De frente um para o outro, a brisa da manhã ressoa pelo campo e sobe até o morro distante em que eles estão.

    Com as vestimentas sociais de Yurgen balançando, Raisel entende a seriedade da situação enquanto sente o vento soprando sobre sua armadura esfarrapada.

    一 Em Balmund, existe uma lei especial. Ela alimenta a ideologia do Reino e outras cidades fora da capital, mas ainda no território, a utilizam.

    O velho cruza os braços e se vira para a paisagem.

    一 É a “Lei da Competitividade”. Todos estão aptos a terem recompensas por vencerem, independente do que seja ou o que ganhe. Por isso, evite conversar com essas pessoas ou até olhá-las.

    Ao ouvir isso, o garoto se lembra da fala de Amon, o arqueiro dos Batedores que disse algo sobre.

    一 Que saco em, garoto… Você matou a Ellen. Ela podia ser fraca, mas era bem gostosa… Bem, não que eu me importe… É só competir por outra mulher na equipe quando voltarmos pra Balmund…

    O rosto dele se contorce em uma mistura de fúria e desgosto. Os palmos se fecham de repugnação.

    “Pessoas são recompensas por vencer. Que tipo de lugar é esse? Rídiculo…”

    Encarando o menino com o canto dos olhos, o senhor continua a dizer:

    一 Para caminhar em paz lá, precisamos esconder a nossa aparência. Parecer forte vai atrair gente forte, enquanto parecer fraco vai atrair atenção de quase todos.

    Ao término da fala, Raisel permanece em silêncio, mas vem a respirar profundamente de maneira lenta.

    一 E como as pessoas ali reconhecem a força do outro? Cessar o fluxo de Gewissen não é o suficiente?

    Antes de responder, o velho balança a cabeça brevemente em negação.

    一 Não. As pessoas em Balmund conseguem saber a sua força pela sua aparência física, mas principalmente pelo seu olhar. Pessoas fortes e fracas são evidentes pelo modo de observar o mundo.

    一 Entendi… Mas sobre essa lei, não é só, sei lá, recusar?

    Confuso sobre, o garoto não entende direito a necessidade das pessoas passarem e cumprirem uma ordem dessa.

    Por outro lado, Yurgen fecha o semblante ao suspirar.

    一 Caso recuse um pedido de competição, você será marcado como fraco. Além disso, recusar um desafio significa que tem algo a esconder.

    Vendo a reação e a entonação de desapontamento na fala, o rapaz encara a paisagem à frente enquanto também suspira.

    “Que complicado…”

    一 E o que vamos fazer?

    Em um sorriso de canto, o mestre se vira para o discípulo enquanto busca algo no bolso traseiro da calça social.

    Estendendo o palmo para o discípulo, ele mostra duas máscaras negras pequenas completamente planas.

    一 Pegue uma.

    Sem entender, ele pegou um dos itens.

    一 O que é isso?

    Virando-a de um lado a outro, parece uma máscara comum apesar de ser muito pequena.

    一 Em uma das ilhas de Fyodor exclusivas, existia um cenário de escoltar um certo mercador. Ele disse que estaria devendo uma para mim e eu pedi essas máscaras em troca.

    一 Você concluiu o cenário e mesmo assim ele permaneceu lá?

    一 O cenário se concluiu após eu pegar a recompensa.

    一 Hm… E o que elas fazem?

    Pondo-a contra o nariz, o homem transferiu um pouco de energia para o item. Nesse instante, ela se expandiu como um líquido e se fixou sobre o semblante barbado.

    A aresta da máscara em forma líquida, se estendeu como um véu enquanto a feição está totalmente tampada, com exceção dos olhos.

    一 Ela se chama “Máscara de Ocultação”. É um item bem comum em Balmund, você verá diversas pessoas com isso.

    一 Ponha contra o seu rosto e coloque energia. Ela lhe encobrirá.

    Sem pensar muito, ele faz o mesmo.

    A máscara se apossou da feição e do corpo do rapaz.

    一 Não é quente. É até refrescante.

    Olhando para si mesmo de um lado para o outro, está bem surpreso com o item.

    Ele volta a observar o mentor, estando do lado esquerdo dele.

    一 Nós viemos atrás de informações sobre Imoriel, mas onde exatamente nós vamos agora?

    Começando a caminhar, Yurgen parte na frente. Raisel o segue.

    一 “Toca da Gata”, um bar. Provavelmente Carmen estará lá com as crianças.

    一 Não é perigoso com a Lei da Competitividade ir em um bar?

    Tentando alcançá-lo para caminhar lado a lado, o jovem acelera os passos e permanece a encará-lo com o rosto levemente para cima pela diferença de alturas.

    一 Existem exceções. Caso contrário, nada funcionaria. Em lugares restritos e dentro das casas, essa lei não entra em vigor.

    Com o esclarecimento, os olhos do Raisel se abrem com surpresa.

    “Faz sentido. Já que se fosse competição o tempo todo e em todo lugar, esse Reino estaria um caos…”

    Um suor de canto escorreu pela bochecha do menino por ter imaginado um ambiente bastante diferente.


    Conforme caminham morro abaixo com a Máscara ativa, mentor e discípulo se aproximam das estradas interconectadas que levam para esse lugar.

    O som das carruagens, cavalos e carroças adentrando a enorme muralha e passando pelo gigantesco portão, mostra a imponência desse lugar.

    “O Castelo de Heinz em Fyodor parece coisa de criança. Os tamanhos são totalmente diferentes, apesar de que lá na Ruína não era o castelo todo.”

    Observando os arredores, o protagonista vê algo interessante.

    一 O que é aquilo?

    Com a dúvida, o adulto ao lado direciona o olhar para tal.

    一 Um “Schiff”.

    O que eles estão visualizando é uma espécie de carruagem enorme em formato cilindríco, mas completamente tapado acima, sem rodas e flutuante. Abaixo dele, um brilho azulado transborda de uma parte lisa.

    Atrás desse transporte, há diversos outros menores, o que deixa toda a frota semelhante a uma corrente.

    一 Isso parece ser… caro. Bem caro.

    Maravilhado, mas assustado, Raisel continua a caminhar enquanto vê a frota de Schiff passar e seguir em direção ao portão da muralha.

    一 E é. Só pessoas importantes tem um desse. Se são vários, geralmente servem pra transportar mercadoria valiosa.

    Após essa observação, o fluxo de carruagens entrando e saindo não diminuiu. Ao que parece, esse lugar é muito agitado e há incontáveis tipos de pessoas. Contudo, uma em específico fez os olhos de Raisel saltarem.

    “Um cubo sendo transportado e coberto por um pano?”

    A brisa do vento bate novamente e ressoa pela planície. O tecido cobrindo a estrutura se revela com grades e pessoas presas cuja grande parte delas não são humanas.



    Os olhos dourados do protagonista encaram uma garota imunda e com roupas desgastadas. O semblante dela sobe e os olhos dela sequer brilham, mesmo em tom rosado.

    Entre a cabeleira, é possível ver duas orelhas felinas cortadas pela metade.

    O protagonista paralisa.

    Yurgen também para e encara de lado, mas com um olhar diferente.

    一 Vovô, são… escravos?

    Não conseguia ver o rosto um do outro por conta da máscara. Mas o olhar amarelado do menino arregalado, contrasta com o olhar profundo e melancólico do mentor.

    O silêncio ressoa como uma confirmação.

    O velho, portanto, volta a caminhar.

    一 Se acostume. Esse lugar é… podre.

    Ainda parado, o menino encara o chão e volta a caminhar gradualmente.

    一 Tsc.

    “Me acostumar? Como você pode dizer isso?”

    Frustrado, Raisel sequer consegue entender o porquê das pessoas fazerem isso umas às outras. O peito dele dói ao pensar pelo o sofrimento que esses escravos passaram.

    “Ela deve ter a minha idade e ainda assim…”

    Descontente, as expectativas da paisagem maravilhosa caíram por terra. Se antes o lugar era colorido e vibrante, essas cores ficaram um pouco mais cinzas na perspectiva do menino.

    Cada vez mais próximos da muralha, o sol se encontra quase no seu ápice.

    Atravessando as estradas com cuidado, eles chegam até uma porta menor, a de pedestres.


    Ao lado dela, há um guarda que porta uma lança. O símbolo do leão dourado flamejante à frente do coração esboça uma lealdade irredutível.

    Está na hora de entrar na capital do território, o Reino de Balmund, na sua zona comercial!

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