Percorrendo o caminho da direita, o menino tem os olhos voltados apenas para o final do corredor, onde a porta de entrada para o novo desafio está.

    RRRRRONC~

    Imediatamente com o barulho, a mão direita é levada ao abdômen e o torso se inclina para frente.

    “Que merda… Eu ainda não comi nada desde a ilha dos pilares. Aquela fruta parecia apetitosa apesar de perigosa…”

    Parando os passos, ele olha para trás. O caminho de volta não foi obstruído para o retorno.

    “Será que acho algo pra comer?”

    Ao pensar nisso, os olhos dele se abrem como um susto. Mas na verdade, foi apenas a união de um pensamento e uma lembrança de algo recente.

    Rapidamente, Raisel faz o retorno para o bosque.

    De frente para a paisagem da torre central, o som dos animais fazem com que um sorriso, no mínimo suspeito, se abra no semblante dele.

    A boca quase se tornou um “U”, os olhos brilharam de modo mortífero!

    “É HORA DE TIRAR A BARRIGA DA MISÉRIA!”

    Em uma investida, a perspectiva muda para os céus. A transição da tarde alaranjada passa a ser tomada por um azul cada vez mais escuro.

    Todavia, estalos de uma fogueira e o tom das chamas cintilam em meio a escuridão.

    Entre as paredes de concreto do castelo e as árvores do bosque, o rapaz está sentado com a mão direita no estômago saltado após tanto comer.

    Ao redor dele, gravetos e espetos mostram os resquícios de cada refeição… Pobres animais.

    Em um suspiro de alívio, ele começa a se levantar.

    “Ufa… Comi demais. Agora tô completamente recuperado!”

    Sem mais cortes de pétalas pelo corpo, sem rachaduras de sobrecarga, sem ardência nos circuitos, o protagonista respira fundo e volta a caminhar pelo corredor à direita totalmente revigorado.

    De frente para o cômodo da vez, ele observa o letreiro. Contudo, diferente das outras vezes, esse está danificado.

    “Zona… Zona do que?”

    De qualquer forma, a mão e o punho empurram a porta.

    Pelo lado de dentro, pela primeira vez, não há a presença de nenhuma energia.

    A sala possui tochas comuns, mas nada ali dentro parecia normal.

    É um lugar enorme e amplo, mas há diversos cubos grandes espalhados.

    Entrando com cautela, Raisel observa com mais atenção.

    Todos os cubos estão danificados, outros mais, outros menos. Exceto por um que está adiante, na reta dele.

    “É pra eu… cortar esse?”

    Conforme a espada de quatro estrelas é sacada, o menino se aproxima do cubo intacto.

    “Tá. Isso parece que vai ser fácil.”

    Impondo a postura para um corte vertical, o pé dianteiro firma a base com rigidez. Com o exaltar do brilho dourado sobre os olhos, a lâmina é banhada pela energia sólida como uma rocha, criando uma segunda camada afiada.

    O golpe acerta o alvo com plenitude. Porém, um tremor reverbera por todo o corpo do protagonista. A aura mantida na espada foi absorvida como ar para dentro da estrutura, restando apenas a arma contra a sólida superfície.

    “QUE DURO!”

    Com passos para trás enquanto sente a própria pancada, o cubo intacto começa a vibrar.

    Dessa vibração emitida pelo objeto, o ambiente começa a ressoar por inteiro.

    Após alguns segundos, esse som grave cessa.

    O resultado foi imediatamente sentido por Raisel que se ajoelhou forçadamente por um instante. O corpo dele trincou o solo abaixo 一 Evidenciando as suas pegadas.

    “O que é isso?! Meu corpo tá mais pesado…”

    Sem entender direito, ele respira fundo e vai se distanciando do cubo. À medida que se afasta, o peso do corpo volta ao normal.

    “É… Parece que não vai ser tão fácil assim.”

    Haha…

    Encarando essa situação, a espada é mantida em posse da mão direita.

    “Certo, certo. A única coisa que eu tenho certeza, é que o cubo sugou a minha energia. Mas o motivo do meu corpo ter ficado pesado pode ser por ter batido nele.”

    Observando a paisagem levemente distorcida pelo campo gravitacional, Raisel se prepara mentalmente para voltar para lá.

    “Vou bater nele sem energia pra ver o que acontece.”

    Dando os passos um após o outro, ele se aproxima do cubo estranho.

    Com um movimento de cintura, um corte horizontal poderoso atingiu a lateral do alvo. A durabilidade, novamente, fez com que o desafiante sentisse o baque por todo o corpo.

    Em passos para trás com os braços tremendo, ele se afasta outra vez.

    “Que negócio duro do cacete… Pelo menos, meu peso voltou ao normal.”

    “Então atacar com energia faz aquilo. Ei, eles não querem que eu corte isso sem usar Gewissen, né?”

    Preocupado, o rapaz encara o desafio com um olhar vazio.

    “É impossível… Provavelmente se eu atacasse com uma arma comum, ela já teria quebrado de tão duro que esse treco é.”

    Conferindo o fio da espada estrelada, ele dá um suspiro de alívio por ela ainda estar intacta.

    “Antes de continuar, é melhor eu verificar os outros cubos. Se realmente eu precisar cortar isso só na força…”

    Apreensivo, ele o contorna e caminha pelos arredores.

    Chegando até uma outra cena, ele percebe que há marcas de pegadas muito profundas sobre o chão. Nessa sequência de passos marcados, a superfície do alvo está cortada superficialmente.

    “São outras pessoas que precisaram passar por esse objetivo? Esse cara provavelmente deve ter atacado com energia…”

    Indo mais adiante, ele vê uma cratera sobre o chão.

    Aproximando dessa cena, o objeto está isento de qualquer dano. Por outro lado, o buraco mostra uma consequência pesada.

    “Deve ter batido com tanta energia pra passar logo, que o peso aumentou tanto que esmagou o corpo dele.”

    Engolindo seco, ele avança um pouco mais. Entretanto, antes de se aproximar totalmente, o garoto paralisa.

    Com os olhos arregalados e boquiaberto, a feição rapidamente se altera para um sorriso de canto apavorado.

    “Ei, quem fez isso foi realmente um humano?”

    A cena que ele avista é de um cubo quase completamente cortado ao meio pela diagonal. Nessa cena, o impacto do golpe deve ter sido tão forte ao ponto de continuar a se alastrar para frente.

    Nesse provável ataque que destruiu o alvo, a potência seguiu rasgando adiante de modo semelhante ao golpe de Kaelduryx.

    Um suspiro curto saiu dos lábios de Raisel. Uma piscada mais longa aceita o desafio complicado.

    Na volta até o seu próprio cubo, o rapaz avista mais cenas de longe.

    “A maioria deu pouco dano. Teve outros que foram esmagados. Mas o mais impressionante é que não foi apenas com espadas. Vi marcas de soco e perfurações…”

    De frente para o seu objetivo, ele empunha a arma com as duas mãos.

    “Contra algo duro assim, é melhor atacar perfurando. O problema é que ainda não sei se a arma vai aguentar caso eu continue tentando.”

    A concentração do espadachim se torna plena ao estreitar o foco apenas a um objetivo: conseguir danificar o cubo.

    Armando uma postura para a perfuração, o lado direito do corpo toma a frente. A espada é mantida na horizontal próximo ao torso, os punhos apertam com ainda mais firmeza o cabo.

    Em um avanço rápido utilizando Impetus, impôs a lâmina até o alvo visando perfurá-lo com o peso do corpo ao invés de ser um golpe totalmente carregado pelos braços.

    O baque emana uma brisa para os arredores, mas a arma sequer arranhou o objeto.

    Com passos para trás, Raisel prepara outra postura, mas dessa vez para um corte diagonal.

    Fixando os dedos dos pés e torcendo o quadril com o golpe decadente, o menino tenta replicar o fundamento ensinado pelo dragão.

    Contudo, a espada é bruscamente travada pelo rígido alvo. O impacto da colisão fez todos os ossos dele tremerem.

    Afastando-se de novo, outra postura é preparada.

    O garoto avança, a espada bate e o corpo todo estremece.

    A espada sobe, o cubo permanece intacto e os passos para trás são dados.

    A lâmina avança pela horizontal, mas o protagonista é repelido para trás

    Mais ataques são desferidos. O som dos metais colidindo ressoa pela sala silenciosa.

    Nem ao menos faíscas são tiradas do atrito.

    Conforme os respingos de suor caem pelo solo, cada vez mais o olhar de Raisel parece hesitar.

    Por mais diligente que fosse, as dúvidas de que isso realmente é o certo pairam pela mente como um sussurro.

    Com o calor, o peitoral de couro é retirado, a camisa social preta também cai ao lado. As botas de couro são deixadas, restando apenas o rapaz com a sua simples calça e a lâmina.

    Ofegante, ele para um pouco para respirar.

    “Já se passou quanto tempo? Uma hora? Duas?”

    “Não consegui nem arranhar com todas essas tentativas…”

    “Permanecer nisso só vai me deixar mais cansado. Devo tentar?”

    Um respirar profundo engole as suas preocupações momentaneamente. O brilho dourado nos olhos ganha notoriedade, mas não está concentrado somente na espada. O cintilar semelhante ao ouro cobre o corpo do rapaz como um véu.

    Indo em busca de passar dessa prova de uma vez por todas, os músculos da perna vibram o ar com o saltar.

    Na utilização do Impetus para o avanço fortalecido com Gewissen, os pés travam a postura com a lâmina para cima.

    Os dedos dos pés afundam o concreto minimamente e, com extrema força, a espada colide contra o cubo com o maior ataque até agora!

    O baque ressoa pela sala como um vácuo poderoso enquanto o som de algo se trincando surge, mas a luz dourada rapidamente é absorvida não só da espada, como do corpo do protagonista no seu fortalecimento!

    Com passos para trás, Raisel encara os braços. A feição distorcida pela dor mostra que o que foi trincado são os seus ossos.

    Contudo, o pior vem a seguir.

    A vibração grave acontece com uma frequência ainda maior.

    Como consequência, o menino é esmagado contra o chão ao ponto de bater o rosto e ter o peitoral colocado contra o concreto.

    “MERDA! NÃO CONSIGO ME MEXER! NÃO CONSIGO… CONCENTRAR ENERGIA NO MEU CORPO!”

    Movendo os braços para tentar se levantar, os palmos empurram o chão. As veias saltam por todo o corpo do jovem com o enorme esforço físico.

    Com a testa e o nariz sangrando pelo impacto, os dentes rangem com a mais clara imagem da força absurda que está colocando para se erguer.

    O chão abaixo, marcado pela silhueta do seu corpo, começa a ficar mais distante.

    O pé direito introduz o seu primeiro passo após a queda. Entretanto, ainda se encontra ajoelhado sobre a pressão estrondosa.

    “Quase lá! Quase lá!”

    Gradualmente, as pernas vão se esticando. A espada sob o palmo direito é empunhada de novo.

    O segundo passo veio com ele totalmente erguido.

    “Preciso bater no cubo pra parar!”

    O terceiro passo marca novamente o concreto abaixo.

    O sangue escorrendo pelo rosto pinga sobre as pegadas e o suor.

    Já próximo, a lâmina é levada para cima lentamente. A dificuldade em erguê-la é imensa.

    A postura concluída faz a espada cair contra a estrutura com certa força.

    Entretanto, o resultado é um aumento na gravidade!

    Com o aumento, o protagonista se ajoelha novamente. Em confusão, o peso do corpo já começa a fazer uma cratera contra o chão.

    “Por que… não parou?!”

    Um dos olhos fechados no semblante contorcido pela dor, encaram o cubo. Porém, na superfície lisa do objeto, o que ele observa é o seu próprio reflexo.

    “Se eu… bater de novo e falhar… Eu vou ser totalmente afundado!”

    A mão esquerda livre toca uma das paredes do objeto à frente.

    “Preciso pensar!”

    “O cubo não faz a pressão com energia… Qual é o verdadeiro motivo disso?”

    Sem fechar o outro olho, o rosto se direciona para o chão.

    “Peso. Ataque. Por que daquela vez parou? O que eu fiz de diferente?”

    A mão direita ao lado do corpo ainda segura a espada.

    “O que eu pensei? O que eu senti!?”

    O palmo contra o cubo começa a escorregar.

    Levando o olhar, ele vê o próprio reflexo mais uma vez.

    Encarando a si mesmo, o olho ainda aberto se abre com plenitude. Por um instante, o peso sobre o corpo parou, a sensação de alívio percorreu o corpo como um relâmpago.

    “Nem todos atacaram com espadas… Alguns atacaram com seus punhos e passaram sem nenhum vestígio no chão. Outros atacaram e foram afundados sem sequer danificar o cubo.”

    “O que todos que danificaram tem em comum? Todos eles são fortes…”

    “Mas força. A força vem de onde? De si mesmo? Acreditar em si mesmo? Na confiança?”

    O olhar cai outra vez, o peitoral machado e dividido pelo sangue banha até a cintura. Contudo, a íris foca no que está em sua mão direita.

    “A pressão ficou mais forte porque eu duvidei? Eu duvidei que passaria? Que a minha arma não aguentaria?”

    Os dentes se apertam com força, o maxilar ganha destaque conforme as veias em seu rosto mostram a sua frustração. Levando a cabeça para trás pouco a pouco, o semblante encara o teto.

    “Por que eu esqueci?! Eu não posso me dar ao luxo de ficar aqui. Meu mestre, a Raquel, a Carmen, os gêmeos… As pessoas do vilarejo que estão presas. Elas precisam de mim o mais rápido possível.”


    “E olha onde eu tô. Ajoelhado pra um cubo de merda. Encarando a mim mesmo totalmente fudido.”

    Os pensamentos fluem sem parar. O som grave do peso está mais baixo do que a própria voz do consciente.

    一 FODA-SE VOCÊ!

    Com a testa sangrando, a cabeça bate contra o cubo. Mesmo não sendo forte, o peso diminui um pouco.

    一 LEVANTA! LEVANTA!

    Mais duas vezes os pensamentos em voz alta colidem contra a superfície do desafio. Pondo a mão esquerda contra o joelho flexionado, as costas de Raisel se ergue.

    Conforme se reestabelece, a postura é preparada:

    一 Eu vou cortar você e ir pra próxima torre, seu cubo desgraçado!

    A lâmina apontada para cima, expõe o torso do protagonista. Sem energia, sem dúvidas. Desconfiança, hesitações. Não há nada preenchendo o coração ou a mente dele.

    A espada nunca havia sido empunhada com tanta clareza. Centrada no seu objetivo, a quinta estrela começa a reaparecer na lateral da lâmina.

    一 Vai pro inferno.

    Com o decreto, o golpe desceu. Diferente do ataque estrondoso que simplesmente saiu rasgando o salão como o de outro desafiante, o corte do rapaz foi simples e silencioso.

    A vibração parou.

    Ao levantar o olhar, vê novamente o reflexo diante do cubo.

    Contudo, esse reflexo desliza para o lado ao ser repartido. Uma das metades do objeto cai ao chão, mas o som dele não é pesado, é quase como uma pequena pedra caindo apesar do tamanho.

    一 Realmente… deu certo.

    Recobrando a posição normal, ele está paralisado sem entender direito o que acabou de acontecer.

    Encarando agora o palmo esquerdo livre, os calos e a pouca força ali é a resposta que ele precisava.

    Entendi. Depois da luta dos Andarilhos, eu fiquei com medo… Eu duvidei da minha arma, da minha capacidade, de mim mesmo.

    Um sorriso de canto demonstra satisfação.

    “A sensação de pressão, o cansaço. Tudo isso foi por estar hesitando mesmo seguindo em frente.”

    Erguendo o olhar, ele dá meia volta. Todavia, a “luz” do garoto nunca esteve tão firme.

    O cabelo em rabo de cavalo, preso até agora desde o festival, finalmente é solto.

    Com a mão entrando no bolso, ele nota a faixa amarela que usava.

    “Achei que eu tinha perdido quando a Ruína caiu no vilarejo. Então tava no meu bolso esse tempo todo…”

    Agarrando o pedaço de pano amarelo, ela é amarrada contra o pulso direito. Apertando-a firmemente usando os dentes, ele termina de se vestir com a armadura de couro esfarrapada.

    Ao virar-se novamente para a direção do cubo, ele vê que agora há apenas o que ele mesmo partiu. Todos os outros vestígios dos participantes anteriores desapareceram…

    “A porta seguinte se revelou sem eu ir para o bosque e a porta que eu entrei não apareceu. Deve ser pra eu seguir de uma vez.”

    As sobrancelhas se contraem brevemente com o olhar estreito. A espada embainhada na mão esquerda segue a acompanhá-lo.

    Ao abrir o caminho para o túnel que leva para a próxima torre. Em frente ele não consegue enxergar absolutamente nada, apenas o início do corredor.

    Não resta mais hesitações.

    Indo contra o breu, afastando-se cada vez mais da porta, ela se fecha selando completamente o caminho de volta para o protagonista.

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