Capítulo 32 - A Missão da Gata (2)
Há poucos minutos, quando saltaram para fora do leilão, o feixe arco-íris que levou Raisel deixou Carmen e Yurgen em choque.
Em meio ao caos da missão, o grito de desespero das pessoas desafortunadas e dos comerciantes ocultos, no fim, se assemelhava a um verdadeiro campo de batalha.
Os olhos de Carmen dilatam em lembranças do sangue de exércitos inimigos em sua lâmina. Contudo, em um pulsar da energia de prata, a conexão entre o Gewissen do homem se instala no âmago da ruiva.
“一 CARMEN! SE CONCENTRE! PRECISAMOS NOS SEPARAR OU VAMOS SER CERCADOS. AO MEU SINAL, VENHA ATÉ MIM!”
A feição dela por baixo da máscara com a jóia na testa, se estabiliza. Apertando firmemente o cabo da espada, os olhos azulados ganham o brilho necessário para honrar o seu antigo nome.
No outro instante, o velho e a mulher desaparecem.
Os guardas e os Batedores de Balmund presentes como segurança e fiscalização na zona comercial, começam a se reunir em direção a ambos.
Aqueles cujo Glanz permite disparar projéteis, já começam a tentar mobilizar os dois criminosos.
Enquanto a espadachim destrói esses disparos com a espada, a aura na lâmina está densa e fervendo como uma serra.
一 A MULHER É UMA EIGENHENSTER! NÃO SE APROXIMEM!
O grito de um dos Batedores ecoa pela área. Pela orientação dele, o grupo começou a atirar as suas armas como lanças, flechas e projéteis de energia de longe.
Sendo pressionada com os projéteis por todas as direções, ela pisa firme ao chão.
“Verkehrt: Fliessen!”
Em um balançar firme da espada na horizontal, transmite a sua aura avermelhada conflitante em faíscas por toda a área como um pulso. Com essa manifestação, os projéteis que se encaminham são cortados imediatamente com um único balanço da espada.
Todavia, a redoma não parou de avançar somente nesse bloqueio. A defesa chegou a atingir as pessoas ao redor, as construções e o chão.
Um instante de silêncio é ateado como uma haste daquela que saiu vitoriosa. Mas o custo veio através do estrondo de todos os golpes que mutilaram tudo o que estava à sua volta.
O sangue das pessoas escorrem pelo chão, enchendo as rupturas de cortes e sendo bloqueadas pelos destroços das paredes.
Uma área de vinte metros ao redor dela foi completamente destruída.
Em um suspiro profundo, os punhos dela sobre o florete se apertam.
Mesmo com o caos ao fundo, o cheiro metálico dos cadáveres frescos impregnado na poeira crescente e a demais confusão, a única coisa que a ruiva escuta no momento é as batidas do seu coração.
“O que eu… tô fazendo?”
Com o apertar dos dentes, está conflitante até que ponto isso seria necessário. As suas ações, o ato de voltar a brandir a sua espada é realmente preciso?
Contudo, no instante de distração, ela sente uma energia rosada pousar adiante como um relâmpago caindo diretamente dos céus.
O baque das pernas dessa nova entidade sobre o chão, por sua vez, deixa claro que é outro nível de inimigo.
A silhueta feminina caminha pelos destroços abaixo com cuidado. O som das botas contrastam o aroma doce de seu perfume.
一 Terrível. Há tanto sangue derramado. Você está satisfeita com isso?
Um shorts curto, meia-calça que vai até metade da coxa, uma blusa larga nos braços balança contra a brisa do fim da tarde. Os olhos vermelhos da mulher contrastam com o símbolo da estrela de sete pontas ao lado esquerdo do peitoral. No lado direito, há o desenho do leão dourado em chamas.
一 Nem um pouco, cavaleira. É melhor você ir embora.
Virando-se para a nova adversária, Carmen empunha o florete somente com a mão destra.
一 Não posso. A luz me guiou até aqui para dar tranquilidade às almas que você ceifou.
A cavaleira estende o palmo destro para o lado. Por baixo da manga longa, o brilho de um Verbin é ocultado pela vestimenta.
Na distância de dez metros entre elas, após a fala, somente o choque de seus olhares predominam com a tensão.
Com o baque de uma explosão de chamas incolores contra o chão, no qual estremece a área ao fundo, o braço da mulher de cabelos escuros se move em um piscar de olhos.
Por dentro da manga da blusa, algo que mais parecia uma serpente se desdobra em direção a Carmen como um vulto.
Os olhos azulados se abrem por trás da máscara.
Agilmente, a ruiva se defende do ataque no último instante. Mas ao fazer isso, o peso do golpe simplesmente a empurrou para trás. Mesmo com os pés bem fixos ao chão, o rastro das suas pegadas moldou-o por alguns metros.
“Forte. Pela estrela de sete pontas, deve ter virado Cavaleira há poucos meses.”
一 Eu me chamo Romélia, alma perdida. Permita que eu purifique as sombras do seu coração de uma vez por todas.
Em um outro movimento de braço, o chicote rosado estala contra o solo e se fixa sobre a lateral direita da cavaleira.
一 Foi mal, Romélia. Mas uma mulher velha igual eu não precisa terapia com alguém mais nova.~
Diferente de antes, a mascarada impõe o florete à frente do peitoral somente com a mão destra na vertical. A mão esquerda se dobra para trás com o cotovelo contra as costas, os tornozelos se juntam e a coluna fica ereta.
“Uma postura nobre… Quem é essa mulher?”
Antes que conseguisse se mover, a luz vermelha e o som de algo cortando o vento preenchem os sentidos de Romélia.
Em um movimento lateral para a cabeça, desvia do projétil arremessado contra si, mas a sua bochecha é cortada. Da ponta da lâmina de Carmen, esse brilho seguiu em direção aos céus e se perdeu na imensidão da paisagem.
“Ela é uma Eigenhenster… Possuir um Kern tão sólido e destacável. Ela deve ser, no mínimo, tão forte quanto uma Cavaleira de cinco pontas.”
Após desviar, a soldada de Balmund não perdeu tempo. O chicote rosado se movimentou sozinho e, acima da cabeça dela, a Constelação de Delphinus surge em conjunto com o Gewissen rosa que a cobre.
“Glanz: Fliegender Tauchgang…”
Indo de um lado para o outro de forma oscilatória, parece como uma serpente deslizante em pleno ar.
Os olhos de Carmen até tentam acompanhar, mas é muito mais rápido do que ela. Por isso, expande a sua aura ao redor como uma rajada novamente, mas desta vez concentrada somente à frontal como uma parede.
“Verkehrt: Fliessen…”
A colisão entre a energia fluída do chicote contra a afiação da energia da ruiva gera um atrito semelhante a paredes. O choque ressoa no brilho rosado e carmesim que se perde em direção aos céus.
“Temos a mesma quantidade de Gewissen.”
Em simultâneo ao pensamento em conjunto, os olhos de ambas se estreitam.
No outro instante, os vácuos de suas movimentações se alastram pela área.
Saltando por entre os telhados, o chicote e a espada colidem incontáveis vezes. O céu parece ser pintado como o desabrochar de inúmeras rosas mediante às nuvens.
Em um desses ataques, o chicote de Romélia desce quebrando e destruindo completamente a casa abaixo de Carmen.
Logo em seguida, ele se ondula como um furacão. A mão esquerda, outrora livre, une os dedos médio e indicador.
“Wischen Wasser.”
A arma, modelada como um redemoinho, simplesmente se estica como uma lança. Contudo, a sua aura ainda permanece a rodar ao redor semelhante a uma broca.
Essa composição decai em direção a Carmen suspensa em meio ao ar.
Por baixo da máscara, os olhos azulados da ruiva se mostram inexpressivos ao ter a sua vida em risco com um ataque dessa magnitude.
A mão esquerda mantida contra as costas é estendida à lateral. O palmo se cobre em uma energia serrilhada e a Constelação de Cassiopéia aparece acima da cabeça da açougueira.
“Glanz: Tennung.”
Em um único balançar da mão contra o enorme ataque rotativo perfurante, o Gewissen de Romélia desaparece como fumaça. O vulto vermelho do mover do palmo ressoa por dentro da Cavaleira, que sente o seu Schaltung rompido.
“Não consigo usar o Wischen!”
O desespero toma conta com os olhos vermelhos arregalados e a testa enegrecida. À medida que a ruiva cai na poeira da casa destruída, ela a perde de vista.
Com saltos para trás, Romélia tenta subir o mais alto possível para não ficar vulnerável. Mas é tarde demais.
A criminosa reaparece como um fantasma à direita. Os olhos delas se encontram de pertinho, o brilho avermelhado do florete inicia o cortar da garganta da Cavaleira em pleno ar.
Entretanto, a atenção de Carmen é fisgada por um brilho alaranjado como o sol vindo por trás de Romélia.
Num reflexo, ela chuta a mulher pelo abdômen e a arremessa para baixo, mas ao mesmo tempo, se impulsiona para longe.
Uma flecha de fogo rasga onde elas estavam e, no fim, colide contra o chão há poucos metros. O impacto dessa energia contra o solo expande uma cúpula ardente que arremessa Carmen para longe, por estar desprotegida e em pleno ar.
一 Tsc.
As queimaduras tomam conta na parte do lado esquerdo como o braço e a perna, mas também um pouco das costas.
Batendo contra algumas construções, ela rapidamente se levanta enquanto está com a parte queimada pelo calor exposta.
A máscara da ocultação na feição está trincada.
Olhando o alto, percebe um inimigo sobre a muralha que divide a zona Comercial e a zona Residencial dos nobres.
Com uma armadura amarelada como ouro e um elmo cujo símbolo do sol ardente está acima da cabeça, não há dúvidas com a estrela de quatro pontas sobre o peitoral.
“Um Cavaleiro de Elite…”
Os olhos amarelados dele encaram Carmen com desdém. O grande arco em posse parece arder em chamas e, novamente, ele começa a preparar outro disparo.
Todavia, antes que conseguisse, o rosto dele se vira contra algo vindo dos céus. Sem conseguir carregar uma flecha apropriada, ele dispara mirando no projétil.
A flecha prateada e dourada se encontram, mas o brilho prateado explode como fogos de artifício.
“Uma flecha prateada e silenciosa… O Coruja voltou?”
Ao olhar para baixo, Carmen já havia se retirado.
Do outro lado, Romélia se levanta após ter sido arremessada no chute.
“Aquele golpe… Ia atingir nós duas.”
Com a mão no abdômen, o olhar da mulher do chicote se encontra com o Cavaleiro de Elite.
A energia rosada sobe como um fluxo em direção ao outro. Ao se encontrarem, elas se entrelaçam superficialmente.
“一 Me desculpe, senhor Sollerman. Eu devia ter segurado ela.”
Ela se curva para o outro.
Sem dar uma resposta, o Cavaleiro com armadura dourada se vira e desaparece.
“Droga! Essa foi por pouco.”
Mordendo os próprios lábios de frustração, Romélia não parece se importar em ter quase morrido para o ataque do próprio companheiro. Pelo contrário, deveria ter se sacrificado ao invés de deixar a criminosa escapar.
“Ainda vamos nos reencontrar, sua vadia.”
Correndo por entre a destruição parcial da zona comercial, Carmen se encontra com Raisel em um buraco feito no chão.
Encarando-se por um único instante, eles acenam um pro outro.
No outro momento, se jogam em direção à cratera sem fundo.
Será que Yurgen está esperando no fim desse buraco?
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