Índice de Capítulo

    O sol quente que deixava as Terras de Laplace um verdadeiro inferno, deixaria qualquer pessoa, que com toda certeza não devia ter amor próprio, cansada, desidratada e suada. Em compensação ao calor, a noite vinha com tudo com seu enorme frio, que pegaria qualquer um desprevenido.

    Mas ainda estava de dia, e a situação era péssima para as duas pessoas presentes naquela região.

    Dante e Crim corriam sem parar e nem olhar para trás. O desespero os assolava, fazendo suas pernas virarem carros de corrida, entretanto, a temperatura estava os atrapalhando em suas fugas pela sobrevivência.

    Por um lado, um humano e uma sereia, os dois com vontade de chorar, fugiam desesperadamente e esgotadamente de um perigo que não poderiam enfrentar cara a cara. E por outro lado, um tigre dentes-de-sabre, que media 2 metros de altura, tendo garras grandes e afiadas, dentes que triturariam qualquer pessoa que tivesse o azar de cair neles, e uma velocidade admirável. Corria atrás deles, os lanches daquela tarde.

    Dante e Crim eram as presas, e o tigre o predador. Os dois não tinham a menor chance contra ele, tanto na velocidade quanto na força, já que por trás daqueles pelos fofinhos, escondiam-se músculos que deixariam qualquer um com inveja.

    — Crim! Você mentiu pra mim! Você disse que seria uma viagem segura e divertida. Isso não é nada seguro e divertido! — Dante disse, querendo chorar de tanto medo e desespero estava sentindo.

    — Não reclame comigo! Eu não sabia que isso iria acontecer! — a garota falou, sentindo o mesmo desespero que seu amigo.

    Quando olharam para trás, perceberam que o animal estava chegando mais perto. “Isso não é bom!”, foi o que o jovem pensou, quando viu. Quanto mais o tigre se aproximava, pensavam que iam morrer, e também que não deveriam ter saído de casa hoje.

    Os dois estavam desacelerando os passos. O cansaço era a pior coisa que podiam ter sentido logo nesse momento, e o sol não estava ajudando.

    — Dante! Tenho um pouco de mana guardada, mas é pouca quantidade. Posso usar magia apenas uma vez. Vamos juntar as nossas magias e ganhar tempo para fugir!

    O jovem entendeu o recado, e usou a magia de raio no tigre novamente, para fazê-lo parar.

    — Kange!

    — Eletruns!

    Gritaram, e uma rajada de água, junto de eletricidade atingiram o animal. A magia em dupla dos dois fez uma enorme cortina de fumaça, e aproveitaram a brecha para continuarem a fugir.

    Correram em linha reta, sem olhar para trás. Enquanto corriam, acabaram sentindo que seus pés não encostavam em mais nenhuma superfície sólida. Caíram no chão, mas não se machucaram seriamente, já que a altura entre um chão e outro era baixa, o bastante para não quebrar nenhum osso.

    — Você está bem…? — Dante perguntou, vendo a sereia caída.

    — S-sim…

    Aquilo certamente foi um grande susto, mas nada com o que se deviam preocupar, já que a verdadeira preocupação vinha aí.

    O tigre dentes-de-sabre os alcançou, fazendo os dois recuarem até chegarem na parede. O animal andava sempre pressa até eles, bufando. Abriu a boca, e o cheiro de carne e sangue vindo dela fez eles entrarem ainda mais em desespero. Essa não seria a primeira caçada daquele tigre.

    — O que a gente faz?! — Crim disse.

    — Eu não sei!

    Dante poderia usar sua magia de novo, mas não serviria de nada, já que foi inútil nas vezes que usou contra o animal.

    No entanto, esse seria o fim para Crim, já que o garoto podia voltar a vida. Porém, ele não queria ver o corpo de sua recente amiga sendo mastigado por aquele felino, mas, mesmo que não quisesse, não era como se seu desejo fosse atendido.

    Nem tudo que uma pessoa poderia querer, aconteceria de verdade. E, provavelmente, seria isso que aconteceria com a garota. Ela iria morrer, sendo devorada viva, e não poderia ressuscitar, já que não possuía o poder para tal coisa.

    — Socorro! — ela gritou, no entanto, era mais provável que isso chamasse mais animais perigosos do que uma ajuda de verdade.

    O tigre deu mais um passo, chegando perto deles para fazer sua refeição. Os dois engoliram seco.

    Só que, de repente, o tigre pulou para trás, e ficou se debatendo. Havia um homem de pele esverdeada em cima dele, salvando Dante e Crim de um doloroso lanchinho.

    Eles ficaram tão aliviados que sentiam que poderiam se jogar no chão a qualquer momento, mas, ao invés disso, observaram o combate.

    O homem de pele esverdeada estava usando o tigre como um cavalo. Ele segurava a nuca dele com uma mão, e a outra uma lança de madeira e com a ponta feita de pedra. O animal não deixava barato, pulando, tentando o derrubar, falhamente tentando lhe acertar uma mordida ou um golpe com suas enormes e afiadas garras.

    Aquele homem gritou com bravura, enquanto perfurava a nuca do tigre com sua lança, fazendo-o rugir de dor. O golpe atravessou até sua garganta, e ele deslizou a lança, a quebrando no processo, para frente, abrindo um enorme corte.

    O tigre rugiu desesperadamente de dor, pulando e derramando lágrimas.

    A perda de sangue foi muita, e o animal acabou encostando-se na parede, aceitando que perdeu essa batalha e esperando sua morte.

    — Finalmente achei uma carne de primeira! — disse o homem, orgulhoso de sua caçada.

    No final, o caçador que foi caçado, as presas foram salvas da eventual morte, e um novo predador que também lutava pela sua sobrevivência apareceu.

    Ele tinha pele verde, presas amostra e um cabelo arrumado com um rabo de cavalo. Estava sem camisa e usava apenas um shorts mal feito. Além disso, era um modelo para qualquer um que frequentasse a academia, já que seus músculos eram de muito trabalho duro e esforço

    — Dante! O nosso salvador é um orc!

    — Um orc? — Dante ficou maravilhado com essa afirmação. Havia encontrado mais uma criatura presente em histórias de fantasia medieval, além disso, essa criatura o salvou.

    O orc o olhou quando percebeu que estavam falando dele.


    Orcs, monstros de pele verde, eram conhecidos por sua força e bravura. Essa raça foi uma das principais que entraram em guerra contra os humanos há milhares de anos.

    Os orcs do sexo masculino, geralmente eram musculosos, entravam em combate, caçavam e lideravam seu grupo. As orcs do sexo feminino não eram tão fortes, nem musculosas como os outros, porém, elas cuidavam de outras coisas, como roupa e comida, além de serem lindas e possuírem um corpo sedutor. Claro, isso quando eram adultos, já que as crianças da espécie apenas brincavam e se divertiam.

    Esses eram os orcs, e um acabara de aparecer na frente deles.

    Crim foi até o monstro, extremamente agradecida.

    — Muito obrigada, senhor orc. Muito obrigada mesmo!

    — Você é uma sereia, não é mesmo?

    Dante franziu a testa, se perguntando como que ele havia percebido tão facilmente que Crim não era humana. Enfim, isso não era o que importava agora, e foi até o orc para agradecer também.

    — Muito obrigado, senhor.

    — D-de nada.

    O monstro estava com uma cara séria, como se fosse uma pessoa que não tinha medo de nada. Todavia, suas pernas estavam tremendo tanto que não se podia disfarçar. O garoto e a garota perceberam isso, e olharam para o homem, confusos.

    “U-um humano… Esse moleque que parece ser fêmea… é… um… humano…”

    O orc estava bastante incomodado com a presença de Dante, e isso já estava perceptível, mas o motivo não era óbvio. Os dois começaram a se preocupar, olhando para trás, para ver se não tinha algum animal ou monstro tão assustador que fazia aquele homem quase molhar as calças.

    Não tinha nada, o que os fazia questionar o que faria um monstro como aquele, que encarou um tigre com tanta bravura, ficar com tanto medo. E o medo dele só aumentava, ao ponto de sua cara séria se desfazer lentamente.

    — C-com licença — quando o jovem falou, o homem deu um grito de medo, o que assustou Dante, e o fez se afastar.

    — M-me desculpa… é que você…

    — E-eu…?

    — É um humano! N-não vai tentar me matar, vai?

    — Não vê que se eu tentasse de socar, meu braço quebraria?!

    Crim entrou na frente dos dois.

    — Calma aí, campeões! Ninguém aqui vai machucar ninguém, tá bom? Senhor orc, meu amigo é bonzinho! Ele não vai te matar! Além do mais, o Dante não tentou me matar, eu que não sou humana!

    O orc percebeu que estava deixando o medo atravessar o pensamento lógico. Afinal, se o jovem à sua frente fosse alguém malvado, que matava monstros, porque ele seria amigo de uma sereia? Além do mais, humanos não eram burros, e a não ser que essa pessoa tivesse um parafuso a menos, não tentaria enfrentar um oponente maior, mais forte e mais rápido.

    O monstro se ajoelhou no chão, abaixando um pouco sua cabeça.

    — Mil perdões, humano! É que na minha infância, escutei tantas histórias de como os humanos eram seres cruéis, que isso me deixou assustado. Mas no fim, vocês são como todos os monstros, existem bons e maus.

    Isso era verdade. Monstros racionais e humanos eram parecidos, de certa forma. Existiam os babacas e os não babacas. Felizmente, ninguém naquela situação era um babaca.

    — T-tudo bem.

    Dante compreendeu.

    O orc levou sua cabeça ao chão, e fez um pedido:

    — Por favor, humano! Sei que isso é um pedido egoísta, mas, por favor, cozinhe para minha tribo!

    — Oi?

    — Você sabe cozinhar, certo?

    — Sim! Mas…

    — Então, por favor, nos ajude!

    — Você pode explicar o que está acontecendo?!

    O orc se sentou e explicou. Aparentemente, o único cozinheiro que tinham acabou morrendo, e, desde muito tempo, vinham comendo carne crua para sobreviver. Tentaram cozinhar sua própria carne, mas, como ninguém sabia cozinhar, o alimento sempre saía queimado ou completamente estragado. Em raros momentos, saía comestível, mas não com gosto bom.

    Eles também moravam em uma floresta, e esse orc estava à procura de alimentos, então, acabou indo para Terras de Laplace caçar animais para alimentar o vilarejo.

    Eles estavam sentados enquanto conversavam sobre isso.

    — Vocês não tinham outras coisas para comer, tipo frutas ou vegetais? — Crim perguntou.

    — Não sabemos cultivar e apenas frutas não alimentaria uma tribo inteira. E, desde que começamos a comer carne crua, ficamos com intoxicação alimentar.

    — Isso é um problema… Não podem pedir ajuda de uma outra raça de monstros?

    — A única raça que poderia nos ajudar são as Harpias. Porém, nós não temos um relacionamento tão bom. — Direcionou sua visão para Dante — É por isso que te peço, humano! Não… Seu nome, qual é mesmo?

    — Dante Katanabe.

    — Por favor, Dante Katanabe, ajude nosso vilarejo orc! — suplicou.

    O jovem gostaria de ajudar, e, se o vilarejo dos orcs ficava em uma floresta, seria um bom caminho para se sair daquele lugar quente e deserto.

    Porém, ele não poderia tomar uma decisão assim sozinho, já que não viajava só. Olhou para Crim, esperando uma resposta.

    — Acho uma boa ideia ajudarmos os orcs, Dante.

    E com essa confirmação, o jovem já podia dar a sua resposta.

    — Tudo bem. Ajudo sim. Prometo entregar para vocês uma bela refeição.

    O Orc, muito agradecido, se levantou.

    — Muito obrigado.

    Estendeu sua mão para um cumprimento. Dante assentiu, se levantando e o cumprimentando.

    — Prazer em conhecê-los, o meu nome é Grond, e muito obrigado.

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