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    — Ele é tão lindinho! Senhor Billy, senhor Billy, eu posso ficar com ele? Será perfeito para as minhas bonecas!

    Não via nada em sua frente, apenas o som de uma voz feminina ecoando mais próximo do que gostaria e um som de um violão de fundo. Seus olhos estavam pesados, e não queria os abrir. Gostaria de ficar naquela escuridão, esperando que fosse acordar de um sonho. Porém, uma repentina motivação de ver o que estava a sua frente surgiu, quando sentiu uma pesada respiração atingindo o seu rosto.

    Esforçou-se, e abriu seus olhos. Sua visão estava embaçada, e foi atingido com uma forte dor de cabeça quando seus sentidos foram acionados.

    Quando conseguiu ver com clareza, percebeu uma mulher à sua frente, que segurava seus ombros com força, enquanto o olhava como uma criança que acabou de receber um brinquedo novo.

    Logo, acabou se lembrando do que aconteceu anteriormente, e o seu primeiro instinto foi se afastar, no entanto, a mulher não deixou e o arrastou para mais perto, em uma distância extremamente desconfortável, agarrando seus ombros e o machucando com suas unhas, sem nenhuma intenção.

    Viu o desejo que ela tinha por ele, e começou a tremer de medo.

    — Não se preocupe, Allana. Ele é imortal, afinal. Você vai poder brincar com esse garoto o quanto quiser.

    A voz grave que respondeu a sua pergunta era familiar. Dante percebendo quem era, olhou por trás dos ombros da mulher, só para se deparar em um lugar mal iluminado por tochas presas na parede, e com sete pessoas o observando.

    Duas dessas pessoas já reconheceu: Bill e Kelly. O homem estava sentado em um trono feito de pedra, enquanto a mulher sentava em seu colo.

    No entanto, as cinco pessoas restantes eram novas, e suas aparências chegavam longe de algo amigável.

    Tinha um homem esguio e malhado segurando uma grande marreta, do tamanho do seu corpo. Sua boca estava rasgada, formando um sorriso, e mostrando claramente seus dentes e sua gengiva. Mas o que destacava aquele homem de verdade eram as suas vestimentas… que eram inexistentes. Ele estava pelado, mostrando tudo que tinha de direito, e não se sentia nem um pouco desconfortável ou envergonhado com isso.

    Dante ficou em choque quando viu aquela cena, ainda mais porque ninguém ali parecia ligar.

    Em seguida, tinha um segundo homem, todo trajado com roupas pretas, e um chapéu largo da mesma cor que escondia o seu rosto. Ele tocava uma música em seu violão, revelando a pessoa quem fazia aquele som.

    A terceira pessoa presente no local era um senhor de idade extremamente magro, podendo ver a marca de seus ossos por todo seu corpo. O estranho disso tudo, mesmo nesse estado, ele podia ficar em pé normalmente, sem nenhum auxílio de alguma pessoa ou até alguma bengala.

    Usava um monóculo em seu olho esquerdo, que era cego, e usava nada além de uma calça.

    A quarta pessoa era um grande homem, mais especificamente, da espécie dos gigantes, tendo quase três metros de altura, e sendo o maior de todos naquela sala. Um saco de pano branco e com marcas de sangue escondia completamente o seu rosto, e ele vestia roupas esfarrapadas, além de ser alguém com grandes com um braço grande.

    Por fim, a última pessoa era justamente a mulher na frente do jovem.

    — Sério?! Uhul! Muito obrigada, Senhor Billy!

    Ela colocou a palma da mão sobre a bochecha do garoto.

    — Você é o primeiro homem que eu vejo que se parece com uma mulher de verdade! Você será perfeito como a minha boneca!

    Dante estava horrorizado com a situação atual. Novamente estava em um lugar que não conhecia, junto de pessoas que não conhecia. Entretanto, a situação atual era diferente, já que sentia o perigo de longe. Isso não ia acabar bem pra ele, e tendo consciência disso, o medo que sentia antes apenas aumentou.

    — Sabe, eu cansei de usar mulheres para virarem as minhas bonecas, então, comecei a usar homens. Mas eles ficaram tão loucos, que não era mais divertido… e alguns até entraram em um estado catatonico…

    Ela se levantou e abriu um grande sorriso, começando a gritar:

    — Mas com você é diferente! Você já tem a aparência perfeita, então não sentirá tanta dor como os outros! —  Aproximou seu rosto novamente — A boneca perfeita! Você será a minha bonequinha perfeita! Comeremos juntas! Tomaremos banhos juntas! Seremos inseparáveis, como irmãs! Como família!

    Assustado, o garoto se arrastou lentamente para trás.

    — Sai da frente, ô sua tarada por bonecas.

    — Frank, seu bosta!

    O homem nú empurrou a garota para longe, a fazendo emburrar o rosto.

    — Nos divertiremos muito, garoto.

    Estava animado para isso, e esse sentimento só aumentou cada vez mais quando viu o jovem começar a tremer.

    — Você… vai me violar?

    — O quê? —  Ele pareceu ofendido com isso, serrando os dentes. — Mesmo que você seja homem, parece e age como mulher. Mulher pura! Você é mulher! Não pode ver um homem pelado na rua que já quer acionar as autoridades, ou ser rejeitada que já diz algo como “ah, ele é viadinho!”. — Apontou seu dedo na cara do jovem, que se afastava lentamente.

    — Não, eu não vou violar o seu corpo. Tenho algo muito melhor reservado… — levantou sua marreta, preparando para um ataque brutal — para nós dois! — Desferiu o ataque, no entanto, acertou apenas o chão. Dante foi mais rápido e rolou para trás, se esquivando de uma insana dor.

    Frank estava mirando na região da virilha do garoto e quando o golpe não pegou, viu que realmente poderia se divertir com ele.

    — Tenho que te agradecer, senhor Bill — disse ao homem no trono, que não respondeu de volta —  Vamos brincar de pega-pega, que tal? — disse à Dante, que procurava algum lugar para escapar. Infelizmente, o redor que não era iluminado pelas tochas estava escuro demais para poder prosseguir.

    — Apesar de eu já ter tentado te atacar, te darei cinco segundos de vantagem.

    Ao ouvir isso, o jovem continuou a sua busca por uma saída dali de forma mais desesperada possível. Foi quando percebeu tábuas de madeira tapando um buraco perto da escuridão. Felizmente, o buraco era grande o bastante para ele caber ali.

    Correu até a sua primeira salvação, e o homem começou lentamente a contar.

    — Cinco…

    As tábuas de madeira estavam podres, então a primeira que puxou acabou se quebrando.

    — Quatro…

    Continuava puxando as tábuas, tendo sucesso em seu resultado, contudo, havia uma em bom estado no final das podres, parecendo até que colocaram propositalmente ali.

    — Três…

    Chutou com força a última tábua que bloqueava seu caminho, a destruindo aos poucos.

    — Dois…

    Por fim, conseguiu liberar a passagem, entrando naquele buraco.

    — Um… zero…

    Com o fim da minutagem, o homem ficou parado no local. Ao invés de perseguir o jovem, Frank assobiou. Das sombras, homens pelados com rostos desfigurados e carregando machadinhos apareceram ao chamado de seu mestre.

    — Atrás dele, rapazes.

    Dante se arrastou por aquele apertado buraco o mais rápido possível. Ser uma pessoa baixa foi super vantajoso naquele momento.

    No fim do buraco, via uma fraca iluminação, mas pelo menos sabia que ali levava para algum lugar.

    Sem pensar duas vezes, ele pulou para fora do buraco. A altura era superior a de quando entrou no pequeno espaço, e quando pulou, machucou suas costas no processo. Além disso, acabou caindo em vários degraus de uma escada, ocasionando de rolar para baixo, se machucando ainda mais.

    Quando chegou ao fim, fez o máximo de esforço para se levantar.

    — Que droga…

    Se apoiou na parede, observando ao redor. Estava em uma espécie de calabouço, com tochas encravadas nas paredes do corredor e várias celas com pouca iluminação.

    “Parece que eles não vão me achar tão cedo”, olhou para trás, vendo o breu onde aquela escadaria levava, mesmo com as tochas. O caminho pelo calabouço era bem melhor iluminado, decidindo ir pelo caminho que achava mais seguro.

    Com medo que tivesse alguém perigoso ali, preso naquelas celas, decidiu tapar as bocas com as mãos e andar com passos lentos, para evitar chamar atenção.

    “Porque essas coisas acontecem comigo…?”, lamentou.

    Enquanto passava por uma cela, acabou sendo agarrado e puxado para mais perto. À sua frente, viu uma outra mão de outra pessoa extremamente magra, só que estava com a palma estendida e, em sua palma, havia um pequeno amontoado de terra.

    Mais duas outras mãos prenderam os pulsos do garoto com uma algema de pedra. Logo depois, apenas ouviu um som de assopro.

    — Aaaaaaaaaah! — gritou, após a terra ser assoprada em seus olhos.

    Conseguiu se afastar daquela cela e tentou limpar seus olhos.

    — Ele está ali!

    — Peguem ele!

    — Arranque os ossos fora!

    Ouviu uma gritaria vindo de trás, percebendo que andar lentamente não seria uma boa ideia. Mesmo com a visão ainda prejudicada por causa da terra, correu pela sua vida.

    Seguiu por um corredor escuro, tendo uma luz no fim.

    Olhou para trás, vendo alguns homens nú segurando machadinhos.

    — Aaaaah! Isso é estranho e assustador demais!

    Seus olhos estavam cheios de lágrimas, correspondendo com o seu grito de horror.

    — Sophie! Sophie! Onde eu estou?

    [Você está no subsolo de Schalvalt.]

    — O quê?!

    Ficou intrigado, se perguntando por quanto tempo ficou desmaiado até chegar a nação. Mas já que estava lá, precisava encontrar um jeito para chegar à superfície.

    — Isso significa que você sabe como eu chego no subsolo, né?

    [Infelizmente ainda não sei da geografia desse mundo, me desculpe.]

    — O quê? Mas você não viu eles me levando para cá?

    [Eles te levaram por um caminho bem distante da nação, que levou você para dentro deste país. Como um túnel.]

    — Que droga! De sabedoria você não tem nada!

    [Eu ficaria brava com você por esse comentário, mas a situação aqui é desesperadora.]

    Entrou em mais uma parte escura daquele corredor, sem esperanças que houvesse alguma iluminação à diante. Estendeu seus braços para frente, no caso de haver uma parede em diante, não bater de cara nela.

    — Esse cara está falando sozinho. Haha, ele é mais louco do que a gente.

    Não soube qual dos homens falou isso e nem queria saber, isso só alimentou mais o seu medo.

    — Eu quero os meus pais! — gritou, não aguentando mais toda aquela situação e chorando.

    Mesmo que seus pais estivessem vivos, Dante estava em outro mundo sem chance de voltar para casa. Nem teria como se reencontrar com eles, de qualquer maneira.

    — Que saudades repentina da escola! Era ruim, mas muito melhor que isso aqui!

    Odiava a escola mais do que tudo, por conta das coisas que aconteceram em seu passado.

    — Venha cá, garotinho. Não somos homens malvados, só vamos te matar, comer sua pele e chupar seus ossos.

    — Será a minha primeira vez comendo carne de garoto afeminado ao molho de sangue de cabra. Estou tão animado!

    — Comer! Comer! Comer!

    Os perseguidores exclamaram no fundo daquela escuridão.

    — Papai! Mamãe! Por favor, desçam do paraíso e me salvem! — gritou tão alto que sentiu uma leve queimação na garganta.

    Novamente usou a magia de raio negro nos homens, apenas os vendo de relance e ouvindo o som de seus corpos caindo no chão.

    Enquanto corria e chorava, sentiu uma forte sensação de algo sólido bater com tudo na sua cara e em todo o seu corpo, fazendo um forte som de metal. Nesse momento, viu a claridade de tochas na parede, e quando percebeu, estava caído em cima de uma porta de metal extremamente enferrujada.

    Olhando ao redor, viu escadas levando para o mais fundo que aquele lugar poderia oferecer.

    — O cara que mapeou como deveria ser a estrutura desse lugar com certeza era retardado…

    [Mestre, a sua esquerda!]

    Quando olhou para a direção mencionada por Sophie, viu mais um buraco. Não pensando duas vezes, entrou nele, e acabou sentindo seu corpo sendo levado baixo, como se fosse um escorregador.

    — Ai! Ai! Ai! — reclamava, sentido a dor de seu corpo sendo arrastado por um chão completamente sólido e cortante.

    Por fim, chegou no fim daquele escorregador, caindo no chão. Aquele lugar que chegou fedia muito. Tanto que ele nem sabia como descrever. Obrigado pelo odor, tampou o nariz.

    O garoto estava super cansado e seu coração batia como nunca bateu antes. Por parte, isso era culpa do medo que sentia, mas também pela adrenalina. Nunca foi de fazer muitos exercícios físicos, e não fazia maratonas de corrida na escola. Essa foi a segunda vez que correu tanto em sua vida: a primeira vez foi quando sua irmã mais velha pediu para comprar coisas para o jantar e encontrou aquele demônio disfarçado de uma garotinha.

    — O pessoal… d-daqui… gosta mesmo de tochas… né? — O cansaço não permitia que falasse tudo só de uma vez, tendo que fazer pausas. Mas falou isso após observar várias tochas iluminando o local.

    Mesmo extremamente cansado, tentou se levantar. Suas pernas tremiam, e Dante não sabia se isso era devido ao medo ou ao cansaço. Sendo assim, apoiou-se na parede.

    Olhando ao redor, viu que estava nos esgotos, explicando aquele cheiro insuportável.

    — O esgoto, que é uma parte que fica no subsolo de um país, está tão abaixo assim da superfície?

    [Provavelmente isto não faz parte diretamente dos esgotos de Schalvalt.]

    — Bom… pelo menos… eu acho que consegui despistar aqueles nudi…

    [Não…]

    — Hã?

    Ouviu uma risada vinda de trás. Quando virou, viu os perseguidores.

    “Quê?”

    Ficou sem acreditar. Não havia os ouvidos chegando em nenhum momento, foram muito silenciosos.

    Os homens correram até o jovem, que tentou escapar, mas o cansaço levou o seu corpo ao chão.

    O primeiro homem pressionou seus pulsos contra o chão, olhando para sua vítima, como um animal selvagem, mais forte e maior, prestes a fazer um abate em sua presa fraca e assustada. Esse cara estava bem próximo do jovem ao chão, encostando até o seu amigo de baixo no garoto, deixando Dante bem desconfortável.

    Os interesses deles por seu corpo não eram nada carnais, e sim por um fim alimentício, não que isso fosse sinônimo de sorte.

    — Parece que você perdeu o pega-pega do senhor Frank.

    Ele se levantou, pegando o machadinho de volta. Cercado pelos homens, o jovem aceitou seu destino.

    Eles começaram o atacar, acertando seu corpo várias e várias vezes. Mutilaram sua barriga, e antes de cortarem as pernas e os braços, lentamente dedicaram-se em arrancar os dedos. O cheiro do sangue os atraíam e a carne humana os deixavam babando e com o estômago sedento por comida.

    O garoto gritou de dor, vivenciando aquele inferno. Pôde ver o seu sangue, carne, ossos, órgãos sendo perfurados pouco a pouco pela lâmina daqueles machadinhos.

    Viu um dos homens balançando seu braço arrancado na sua frente, como se desse tchauzinho.

    Um dos perseguidores mutilou seu pênis e suas bolas. Não satisfeito, rasgou seu ânus por inteiro.

    O garoto gritou de dor, mas teve sua língua arrancada no processo.

    A última visão que Dante Katanabe teve antes de morrer, foi de um dos rapazes que o mutilavam, mirando bem em seu rosto, o matando.

    Mesmo morto, continuaram até todo seu corpo virar uma papa. Por fim, os homens pelados comeram a papinha da marca Katanabe.

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