Capítulo 699 — O Sonho de Xiao Lin (1)
Xiao Lin sentia como se estivesse sonhando. Era um sonho muito, muito longo. Nele, ele entrava em uma academia chamada Academia Dawn. Aquela academia era mágica, como algo saído de um romance ou de um filme. Ensinava feitiços, esgrima e diversos outros poderes incríveis. Depois de aprender essas habilidades, os alunos eram enviados para colonizar um mundo estrangeiro. Um mundo completamente novo, no qual os humanos da Terra tinham uma posição de poder absoluto.
O sonho era muito longo e realista. Ele conseguia lembrar-se claramente das várias pessoas que conheceu nele: o misterioso reitor idoso, o despreocupado Song Junlang, o honesto Cheng Ming, o bem-humorado Chen Dao e até mesmo a indiferente e inesquecível Gu Xiaoyue. Eles aprenderam juntos, cresceram juntos, lutaram lado a lado e enfrentaram dificuldades, estabelecendo amizades e laços profundos.
O sonho era tão real que Xiao Lin não queria acordar. Queria permanecer nele para sempre, junto de seus amigos. No entanto, todo sonho chega ao fim, e até mesmo Xiao Lin já havia perdido a noção de quanto tempo se passara quando, de repente, abriu os olhos.
Ele estava acordado.
Em um apartamento alugado, não muito grande, a luz ofuscante fez Xiao Lin semicerrar os olhos, ainda desacostumados. Ele esfregou-os com preguiça e se espreguiçou, observando o ambiente ao redor.
Era o quarto que ele havia alugado. Depois de se formar, ele começou a trabalhar em uma imobiliária, mas foi demitido após dois meses. Depois disso, alugou um quarto barato e começou a longa busca por um novo emprego.
Por algum motivo, o quarto parecia incrivelmente estranho, como se ele não o tivesse visto há muito tempo. Na tela do computador sobre a mesa, aparecia a imagem de uma partida perdida. Ele se lembrava vagamente de ter perdido algumas partidas seguidas antes de dormir, ficando irritado a ponto de parar de jogar. Pretendia tirar um cochilo rápido, mas… por que parecia que isso havia acontecido há muito, muito tempo?
Xiao Lin ficou parado por um momento, depois balançou a cabeça com um sorriso cansado, pensando que devia estar apenas muito exausto. Olhou para o celular: eram onze e dez. Sentiu-se incrédulo; havia parado de jogar às onze, o que significava que dormira apenas dez minutos.
Um sonho tão longo… e haviam se passado apenas dez minutos?
De repente, Xiao Lin se lembrou de algo e seu coração se agitou. Recordou-se de que, no sonho, a misteriosa Academia Dawn lhe enviara uma carta de admissão exatamente naquele horário. Sentindo a mesma expectativa, empolgação e alegria de antes, ele esqueceu-se até de calçar os sapatos, saltou da cama e correu para a porta descalço.
Bang!
Ao abrir a porta bruscamente, não havia ninguém no corredor escuro. Apenas o som de uma leve brisa. Insatisfeito, usou a lanterna do celular para iluminar o corredor, verificando cada canto. Não encontrou sequer um pedaço de papel, muito menos uma carta de admissão.
Ele retornou ao quarto decepcionado. Sorriu para si mesmo em tom de zombaria, amaldiçoando silenciosamente aquelas ideias absurdas. Era claro que tudo não passara de um sonho, e agora precisava encarar a realidade. E a realidade era que aquele era um mundo regido pela ciência: não havia Academia Dawn, nem carta de admissão, nem Novo Mundo — muito menos feitiços ou esgrima.
Era hora de dormir; no dia seguinte, teria de continuar procurando emprego.
Xiao Lin tentou se confortar, desligando o computador e as luzes antes de voltar para a cama. No torpor que antecede o sono, uma dúvida lhe atravessou a mente: um sonho tão real… poderia ter sido apenas um sonho?
Na manhã seguinte, Xiao Lin já havia jogado para o fundo da mente qualquer confusão da noite anterior. Não podia se dar ao luxo de viver de devaneios, afinal, precisava encontrar trabalho. Sua família era de condição comum, e ele já gastara demais dos recursos dela ao longo da vida. De forma alguma queria continuar sendo um peso depois de formado.
Após alguns dias de esforço, Xiao Lin finalmente encontrou um emprego aceitável. E era aceitável apenas porque suas expectativas eram baixas. Ele sabia muito bem que seu currículo não era dos melhores: ele havia estudado em uma faculdade de baixo nível, com uma especialização pouco valorizada, e não tinha o dom da oratória ou do puxar o saco. Assim, mesmo sendo um trabalho que pagava pouco mais de dois mil por mês, como só precisava ficar no escritório, era bastante confortável.
A vida de Xiao Lin voltou ao normal. Sempre fora uma pessoa comum e mediana. Havia uma certa satisfação nessa rotina de expediente das nove às cinco. Embora o salário fosse baixo e as chances de crescimento escassas, a estabilidade lhe proporcionava tempo livre para ler, jogar e passear nos fins de semana.
Os dias corriam tranquilamente, e aquele sonho de algumas noites atrás foi completamente esquecido. Por vezes, no entanto, algo quebrava a monotonia. Na primavera, por exemplo, houve alguns dias seguidos de chuvas torrenciais, o que fez todos na Terra comentarem. Muitos meteorologistas apontaram a anormalidade do fenômeno.
Xiao Lin chegou a ver boatos em fóruns da internet: falavam sobre monstros surgindo no Oceano Pacífico, teorias de que a chuva era um sinal do retorno de Poseidon ou até do ressurgimento de Atlântida. Alguns chegavam a dizer que era o fim do mundo. Todo tipo de especulação se espalhou pela rede.
Naquele momento, Xiao Lin voltou a pensar naquele sonho realista. Embora já fizesse muito tempo, lembrava-se de que Atlântida e Poseidon também haviam aparecido nele. Sua vida comum parecia, de repente, ganhar um toque de expectativa, mesmo que ele não soubesse exatamente do que estava esperando.
Passou a acompanhar as notícias e relatos sobre o assunto, mas as chuvas cessaram após cerca de uma semana, e o governo parecia ter suprimido qualquer informação a respeito. Logo, todos os fóruns foram limpos. Tudo relacionado à mitologia ou ao fim do mundo desapareceu.
Não houve lendas, nem apocalipse. A rotina de Xiao Lin voltou à normalidade, deixando apenas uma ponta de decepção. Ainda assim, seguiu com a vida. Depois do episódio, sua sorte pareceu melhorar: por causa de mudanças na empresa, ele, que sempre se manteve discreto, foi promovido e teve um bom aumento salarial.
Se nada de inesperado acontecesse, Xiao Lin seguiria vivendo assim. Daqui a alguns anos, com mais dinheiro, encontraria uma mulher igualmente comum. Ela não precisaria ser muito bonita, e ele nem precisaria gostar tanto dela — bastaria que fosse uma boa pessoa, com quem fosse fácil conviver. Então, passariam a vida juntos.
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