Capítulo 4 – A festa
Ainda faltava muito para a festa, sentei no sofá para ver um programa na TV e acabei pegando no sono. Quando despertei já eram 17h horas, logo fui tomar um banho e me aprontei e liguei para o Uber. Cheguei à festa às 18h30, havia pegado um trânsito no caminho, expliquei para Susan o que havia acontecido. Ela sorriu:
— Já era de se esperar, se fosse o contrário é que seria uma surpresa.
Não respondi nada, aliás se eu tentasse responder só iria piorar as coisas. Entreguei o presente a ela. Ela pegou e abriu, e se emocionou, o presente era algo que ela sempre queria assim que nos conhecemos e ficamos amigas. O presente era dois colares, um sol e uma lua. Nós sempre falávamos que ela era o sol por estar sempre sorridente e alegrando o meu dia e eu era a lua meiga e misteriosa.
Não gostava de falar muito sobre a minha vida, mesmo porque ela não era uma questão de confiança, mas sim pelo meu jeito de ser de não me abrir. Eu era fechada por natureza.
A Susan estava linda. Estava usando um vestidinho branco e com rendas nas bordas, tinha uma tiara de flores na cabeça e umas sandálias bem fofas. Ela já era alta com as sandálias altas, ficou muito mais e ainda bem que o Robert também era bem alto.
Começamos a comentar sobre os nossos vestidos e onde havíamos comprado quando alguém chamou a Susan que acabou me deixando sozinha, peguei uma taça de vinho e procurei um cantinho e me sentei, fingindo beber.
Eu não gostava muito de me socializar, principalmente numa festa daquelas que todos ficam em segredo competindo uns com os outros. Eu não tinha paciência para tamanha perda de tempo. Distraída olhando para o céu, senti um calor na orelha esquerda que me fez despertar do meu mundo.
— Não devias estar no trabalho, senhorita barman.
Virei para ver quem era a pessoa que sabia tanto de mim. E por minha surpresa era o rapaz dos drinques da madrugada, aquele que se parecia com jogador de basquete. Ele andou em direção ao banco do meu lado e se sentou.
— E quem é você para me dizer aonde eu deveria estar? — disse virando o rosto, os olhos nossos cruzaram. Ele olhou bem fundo nos meus olhos, depois para minha boca e sorriu.
— Quem voltou para o mesmo bar três noites seguidas para encontrar um barman, e que na terceira noite soube que ela já não pegava o turno dos seus colegas e que estava de licença médica — disse olhando para o chão e depois para mim.
— Nossa, com tanta informação minha, está parecendo que és algum detetive. E posso saber o porquê disso? Certamente não era para pegar o seu troco, já gastei todo — falei com um ar irônico e, ao mesmo tempo, curioso para saber o que fez ele ir três noites à minha procura e se é que era mesmo verdade.
— Para te chamar para sair — disse ele.
O seu olhar transmitia firmeza, senti que ele não mentia. Porém, também não estava entendendo porque ele queria sair comigo ou ele achava que eu era daquelas que trabalhava em restaurante e ficava com os clientes, seja lá por diversão ou por dinheiro. Nenhuma daquelas definições me servia, estava lá para trabalhar.
— Me chamar para sair? Pelo estado que estavas, deu para se lembrar do meu rosto? — disse rindo dele.
Ele baixou a cabeça sorrindo. Ergueu alguns segundos depois e me encarou.
— Acho que alguns copos de whisky me fariam esquecer da bronca que levei naquela noite — disse ainda me encarando.
— E ainda mais, me esquecer de um rosto tão lindo como o teu.
— Estava me perguntando quando sairia uma cantada, tipo dos homens. — respondi zombando dele
Por fim, deu um sorriso de ponta.
Quebrei o contato visual, tentando disfarçar o meu sorriso. Mexi na bolsa como se tivesse procurando algo. Mas na realidade, não estava procurando nada, simplesmente estava disfarçando a minha vergonha.
— Mas me chamar para sair? O que passou pela sua cabeça, que você iria chegar lá me convidar para sair e eu iria aceitar. Iríamos tomar umas bebidas, falar dos nossos problemas e iríamos nos consolar na cama fazendo amorzinho gostoso e na manhã seguinte iríamos embora e nunca mais eu iria ouvir falar de ti.
Era isso que estavas pensando quando foste à minha procura? — falei tudo que me vinha na cabeça sem medir as palavras, mudando o assunto.
Ele começou a rir e depois eu também comecei a rir dele e das coisas que havia dito. Não sabia ao certo o que me passou pela cabeça naquele momento, de onde tirei aquela coragem toda para falar aquilo, mas falei. Em tempos não teria essa coragem, mas agora tenho.
— Nossa, quando foi que você pensou em tudo isso e falou. Confesso que fiquei impressionado, nunca alguém falou assim comigo, geralmente as meninas perdem a fala ao meu lado. E respondendo a tua pergunta, não. Não era isso que eu estava pensando, mas a ideia pareceu ser interessante — falou rindo e zombando de mim.
— Não me diga… — falei de uma forma sarcástica, sorrindo.
Ele parecia ser interessante, tinha um bom sentido de humor, confesso que se ele fosse ao bar e me convidava para sair eu iria aceitar ainda, mas depois do diagnóstico iria querer me sentir viva.
Eu já estava um bom tempo sozinha, as minhas relações não davam certo por causa dos meus horários de trabalho, estava sempre ocupada. Então depois da última decide ficar sozinha e já vai um bom tempo.
— Estamos começando com o pé esquerdo, assim vai começar a parecer que sou como qualquer um que anda por aí. Vamos começar de novo? — falou estendendo a sua mão em minha direção. Estendi a minha e apertamos as mãos.
— Oi, sou Jackson Valgobere muito prazer — disse ele.
— Humm, sou…Karon o prazer é meu, Jackson. — Dei um sorriso meigo, uma das minhas especialidades.
As pessoas sempre comentavam do meu sorriso, diziam ser contagiante. Até agora não sei o que eles viam no meu sorriso, no restaurante o meu chefe me disse para sorrir mais vezes para os clientes. Mas eu não fazia porque quem teria que ficar com o saco cheio toda a noite não seria ele.
— Então Karon, queres que eu te leve desse lugar chato, com pessoas chatas que não sabem se divertir? — disse o Jack.
O Jack propôs me tirar da festa e me levar para um lugar mais divertido, sabia que não seria qualquer saída. Mas não queria pensar nas consequências, queria me divertir mais um pouco enquanto estava viva. Simplesmente queria me divertir e esquecer um pouco os problemas. Estreitei os olhos e me aproximei dele e disse:
— Estou sentindo segundas intenções. — Recuei um pouco para trás.
— Mas vou fingir que não reparei, e vou aceitar sua proposta. Aliás, só se vive uma vez, certo?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.