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    A lâmina explodiu por dentro do corpo do Rei Demônio, o fazendo sentir uma dor extrema. Cambaleando, se afastou daquela deusa, a olhando enfurecido.

    — Sua puta, você me enfraqueceu?

    — Disse que você não sairia daqui sem uma punição, certo? — respondeu, jogando a base da espada no chão —  O seu erro foi ter comparecido aqui. Se não fosse por isso, estaria com a maioria dos seus poderes.

    O demônio enfureceu-se ainda mais, entretanto, estava aliviado por ainda estar vivo. O material usado para confeccionar a lâmina daquela espada era poderoso o suficiente para matar um deus, e o apagar para sempre da existência.

    — Tanto faz, deusa puta.

    O ex-deus andou para trás, sem tirar os olhos daquela que deixou uma marca em sua alma. Um portal surgiu atrás dele, usando-o para escapar daquele lugar.

    Fumiko apenas bufou, ficando aliviada dele ter ido apenas embora. Ela olhou para os dois, que ainda estavam em posições defensivas, mesmo o perigo já ter passado.

    — Dante Katanabe, meu filho, você está bem?

    — Hã?

    O jovem ainda estava chocado com tudo isso, e acabou não ouvindo a pergunta da mulher claramente.

    — Bem, você está sim. Você morreu novamente, garoto? Que tristeza.

    — Hã… sim…

    — E você está querendo acabar com a sua vida logo de uma vez? Reencarnar e esquecer sua existência atual? Não, você não vai poder, querido. Desculpe.

    — O quê? — O jovem não entendia o motivo, e nem tinha uma ideia do porquê aquilo.

    — Espera, Fumiko! — Himawari entrou no meio, tendo o objetivo de convencer a moça do contrário. Entretanto…

    — Himawari, cale a sua boca.

    — O quê?!

    — Eu irei decidir. Nós precisamos desse humano.

    Dante caiu de joelhos, apenas olhando de forma incrédula pro chão. Estava com medo de voltar à vida naquele lugar horrível que morreu pela última vez. Ele não podia acreditar que a única coisa que poderia fazer para se salvar de uma vida com mais dor e sofrimento foi completamente recusada.

    — Não se preocupe, garoto. Eu pedi para Iwashi colocar o tempo desse quarto equivalente ao tempo do mundo de Olden, sendo assim, aqueles canibais que te mataram já foram embora a essa altura do campeonato. Ela colocará o tempo anterior novamente depois.

    O jovem não respondeu, nem ouviu. Estava em completo desespero. Deu um soco no chão que, apesar de ter sido leve, tinha o soco do peso do desespero. Aquele peso que ficava nas costas de uma pessoa, e essa pessoa queria poder tirá-lo de lá o mais rápido possível, mas, não era assim que funcionava as coisas.

    — Depois de um tempo, chamarei você para uma reunião, Dante Katanabe.

    Novamente, o garoto não ouviu. Ele estava começando a ficar com falta de ar, pensando que acabaria sendo assassinado, mutilado, de novo, de novo e de novo, até sua mente sucumbir à completa loucura.

    Fumiko, vendo aquela cena, não viu alternativa melhor se não confortar aquele jovem com medo e desespero no chão. Ela se agachou ao seu lado, colocando as mãos nas suas costas.

    — Eu sei que é difícil aceitar, garoto. Vai ser mais difícil ainda lidar com tudo isso que você irá passar, mas você não tem outra escolha. Perdão.

     Ela se levantou, indo em direção à Himawari.

    — Reviva-o — ordenou.

    Sem muito o que fazer, a mulher apenas obedeceu, dizendo logo em seguida.

    — Bem, Dante, fazer o quê, né? As coisas, às vezes, nunca acontece da forma ou jeito que queremos. — Tentou aliviar a tensão, mas isso não funcionou, o jovem continuava na mesma, e a deusa apenas suspirou.


    Aquele cheiro terrível, novamente, assolou as narinas do garoto. Sentia a superfície sólida sob o seu copo bastante desconfortável. Quando se tocou do que estava acontecendo, apenas se levantou, olhando ao redor. Não havia ninguém naquele lugar, apenas ele.

    — Não, não, não, não… — sussurrou, ainda desacreditado.

    Ele viu um pedaço de pedra no chão que tinha a ponta afiada. Pegando-a, encostou em seu pescoço, desejando se matar novamente e implorar para Himawari o fazer reencarnar em uma nova vida.

    — Eu não aguento mais! Todo dia dá algo errado que leva a me machucar seriamente ou acabar morrendo! — gritou, enfurecido, e vendo se isso o fazia ter a coragem necessária para cometer tal ato.

    Encostou aquela pedra na sua pele na região do pescoço. A empurrou lentamente, mas quando sentiu começar a doer, perdeu a coragem.

    Arremessou aquela pedra para longe, e apenas permaneceu sentado no chão.

    — Por que isso acontece…? E qual é o motivo de ainda ficar vivo quando isso acontece?

    Foi uma pergunta que se perguntou no momento, mas ele sabia a resposta, afinal, foi por ela que continuou até ali: queria viver. Todavia, a vontade que sentia já era nula. Ainda se lembrava da sensação do seu corpo sendo mutilado por aqueles machados, enquanto via os rostos daqueles homens felizes em fazê-lo sofrer.

    Algo que ele acabou por achar irônico, era que em histórias onde o protagonista ia para outro mundo, geralmente eles se davam bem na vida, ficavam fortes com poderes apelões, viviam cercados por mulheres apaixonadas e toda a sorte que aquele mundo se propunha a oferecer.

    Só que Dante não tinha nada disso. Era fraco, não tinha ninguém que pudesse ficar junto ou tinha alguma sorte naquele mundo de fantasia medieval. Esse fato o fez dar uma risadinha. Talvez, isso significasse que não fosse um protagonista, apenas um figurante que teve a infelicidade de ser um daqueles que apenas existem para morrer em cenas de luta.

    — Eu odeio tudo isso.

    O jovem olhou para as suas mãos, e logo viu suas lágrimas caírem sobre elas.

    — Que saudades de ser um recluso no meu próprio quarto… Hã? — Sua atenção se voltou para uma carta amassada no bolso de sua calça. — O que é isso?

    Ao pegar a carta em mãos, se lembrou da origem do objeto.

    — Freya…

    Ele ainda não tinha lido a cartinha que a pequena demi-humana fez. Lembrou-se dela ter comentado que era para abrir apenas antes de dormir. Como achava não ter muito tempo para isso na situação de bosta em que estava, decidiu ler.

    O que estava escrito naquela carta, foi o suficiente para fazê-lo começar a ficar emocionado. Quanto mais lia, a vontade de chorar era mais forte.

    O que estava escrito na carta daquela garotinha era o seguinte:

    “Caro mestre, eu não sei escrever direito então a senhorita Alice está me ajudando nesse quesito. Desculpe pela minha letra ruim. Então, eu só queria agradecer tudo que você fez por mim. Quando fui vendida pelo meu pai e vi meus irmãos morrerem na minha frente, achei que minha vida havia acabado. Você me mostrou que eu ainda tenho muito a viver, porque, esse mundo até pode ser sombrio e com pessoas ruins, mas também pode ser lindo e com pessoas maravilhosas como você. Meu mestre me alimentou, me deu roupas, me deixou dormir em uma cama, não me maltratou ou me espancou, e me deu uma esperança de viver novamente. Eu gosto muito de você e espero que possamos nos divertir ainda mais, que nem naquele dia que brincamos na neve. Com amor, Freya.”

    Ao terminar de ler essa carta, e ver todo o amor que uma criança depositou nessa escrita para lhe proporcionar uma boa noite de sono, Dante se sentiu um lixo por querer abandonar tudo isso que viveu no lixo tão facilmente.

    Lágrimas escorreram pelas suas bochechas, ao imaginar a reação de seus amigos ao saberem de sua morte.

    A vontade de morrer ainda não havia desaparecido, mas sim ocultada pelas palavras de agradecimento.

    Por um momento, pensou em como os seus pais se sentiriam em relação a isso, e a tristeza que daria a eles.

    — Eu… acho que posso tentar… sair daqui vivo…

    O medo ainda o assolava, mas, mesmo assim, se levantou para tentar novamente.

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