Capítulo 25 - A Lei de Balmund
De frente um para o outro, a brisa da manhã ressoa pelo campo e sobe até o morro distante em que eles estão.
Com as vestimentas sociais de Yurgen balançando, Raisel entende a seriedade da situação enquanto sente o vento soprando sobre sua armadura esfarrapada.
一 Em Balmund, existe uma lei especial. Ela alimenta a ideologia do Reino e outras cidades fora da capital, mas ainda no território, a utilizam.
O velho cruza os braços e se vira para a paisagem.
一 É a “Lei da Competitividade”. Todos estão aptos a terem recompensas por vencerem, independente do que seja ou o que ganhe. Por isso, evite conversar com essas pessoas ou até olhá-las.
Ao ouvir isso, o garoto se lembra da fala de Amon, o arqueiro dos Batedores que disse algo sobre.
“一 Que saco em, garoto… Você matou a Ellen. Ela podia ser fraca, mas era bem gostosa… Bem, não que eu me importe… É só competir por outra mulher na equipe quando voltarmos pra Balmund…”
O rosto dele se contorce em uma mistura de fúria e desgosto. Os palmos se fecham de repugnação.
“Pessoas são recompensas por vencer. Que tipo de lugar é esse? Rídiculo…”
Encarando o menino com o canto dos olhos, o senhor continua a dizer:
一 Para caminhar em paz lá, precisamos esconder a nossa aparência. Parecer forte vai atrair gente forte, enquanto parecer fraco vai atrair atenção de quase todos.
Ao término da fala, Raisel permanece em silêncio, mas vem a respirar profundamente de maneira lenta.
一 E como as pessoas ali reconhecem a força do outro? Cessar o fluxo de Gewissen não é o suficiente?
Antes de responder, o velho balança a cabeça brevemente em negação.
一 Não. As pessoas em Balmund conseguem saber a sua força pela sua aparência física, mas principalmente pelo seu olhar. Pessoas fortes e fracas são evidentes pelo modo de observar o mundo.
一 Entendi… Mas sobre essa lei, não é só, sei lá, recusar?
Confuso sobre, o garoto não entende direito a necessidade das pessoas passarem e cumprirem uma ordem dessa.
Por outro lado, Yurgen fecha o semblante ao suspirar.
一 Caso recuse um pedido de competição, você será marcado como fraco. Além disso, recusar um desafio significa que tem algo a esconder.
Vendo a reação e a entonação de desapontamento na fala, o rapaz encara a paisagem à frente enquanto também suspira.
“Que complicado…”
一 E o que vamos fazer?
Em um sorriso de canto, o mestre se vira para o discípulo enquanto busca algo no bolso traseiro da calça social.
Estendendo o palmo para o discípulo, ele mostra duas máscaras negras pequenas completamente planas.
一 Pegue uma.
Sem entender, ele pegou um dos itens.
一 O que é isso?
Virando-a de um lado a outro, parece uma máscara comum apesar de ser muito pequena.
一 Em uma das ilhas de Fyodor exclusivas, existia um cenário de escoltar um certo mercador. Ele disse que estaria devendo uma para mim e eu pedi essas máscaras em troca.
一 Você concluiu o cenário e mesmo assim ele permaneceu lá?
一 O cenário se concluiu após eu pegar a recompensa.
一 Hm… E o que elas fazem?
Pondo-a contra o nariz, o homem transferiu um pouco de energia para o item. Nesse instante, ela se expandiu como um líquido e se fixou sobre o semblante barbado.
A aresta da máscara em forma líquida, se estendeu como um véu enquanto a feição está totalmente tampada, com exceção dos olhos.
一 Ela se chama “Máscara de Ocultação”. É um item bem comum em Balmund, você verá diversas pessoas com isso.
一 Ponha contra o seu rosto e coloque energia. Ela lhe encobrirá.
Sem pensar muito, ele faz o mesmo.
A máscara se apossou da feição e do corpo do rapaz.
一 Não é quente. É até refrescante.
Olhando para si mesmo de um lado para o outro, está bem surpreso com o item.
Ele volta a observar o mentor, estando do lado esquerdo dele.
一 Nós viemos atrás de informações sobre Imoriel, mas onde exatamente nós vamos agora?
Começando a caminhar, Yurgen parte na frente. Raisel o segue.
一 “Toca da Gata”, um bar. Provavelmente Carmen estará lá com as crianças.
一 Não é perigoso com a Lei da Competitividade ir em um bar?
Tentando alcançá-lo para caminhar lado a lado, o jovem acelera os passos e permanece a encará-lo com o rosto levemente para cima pela diferença de alturas.
一 Existem exceções. Caso contrário, nada funcionaria. Em lugares restritos e dentro das casas, essa lei não entra em vigor.
Com o esclarecimento, os olhos do Raisel se abrem com surpresa.
“Faz sentido. Já que se fosse competição o tempo todo e em todo lugar, esse Reino estaria um caos…”
Um suor de canto escorreu pela bochecha do menino por ter imaginado um ambiente bastante diferente.
Conforme caminham morro abaixo com a Máscara ativa, mentor e discípulo se aproximam das estradas interconectadas que levam para esse lugar.
O som das carruagens, cavalos e carroças adentrando a enorme muralha e passando pelo gigantesco portão, mostra a imponência desse lugar.
“O Castelo de Heinz em Fyodor parece coisa de criança. Os tamanhos são totalmente diferentes, apesar de que lá na Ruína não era o castelo todo.”
Observando os arredores, o protagonista vê algo interessante.
一 O que é aquilo?
Com a dúvida, o adulto ao lado direciona o olhar para tal.
一 Um “Schiff”.
O que eles estão visualizando é uma espécie de carruagem enorme em formato cilindríco, mas completamente tapado acima, sem rodas e flutuante. Abaixo dele, um brilho azulado transborda de uma parte lisa.
Atrás desse transporte, há diversos outros menores, o que deixa toda a frota semelhante a uma corrente.
一 Isso parece ser… caro. Bem caro.
Maravilhado, mas assustado, Raisel continua a caminhar enquanto vê a frota de Schiff passar e seguir em direção ao portão da muralha.
一 E é. Só pessoas importantes tem um desse. Se são vários, geralmente servem pra transportar mercadoria valiosa.
Após essa observação, o fluxo de carruagens entrando e saindo não diminuiu. Ao que parece, esse lugar é muito agitado e há incontáveis tipos de pessoas. Contudo, uma em específico fez os olhos de Raisel saltarem.
“Um cubo sendo transportado e coberto por um pano?”
A brisa do vento bate novamente e ressoa pela planície. O tecido cobrindo a estrutura se revela com grades e pessoas presas cuja grande parte delas não são humanas.
Os olhos dourados do protagonista encaram uma garota imunda e com roupas desgastadas. O semblante dela sobe e os olhos dela sequer brilham, mesmo em tom rosado.
Entre a cabeleira, é possível ver duas orelhas felinas cortadas pela metade.
O protagonista paralisa.
Yurgen também para e encara de lado, mas com um olhar diferente.
一 Vovô, são… escravos?
Não conseguia ver o rosto um do outro por conta da máscara. Mas o olhar amarelado do menino arregalado, contrasta com o olhar profundo e melancólico do mentor.
O silêncio ressoa como uma confirmação.
O velho, portanto, volta a caminhar.
一 Se acostume. Esse lugar é… podre.
Ainda parado, o menino encara o chão e volta a caminhar gradualmente.
一 Tsc.
“Me acostumar? Como você pode dizer isso?”
Frustrado, Raisel sequer consegue entender o porquê das pessoas fazerem isso umas às outras. O peito dele dói ao pensar pelo o sofrimento que esses escravos passaram.
“Ela deve ter a minha idade e ainda assim…”
Descontente, as expectativas da paisagem maravilhosa caíram por terra. Se antes o lugar era colorido e vibrante, essas cores ficaram um pouco mais cinzas na perspectiva do menino.
Cada vez mais próximos da muralha, o sol se encontra quase no seu ápice.
Atravessando as estradas com cuidado, eles chegam até uma porta menor, a de pedestres.
Ao lado dela, há um guarda que porta uma lança. O símbolo do leão dourado flamejante à frente do coração esboça uma lealdade irredutível.
Está na hora de entrar na capital do território, o Reino de Balmund, na sua zona comercial!
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