Arco 3: Capítulo 73 – Desistência
Tudo que sentia era medo. Mais uma vez o garoto morreu, e como as suas mortes anteriores, foi extremamente brutal. Ele ainda se lembrava vivamente da sensação e do pavor que sentiu ao ver seu corpo sendo mutilado aos poucos. Foi tão assustador e dolorido que nem teve a capacidade de pensar em algo. Na verdade, mesmo após a sua vida ter terminado, era como se todo o sofrimento do que acabara de passar continuasse. Tudo que conseguia pensar era na dor.
Ele estava com frio. Não sentia nenhuma parte do seu corpo, apenas sua consciência. Isso era novo, nada semelhante havia ocorrido antes. “O que pode ser? O que está acontecendo?”, foi o que pensou.
Tentou gritar, mas nenhuma voz ecoava. Tentou sentir o cheiro, o tato, mas nada. Tentou ouvir algo além, mas falhou. Tudo que podia compreender eram o medo e o frio.
O garoto estava em um estado miserável, tanto em vida quanto em morte. Naquele ponto, ele já havia desistido de tudo. Afinal, qual seria o sentido de viver em um mundo tão perigoso e brutal quanto aquele? Desde que chegou naquele outro mundo, só tem continuado a morrer. Só foi atacado, em maioria, por seres ou gente cujo não conseguiria revidar de forma justa.
Ele era um adolescente fraco, sem experiência em combate, sem força física. Parando para pensar, nenhum dos inimigos que enfrentou, derrotou sozinho. Sempre foi com ajuda de terceiros, e sempre acabava extremamente machucado com isso.
“Eu desisto…”, naquele momento, se arrependeu profundamente de ter insistido a voltar à vida na primeira vez que viu Himawari, a Deusa da Cura. Devia ter ido para o paraíso preparado para os humanos.
“Medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor, medo, dor!”, sua mente estava beirando a loucura.
De repente, uma grande claridade atingiu seus olhos. Quando menos percebeu, estava no pós-vida novamente, e, em sua frente, estava uma figura familiar. A Deusa da Cura segurava um balde de metal, enquanto vomitava dentro do recipiente. Aparentemente, a cena foi demais até para ela.
“Quê…?”, não estava raciocinando direito, apenas sentia um leve incômodo com os desagradáveis sonhos de vômitos vindo da mulher sentada à sua frente.
Olhou para seus dedos. Estavam intactos. Logo, as lembranças do que presenciou há alguns minutos estavam surgindo em sua mente. Era assustador pensar que uma hora você estava sendo mutilado vivo por homens pelados usando machados, e um milissegundo depois, estava sentado em uma cadeira com o corpo completamente intacto, sem sentir mais dores.
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Era um choque que não dava para descrever com palavras. Algo que simplesmente acontecia, e nenhum ser humano comum conseguiria entender só de ouvir falar.
Aquilo deixava o jovem paralisado, sem conseguir pensar direito.
Se tocando do que aconteceu, lentamente levou seus dedos aos seus olhos, os tocando delicadamente. Quando os sentiu, lágrimas surgiram, mas ainda não haviam sido escorridas. Agarrou sua cabeça com força, começando a chorar.
Dessa vez, seu choro não era de alguém que se machucou normalmente, e sim um choro de uma pessoa traumatizada, de alguém desesperado.
O jovem se jogou no chão, deixando as lágrimas caírem na grama.
Quando viu Himawari de cima, se jogou em seu colo, e começou a implorar.
— Por… favor… eu não aguento mais… Me tire desse mundo! Me mata!
Himawari viu o desespero nos olhos do jovem, logo, se sentiu culpada. Colocou suas obrigações como deusas atrás de sua própria empatia. Conseguiu resistir por séculos, mas ao ver o que isso causava a Dante, o humano com quem mais conversou, percebeu que teria que pôr um fim nisso.
Ela também viu que o jovem não estava pensando no que poderia perder se deixasse essa vida de vez: seus amigos, as relações que construiu. Chegou a pensar em dar uma escolha pra ele, mas desistiu dessa ideia.
Algumas pessoas poderiam pensar se egoísmo o garoto desistir de sua vida, e deixar as pessoas que conheceu, ajudou e se importam com a sua pessoa para trás. Porém, seria mesmo egoísmo? O garoto tinha a escolha de continuar, mas valia a pena? Acabou sendo levado a um local extremamente perigoso, e não sabia onde era a saída. Um local cheio de pessoas loucas querendo o matar. Juntando com o fato de que estava longe de sua casa naquele mundo, já que demônios enviados pelo próprio Rei Demônio o mandaram para longe.
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A opção mais fácil seria acabar com aquilo tudo de uma vez, e isso já devia ter acontecido na primeira vez que havia morrido.
Dante era só mais uma pessoa comum, que acabara de provar o gosto da crueldade humana.
Decidida, a mulher jogou o balde vomitado para longe, e se levantou da cadeira.
— Certo, isso já foi longe demais. — Suspirou .
Ela olhou para o garoto, agarrado às suas pernas com um olhar esperançoso. Melancólica, pôs a mão sobre sua cabeça, dizendo com a palma da mão brilhando:
— Eu te abençoou, criança. Espero que possamos conversar algum dia, depois de tudo.
Ao ouvir essas palavras, o jovem se tocou que não poderia mais se reencontrar com todos seus amigos que fez pelo caminho de sua nova vida naquele novo mundo. Isso o fez ficar pensativo sobre sua decisão.
— Humano Dante Katanabe, eu, a Deusa da Cura, Himawari, lhe concedo duas escolhas: reencarne no Planeta Terra, como uma nova pessoa e sem memórias de sua vida antiga, ou vá para o paraíso, onde poderá dormir e sonhar com o que mais te deixaria feliz por toda eternidade.
Eram três opções originalmente, sendo a terceira ir para aquele mundo, onde tanto sofreu. O garoto percebeu isso, e imaginou que a deusa estivesse o poupando de viver em um mundo tão cruel novamente.
— Eu quero reencarnar novamente na Terra. Se possível, como homem novamente, não só na biologia, mas como em aparência também, e com a minha “peça” sendo do mesmo tamanho, por favor.
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— Bem, haha, vou ver o que posso fazer. — Deu uma melancólica risada.
Era isso, sua vida estava acabando. Dante Katanabe não existiria mais, e o resto que viesse era história. O jovem só esperava o seu fim com os olhos fechados, enquanto pensava em todas as pessoas que conheceu.
“Até mais, pessoal. Eu queria ter passado mais tempo com todos vocês, mas… fazer o quê?”
Então, foi aqui que a história do garoto afeminado, se encerrou…
— Só por cima de todos os cadáveres que fiz em todos os meus milênios de existência.
Uma presença abrupta disse, com uma voz imponente. Quando se viraram para a direção daquela voz, puderam ver um homem esguio com um corpo musculoso, mas a primeira coisa que chamou a atenção de Dante naquele rapaz, foi sua careca que brilhava.
— Eu não permito que o garoto morra definitivamente agora. Você teve sua chance antes e a perdeu. Arque com as consequências. — O homem andava com passos lentos até os dois.
A deusa entrou na frente do garoto, com a intenção de protegê-lo.
— Dante, perdão! Mas você terá de esperar um pouco!
— O quê? — questionou — Quem é esse cara?
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— Este homem é o ser que nos tem dado dor de cabeça por milênios. A criatura sempre sendo representada como o ser maligno supremo nas ficções. Nosso inimigo mortal. Este homem na nossa frente é o Rei Demônio.
— Sim, sou eu. Agora, que tal conversarmos? — falou o homem, o responsável pela existência de todos os demônios.
O… Rei… Demônio? — Incrédulo com a informação recebida, o garoto continuou atrás da deusa.
O ser careca com vestido com um terno andava em passos lentos em direção aos dois.
— Sabe, foi bem curioso ver a sua rota por esse outro mundo, garoto. Tadinho do pobrezinho do Dante Katanabe. Abandonou a escola com problemas com colegas de turma que não gostavam dele. Viu seus pais adotivos mortos em sua frente quando mais novo, e não só eles, mas como seus irmãos há alguns meses. Decidiu viver uma nova vida e ser feliz em um mundo medieval de fantasia, mas não pensaria que morreria de novo, de novo e de novo… É um clico vicioso, não acha?
Aquele ser chegou perto dos dois, os intimidando com sua altura.
Dante não soube o que responder à sua pergunta, sendo assim, apenas disse a primeira coisa que lhe veio à mente.
— Então, o v-vilão principal que quer algo comigo… é um careca com r-roupa de patrão? Isso não é meio clichê? — Mesmo tentando dizer algo que, em sua concepção, sairia legal, o medo fez gaguejar.
— Você gostaria de ver a minha verdadeira aparência, garoto? Não me responsabilizo por traumas e pesadelos.
O jovem não o respondeu, e continuou atrás de Himawari, que a olhava enfurecida.
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— Como você entrou no Reino Sagrado? Responda! — gritou a mulher, o vendo com um sorriso no rosto.
— Digamos que deuses sem disciplina são iguais a perigo aos seus aliados.
Apesar dele não ter dito claramente, ela acha ter entendido o que quis dizer. No caso, o que deduziu foi que os deuses atuais foram traídos, ou por um dos novos deuses, ou as antigas deusas.
Foi tirada de seus pensamentos quando sentiu uma mão e seu queixo.
— Você é tão bonita. Que tal um susto?
Antes que pudesse fazer qualquer coisa. A garota foi beijada pelo Rei Demônio. Ela tentou se soltar, mas sua cabeça estava sendo forçada para frente.
Vendo aquela cena, Dante ficou chocado, mas não pelo ato do beijo em si, e sim pelo que aconteceu posteriormente. De forma abrupta, várias mãos carbonizadas saíram de dentro de sua boca, agarrando a mulher de dentro e fora. Com muito esforço, ela conseguiu se soltar e escapar daquela situação, vomitando no chão.
O garoto olhou para a garota assustado.
— Você falou da minha aparência, não?
Quando se virou, o seu choque aumentou ainda mais.
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— Mas você reclamaria dessa?
O Rei Demônio assumiu uma outra forma, para provocar o garoto. Aquela que usava antes não era e nunca foi sua aparência verdadeira, e sim uma forma que gostava de assumir. Entretanto, a que assumiu agora perturbou o jovem.
O que Dante via à sua frente era ele mesmo, e isso o assustava. A sensação de ter uma cópia idêntica de si mesmo não o deixava contente, e tudo que podia fazer era ficar parado e apavorado com aquilo. Única coisa diferente eram as roupas e a voz, que se mantinha a mesma do homem.
— Oh, o que foi, Katanabe? É a primeira vez que viu algo assim? — O Rei Demônio se aproximou com um pouco de dificuldade, já que as roupas não sofreram modificações. Chegou perto de Dante, passando a falar no ouvido do garoto.
— Bem, acho melhor se acostumar, porque irei aparecer assim para você, o vendo sofrer. Quero que saiba que eu obrigarei você a continuar vivendo e se destruindo psicologicamente mais… e mais. — Colocou a mão no ombro do dele. — Tenho muitos planos para o futuro, e você está neles. — Depois deu uma risada que ecoou nos ouvidos do garoto.
Um som de soco pôde ser ouvido naquele lugar.
— O quê?
Quando menos percebeu, instintivamente Dante deu um soco na cara de sua cópia maligna, que ficou chocado com tal atitude e audácia. O demônio não estava preparado para que isso acontecesse, e não conseguiu dizer nada após receber o soco.
Apenas olhou pro garoto, e apontou o dedo indicador em sua direção.
De forma repentina, o jovem se viu num completo vazio, rodeado de um frio imenso. O frio só aumentou cada vez mais, atingindo fortemente sua cabeça, causando uma enorme dor ao garoto, ao ponto de ficar no chão. Ele segurou sua cabeça com força, mas isso não adiantava de nada, a dor continuava.
— Quem você pensa quem é? Eu posso não ter a força necessária no mundo físico, mas sou poderoso o suficiente aqui. Não se esqueça disso — disse o rei, visivelmente irritado e ainda incrédulo.
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— Pare com isso! — Himawari entrou na frente. — Como você entrou aqui? Todos sabem que você está aqui no Reino Celestial? Se o que quer é seu posto de deus novamente, já saiba que isso é impossível de acontecer!
“O… quê? E-ele já foi um… deus?”, o frio que Dante sentia se dissipou, junto do vazio que estava em volta.
— Não se preocupe. Eu não posso ficar aqui por muito tempo, antes que acabe morto. — Começou a puxar o nariz dela. — Obviamente não é por você que posso morrer, já que não passa de uma deusa fraca e patética, que tudo que sabe é curar e se apegou a um humano estúpido. — Finalizou, dando pequenos tapas no rosto de Himawari, a deixando mais irritada.
— Bem, se não… Ah! — Parou de falar ao sentir algo atravessando a região do estômago. Quando olhou para baixo, viu uma lâmina brilhando em cores invertidas.
— Você não vai embora daqui sem uma punição antes, Dryzun!
As suas palavras ecoaram pelo quarto, e o Rei Demônio ficou surpreso pelo ataque repentino, mas não por quem cometeu, que no caso, era a deusa Fumiko.
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