Arco 3: Capítulo 10 - Visitas
Ao amanhecer, a claridade do sol entrava na janela aberta do quarto do hospital, fazendo os olhos fechados do garoto se mexerem e, aos poucos, se abrirem, tirando-lhe o sono. Enfim, acordando naquela manhã ensolarada, ele se esforçou para se levantar, e ter força de vontade para não voltar a dormir.
Esfregando seus olhos e bocejando, Dante havia acordado, e se preparado para mais um e entediante dia deitado na cama do hospital sem poder fazer muita coisa. O garoto ouviu o som da maçaneta se abrindo, e deu toda a sua atenção para a porta.
— Eai, bom dia.
A enfermeira entrou no quarto segurando uma bandeja de comida. Dante ainda com seus olhos meio sonolentos, respondeu ao seu cumprimento.
— Bom dia.
A enfermeira sentou-se na cadeira, entregando a bandeja de café da manhã para o garoto.
— Obrigado — disse Dante.
A garota levou sua mão até o bolso, pegando um cigarro e uma caixa de fósforos.
Enquanto acendia o cigarro, o garoto se alimentava de seu delicioso café da manhã, comendo dois pães com ovos em cima e um suco.
— Aí, senhorita Anny. Não tem nenhum jogo de tabuleiro ou algo que eu possa usar para me divertir? — A enfermeira levantou os ombros à resposta do garoto, dando a entender que ela não sabia — Tá. E, a gente não deveria estar fazendo uns exames? Ou coisa do tipo?
Dante estava pensando na ideia de fazer exames para conferir se a pessoa estava bem, mas isso não aconteceu desde que ele havia acordado na madrugada passada, e acabou achando isso bem estranho.
— Nem, você foi curado e está bem de saúde, eu já havia o examinado enquanto dormia. — Isso explicava o porquê dele não ter feito nenhum até o atual momento.
— Entendi — falou enquanto voltava a se alimentar.
A garota olhou para seu corpo com uma expressão de preocupação.
— Você é bem fraco, né? Vamos exercita-lo.
Terminando seu lanche, o garoto olhou para ela com uma expressão de desgosto para o seu comentário.
A mulher derrubou Dante de sua cama, fazendo ele ficar surpreso.
— Ei!
Após isso, se sentou em cima dele, obrigando-o a aguentar todo o peso de seu corpo.
— Que cê tá fazendo? — Dante perguntou com um olhar preocupado.
— Faça cinquenta flexões! — ela exclamou.
— Quê? Não! Por quê?
Terminando de fumar seu cigarro, e o jogando fora pela janela, Anny concluiu:
— Vamos, deixa de ser bunda mole! Faz bem fazer exercícios.
— Eu sei, mas…
— Anda!
— Que droga…
Assim fez ele, levantando seu corpo junto com o corpo da mulher, tendo que aguentar o seu peso e o dela, e perdendo totalmente o fôlego quantas vezes mais se esforçava, tendo conseguido fazer apenas cinco de cinquenta flexões, que foi a quantidade anteriormente requisitada.
Dante se rendeu ao cansaço e se deitou no chão por desistência.
— Não… dá não… vo-você… é muito pesa… da — disse tendo que parar para respirar a cada dez segundos.
Ser recluso por bastante tempo poderia ter mexido bastante com o nível de força bruta que ele tinha no passado, que também não era tanta. Porém, não dava para julgá-lo, já que ele foi obrigado a levantar uma mulher adulta, e o garoto não havia nem atingido a maioridade.
— Quê? Você é fraco. Meu último paciente conseguiu me levantar vinte vezes.
A mulher ficou imediatamente aborrecida pelo garoto não ter alcançado suas expectativas no quesito de força. Mas, ela queria o fazer treinar mais, para ficar ainda mais forte, e conseguir levantá-la cinquenta vezes, como requisitado anteriormente.
— Não me compare a alguém que não conheço! E o que é isso? Você faz essas coisas com todos seus pacientes?!
Em meio de tanta reclamação, ela saiu das costas dele, dando um grande alívio para o garoto. Limpando a garganta, Anny disse:
— Enfim, hoje você terá bastante visitas. Inclusive, acho que uma já está pra chegar.
No momento em que falou isso, pôde ser ouvido o som de batidas na porta. Dante se levantou, e Anny foi até a porta, abrindo-a.
Uma garotinha com um olhar tristonho é quem estava atrás da porta. Dante conhecia essa menina, e ela era Saphir. Anny saiu do quarto, dando um “tchauzinho” com a sua mão.
— Ah, bom dia, Saphir. Veio cedo.
— Sim… — A garota estava com o olhar triste e a cabeça baixa — Eu queria pedir desculpas.
Ouvindo isso, o garoto não soube o porquê dela querer se desculpar, ele não se lembrava de nada que a garota havia feito ou falado com ele, então, Dante ficou confuso.
— Se eu não tivesse atraído aquele monstro até você, nada disso teria acontecido…
Foi quando o garoto finalmente havia se ligado no que estava acontecendo.
Saphir acabou sendo enganada pelo demônio Gharamb e, por isso ter acontecido, muita gente ficou em perigo, e algumas pessoas morreram.
Provavelmente, a garotinha estava se culpando pela morte daquelas pessoas, por Dante ter parado no hospital e um monte de gente acabar ficando em perigo.
O garoto viu mais atentamente o rosto dela, e percebeu que a menina estava com olheiras. Provavelmente, por estar guardando essa culpa, não conseguiu dormir recentemente.
— …Viu, por que está se culpando? Você não trouxe aquele demônio porque quis, né? Trouxe porque foi enganada, então, não há o porquê se culpar. Não é sua culpa. — Saphir levantou sua cabeça, e olhou para Dante com seus olhos penetrantes — Aquele monstro estava atrás de mim, não lembra?
— É, mas, se eu não tivesse sido enganada…
— Bem, ninguém pode te culpar por causa disso. Qualquer pessoa inocente como você teria sido enganada da mesma forma.
— Qualquer… pessoa…? — lágrimas caíram de seus olhos. Seus sentimentos naquele momento, estavam divididos em: tristeza e alívio — Se você diz, Dante. Obrigada, por dizer isso, me sinto um pouco mais leve agora.
O garoto deu um sorriso e um cafuné na cabeça da garota.
Para sair daquele clima triste, Dante decidiu dar o anúncio que deixaria Saphir feliz.
— Aí, adivinha que vai ser o cara que retomará a ser seu colega de trabalho!?
Era aquele tipo de pergunta que de ouvir você já sabia a resposta, no sentido de a pessoa estar falando de si mesmo. Saphir percebeu isso, e decidiu entrar no jogo do jovem.
— Eh… você?
— Acertou!
Algumas horas se passaram. Dante permanecia na cama do hospital sem fazer nada. Perto do horário de almoço, chegaram as próximas visitas. Batidas na porta ecoaram pelo local. Ele já sabia que não era a sua médica.
— Entra — o garoto disse.
A porta se abriu, e cinco de seus ex-colegas de trabalho entraram na sala: Chloe, Larry, Amber, Emi e Aiko.
— E aí, cara? Cê tá legal? — Larry disse.
— Ah, sim, bom dia.
— Trouxemos isso aqui pra você — Aiko disse enquanto mostrava uma cesta de frutas.
A garota deixou a cesta sobre a escrivaninha do lado da cama de Dante.
— Ei, Dante, você gosta de ler, não é? — disse Emi colocando um livro sobre a escrivaninha — Provavelmente deve estar com tédio aqui, né?
— Ah, obrigado.
Chloe estava segurando uma marmita em suas mãos. Sentando-se na cadeira que estava no quarto, ela perguntou:
— Você já almoçou, Dante?
— Não.
— Então abra a boca.
A garota abriu o pote e pegou uma colher que estava separada da comida e a encheu de alimento. Levando o objeto até a boca do garoto, ela disse:
— Aqui, coma. Foi eu que fiz.
— Sério?! — Dante ficou surpreso com a afirmação dela. O garoto olhou para o lado, e viu seus ex-colegas virarem os rostos com olhares de pena. Não entendendo o porquê deles fazerem isso, ele só decidiu ignorar e abrir a boca.
Recebendo a comida na sua boca, ele pôde perceber o porquê daquela reação de seus colegas. O sabor que ele sentiu, foi algo que quase não entrava na linha do aceitável. Não era bom, era ruim, era péssimo. Comendo e engolindo aquilo, Dante sentiu vontade de vomitar, mas acabou não fazendo isso.
— E então? O que achou?
A garota ainda teve a audácia de perguntar sobre o que o menino havia achado de sua comida. Felizmente para ela, Dante não era alguém maldoso, e decidiu dar-lhe uma resposta inofensiva, só que, ao mesmo tempo, que passasse o recado de: “por favor, melhore a sua culinária ou nunca mais volte a cozinhar”.
— …Eh, comestível…
Infelizmente, para o garoto, essa informação entrou por um ouvido e saiu por outro. Chloe ficou extremamente corada. Seus olhos encheram-se de brilho, e era possível ver um grande e lindo sorriso em seu rosto.
“Isso não foi um elogio! Não olhe assim para mim!”
Virando o seu rosto para esconder a cor pimentão que ele emanava, ela disse:
— É que… é a primeira vez que alguém elogia minha comida.
“Não estou surpreso. E isso não foi um elogio!”
Mais tarde naquele dia, as últimas visitas chegaram. Batidas na porta ecoaram no local. Antes que o garoto pudesse falar qualquer coisa, a porta se abriu. Alice, Freya e Flora apareceram no local.
— Eai — Alice disse.
— Oi.
— Mestre, você está bem? — Freya perguntou.
— Tô sim.
As garotas foram até ele, e Alice se sentou na cadeira, jogando seus pés sobre Dante. Vendo a cesta de frutas, ela não deixou de pegar uma, e começou a se saborear de um delicioso gosto de uma romã.
— Aí, sua amiga veio lá na hospedaria e disse que ia acompanhar a gente agora. O anjo lá.
Dante cruzou seus braços e pensou atentamente nesse acontecimento. Também se lembrou que poderia escolher qualquer recompensa do chefe do vilarejo.
— Viu, cês topam morar no vilarejo? — o garoto indagou.
— Vilarejo? — a súcubo perguntou, enquanto pegava mais romãs e devorava.
— Sim. Acho que posso exigir isso como uma recompensa. Como irei voltar a trabalhar, irei morar novamente na mansão, provavelmente. — Alice quase se engasgou ao ouvir isso — Sendo assim, ganhando uma casa em meu nome como recompensa, vocês poderão morar nela de graça.
— Vai trabalhar em uma mansão? — a garota perguntou.
— Irei retomar ao trabalho. Acho que não te contei, mas já trabalhei como mordomo, e irei voltar com o mesmo cargo.
— Irado, talvez eu devesse trabalhar nesse local também.
— Eh, e quem vai cuidar da Freya?
— Sua amiga anjo.
Freya foi a caça de frutas também, enquanto prestava atenção sobre o assunto direcionado à ela.
— Falando em cuidar, cadê a Yuri?
— A raposa? A Angel está cuidando dela. Ela disse que estaria ocupada, então não veio aqui.
— Entendi. — Dante direcionou seu olhar para a pequena escrava — Bom, com o dinheiro que irei ganhar no trabalho, acho que vou poder libertar a Freya dessa coleira. — A garotinha não parecia ter ficado muito feliz com essa informação, mas também não demonstrou explicitamente que havia ficado infeliz.
— Bem, é melhor nós irmos agora. Vê se sai daí rápido, viu? — Dante sorriu e acenou com a cabeça positivamente. Alice se levantou da cadeira e foi em direção à porta, com Freya e Flora a seguindo — Obrigada pelas frutas.
— Dante, quando você sair daqui, nós vamos treinar alguns ataques com a nossa magia, beleza? — Flora disse.
— Ah, beleza. Mal posso esperar.
Mais algum tempo se passou, e já estava escurecendo. Perto da hora do jantar, Dante estava conversando com Anny.
— Gostou das visitas? — a enfermeira perguntou.
— Sim, ganhei até um livro.
— Ah, é? — Ela acendeu mais um cigarro na frente do garoto que, imediatamente, tentou evitar o cheiro de fumaça apertando o nariz com o dedo — Aí, você quer que eu seja sua enfermeira e médica pessoal?
— Ahn?
— Não afetará o meu trabalho, e também vários médicos têm clientes pessoais. Você é bem interessante, garoto. Venha sempre que precisar. Vai ser de graça.
Dante pensou bastante, e viu essa situação com bons olhos, mas também parecia suspeita. “Por que ser um cliente pessoal? E de graça? Ela está tão interessada assim em mim?”, esses pensamentos estavam invadindo a sua mente.
Porém, ele poderia ser cuidado sempre que precisar pela garota, além de que, Anny era uma mulher bonita, poderia ser uma boa desculpa para visitar uma fumante atraente, e receber tratamento médico gratuitamente. E caso isso fosse uma armação, Dante tinha um contrato com a fada Flora, então qualquer coisa, era só desferir um ataque nela.
— Tudo bem. Acho que posso aguentar o cheiro de cigarro.
— Que bom.
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