Índice de Capítulo

    Sob a enorme lua, os ventos noturnos envolvem o homem de cabelo grisalho. Os dedos dos pés e das mãos estão frios, congelados pelo enfraquecimento notável da energia interna do arqueiro. Apesar disso, ele segue em frente em passos firmes, inabaláveis, em busca concluir o seu papel até o fim.

    As rachaduras do ferimento na costela sobem pelo pescoço. A escuridão pulsa ao lutar incessantemente contra o brilho contaminante. Desde que o fragmento da Ruína de Pisces em Nascimento lhe atingiu, as suas forças parecem estar se esvaindo. Pela primeira vez em muito tempo, os sentimentos preenchem o seu coração como um último reluzir de uma estrela prestes a ser apagada…

    “Velho, deixe de teimosia… Me deixe assumir o controle pra curar esse ferimento de uma vez por todas.”

    Pondo a mão esquerda na região do ferimento, os olhos se estreitam e o tom acinzentado é coberto por um brilho prateado.

    “Leraje… Não vou cair nessa de novo… Você pode até me curar, mas e depois? Vai deixar sequelas no meu Gewissen, depois de exterminar uma população inteira, como fez em Tsarllain?”

    Em uma perspectiva interna, as luzes de Aquila em seu interior estão opacas pelas trevas agitadas. Essas sombras se movem como serpentes traiçoeiras, enrolando-se sobre o Schaltung do arqueiro e oscilando o seu Glanz.

    Logo, uma risada ecoa vindo das profundezas desse breu.

    “Exatamente…!~ É um dos preços que você pagou pelo nosso Contrato, ou se esqueceu?”

    “Não me esqueci, mas eu não estou tão desesperado como daquela vez. Nós vamos conseguir, mesmo sem a sua ajuda…”

    “Você pode preferir morrer, mas e o garoto? É uma questão de tempo para que ele se torne o meu novo Receptáculo.”

    Um suspiro escapa das arestas dos lábios. Entreabertos, ele respira fundo enquanto a barba grisalha esconde um sorriso despreocupado.

    “Ele não falhará como eu… Eu sei disso. Então não adianta… Você ficará comigo por enquanto.”

    Descontente, a intensidade das sombras interiores somem como fumaça. Dando um período de tranquilidade e paz, o homem está de frente com o ponto de escuridão elevada que sentiu quando chegou.

    “Uma segunda catedral… Sinto presenças lá dentro, mas também consigo notar que há alguém me observando de longe. Talvez seja o chefe dos Truman? Não sei quais são suas habilidades… Ele deve estar querendo ver nosso nível de força.”

    Encarando de soslaio para a direção da torre centralizada no Castelo de Kromslaing, acima do monte, Yurgen volta a caminhar para descobrir uma outra entrada e ver o que tem ali dentro da Catedral de Lucresia.

    A mão na costela se abaixa. As pernas se flexionam e o homem salta para os telhados. A construção é robusta como a Catedral de Cícero, mas suas cores são menos vibrantes e mais monocromáticas. Os vitrais são prateados com leves tons de roxo e azul, o que combinam com a luz esbranquiçada do luar.

    Em cima do teto, o velho escuta certa entonação vocal harmônica, como um cântico numa língua diferente. O único problema é que o Zienung não funciona para detectar Pagãos e, isso o deixa receoso por não saber quantos inimigos são.

    Após alguns segundos caminhando no teto, ele observa uma espécie de sótão aberto na parte traseira da construção. Encaminhando-se com cuidado, em uma visão de cima, vê um sacerdote abaixo.

    “É diferente dos Servos Bealerins… Uma segunda facção? Não, isso não é possível… Devem ser os verdadeiros, ao contrário dos fantoches numerosos.”

    Esticando o palmo destro para o lado, partículas brancas se unem ao formar o arco Svartgren. Ele segura o armamento com a mão destra, enquanto a canhota permanece próximo ao “fio” invisível para o disparo de suas flechas.

    A visão retorna para o sacerdote com uma estola em degradê de roxo e azul, mas com símbolos brancos de luas costuradas por todo o tecido. Esse padre está visualizando o horizonte com uma espécie de charuto em mãos.

    Contudo, de repente, ele é chutado para fora da varanda enquanto uma flecha prata perfura o seu crânio pela nuca. O sacerdote desaparece morro abaixo já sem vida…

    Do lado de dentro, há outros que se alertaram com o vulto decadente. Mas ao tentarem dizer algo, uma tempestade de flechas também os derruba após terem os crâniso perfurados.

    “Poucos estão aqui… Estavam em pausa?”

    Esgueirando-se com cuidado, ele vê as escadarias que dão acesso ao sótão. Em um gesto de palmo, as flechas de energia pulverizaram os cadáveres até eles desaparecem em um piscar de olhos.

    Outros sacerdotes estão subindo enquanto conversam.

    一 Vai fazer o que depois daqui?

    一 Não sei. Sempre me sinto esgotado depois de oferecer energia.

    一 Pô, vamos subir pro Castelo. Soube que o senhor Oseiros vai colocar uma mulher nova no catálogo, aquela ruiva que tava na Winchell hoje de manhã, lembra?

    一 Sério!? Lembro sim… Ela parecia bem gostosa só pelo rosto. Pena que aquele manto não deixou a gente ver o corpo dela.

    一 Pois é, pois é~ Mas a gente vai conseguir se divertir bem com ela hoje à noite.~

    一 Ué, cadê os outros que estavam aqui em cima?

    Da escuridão por trás dos sacerdotes, os palmos do velho tapam as suas bocas. No outro segundo, os queixos deles se invertem para cima enquanto as testas vão para baixo.

    Os cadáveres até tentam cair após terem as cabeças quebradas, mas Yurgen os segura para não ter nenhum barulho.

    Na testa dele, uma veia pulsa em certo ódio. Seu semblante está mais sério, mas ainda assim, sua intenção assassina é mínima.

    “Oseiros… Deve ser um dos Truman. A ruiva com certeza é a Carmen… Esses desgraçados alimentam a moral dos Bealerins oferecendo mulheres? Nojento… É como em Tsarllain.”

    Cerrando os punhos, ele começa a descer pelas escadas com cuidado. O som dos cânticos em língua desconhecida está mais nítido, mas não consegue discernir em nada do que está sendo cantado.

    O segundo andar é como se fossem corredores colaterais à uma escada principal logo atrás de um grande símbolo. Uma lua de prata em camadas sobrepostas que representa todos os seus ciclos.

    À frente deste símbolo, está o altar com um palco. Uma figura com uma roupa diferente dos outros sacerdotes conduz o ritual. Esse Pagão diferente, está com a cabeça coberta por uma espécie de gorro em formato de cone, mas o seu rosto está à mostra.

    “Quatro… Oito… Doze… São doze servos mais fracos e o líder. O que é aquilo em cima do altar?”

    Coberto por um véu, os olhos cinzentos identificam pouco a pouco conforme ele caminha pelo segundo andar, observando a cena de cima.

    “É um cadáver…”

    O tecido encobre o corpo, evidenciando curvas esbeltas.

    “Que música mais divertida…!~”

    A sua própria voz, em um tom distorcido, ecoa na mente.

    “Você entende o que está sendo cantado, Leraje?”

    Permanecendo focado no que está acontecendo lá embaixo, ele vê os sacerdotes sem gorro saudando algo, ao se abaixarem e se levantando em seguida, conforme estendem os braços para cima. Por outro lado, o com cabeça de cone está com as mãos estendidas para o alto.

    “Entendo sim. Em claro e bom tom… Quer que eu traduza pra você?~”

    Yurgen, desde já, percebe que seria algo horrendo. Esse monstro não faria algo por conta própria ou se ofereceria, a menos que fosse algo cruel. Em relutância, o velho acena com a cabeça.

    Ó, Grande Lua, enfeitiça-nos com o seu charme! Nos leve para o Palácio Proibido ao aceitar esse sacrifício! Aceite essa virgem para retocar a sua beleza! Raspe a pele pálida para enaltecer o seu brilho! Tome o útero para nascer noite após noite! Lunamat! Lunamat!

    A figura das trevas parece deleitar-se em suas próprias palavras.

    Contudo, o arqueiro permaneceu inexpressivo. Sua fúria não é esbanjada pelo seu rosto, mas sim pela mente ardente e o seu coração explosivo. Não seria capaz de disfarçar as suas emoções para si mesmo e, por isso, se sente ainda pior ao dar para Estrela Negra justamente o que ela adora: a perturbação emocional.

    Svartgren é apontado em posse.

    Diferente das outras vezes, a flecha carregada se mostra completamente negra. Os olhos cinzentos cintilam para o prateado.

    Zienung: Teilen…

    Como um vulto, o projétil estoura na cabeça do Sacerdote maior. No outro instante, o mesmo acontece com os outros doze que se inclinam um após o outro. Em silêncio, os corpos até tentam cair contra o chão, mas seu sangue e qualquer outro vestígio, são imediatamente apagados por chamas negras como o inferno.

    一 Uau!~ ♡ Você é bem habilidoso, né!?

    Uma voz infantil ressoa ao pé da orelha do velho.

    Direcionando os olhos brilhantes para a direção da entidade, Yurgen vê um outro sacerdote com cabeça de cone, mas a ponta está quebrada para a lateral. O olhar de ambos se encontram: um é rosa, esbugalhado e inocente como um coelho. O outro, prateado, é profundo, desconfiado e focado como um lobo.

    No outro segundo, o arqueiro tenta se afastar e mirar uma flecha para o inimigo… Mas ele desapareceu?

    Sentindo um vácuo pelas costas, o Sacerdote dispara um chute contra o homem visando a costela esquerda.

    Agilmente, o velho se defende com o braço recolhido. Entretanto, mesmo tendo o tamanho de uma criança, a força do chute o arremessa para longe.

    Entretanto, os pés do arqueiro deslizam e se fixam antes de colidir contra algo. De frente para o novo adversário, ele está completamente focado.

    一 Hm…~ Chutar você é bem diferente. Parece um tanque de água de tão pesado. Geralmente as pessoas explodem com meu chute!~ ♡

    Despreocupado, as mãos do menino estão na nuca com os cotovelos erguidos.

    一 Quem é você?

    Com o arco na altura da cintura, mantém a atenção para descobrir mais informações do outro.

    一 Eu sou… Obedientia, o Quinto Sacerdote da Lua! Kurum~ ♡

    As mãos se unem à frente em formato de coração enquanto a feição estampa um sorriso puro. A ponta da língua escapa para fora pelos cantos dos lábios… Essa pessoa não está nenhum pouco séria.

    “Suas vestes são mais nobres… O cachecol tem símbolos lunares metálicos, diferente dos outros padres… Ele deve ser um sacerdote autêntico, ao contrário desses meros peões.”

    Na catedral, agora vazia, somente o corpo velado e o símbolo da lua estariam prestes à presenciar uma vitória esmagadora.

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