng uma caixa de brocado violeta. Em seguida, olhou para os outros três novos discípulos. “Mais alguém quer comprar alguma coisa?”
Li Zimei e Xu Xiaohui abaixaram o olhar. Xu Qing, por sua vez, hesitou por um momento, então tomou coragem, deu um passo à frente e retirou cem pedras espirituais da sua bolsa.
O velho não disse nada. Apenas pegou outra caixa de brocado, enquanto Li Zimei e Xu Xiaohui observavam com olhos cheios de inveja. Zhou Qingpeng lançou um rápido olhar de canto para Xu Qing.
Xu Qing pegou a caixa e a abriu. Dentro, havia dois itens: um jade e uma garrafinha translúcida.
A garrafa era curiosa. Cabia na palma da mão e continha um líquido que parecia ser água do mar. Flutuando sobre ela havia um pequeno barco com uma cobertura preta!
O barco era todo negro, de design simples. Ainda assim, todas as tábuas que o compunham estavam cobertas de símbolos mágicos. E, mesmo estando dentro da garrafa, emanava uma pressão extraordinária. Na verdade, tanto a garrafa quanto o pequeno barco pareciam valer muito mais do que cem pedras espirituais. Já o jade continha todas as informações sobre o barco.
“Muito bem”, disse o cultivador de rosto redondo. “Vocês podem descer o pico agora. Lembrem-se: nem as técnicas da seita nem os barcos dharma podem ser repassados para pessoas de fora. Se fizerem isso… as consequências serão severas.”
“Xu Xiaohui e Li Zimei, espero que vocês se esforcem e, no futuro, consigam juntar o suficiente para comprar um barco dharma. Zhou Qingpeng e Xu Qing, seus medalhões de identidade contêm todas as informações sobre suas atribuições atuais. Podem seguir sozinhos montanha abaixo.”
Os quatro novos discípulos inclinaram-se em respeito ao cultivador, depois se viraram para sair. No entanto, antes que Xu Qing pudesse dar um passo, o homem o chamou:
“Xu Qing.”
Enquanto os outros se afastavam, Xu Qing virou-se respeitosamente.
“Você é forte para alguém em estágio inicial”, continuou o cultivador. “Está claramente no sétimo nível do refinamento corporal, mas consegue liberar projeções de energia e sangue como alguém no grande círculo. É evidente que tem talento, e provavelmente está entre os melhores dos cultivadores de baixo nível. Não me surpreenderia se fosse capaz de matar cultivadores errantes no nono ou até no décimo nível.
“Mas o cultivo corporal é simples. Dá velocidade, força e poder de recuperação. Só que não é considerado um grande Dao.
“Para os cultivadores, o verdadeiro Dao é o cultivo da magia! Recomendo que, a partir de agora, você invista mais nisso. Seu poder espiritual e suas técnicas mágicas ainda são muito fracos. Contra cultivadores errantes, tudo bem. Mas, se enfrentar discípulos de grandes seitas, vai ter problemas.”
As palavras deixaram Xu Qing abalado.
“Além disso, não sei de onde você veio, mas aposto que viveu cercado de perigos. Por isso, desenvolveu certos hábitos instintivos.”
“Hábitos?” Xu Qing perguntou, sem entender.
“Considerando o quanto você se destacou na avaliação, vou te dar um conselho. Enquanto subia o pico agora há pouco, você movimentou a mão direita fracamente. E seus dedos indicador e médio estavam sempre prontos. Aposto que, dentro da sua bolsa, você esconde armas prontas para serem lançadas — talvez agulhas ou adagas voadoras.”
A expressão de Xu Qing ficou séria. Era a primeira vez que alguém o enxergava com tanta facilidade.
Sorrindo amplamente, o homem prosseguiu:
“Aconselho que não deixe esse hábito se tornar automático demais. Se fizer isso, as pessoas vão perceber, e você vai acabar se dando mal. Não entregue pistas. Oculte sua ferocidade por trás de uma aparência gentil — como uma agulha escondida na seda.”
O sorriso do homem não parecia conter ameaças. Apenas soava como um conselho sincero para um novo discípulo. Talvez ele até visse aquilo como um pequeno investimento para o futuro.
Mas suas palavras provocaram um calafrio em Xu Qing. Inspirando fundo,ele juntou as mãos e se curvou respeitosamente.
Enquanto descia a montanha, ficou refletindo sobre o que acabou de ouvir. Depois, olhou para a própria mão direita. Flexionou os dedos e tentou deixá-los mais relaxados. Foi preciso esforço, mas aos poucos o movimento foi se tornando mais natural. Ainda assim, para quem prestasse atenção, ficava claro que havia algo profundamente ameaçador escondido naquela aparente naturalidade.
E ele continuou praticando isso enquanto caminhava.
Bem longe dos Sete Olhos de Sangue, em um acampamento aleatório de saqueadores no meio do nada, o Mestre Sétimo estava agachado no telhado de uma casa, observando um jovem lutar contra um cão de rua. O rapaz tinha sangue de cachorro escorrendo pela boca e um olhar feroz no rosto.
Mestre Sétimo o encarava com aprovação. Ao seu lado, estava seu servo, que examinava um jade.
“Mestre Sétimo,” disse o servo em voz baixa, “o Garoto chegou aos Sete Olhos de Sangue.”
“O Garoto?” perguntou o Mestre Sétimo. “Quem?”
O servo sorriu com um misto de resignação. “Aquele que não queria sujar a roupa nova matando gente. O senhor intercedeu por ele com o Grão-mestre Bai, e ele começou a estudar o Dao das plantas. Mais tarde, eu mesmo entreguei a ele um medalhão de identidade branco.”
Mestre Sétimo assentiu. Ao lembrar de Xu Qing, seus olhos brilharam com aprovação. “Ah, lembro agora. Era aquele menino leal e atencioso.”
“Devo tomar alguma medida especial para vigiá-lo?” perguntou o servo.
Mestre Sétimo acenou com a mão, dispensando a ideia.
“Não há necessidade. Neste mundo caótico, quem quiser sobreviver precisa confiar na própria força. Se ele conseguir se virar sozinho, então, quando finalmente me procurar, darei a ele uma boa oportunidade.” Mestre Sétimo apontou para o jovem que lutava contra o cachorro. “Entre esse garoto aí embaixo e o Garoto… qual deles se parece mais com um filhote de lobo?”
O servo olhou para o rapaz em combate e sorriu com amargura. Já havia respondido a perguntas assim muitas vezes ao longo da viagem. Desde que encontraram o Garoto, já tinham descoberto mais nove crianças que despertaram o interesse do Mestre Sétimo.
“Estão no mesmo nível”, respondeu.
Mestre Sétimo olhou para ele e riu. “Ter recomendado aquele garoto ao Grão-mestre Bai, e ainda por cima dado um medalhão branco, foi um gesto de bondade. Mas isso não significa que eu o escolhi como meu aprendiz. Não devo nada a ele. Só lhe dei uma chance.
“De fato, ainda quero um quarto aprendiz. Mas lembre-se: para encontrar o terceiro, enviei mais de cinquenta medalhões brancos. Só um deles conseguiu. Você é novo comigo, ainda não se acostumou com meu jeito.
“Na verdade, tenho a sensação de que nem cem medalhões serão suficientes para achar meu próximo aprendiz.”
“Vai lá e entregue um medalhão branco para esse garoto aí embaixo. E, como sempre, sem muitas explicações.”
Dito isso, Mestre Sétimo se virou e partiu.

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