Índice de Capítulo

    Se passaram algumas horas desde os eventos passados. Dante não havia saído da hospedaria naquelas horas. Passou a manhã inteira descansando desde aquele incidente.

    Lembrou de seu combate com Altair, e queria saber o motivo do Rei Demônio querer mexer com ele. Não fazia sentido, o jovem nunca interagiu com o Imperador dos Demônios, nem sabia como era seu rosto.

    “Isso… é ruim…”

    Se o Rei Demônio queria algo com ele, com certeza não era coisa boa, pelo menos era assim que o jovem pensava.

    — Não precisa se preocupar.

    Quem proferiu essas palavras foi Angel. Seu Anjo da Guarda estava calado desde aquele confronto, e permanecia deitado virado de costas para seus colegas de quarto.

    — Angel, o que era…

    — Nada. Esquece isso. Com certeza aquilo não te deixaria poderoso, ou o transformaria em um personagem de shounen ou essas coisas que as pessoas gostam.

    Bem, foi icônico pensar que uma pessoa que nem a Angel, que aparentava não conhecer a cultura geek tão bem, fizesse uma menção a um gênero de mangá. Porém, esse não era o foco da pergunta de Dante.

    Sobre aquela transformação, que a garota fez em Dante, ela não parecia querer falar sobre aquilo. A mulher chamou de “medida de proteção” mas estava mais para algo sobrenatural, que lembrava de certa forma transformações de mangá.

    Mesmo sem respostas, o garoto decidiu respeitar a decisão de seu Anjo não querer falar sobre aquilo, e acreditou quando ela disse que não o deixaria mais poderoso. Ao ver, não tinha pra quê Angel mentir sobre algo.

    Ele também estava pensando sobre aquela tal de Bastet. Ela e Angel não pareciam ter uma boa relação, e essa pessoa também não parecia ser flor que se cheire. Além disso, pela conversa das duas, estava nítido que aquela moça também era um Anjo. Possivelmente, um Anjo da Guarda.

    — Se aquele cara voltar, o que eu faço? — o garoto perguntou.

    — Não se preocupe.

    Angel estava fria, o garoto não estava gostando disso. Com o jeito de falar dela, parecia que a garota viu um ex-namorado problemático, ou uma ex-amiga detestável.

    Ele decidiu confiar nas palavras de Angel, mesmo que isso ainda o preocupe. A garota-anjo o surpreendeu bastante hoje, principalmente quando ela havia voltado bem daquele ataque que a partiu no meio.

    “Sabedoria… naquela hora a Angel reviveu? Sabe, como eu faço.” Isso foi uma boa pergunta.

    “Não, não teve nada a ver com o jeito que você revive.” Isso foi uma resposta que só fazia nascer mais perguntas.

    Dante também estava pensando em Amélia, e desejava que ela tivesse ficado bem. Ele não viu a mulher desde aquele incidente, provavelmente, a multidão de gente curiosa fez os dois não se encontrarem.

    A jovem era uma garota gentil, que só queria retribuir o favor por ter sido protegida por Dante e Rishia. Por falar na cavaleira, o garoto também desejava que ela estivesse descansando, já que foi um dia cansativo para os dois.

    “Espera aí…”

    Dante percebeu algo. Amélia havia oferecido um almoço grátis para ele e Rishia. Porém, foi completamente arruinado por Altair. Com essas informações, o garoto chegou à seguinte conclusão:

    “O meu primeiro encontro com uma garota foi um completo desastre!”

    Ele agarrou os seus cabelos e quis arrancá-los. O garoto quis enterrar sua cabeça debaixo da terra. O primeiro encontro dele foi um completo desastre, isso é fato. O jovem nem havia percebido que estava em um encontro, para Dante, aquilo era só um almoço casual com uma amiga. Bem, e realmente era.

    Essa história de “encontro” foi só um pensamento aleatório que surgiu no momento, já que ninguém havia declarado que aquilo seria um de fato. A Sabedoria interviu aqueles pensamentos do garoto com algo mais importante.

    “Quando que cê removerá a coleira da escravidão e devolver a garota para os pais, Dante?”

    O jovem olhou para a garotinha que estava tendo seus cabelos penteados por Alice, e Flora estava observando cada detalhe com um sorriso no rosto. Foi quando se lembrou de seu objetivo ao ter adquirido Freya como escrava.

    “É mesmo. Obrigado por me lembrar disso.”

    Levantou seu corpo deitado na cama, e observou a bolsa de dinheiro que estava ao seu lado.

    Ele logo se levantou da cama por completo, pegou a bolsa de dinheiro e foi até Freya. Agachando-se para ficar cara a cara com ela, disse:

    — Freya, infelizmente a diversão acabou. Consegui bastante dinheiro, poderei livrar-lá da escravidão e entrega-la à seus pais.

    O brilho nos olhos e o sorriso que ela tinha em seu rosto, imediatamente desapareceram. Isso doeu no coração de Dante, a garotinha realmente havia gostado e se apegado a ele e Alice, e achava que isso seria um “adeus”.

    — Não se preocupe, isso não é um adeus, e sim um “até logo”. Né, Alice?

    A garota súcubo ficou infeliz com aquilo, ela também se apegou a garotinha, mas entendia que a pequena teria que voltar aos seus pais.

    Freya não disse nada, e seus olhos ficaram mortos. A única coisa que a garotinha fez foi acenar com a cabeça.

    Angel olhou pelo canto do olho, mas não falou nada.

    — Angel, pode vigiar a Yuri? Ela tem mania de sair por aí. Eu e Alice vamos até o Mercador de Escravos. — Alice pareceu surpresa com a sua inclusão, mas ficou contente.

    Angel ficou descontente em ter que ouvir isso. Ela viu a raposa que estava descansando na janela observando-a, e sentiu um mal pressentimento.

    — Não sei não… Essa raposa é muito…

    Okay, valeu pela ajuda.

    Ele ignorou completamente o que seu anjo iria falar e estendeu a mão para Freya. A garotinha segurou a mão do jovem, e Dante, Alice e a pequena escrava estavam saindo.

    Flora viu o rosto de Freya e ficou preocupada. Então, tentou falar algo, mas foi tarde demais, os três haviam saído.

    — Idiota… — Angel disse, não porque foi obrigada a cuidar de um animal, mas sim por um outro motivo.


    — Vejamos quem está por aqui! Se não é o garoto que parece uma garota? Quanto tempo!

    O Mercador de Escravos estava feliz com a presença deles, mantendo um grande sorriso no rosto.

    — Você sabe porque estamos aqui, certo?

    O comerciante não tirava o sorriso do rosto.

    Alice estava desconfortável com aquele lugar. Era um local sujo, fedido e sombrio.

    — Olha, vamos só tirar a coleira, ela vai ficar comigo até encontrarmos os pais dela. Espero que entenda isso…

    — Certo, certo, só passa o dinheiro.

    Dante pegou a bolsa de moedas, e estava prestes a entregar para o comerciante ganancioso. Com suas mãos quase passando a bolsa, algo inesperado aconteceu.

    — Para!

    Freya bateu na mão de Dante, o fazendo largar o dinheiro no chão. O garoto ficou assustado e pegou a bolsa novamente do chão.

    — Freya, o que você…

    Antes que pudesse falar qualquer coisa, a garotinha estava com lágrimas em seus olhos. Surgiu um nó na garganta de Dante e Alice ao verem aquela cena.

    — Por favor, não me abandone, mestre! Não me entregue para meus pais, mestre!

    Ela suplicou, enquanto se agarrava em Dante, e não queria o soltar de jeito nenhum. Alice chegou perto do garoto, e cochichou em seu ouvido:

    — Acho que devemos primeiro entender a situação antes de tomar qualquer atitude.

    Dante concordou, acenando com a cabeça.

    O Mercador de Escravos estranhamente não ficou decepcionado vendo aquela cena, mas ele ficou curioso, e parecia ter achado aquilo bastante interessante.

    Após isso, eles voltaram à hospedaria e pediram um prato de comida da escolha de Freya. A garota comia sua comida cabisbaixa.

    — Freya… o que aconteceu? Não quer ver sua família?

    O garoto não entendia aquilo. A garotinha foi feita como escrava e maltratada pelo seu último dono. Ele pensou que seria uma boa ideia entregar-lá para sua família.

    Os lábios de Freya tremeram, mas a garota não hesitou em perguntar.

    — Posso contar a minha história…?

    Dante e Alice concordaram. Por fim, iriam descobrir o problema através da fonte.

    Há anos, Freya vivia tranquilamente com seus dois irmãos. Ela era a caçula de dois demi-humanos gentis. Passavam o dia brincando e não sabiam sobre o que havia no mundo, já que não podiam sair de casa.

    — Ei, irmãos, irmãos, vamos sair? — Freya disse.

    Nessa época, eles não tinham nomes, então se chamavam de “irmão mais velho”, “irmão do meio” e “irmã caçula”.

    — O quê? O papai não deixa, irmã caçula — o mais velho disse.

    — Por quê? — Ela não entendeu o motivo.

    — O papai vai reclamar com a gente — o do meio concluiu.

    — Queria ter uma mamãe para poder nos deixar ir para fora! — Freya disse enfurecida.

    — Mas papai disse que temos uma mamãe — o do meio comentou.

    — Sim, isso é verdade — O mais velho concluiu.

    — Ele nunca disse isso para mim — Freya falou.

    Infelizmente para os irmãos, a mãe de Freya e dos demais abandonaram eles ainda quando pequenos. Cada irmão tinha um ano de diferença, sendo assim, a mãe engravidou de cada um, os abandonando em sequência. Quando aconteceu com a garotinha, isso ocorreu sem os outros irmãos terem consentimento.

    Nenhum dos três tiveram contato com a mãe, e era melhor assim. Todos eram filhos do mesmo pai também, isso significava que o pai deles tinha um relacionamento complicado.

    Não se sabia o paradeiro da mãe de Freya.

    De repente, os irmãos ouviram batidas na porta.

    — Acho que o papai chegou. — O mais velho foi em direção à porta e a abriu — Seja bem-vindo devol… — De repente, ele levou um chute na barriga, o que o fez ser arremessado até a parede. Todos eram crianças bem novas, e esse golpe foi feito por um adulto.

    A claridade do sol sombreou o rosto da pessoa que desferiu o golpe.

    — São esses aqui? — um homem magricelo perguntou.

    — Sim — um rapaz demi-humano respondeu.

    Os irmãos, assustados, correram para socorrer o irmão mais velho, que estava agonizando no chão de dor, e não estava conseguindo respirar direito. Percebendo isso, o rapaz demi-humano andou até ele.

    — Quem mandou você parar de respirar?

    Com seu rosto agora exposto, o homem pegou a criança e a tacou na parede. Em seguida, a chutou repetidas vezes no rosto.

    — Papai, pare! — o irmão do meio exclamou.

    Aquele demi-humano era o pai dos três. Pela sua expressão facial, ele não sentia pena ou remorso. O homem demonstrava frieza em suas palavras. O rapaz estava usando uma roupa nobre preta.

    Com o irmão do meio implorando, o pai deles deu um soco na barriga da criança, o fazendo desmaiar.

    — Você já escolheu qual escolher, né? — o pai disse.

    — Sim, os outros eu quero matar. — o rapaz magricelo entrou na casa, expondo seu rosto. Ele não era um demi-humano, e sim um nobre com um olhar arrogante — Essa garotinha será a minha escrava. Ela irá limpar meus pés, trazer meu vinho, limpar minha casa junto das outras, fazer tudo isso e muito mais.

    Freya estava sem reação com aquilo, a garota não entendia o porquê de seu pai estar vendendo-a como escrava. A garotinha estava com seus olhos arregalados, cheios de lágrimas, e seu rosto estava pálido.

    — Não será uma escrava sexual?

    — Não preciso dela para fazer esse trabalho, já tenho muitas — disse se orgulhando de si mesmo — Ela será a minha “empregadinha”.

    — Entendo. — Após isso, o demi-humano amarrou as mãos de Freya, do irmão mais velho e do irmão do meio, que permanecia desmaiado. Para acordá-lo, o homem deu um violento tapa em seu rosto, e gritou: — Anda, não tenho o dia todo! — O do meio acordou na hora.

    Após isso, os dois homens estavam subindo em uma colina, arrastando os três irmãos que estavam perto de chorar. As três crianças estavam com seus braços amarrados em conjunto com uma corda, sendo puxados contra suas vontades. O caçula não aguentou e começou a derramar suas lágrimas, fazendo muito barulho.

    — Se continuar chorando eu vou te bater — disse o demi-humano adulto.

    Imediatamente, o pequeno garotinho parou de chorar, com medo de apanhar.

    — Chegamos — o magricelo disse.

    Haviam chegado no topo daquela colina, onde era possível ter a visão clara de uma simpática aldeia, onde moravam pessoas que não estavam cientes do que iria por vir.

    O pai demi-humano agachou as crianças à força no chão, fazendo-os ficar de joelhos.

    — Quer dar o último adeus a seus filhos, John? — O demi-humano não falou nada, e só olhou arrogantemente para o rapaz à sua frente — Tudo bem.

    Esse homem magro, era um nobre loiro com um olhar arrogante, que tinha uma espada em sua cintura.

    Ele removeu a espada de sua bainha, e apontou a lâmina para o irmão mais velho.

    As três crianças estavam completamente assustadas e chorando. Não entendiam o porquê daquilo estar acontecendo, e tudo que mais queriam era voltar para casa para poderem. Desejavam que isso fosse um sonho, não queriam que aquilo fosse real.

    O mais velho estava tentando falar algo, mas sons sem significados saiam de sua boca.

    O homem levantou a espada, e desferiu um ataque no pescoço do garoto. A cabeça do garotinho caiu no chão, banhando o verde do gramado em vermelho do sangue. A parte do pescoço que permaneceu no copo, estava espirrando sangue sem parar.

    O sangue do irmão mais velho atingiu o rosto dos dois irmãos, que estavam com seus olhos arregalados. As duas crianças que sobraram começaram a gritar loucamente, implorando por ajuda e chorando.

    — Como são barulhentos… — o nobre reclamou.

    Os dois homens não gostaram daquela gritaria, e o nobre decapitou o caçula.

    Freya ficou sem palavras depois daquilo. A garota não conseguia mais gritar, a única coisa que seu corpo fazia para reagir a isso era derramar lágrimas. A menina sentiu um forte enjoo, e vomitou no sapato do nobre.

    — Sua peste! — O nobre, furioso, atingiu o nariz de Freya com um chute, o quebrando e fazendo a garotinha desmaiar.

    Essa era a história que Freya contou para Dante e Alice, a sua história.

    — Depois disso, eu tive que trabalhar para aquele nobre todos os dias, sem descansar ou comer. Se chorava, ele me batia. Se desmaiasse por falta de comida, me batia e me obrigava a comer comida do lixo — a garotinha disse — Consegui escapar de lá, e fui encontrada pelo Mercador de Escravos que me deu um nome, algo que não tinha. Depois disso, me compraram novamente, e no mesmo dia, você me encontrou, mestre.

    A garotinha estava chorando enquanto contava sua história. Dante e Alice estavam simpatizando com a garota ao ouvir seu relato

    — Então, por favor, não me abandone, mestre…

    Ouvindo essa história, a vontade de encontrar os pais de Freya caiu para 0%, tanto para Dante quanto para Alice.

    — Certo… nós não abandonaremos você — Dante disse.

    — Sério mesmo? — Com brilhos nos olhos, a garotinha perguntou.

    — Sim, depois de ouvirmos sua história, essa ideia está fora de cogitação — Alice respondeu.

    Os brilhos nos olhos da garotinha cresceram ainda mais, e sua cara de tristeza e preocupação se transformou em um rosto repleto de alegria.

    — Tá, mas e a coleira? Por que você não me contou essa história depois que iriamos tirar a sua coleira? Eu ficaria com você até acharmos os seus pais, então daria para me dizer tudo isso, e cê estaria livre da escravidão.

    — Tirar a coleira? Talvez tenha um método em que você não tenha que gastar seu nobre dinheiro, mestre.

    Dante pensou um pouco sobre isso, e tentou imaginar como poderia arrancar aquela coleira sem a ajuda daquele mercador.

    — Já sei! — ele exlcamou.

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