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    Durante todo o eclipse lunar, Xiao Lin permaneceu em dor e desamparo. A lua de sangue estava muito bonita, mas doía olhar para ela. As memórias em sua mente começaram a surgir freneticamente, como uma maré revolta, e ele não conseguia controlá-las.

    Ele estava tomado pelo medo. Sentia que aquelas memórias pertenciam completamente a outra pessoa. No entanto, era como se uma voz lhe dissesse, em sua mente, que aquela era a sua vida real, a sua verdadeira vida.

    O eclipse continuou e, lentamente, chegou ao fim.

    Quando restava apenas um pequeno arco da lua, Xiao Lin estava muito mais calmo do que antes. As memórias intensas vinham rapidamente, mas também desapareciam depressa. Era como se, afetadas pelo eclipse lunar, elas também estivessem sumindo junto com ele.

    Xiao Lin acreditava que seus pensamentos caóticos eram causados pelo eclipse e esperava que, com o fim dele, o tormento cessasse. Contudo, sentiu um certo pesar. Aquelas memórias pareciam extremamente preciosas, e tinha a sensação de que, se as perdesse naquela noite, jamais as recuperaria.

    O que poderia fazer?

    Em seu desamparo, Xiao Lin se lembrou do sonho que tivera naquela noite, anos atrás. A Academia Dawn do sonho parecia se encaixar com as memórias que agora vinham à tona. As conexões entre elas fizeram sua mente girar cada vez mais, até que ele já não tinha certeza se o sonho e as memórias não eram, na verdade, a mesma realidade.

    A dor de cabeça voltou, resultado do conflito entre a vida real e as memórias. Já fraco por todo aquele sofrimento, Xiao Lin tombou na lama, os olhos perdendo o foco de repente.

    No seu estado de transe, não pôde deixar de pensar que, se realmente pudesse viver aquele sonho e ir para a Academia Dawn e o Novo Mundo, talvez essa fosse a melhor escolha.

    Mas… como fazer isso?

    Como poderia viver a nova vida com que sonhara?

    Uma carta de admissão!

    Ele precisava de uma carta de admissão!

    Nesse instante, uma voz ecoou no fundo de seu coração. Era uma voz igual à sua, mas que, mesmo assim, o surpreendeu.

    Sim! Ele havia recebido uma carta de admissão em seu sonho, e foi isso que deu início a todas aquelas memórias. Tudo começou com aquela fina folha de papel. Contudo, ao acordar, Xiao Lin se lembrava de ter procurado por toda parte, sem nunca a encontrar.

    Se não havia carta, ele poderia escrever uma.

    Na escuridão, a voz vaga soou novamente. Mesmo sendo muito parecida com a sua própria voz, era claro que não era dele. Dessa vez, Xiao Lin estava mais desperto que antes e gritou: “Quem está falando?! Quem é você?!”

    Ele abriu os olhos enfraquecidos e, imediatamente, se surpreendeu com a cena diante de si.

    Sem saber como, já não estava mais na montanha. Estava cercado por luzes multicoloridas, que mudavam constantemente, como se estivesse sonhando. Tentou estender a mão, mas não sentiu nada de sólido. Parecia estar flutuando entre nuvens, sendo levado suavemente. As luzes não paravam de se mover, fluindo como água em uma direção, carregando-o junto com a corrente.

    “Eu sou você, e você sou eu”, respondeu à voz. Desta vez, Xiao Lin percebeu que, embora soasse dentro de sua cabeça, a origem estava naquelas luzes radiantes. Tentou afastá-las para ver quem falava, mas não conseguiu fazer nada além de seguir o fluxo.

    “Onde é este lugar?! Para onde está me levando?” ele perguntou, sentindo que toda a sua visão de mundo estava sendo reescrita, com certo temor.

    “Este é um ponto no tempo. No futuro, você entenderá o que é este lugar. Quero levá-lo a uma encruzilhada no tempo”, suspirou a voz levemente.

    Assim que terminou, Xiao Lin sentiu o fluxo das luzes acelerar. Elas começaram a se dispersar e, como um filme avançando rapidamente, o caos diante de seus olhos o deixou tonto. Fechou-os e, quando teve a sensação de que o movimento havia cessado, voltou a abri-los — e ficou surpreso mais uma vez.

    As luzes tinham desaparecido completamente, substituídas por postes de luz amarela. Ele estava diante de uma porta de segurança vermelha, no meio de uma passagem estreita e suja. O lugar lhe era incrivelmente familiar. Quando se formou e ainda estava procurando emprego, o quarto onde morava ficava exatamente atrás daquela porta.

    Não… não era o passado — a isolação acústica ali era ruim, e Xiao Lin podia ouvir sons de um jogo vindo de dentro. A voz reclamando com os colegas de equipe era claramente a sua própria.

    Havia outro Xiao Lin atrás daquela porta! Antes que pudesse dizer algo, a voz misteriosa voltou a soar: “O futuro, você mesmo pode escolher! Esta é a sua última chance. Depois de tomar a decisão, só poderá enfrentar a realidade, seja ela boa ou ruim. Uma encruzilhada no tempo é algo raríssimo no rio do tempo; você não terá outra oportunidade de mudar isso.”

    Depois disso, a voz desapareceu completamente. Xiao Lin sentiu que a presença havia sumido. Em sua mão direita, surgiu, sem que percebesse, uma fina folha de papel. Ele a ergueu e, sob o brilho amarelado dos postes, leu as palavras escritas: “Carta de Admissão da Academia Dawn. Admitido — Xiao Lin!”

    “O que eu faço?!” Xiao Lin gritou, mas não houve resposta. A voz já o havia deixado, e a escolha final estava em suas mãos.

    Xiao Lin não perguntou mais nada. Ele sabia o que deveria fazer e quais seriam as consequências. Em meio às memórias caóticas, já tinha a resposta dentro de si.

    Rasgar a carta significava voltar à vida normal. Seria um homem comum, um trabalhador comum, vivendo de forma pacata. Acreditava que, assim, aqueles sonhos e memórias estranhas jamais voltariam. Como a voz misteriosa dissera, se perdesse essa oportunidade, nunca mais teria outra para mudar seu destino.

    Xiao Lin deveria rasgar a carta. Aquela vida normal, porém tranquila, era o que ele vinha buscando nos últimos anos. Mas suas mãos tremiam ao segurá-la, enquanto rostos familiares e estranhos ao mesmo tempo surgiam em sua mente. Rasgar a carta seria dizer adeus de vez àquele sonho… e esquecê-lo para sempre.

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