Arco 3: Capítulo 64 - Sem Dia de Folga Para Você
— O Cavaleiro de Pedra é um monstro extremamente antigo. Boatos dizem ser mais antigos até mesmo que os primeiros seres vivos humanóides a pisar pelo nosso mundo. Ele não é lembrado por vitórias ou algo que pudesse ter feito que deixaria seu nome marcado na história em um sentido positivo, e, sim, pelos massacres que cometia. Matava homens, mutilava mulheres e atacava crianças, até mesmo bebês. Um ser de extrema crueldade.
A dona da voz contadora desta história era Aisha, que começou a explicar exatamente sobre o que estariam lidando daqui há um tempo, a pedido de Dante.
Receberam a informação de Sora, ainda permanecendo na sala, que o monstro estava atacando a aldeia dos orcs, o que deixava Grond, sentado e calado, bater repetidas vezes com seu pé no chão.
O garoto, que ouviu tudo com atenção, sentiu seu pescoço gelar. Pensou que um ser tão antigo e psicopata como ele deveria ser extremamente forte, e era. Se perguntou como que esse monstro seria derrotado.
— Ele… é tão poderoso assim? Tem alguma chance de impedir que ele pare de atacar a Aldeia Orc? — falou, temendo de receio da resposta.
— Bom, ele já foi derrotado à cem anos atrás pela dragoa Sion, que é a guardiã desta floresta. Com certeza ela vai intervir nisso novamente, então, não há com o que se preocupar.
A atenção de todos foi tomada pelo som abrupto de uma cadeira sendo arrastada. Grond se levantou e começou a andar até a porta.
— Ô, malucão, aonde você vai? — Aisha franziu as sobrancelhas.
— Para minha aldeia.
— Quê? Tá louco? — Ela logo entrou em sua frente — Permita-me perguntar, biruta, mas qual foi a parte que a dragoa Sion, guardiã desta floresta, uma dragão de alta patente, “pica das galáxias”, vai resolver isso você não entendeu?
— Idai?! — gritou, assustando a garota com sua voz grossa — É meu povo! Independente se a Sion pode derrotar esse monstro ou não, não importa! Não posso ficar aqui e fazer nada, isso não é certo! O dever de um líder é proteger seu povo e dar-lhes uma boa vida. Eu estou tentando conseguir a segunda coisa, então não posso deixar de conseguir a primeira também.
A garota estava entendendo completamente o que ele queria dizer, porém, não importava o quão musculoso, habilidoso e forte fosse aquele orc, ele não iria conseguir matar o Cavaleiro de Pedra. Ele era um monstro comum, e a criatura que queria enfrentar demonstrava mais poder do que podia parecer.
— Tá, mas, não vai sozinho, você vai precisar de ajuda.
— Hã?
Expressou sua confusão com tal frase repentina.
— Se vamos ter relações de amizade entre nossas aldeias, temos que nos ajudar.
Entendendo, ele acenou positivamente e de forma agradecida. Virou-se para Dante, dizendo:
— Você não é nenhum lutador, né? Será perigoso, fique aqui, se Aisha permitir.
Antes que pudesse responder, a harpia falou na frente.
— Isso não tem problema nenhum, mas eu queria levar meu povo para a aldeia de Aura?
— Quê? A minha aldeia? — questionou a drill.
— Diferente dessa e da aldeia orc, a sua é mais longe, e se meu povo precisar escapar, a sua é a melhor para uma fuga caso as coisas deem errado.
— Entendo!
Aura agarrou os ombros de Dante, o surpreendendo.
— Você vem comigo.
— T-tá.
Essa proximidade repentina o incomodava um pouco. Muito contato com alguém que acabou de conhecer, mas só decidiu ignorar. O foco agora era ele ir para mais longe, já que não pretendia ajudar de qualquer forma. Provavelmente só atrapalharia.
— Sora — Iniciou a chefe daquela aldeia, chamando a atenção da mulher, que já sabia o que estava por vir —, reúne a mulherada.
— Sim, senhora! — respondeu, retirando-se da sala.
— Está na hora de lutarmos pela nossa floresta. — Completou, mostrando um semblante determinado, mas, no fundo, já esperando pelo pior.
Entretanto, enquanto isso acontecia, em outra parte daquele continente, havia uma garota tranquilamente aproveitando o clima do local. Ela estava em uma cidade onde predominavam os ricos, enquanto tomava um sundae de morango com cobertura. Suas roupas demonstravam, potencialmente, que ela possuía uma grande renda financeira. Mas o que mais se destacava era seu cabelo rosado, que estavam presos à uma trança.
Ela cantarolava alguma música aleatória, enquanto se deliciava, descontraidamente, com sua sobremesa.
— Sion!
De repente, houve um grito furioso a chamando, tomando a atenção de todos ao redor.
Ela se virou para trás, vendo uma figura familiar.
— Ah! E aí, irmão?
Era um homem de cabelo azul, usando uma roupa extremamente extravagante, se parecendo como um imperador.
Ao vê-lo, percebeu que teria um pouco de diversão por um momento, ficando animada.
— “E aí” é o caralho, sua puta!
Se assustou por um momento com essa agressividade repentina, vendo que, dessa vez, devia ter feito algo que realmente o irritou.
Quando chegou perto da mesa onde Sion estava, estalou os dedos. De forma repentina, os dois foram parar em um corredor, em um lugar onde toda sua estrutura se baseava em gelo. Quando percebeu que foi teleportada, acabou caindo sentada no chão.
Ao ver onde estava, já estava esperando para o ouvir gritando com ela por uns bons minutos. O bom da situação em que estava, era que poderia comer o sundae enquanto ouvia o sermão, já que conseguiu o levar junto com o teleporte, o problema é que acidentalmente acabou roubando a taça e a colher, sendo propriedade do estabelecimento que frequentava.
— Sua vagabunda do caralho, eu estou tão furioso com você que… Puta que pariu! — A fúria era tanta que mal conseguia falar sem ter que dar uma pausa para respirar. A mulher podia ver seu rosto quase se avermelhando.
— Que boca suja e ofensas gratuitas — disse de forma irônica, não se importando de verdade com a fúria de seu irmão.
— E você tem alguma moral para falar sobre “ofensas”? Quando você mesma, vem levando humanos para transar na minha cama? Minha cama!
— Ah… então é por isso que você está tão puto? — falou sem jeito, se solidarizando um pouco com a irritação que ele sentia, percebendo que esse foi um limite que não deveria ter cruzado.
— Qual o seu problema? Por que na minha cama? Você tem a sua! Por que a minha?
— Digamos que a sua cama seja beeeeeeeeeeeeeeeem, tipo, beeeeeeeeeem, só um tiquinho, mais gostosa que a minha. Perfeito para uma foda.
Essa afirmação final o deixou mais irritado.
— Você não tem nenhum respeito mesmo, né?
— Foi mal, foi mal! Não faço mais isso na sua cama.
— Preferia que não fizesse com humanos novamente.
— Ah? O que foi? Eu sou um ser vivo também, e como qualquer um, tenho que liberar meus impulsos sexuais.
Ela voltou a tomar o sundae. O rapaz pegou a taça de sua mão e a arremessou contra a parede, a destruindo por vários pedacinhos, que voaram pelo corredor, e sujando o chão com o que sobrou.
A garota colocou uma expressão irritada em seu rosto, vendo a sua sobremesa, que nem chegou na metade, sendo desperdiçada.
— Você é retardada? Deixa eu te explicar novamente para ver se isso não entrou na sua cabecinha de merda. Nós não somos simples dragões, além de possuirmos formas humanas, somos seres que sabem de coisas fora de qualquer senso comum da humanidade. Além disso, o criador deste mundo não sabe que ainda estamos vivos, então não jogue fora mais de mil anos com suas taradices. — A levantou pela gola.
— Não se preocupe, Shun, a desgraça do Olden nem cuidar do mundo dele cuida direito. Não me admira que uns demônios começaram a entrar aqui recentemente.
— Não interessa! Ele é um ser que pode ser bem cruel, se duvidar pior que aquele Rei Demônio.
— Huh, foda-se. — Depois disso, tremeu seus lábios, olhando para o lado e ignorando o que disse completamente.
Ele a soltou no chão e se afastou da garota, se esforçando para não berrar de tanta raiva.
— Esquece! Não dá pra conversar com você! Você só pensa no próprio umbigo!
— Ah, qual é, Shun! — Se levantou do chão — Nós dois sabemos que você só é preocupado assim porque apanhou que nem cadela para ele há um tempão atrás.
Não acreditou no que ela falou, e na ousadia que tinha ao falar isso, já estava a um passo de lhe acertar uma voadora.
— …O que você disse?
— Que você apanhou como cadela, cachorra, putinha, mulher de traficante? Sei lá, cara, como você preferir, não tenho tara nessas coisas.
Sion começou a se afastar dele, indo em caminho até a saída do local. Repentinamente, sentiu seu pescoço fortemente sendo agarrado, e seu corpo jogado contra a parede. Surpresa com aquilo, apenas conseguiu dar atenção ao rosto de Shun, que estava tão enfurecido ao ponto de seus olhos se tornarem assustadores.
— Sua…!
— Olha, ser cauteloso é importante sim, mas você trata isso de uma forma nada saudável. Então dê uma acalmada, porque se você quiser brigar, vai apanhar bastante.
Aquele momento ela realmente estava séria. A garota era bem mais forte, e Shun sabia que não poderia a derrotar tão facilmente, então, recuou.
— Ótimo, agora vou embora, ô, senhor estressadinho.
Começou a andar, novamente, em direção à saída, pensando em comprar novamente aquele sundae.
— Sion.
Porém, ainda havia mais uma coisa a ser dita.
— Você se lembra do Cavaleiro de Pedra?
Ao ouvir esse nome, parou e esperou o resto.
— Soube que ele acordou de seu sono de anos, e está fazendo uma “brincadeirinha” na floresta que você cuida.
Ao ouvir, ficou apreensiva sobre o caso. Virou seu rosto para Shun, dizendo:
— O quê? Você me fala isso só agora?
— Huh, foda-se. — Repetiu a mesma coisa que a garota havia feito antes.
Na hora, ficou irritada. A pausa para uma sobremesa teria que esperar. Antes de sair rapidamente do local, levantou seu dedo do meio, o insultando logo em seguida:
— Valeuzão, pau no cu, bom que, quando eu resolver essa merda, converso com aquele humano.
Finalmente ela estaria saindo daquele lugar, no qual se tratava de um castelo de gelo. O lar dos dois e seus outros irmãos, longe de humanos.
— Não posso tirar um dia de folga que já dá merda, incrível… — reclamou.
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