Arco 2: Capítulo 23: Passado Fica no Passado

Dante, acordou novamente na residência de Himawari. O menino estava com seus olhos arregalados. O garoto se levantou rapidamente do chão, e ficou de joelhos.

Além dos olhos dele estarem arregalados, também estavam sem nenhum brilho, era como a vez que o Ceifador matou ele duas vezes seguidas.

Ele começou a passar a mão em seu rosto e, lentamente, arranhou a sua pele.

Suas unhas cravaram fortemente a sua pele. Elas começaram a deslizar lentamente o rosto, e o sangue escorreu. Sua respiração estava pesada. Seus olhos estavam arregalados. Seus dentes estavam tremendos.

Sua face começou a expressar um terror.

— Não, não, não, não, não, não!

Ele começou a arranhar cada vez mais a pele do seu rosto rapidamente. Mais sangue escorria pela sua face. Foi quando o garoto levou as suas unhas até o pescoço, e começou a arranhar ainda mais.

— Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por quê?

Ele estava beirando a loucura. A lembrança de ter seu crânio esmagado, nariz quebrado, olhos saltando para fora e um braço dilacerado estava odeixando louco.

Sua visão estava ficando turva. Sua cabeça estava doendo. Os arranhões em sua pele estavam queimando. Ele não sabia o que fazer naquele momento. O garoto estava com muito medo.

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— Você quer saber a resposta? — uma voz familiar exclamou na residência da deusa da cura — Faz tempo que a gente não se vê, Dante!

O garoto virou a sua cabeça para cima ao ouvir a voz familiar. Ele viu a figura de uma esbelta mulher de cabelos roxos, usando um terno.

Seus olhos ametistas olhavam atentamente para ele. Era nada mais e nada menos do que a Deusa do Tempo, Iwashi.

— …Você? — Dante falou enquanto abaixava a sua cabeça lentamente, para o estado anterior — O que faz aqui?

— O que foi, hein? Por que falou com essa voz tão fria, hein, hein, hein, Dante?

— Não é nada… — O garoto começou a morder o dedo. Ele mordeu tão forte que um pouco de sangue saiu dele.

— Isso deve doer… Por que o seu rosto está com sangue? Aconteceu algo horrível com você de novo?

Ao ouvir isso, o garoto levou a sua visão para baixo novamente, e segurou sua cabeça fortemente. Não só segurou, ele também cravou as unhas nela.

A sua face expressou mais ainda uma reação de medo, e sua respiração estava ainda mais pesada.

Por mais incrível que pareça, ele não estava sentindo dor naquele momento. A mente dele estava tão confusa que a dor nem se passava pela sua cabeça.

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— Por esta reação, eu já sei a resposta — Iwashi disse, em seguida, suspirou e continuou — Olha, as suas roupas estão rasgadas. Daqui a pouco você vai acabar pelado! Dou um jeito nisso.

Ela se sentou do lado, e começou a puxar a sua bochecha. O garoto não expressou nenhuma reação com o ato dela. A Deusa do Tempo se levantou do chão, e perguntou:

— Você poderia me dizer o problema agora? Eu quero te ajudar!

Dante levou a sua visão para ela e perguntou:

— …Me ajudar? Por que você faria isso?

— Ora, mas o que está dizendo? Eu quero te ajudar porque sou sua amiga, deusa!

— …Minha o quê?

— Você está me escutando? Além disso, a Himawari me pediu para cuidar de você enquanto estivesse fora. Pelo visto, você não consegue se cuidar sozinho e toma as piores decisões, ou, você é muito frágil.

O garoto engoliu seco as palavras dela. Ele se levantou lentamente, e respondeu a pergunta anterior da deusa:

— Eu não sei o que está acontecendo. De repente eu só estou morrendo, sabe? Foi igual a situação do Ceifador… Não sei o que fazer…

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— Hm…

Ela virou os seus olhos para o lado, e botou o dedo indicador no lábio. Em seguida, a deusa deu um forte peteleco na testa de Dante, que fez o garoto se espernear todo e cair no chão.

— Aaai! Que merda é essa?

O garoto disse com um tom de desespero em sua voz. Era possível ver lágrimas saindo de seus olhos.

— Qual é o seu problema?

— Hehe, desculpa.

Ela se sentou do lado dele de novo, e disse:

— Olha só, eu realmente não sei o que pode estar te matando neste momento. Está acontecendo muitas coisas esses dias, com a guerra divina. O Rei Demônio não está para brincadeira.

Ela se alongou, e continuou falando.

— Eu adoraria te ajudar agora, mas quem mexe no fluxo do tempo sou eu! Sei que disse que sou inútil nesta guerra… mesmo podendo prever o futuro, eu não fico me encolhendo no chão sempre que algo ruim acontecesse.

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— Ma-Mas com você é diferente, não é você que já morreu mais de uma vez!

— Bem, eu posso não entender como é a dor de uma morte, mas entendo a dor de ser um fardo para alguém, que deve ser a mesma, né?

O garoto se levantou do chão, e exclamou:

— Você está sendo bem ignorante agora… Onde quer chegar?

— O que eu quero dizer é — a deusa disse enquanto se levantava do chão — Ergue-se, se levante em frente e batalha! E, derrote o inimigo! Como você fez com o Ceifador!

O garoto ficou irritado com o que ela disse e, então retrucou:

— Do que você está falando? Eu não derrotei ninguém naquele dia! Eu só servi como alguém digno de pena quando ele me atacou e me fez desmaiar naquela hora!

Dante gritou com lágrimas em seus olhos.

— Eu não fiz nada além de levar ele para a mansão e botar todos de lá em perigo.

Ele continuou gritando para Iwashi. Para Dante, ela não estava falando nada além de bobagens.

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— Se você quer falar que alguém merece o prêmio de herói, fala isso pro Senhor Vergil! Aquele senhor é uma pessoa para se admirar! Tudo que eu fiz agora foi morrer! Entendeu? Morrer!

Após dar o seu espetáculo de pobre coitado, o garoto respirou fortemente, parecia que ele correu uma maratona. Iwashi respondeu:

— E aí, está mais aliviado? Você viu como é bom desabafar às vezes? 

— …O quê?

— Eu sei do seu passado, eu perguntei para a antiga Deusa da Sabedoria sobre isso. Então, eu sei que você sempre se escondeu atrás das cortinas sem pedir ajuda para ninguém, e sempre enfrentou os seus problemas sozinhos.

— …Por quê?

— Por que? Eu que pergunto o porquê! — ela disse, enquanto mirava o dedo indicador para ele — Por que, Dante

katanabe? Por que você sempre quer enfrentar seus problemas sozinhos? Sendo que você tem amigos como eu para lhe ajudar?

Dante, começou a morder a sua língua. Então, ele disse:

— Eu não entendo você! Desde quando viramos amigos? Eu só pedi a sua ajuda porque alguém falou para pedir, não tem motivos nenhum para você me ajudar! A não ser que você seja a cadela da Himawari!

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Iwashi avançou em Dante, e lhe deu um peteleco novamente. Foi possível ver as lágrimas nos olhos de Dante saindo. Desde o primeiro peteleco da Deusa do Tempo, ele começou a sentir as dores dos arranhões e do peteleco.

— Aai! Por que fez isso de novo?

— Me responde uma coisa? Por que você acha que eu te convidaria para jogar uns jogos comigo? Porque eu acho divertido ver você perder algumas vezes? Sim! Mas não é só por isso! 

Iwashi se enfureceu com o que o garoto disse.

— Você é a segunda pessoa que eu chamei para jogar comigo, e a única pessoa que chamei para brincar mais de uma vez!

— Por quê?

— Porque eu te considero um amigo! — ela falou e, em seguida, deu uma cabeçada no garoto — E se tu não enxerga isso, você é bem mais ignorante do que eu.

O garoto acabou caindo no chão com a cabeçada que recebeu.

— Cruz credo! É difícil botar alguma coisa nesta sua cabeça oca! Esse seu complexo de inferioridade faz você não perceber o óbvio!

— Não perceber… o óbvio?

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— Isso mesmo! Você realmente fez vários amigos! Ou você acha que estavam fingindo ser seus amigos de novo? Francamente! Me magoou

A Iwashi inflou as bochechas, ela realmente ficou irritada com o que o garoto disse anteriormente. Dante, vendo a sua situação percebeu uma coisa.

“Ela… ela tem razão. Todo esse tempo, eu quis ajudar várias pessoas. Eu já salvei alguém!”

Na batalha contra o Ceifador, ele salvou a Chloe, evitando a morte dela.

“Já ajudei alguém!”

Além de já ter ajudado a cozinheira da mansão Elliot, o garoto também já ajudou uma mulher que ia ser sequestrada.

“E eu fiz amigos? Eu realmente fiz, né? Por que nunca enxerguei ninguém como um amigo de verdade? Não sei dizer. Acho que sou um lixo por pensar assim, todo esse tempo.”

O garoto nunca demonstrou nenhum sinal que não enxergava tal pessoa como amiga, na verdade, ele nunca chegou a confiar de verdade nas pessoas, mas sempre fingia confiar para ver se algo de ruim realmente acontecesse, para ver se ele morresse de vez.

Se parar para pensar, isso é muito contraditório, até porque se ele realmente quisesse morrer para sempre, ele teria essa oportunidade no dia que sua casa pegou fogo, e ele morreu pelo demônio.

Se for levar esses fatos em consideração, por que ele não desistiu de tudo naquele momento? Porque até o momento, a Angel foi a única pessoa que ele realmente confiou desde que se isolou.

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Talvez fosse por ela tê-lo salvado uma vez, ou porque ela era seu anjo da guarda. Não importava mais naquele ponto, porque ele viu que foi um tolo por pensar que algo em seu passado pudesse voltar para assombrá-lo.

Se for cair de cabeça nessa situação, deu para notar que o garoto basicamente iludiu todos que conheceu agora, mesmo sendo inconscientemente, uma parte das pessoas que ele conheceu, realmente achavam que eles eram amigos, mas Dante nunca viu assim.

Ele sempre fingiu esse tempo todo uma amizade, mas nunca levou aquilo a sério por medo, e o fato dele ter salvado as pessoas que nem se importava de verdade, foi porque o garoto era assim, Dante gostava de ajudar os outros.

Iwashi, sabia melhor do que ninguém o passado do Dante, e o porquê dele ter usado uma máscara perfeita todo esse tempo. Ele fez um trabalho tão perfeito, que até isso lhe assustou.

“Acho melhor começar a valorizar as relações que eu tenho.”

Então, foi aí que Dante percebeu; não importava o seu passado, ele não voltaria para assombrá-lo. Mas infelizmente, ainda tinha coisas pendentes em seu passado que não foram resolvidas.

O garoto começou a cair em lágrimas, e ele disse:

— Me desculpa, eu fi-fingir todo esse tempo que era se-seu amigo, mas nunca lhe vi da mesma forma… Me-Me desculpa!

Enquanto Dante se desculpava, ele se curvou perante a deusa, e levou a sua testa até o chão. Quanto mais ele se desculpava, mais lágrimas caiam sobre o seu rosto.

Iwashi, foi em direção á ele, abraçou o garoto e falou:

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— Não se preocupe. O que você falou realmente me chateou, mas eu quero te ajudar! — Enquanto falava, ela limpou as lágrimas dos olhos dele — Então, vamos resolver este problema juntos, okay?

Dante Katanabe, percebeu naquele dia que podia contar com as pessoas ao redor, e que elas não seriam pessoas ruins. Ele percebeu que o seu passado, ficou no passado.