Capítulo 698 — A Noite em que Tudo Mudou
Aquela noite se tornaria impossível de esquecer, tanto para aqueles na Terra quanto para os que estavam no Novo Mundo.
A lua de sangue na Terra já havia desaparecido, e a lua havia recuperado seu esplendor prateado. O fenômeno que acontecia apenas uma vez a cada duzentos e poucos anos finalmente chegou ao fim e, para as pessoas comuns, a noite passou de forma tranquila e normal. Apenas muitos anos depois, todos começariam a entender que aquela noite havia sido um ponto de virada na história.
De outra forma de dizer, a roda da história começou a girar naquela noite.
Pouquíssimos jornais noticiaram acontecimentos estranhos, como fantasmas vistos em um cemitério ou criaturas incomuns surgindo no interior das montanhas, mas essas reportagens logo foram abafadas por falta de provas.
A Divisão da Terra estava tomada por ansiedade e confusão, mas rapidamente decidiu que precisava encontrar uma maneira de lidar com a situação repentina. Mao Tianying embarcou cedo, naquela manhã, em um voo para os Estados Unidos. O resultado do contato com as outras divisões foi a decisão de realizar uma reunião entre todos os ramos. Os responsáveis de cada um estariam presentes. Pela posição da Academia Judge, decidiu-se que a reunião seria nos Estados Unidos.
Quando ouviram pela primeira vez que todos os meios de comunicação haviam sido cortados, Mao Tianying e os demais ficaram em pânico. Afinal, eram pessoas sem ambição, acostumadas a seguir ordens da sede. Ao perderem de repente o apoio de quem estava acima, era inevitável que fossem pegos de surpresa. No entanto, depois de várias ligações com outras divisões, Mao Tianying lembrou-se de um ditado:
Quando os tigres deixam a montanha, os macacos viram reis.
Os chefes de divisão, que nunca tiveram muito poder, haviam recebido de repente a autoridade para decidir seus próprios rumos e, possivelmente, até o destino do mundo. Essa perspectiva fez até o sem-ambição Mao Tianying admitir que estava começando a se sentir um pouco animado.
Embora fossem considerados medianos em termos de habilidade dentro das academias — ou até entre os mais fracos — eles estavam na Terra justamente por acreditarem que não teriam muito espaço para crescer no Novo Mundo e, assim, optaram por uma vida tranquila. Porém, sem as restrições das academias, seus poderes ainda eram bastante impressionantes na Terra.
Mao Tianying refletiu muito sobre o assunto enquanto viajava para os Estados Unidos. No fim, tudo precisaria ser decidido coletivamente entre as academias. Antes de qualquer ação, precisariam garantir estabilidade interna.
Em contraste com a relativa tranquilidade na Terra, o Novo Mundo já estava em completa agitação.
Quase no mesmo momento em que a lua de sangue desapareceu, o novo reitor da Academia Dawn usou um método de comunicação de alto nível para emitir um anúncio de guerra às demais academias: “Diante das ações de longo prazo da União Weier, que vem saqueando as caravanas mercantes da Academia Dawn, esta decidiu declarar guerra contra eles. Esperamos que as outras academias compreendam.”
Assim que o anúncio foi divulgado, praticamente todas as academias ficaram atônitas.
A União Weier era um reino humano localizado ao sul da Academia Dawn. Embora não tivesse um território extenso, era um reino altamente comercial. No modo de vida e nos hábitos de consumo, os habitantes já haviam sido bastante influenciados pela Terra. Extremamente hábeis nos negócios, a assimilação precoce lhes permitiu lucrar enormemente nas transações entre as academias e o Novo Mundo. A realeza do reino possuía cofres cheios.
O mais importante era que todos sabiam — até as crianças mais novas entre os nativos — que a confiança da União Weier para expandir seus negócios vinha do apoio e proteção da Academia Judge, dos Estados Unidos, e da Academia Real Britânica. Como preço por essa proteção, ambas as academias recebiam enormes quantias de ouro todos os anos da realeza weieriana.
Se a história dos colonizadores no Novo Mundo pudesse ser dividida em duas partes, a primeira seria marcada pelo uso da força militar para subjugar e atacar reinos inimigos, obtendo territórios, riquezas e pessoas. Depois de acumularem recursos básicos e, com todos os ramos, possuindo territórios vastos, a população limitada de colonos fez com que esse tipo de guerra diminuísse.
Além disso, com a naturalização de cidadãos e a atração dos lucros, muitos nativos passaram a buscar colaboração, de forma ativa ou passiva. Assim, nos últimos cem anos, as ações militares dos colonizadores tornaram-se raras, cedendo lugar ao controle econômico. Alguns chamavam isso de colonização sem sangue.
A União Weier representava exatamente esse modelo. O mais insultante, porém, era que, por ser um país vizinho à Academia Dawn, deveria estar sob sua jurisdição. No entanto, quando a academia ainda se recuperava da guerra contra os orcs, não pôde impedir que os americanos e britânicos se adiantassem e anexassem todo o reino. E, graças ao pacto coletivo assinado entre as academias, a Academia Dawn não podia fazer nada a respeito.
Mas agora, a Academia Dawn pareceu ignorar o tratado e declarou guerra à União Weier. Todos sabiam que o verdadeiro alvo dessa declaração era, na verdade, a Academia Judge e a Academia Real Britânica. Afinal, sendo um país submisso às academias, a União Weier havia abandonado completamente seu exército para agradá-las, mantendo apenas forças básicas de segurança. Não havia chance alguma de resistir ao avanço da Academia Dawn sozinha.
Se americanos e britânicos não interferissem, a União Weier inevitavelmente cairia. A perda financeira não era o mais grave, mas ignorar tal ato provocaria uma longa cadeia de consequências.
Por outro lado, se interferissem, e a Academia Dawn não recuasse, as três academias acabariam entrando em confronto. Isso seria desastroso, ainda mais com os portais fechados e com os calouros da Academia Real Britânica ainda presos em território da Academia Dawn por conta do torneio. Ninguém acreditaria que esses dois acontecimentos não estavam ligados.
O futuro da humanidade, e de todo o mundo, havia mergulhado em incerteza naquela noite.
Enquanto a ansiedade tomava conta de todos, poucos lembravam que, naquele cemitério, uma jovem e alguns estudantes feridos lutavam para salvar um companheiro.
Em uma cama de hospital, um reitor de cabelos brancos olhava para o céu. Estava extremamente magro em seu avental de paciente, e seu rosto pálido não tinha vestígio de sangue. Naquele momento, não se parecia com o majestoso reitor de antes, mas sim com um velho no fim da vida. Ele fitou as estrelas por muito tempo antes de soltar um suspiro. “Tanto faz. Vou apostar minha vida nisso e ajudá-lo uma última vez. Considerarei isso como devolver um favor ao Ivan.”
Naquela noite, ninguém dormiu.
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