Índice de Capítulo

    Uma sensação de conforto assolava a mente do garoto. Em meio à total escuridão, sentiu seus olhos se abrindo e sua mente acordando. Parecia que estava assim há alguns minutos, ou meia hora. Uma luz vinda do fogo que foi posto numa vela, e sendo refletida no ambiente, foi a primeira coisa que se viu quando acordou. Em seu campo de visão, havia um teto feito de algum material branco e liso.

    Sentia uma macia e reconfortante sensação sob sua cabeça deitada. Um outro conforto parecido também se estendia abaixo de seu corpo. Tentou se levantar mas estava exausto demais para isso, talvez tenha sido por tanto tempo que permaneceu dormindo, mas a vontade de levantar-se de onde estava passou gradualmente.

    Levou seu braço até seu campo de visão. Percebeu que tinha algo parecido com uma corda de borracha presa ao seu membro, e sentia que um líquido estava sendo injetado em seu sangue, por meio desta corda. Não era só isso, também viu que seu braço estava completamente nú, o que era estranho, já que as roupas que usava desde que chegou naquele mundo sempre cobria os seus braços. Olhando para o lado, viu um completo breu assolando a sala.

    Havia uma parte que não estava sendo assolada por essa escuridão, e era a sua esquerda. Lá, tinha uma vela acesa sobre um porta vela que, consequentemente, estava em cima de uma escrivaninha. Ela iluminava uma pequena parte de seu rosto cansado. Com isso, percebeu que um cobertor bastante grosso estava o cobrindo, algo bom para o clima nevoso que o local enfrentava.

    “Onde… estou?”

    O garoto tinha se perguntado. Por ter acordado recentemente, seus sentidos não estavam bem, e por ter desmaiado de dor nos eventos passados, ajudava nisso.

    — Finalmente você acordou.

    Uma voz feminina e familiar vindo do lado direito de onde estava chamou sua atenção. Nesse lado, havia uma grande janela. Tentando novamente se levantar, com dificuldade, e indo em direção aquela voz, o garoto sentou e olhou atentamente a janela. Neste ato, percebeu que estava em uma cama bastante confortável.

    A janela estava aberta, mas não era possível ver muita coisa além do que a luz do fogo vindo da vela permitia. Pegando na alça do porta vela, o garoto aproximou-se da janela com seu braço, assim, iluminando certas partes. O país era bastante escuro nessa hora da noite, bem, pelo menos, na área que jovem estava, parecia que a luz da lua não existisse, talvez estivesse sendo privada.

    Chegando mais perto da janela, um par de botas foi iluminado aos poucos, junto de uma capa e um corpo. Ao fim, a pessoa que estava na fenestra acabou sendo exposta.

    — Fala aí, Dante.

    O garoto ficou surpreso com a aparição de seu anjo da guarda, uma mulher bastante bonita e com um corpo esbelto. Porém, ele não reagiu com surpresa fisicamente. Dante estava calado e com os seus olhos arregalados, mas nada como um: “E aí, mano, como vai?”. Era algo monótono.

    — Oi, faz tempo. —  Foi uma fala fraca, aparentemente sem nenhuma emoção. Isso não deixou a garota feliz. Bufando, ela beliscou a bochecha do garoto.

    — Qual é?! Faz tempo que a gente não se vê. Mostre um pouco de saudades de sua amiga!

    Dante estava com um uma expressão cansada em seu rosto, era evidente por causa de seus olhos meio caídos. Com isso, ele coçou a cabeça e disse:

    — Não que eu não estivesse feliz em te ver, ou não tivesse saudades. — Levando sua mão para o campo de visão, abrindo-a e fechando-a em sequência, e continuou: — Estou me sentindo estranho… Estou… lerdo, acho? É como se alguém tivesse batido com força na minha cabeça, e isso está me fazendo ficar lento… talvez, essa seja a palavra certa…

    A garota anjo levou sua mão ao queixo. Pensando no assunto, só uma coisa veio à sua mente.

    — Talvez, seja porque você dormiu mais do que deveria. É normal que, quando isso acontece, a gente se sinta mais cansado, não?

    — É mesmo… — Decidindo mudar de assunto, o garoto perguntou: — Por que demorou tanto…?

    — Ah, sabe, preencher papelada é muito chato. Além de que por causa da guerra, foi indicado que nós ficássemos aos nossos lares… Mas, mudando de assunto. Fala aí, o que você fez em todo esse tempo?

    Angel saiu da janela, e se sentou ao lado de Dante. Com as pernas cruzadas e o queixo sendo apoiado em sua mão, ela esperava o garoto relatar toda a sua aventura.

    Ele contou sobre tudo o que aconteceu desde suas despedidas em Kuyocha. Contando de uma forma mais segura possível, cortando as partes onde sofreu ataques e mortes dolorosas e sobre as deusas, já que achava desnecessário. O rapaz contou sobre sua vida desde que chegou naquele local.

    Dante também falou sobre a Sabedoria, mas não deixou explícito se era ela era uma ex-deusa ou não. Se bem que, não dava para saber se Angel sabia o fato dele ter uma ex-entidade superior ao seu lado, seu rosto não demonstrava nada além de um olhar atento e um sorriso gentil.

    — Deixa ver se entendi. Você foi atacado por uma entidade chamada Ceifador, viu uma aurora boreal, fez amizade com uma súcubo e uma fada, comprou uma escrava para protegê-lá, participou de um caso policial, conheceu duas bestas demoníacas boazinhas, e até montou em uma delas, por fim, enfrentou um demônio junto com os Cavaleiros Reais desta nação e adquiriu um poder novo? Foi tudo isso?

    — Resumiu bem.

    — Bem, não tenho motivos para não acreditar, até porque, vi você usando uma magia de raio naquele demônio, e ateando fogo nele.

    Pensando melhor no que ela falou, ele percebeu que possivelmente havia matado um demônio, uma criatura viva. Mesmo sendo um inimigo que queria o matar, o garoto não se sentia bem com o fato de ter matado uma criatura viva, ainda mais falante e com consciência.

    — Ei, eu matei aquele demônio mesmo, né?

    — O que foi? Está com pena?

    — Não sei dizer, é que… não acho que foi o melhor…

    Angel entendeu que o garoto era o tipo de pessoa que se arrependeria de matar alguém, mesmo sendo uma pessoa podre. Pelo visto, Dante tinha coração mole. Suspirando, ela disse:

    — Não se preocupe. Finalizei aquele demônio o decapitando. Até hoje, você nunca matou ninguém.

    — Oh, certo.

    Isso o deixava mais aliviado, porém, isso também plantou uma dúvida em Angel.

    — Dante, você seria amigo de um demônio? — Uma pergunta simples no ponto de vista dela. O garoto respondeu de forma genuína:

    — Mas é claro!

    — Que resposta rápida!

    — Existem demônios bonzinhos, né? Quero dizer, aqueles dois juntos com Raia foram uma prova disso, né?

     Um dos olhos do anjo começou a tremer, mas Angel forçou ele a parar.

    — Bem, acho que não posso mudar sua linha de pensamento. — Mudando de assunto mais uma vez, ela decidiu falar sobre uma outra espécie de demônios agora: — Mas, acho que você deve estar preocupado com a súcubo, né? Não se preocupe, essa espécie de demônios não são uma…

    — Se preocupa não, já sei.

    Esse corte que o garoto deu nela, foi uma péssima decisão. Angel bufou, pulou em cima dele, e exclamou:

    — O quê? Como assim? Quem te disse?

    — Angel, você está muito perto, me dê um pouco de espaço!

    — Quem foi o zé ruela que te contou, poxa! Eu queria poder ter dito isso agora!

    “O “zé ruela” na verdade é uma ex-deusa.”

    De repente, o anjo sentiu um cheiro peculiar vindo do garoto.

    — Impressão minha, ou você está cheirando à deusa?

    — Quê? Não me cheire!

    Saindo de cima do garoto, Angel decidiu ir embora e deixar ele descansando.

    — Bem, acho que já vou, mas adorei a história — falou enquanto começava a se alongar — O que mais me deixou surpresa, foi a informação que esse, entre aspas, continente, na verdade era um outro mundo. É igual a animes isekais, né?

    — Não conheço nenhum que seja assim… — Isso fez despertar uma dúvida no rapaz — Se a gente não está mais na terra, isso significa que você pode viajar entre mundos?

    — Ahn? Sim e não. Geralmente posso ir até onde a pessoa que protejo está. Parece que não há nenhuma interferência sobre ir de um mundo ao outro. Mas também tem o Reino Sagrado, posso ir lá sem problemas algum.

    — Entendi.

    — Vê se descansa, quero conhecer as suas companheiras.

    — Ah, tudo bem.

    Dante deitou-se na cama, e o garoto ainda estava com seu efeito retardado por ter dormido demais.

    — Bem, é isso, espero que saia daí logo. Boa noite, até mais.

    — Boa noite… Angel…

    — Quê?

    — Posso pegar nos seus peitos?

    Os dois se encararam seriamente. Por um lado, enquanto o garoto estava parecendo um morto vivo deitado naquela cama, a garota estava tentando processar o que ele havia acabado de dizer.

    — Quê?! — ambos gritaram.

    Finalmente percebendo o que havia dito, Dante se escondeu debaixo das cobertas por vergonha e exclamou:

    — Desculpa! Boa noite!

    Sem entender o que havia acontecido, Angel disse:

    — …Tá. — Após isso, saiu pela janela, como se nada tivesse acontecido.

    Debaixo das cobertas, o garoto socava sua testa.

    — Realmente falo algumas coisas estranhas quando estou tão cansado assim? Sério mesmo? Que vergonha…

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