Arco 3: Capítulo 47 - Um Novo Lugar
O sol quente obrigava o garoto a acordar. O que aconteceu antes, foi como um piscar de olhos. De repente, um círculo dourado apareceu sob seu pé, e acabou sendo teleportado para algum lugar. Era noite quando isso aconteceu, e já estava de dia. Devia ter se passado um tempo desde que aquilo aconteceu.
Ele se sentou, mas seu corpo estava fraco. Estava com fome e sede, e o sol não ajudava em nada a sua situação.
— Onde estou?
Tentou se lembrar do que aconteceu anteriormente.
— Espera, cadê as outras?
O jovem observou mais o lugar onde estava, e tudo que via era mais e mais montanhas. Aquele local era inteiro rochoso. Não havia vegetação naquela área.
— Ferrou… — disse ele, com os olhos arregalados.
Não sabia onde estava, e nem podia pedir nenhuma informação, pois estava em um lugar deserto.
O garoto olhou para o lado, e viu uma lagoa ao seu lado.
— Água!
Preencheu suas mãos com o líquido e começou colocou com tudo na boca. Aquilo já era um alívio. Só precisava de comida e um caminho para voltar pra casa.
De forma repentina, um pouco da água foi para cima, e uma garota apareceu na lagoa onde o jovem estava se hidratando.
Os dois ficaram cara a cara por alguns segundos.
— Oh, você acordou!
A garota chegou mais perto, fazendo-o se afastar.
Dante achou isso extremamente frustrante. Não bastava ser teleportado para um lugar deserto, não sabendo por quanto tempo ficou desmaiado, ainda faminto e com sede. Agora, não podia nem beber água em paz, já que uma mulher estava dentro dela, e ela parecia querer uma coisa com ele.
O jovem se levantou, e moveu lentamente sua cabeça para a observar melhor. Os olhos dela acompanhavam seus movimentos.
— Isso é…
Foi quando viu que, da cintura para baixo, havia escamas naquela desconhecida.
— Você é uma… sereia?
O grande sorriso que ela deu o fez perceber que acertou em cheio.
Sereias eram criaturas metade humana, com a outra metade completamente desconhecida. Elas eram muito raras, e quando encontradas, eram acreditadas como um sinal de boa sorte, assim como as fadas — de forma irônica, encontrar Flora não lhe deu nenhum pouco de boa sorte.
Apenas existiam sereias mulheres. Além de serem raras e existir apenas um gênero da espécie, podia-se imaginar que poderiam estar à beira da extinção, mas não era bem assim.
Essas criaturas podiam acasalar com qualquer espécie que possa fazer o mesmo com os humanos, como orcs.
Geralmente, são elas que vão procurar algum parceiro, para, assim, ter um monte de filhos e não serem extintas. Dizer que uma sereia escolheu você para ser o pai dos filhos seria a mesma coisa que um plebeu ganhar uma herança que lhe deixaria aposentado pelo resto da vida: muito difícil de acontecer.
Esses seres também podiam usar magia.
— Sim, você acertou! Meu nome é Crim, prazer!
Estendeu sua mão e esperou um aperto. Dante lhe concedeu isso.
— Certo, Crim… você pode me dizer onde estou?
— Claro! Mas antes disso…
Ela mergulhou na água. Alguns minutos se passaram e o garoto esperava pacientemente.
— Voltei.
Apareceu novamente, mas com uma bolha em suas mãos.
— É pra você.
O jovem pegou a bolha, e pôde ver um peixe frito. A bolha se estourou, restando apenas o alimento que estava quente.
Antes de questionar como ela fez isso, ele começou a comer o peixe.
— Mui…to obri…gado pela co…mida! — falava enquanto estava de boca cheia e engolia ao mesmo tempo.
— De nada. — Deu uma risadinha.
Após isso, Dante explicou o que aconteceu para estar ali. Crim ouviu tudo com atenção, mas não era como se ela pudesse o ajudar, em primeiro lugar. O garoto tinha consciência disso, mas adorou conversar com ela sobre isso, mesmo assim.
— Bom, desculpa, Dante, mas não sei como te ajudar. Nem como voltar para a civilização.
— Bem, já esperava isso… Mas, onde estamos?
— Nas Terras de Laplace, ou é assim que os humanos chamam. Um lugar cheio de monstros, que sofreu com uma batalha antiga.
Há vários anos, esse lugar era rico em vegetação e vida animal, mas depois de uma luta onde essas terras arderam em chamas, tudo foi de ladeira baixo. Entretanto, o jovem não estava preocupado com isso, e sim com a parte sobre monstros.
— Monstros agressivos?
— Depende.
— Depende?
Isso começou a deixá-lo nervoso. Mais uma situação onde teria que arriscar a sua própria vida para sobreviver mais um dia. Tudo dependia da sua sorte, nesse momento, e ela, como sempre, estava mostrando o dedo do meio para Dante Katanabe.
— Você havia comentado que eu tinha acordado… Isso significa que você me encontrou aqui desmaiado.
Ela balançou a cabeça positivamente.
— Você havia caído dentro dessa lagoa, e fui a primeira a te encontrar. Te levei para aqui fora antes que outra sereia o encontrasse.
— Caí? Então fui teleportado, não para uma superfície, e sim no céu?
Olhou para cima e viu como aquilo era assustador. Imediatamente, agradeceu que não estava acordado para ver isso, e também agradeceu que havia caído na lagoa. Agradeceu para quem? Ninguém. Só quis agradecer.
— Espera! Aí dentro tem um lar de sereias? — Pensou melhor nas palavras dela.
— Sim, sim. Eu moro aqui, inclusive.
O jovem imaginou como seria ali dentro. Talvez uma caverna subterrânea ou uma cidade altamente desenvolvida e ultra tecnológica dentro de uma lagoa. Provavelmente essa última opção era a mais improvável.
— Mas, então… pretende voltar para casa?
A resposta era óbvia, mas isso a deixou preocupada. Dante estava sem água e comida, e teria que andar por um tempo indeterminado com aquele sol quente batendo em suas costas, e ainda tinha monstros, junto de animais perigosos por ali.
— Sim. Preciso voltar. Tenho que procurar minhas amigas.
— E como vai voltar para casa?
— Acho que… o melhor a se fazer é achar outros humanos, e pedir informação, mas…
O problema era saber como fazer isso. Não sabia por qual caminho seguir, e nem sabia como encontrar outras pessoas.
— Posso… ir com você?
— Hã?!
Dante definitivamente não esperava por essa. Ficou confuso em relação à garota querer ir com ele. Mal se conheciam, então não via motivos para isso.
— Por quê?
— Sabe, acabei de alcançar a maioridade, e não sei o que fazer da vida. Então, me deixe te ajudar. Dessa forma, talvez eu possa encontrar um objetivo de vida!
— Ah… é mesmo?
O jovem não via nenhum problema nisso, na verdade. Além disso, ter uma companhia naquele momento seria nada mal, pelo menos não enlouqueceria estando sozinho por muito tempo.
— Acho que não tem problema.
— Ótimo! Vou pegar minhas coisas!
— Oi?
Ela entrou dentro da lagoa novamente. Dante colocou a cabeça lá dentro, conseguindo ver uma caverna subterrânea.
“Nossa.”
Não pôde ver mais nada além da entrada. Nem uma outra sereia.
Tirou a cabeça de lá, decidindo apenas esperar.
Depois de alguns minutos, a sereia havia retornado, pulando da água e parando ao seu lado, completamente seca.
— Estou pronta!
— O que houve com seu rabo de sereia?!
Crim apareceu com pernas, vestindo um vestido e calçando chinelos, o que assustou o jovem por um momento.
— Ué, toda sereia pode ter a anatomia humana. Podemos ter pernas. Como você acha que eu iria com você?
— Ah, é verdade… O que é isso nas suas costas?
Carregava uma grande mochila.
— Suprimentos!
— Suprimentos…?
— É! Aqui temos água, peixe, peixe e mais peixe.
— Só tem peixe aí!
Parecia que essa viagem dos dois iria se basear na carne de um mesmo animal por um tempinho.
— A partir de hoje somos amigos, né?
Aquilo deixou o garoto sem graça.
— A-acho que sim.
— Ótimo! E não se preocupe, Dante! Tenho certeza que essa nossa viagem vai ser segura e divertida.
— Estou contando com isso.
Ele desejava isso. Desejava ainda mais que, se essa for sua primeira aventura em um outro mundo, que não tivesse nenhuma morte.
— Que tal irmos para o sul? — Crim deu a ideia, apontando para direção.
— Acha que o caminho pode ser por lá?
— Sim.
Dante assentiu, e antes que pudessem começar a partir, uma enorme sombra apareceu sobre eles, cobrindo o sol.
Quando olharam para trás, se depararam com um grande animal. Era um tigre dentes-de-sabre. Ele era maior que os dois, e estava os olhando enfurecidamente.
— Já começamos bem… — disse Dante, desacreditado do que estava vendo — G-gatinho fofinho…?
O tal do “gatinho fofinho” rugiu, fazendo eles tremerem e suarem frio.
— E-eletruns! — gritou, apontando para o animal.
A rajada de eletricidade não fez nada com o tigre, além de assustá-lo, e, quando percebeu, Dante e Crim, suas presas, corriam pelas suas vidas.
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