Arco 3: Capítulo 24 - Jornal Exagerado
Mesmo que o sol estivesse totalmente exposto naquele horário, aquela manhã não estava sendo esquentada. Muito pelo contrário, o frio era nítido.
“Talvez comprar roupas de frio seja uma boa ideia.”
O garoto pensou nisso, mas não era para si mesmo, já que tinha seu conjunto de moletom, mas sim para as garotas que moravam com ele.
“Pera, será que existe esse tipo de roupa tamanho fada?”
Com certeza, mas não era certo afirmar que em Schalvalt existiriam roupas desse tamanho. Se o garoto quisesse arrumar roupas de frio para a fada na qual tinha um pacto, teria que ir para o lugar onde Flora nasceu.
Os dois já haviam chegado no vilarejo. Seus passos afundavam na neve fofa no chão, criando pegadas. Eles observaram o lugar e viram que havia cidadãos conversando tranquilamente no local.
— O povo daqui acorda bem cedo, né? — Angel comentou e Dante concordou com a cabeça.
O povo daquele vilarejo era bem pacífico. Ninguém tinha raiva de ninguém, e eram todos bem amigos. Isso era algo bem legal de saber: que não tinha discórdia na vila.
— Senhor Dante! Senhor Dante! Senhor Dante!
Um grupo de cinco crianças bem animadas, duas meninas e três meninos na idade de Saphir, abordaram o garoto. Dante não tinha ideia sobre a existência dessas crianças.
— Aqui! — uma das crianças gritou enquanto entregava umas grandes e agrupadas folhas de papéis presas, como se fosse um jornal.
— O que é isso? — o garoto perguntou.
— Isso é um jornal! — uma garotinha disse animadamente.
No fim, isso era um jornal. Claramente, não era um jornal em folha que alguém receberia na terra, no sentido de ser algo bem melhor desenvolvido. Aquilo foi completamente escrito à mão, e tinha desenhos ilustrandos os ocorridos em Schalvalt. O garoto percebeu aquilo quando o folheou.
Tinha dois assuntos em destaque: sobre a luta contra Garamb e os acontecimentos no restaurante.
O que chamou mais atenção de Dante e Angel entre essas duas, foi a da batalha no restaurante.
Felizmente para quem quisesse esconder sua identidade, aquela matéria não tinha ilustrações de Dante na sua forma normal antes de usar os poderes de seu anjo. Invés disso, a ilustração presente era do garoto e Altair naquelas formas descrita por Angel como “auto-defesa”.
O desenho era um pouco longe da realidade, quase nem se pareciam. Mostrava os dois lutando até a morte, completamente ensanguentados e até sem alguns membros do corpo. Obviamente a ilustração não foi muito explícita na violência, na verdade, dava para dizer que foi um censurado.
Mesmo assim, a luta que o ilustrador do jornal desenhou, exagerou no real acontecimento.
O jornal usou os depoimentos de quem estava lutando naquela hora. Nada era muito concreto, e nem comentava sobre nenhum humano naquele confronto.
Também tinha um pouco de envolvimento da igreja naquela matéria.
E o título da matéria era: duas criaturas misteriosas e inimigas de Deus lutaram até a morte, e destruíram o restaurante mais famoso da capital.
— Isso me parece tudo meio mentiroso… ou distorcido — Angel comentou.
— Pera, você consegue ler isso?
— Claro, como você acha que eu consigo conversar normalmente?
— Parando pra pensar… Você não aprendeu a língua de Kuyocha?
— O idioma de Kuyocha é o mesmo daqui.
— Oh!
Não só os idiomas de Kuyocha e Schalvalt eram os mesmos, mas como de outros países também. O que poderia diferenciar era o sotaque. Isso podia ser chamado de linguagem universal, pelo menos entre os humanos.
— Muito obrigado. — O garoto se agachou para ficar cara a cara com as crianças — Quanto eu devo pagar?
— Ah, não, não, não, senhor. É de graça. A gente está distribuindo, não vendendo — uma das duas garotinhas comentou.
— Ah, então vocês entregam jornais de graça? É algum tipo de trabalho sem remuneração? Ou só fazem isso porque querem? — Angel disse.
Um dos garotos balançou o dedo indicador para o lado e para o outro.
— Nós somos remunerados — o mesmo garotinho disse — Nós somos pagos pelo dono do vilarejo!
Angel gostou de ouvir isso.
— Bem, muito obrigado. Agora temos que ir — Dante disse.
— Manda um “oi” para a Saphir por nós — um dos garotos falou.
Eles eram amigos de Saphir e, também, crianças bem animadas. Parando para pensar, a jovem empregada não falou o porquê queria trabalhar ao invés de aproveitar sua vida normalmente, mesmo sendo tão nova. Dante pensou em perguntar isso para ela quando voltasse ao trabalho. E voltar para a mansão era a primeira coisa que ele iria fazer a seguir.
Os dois saíram de lá acenando para as crianças, e os jovenzinhos fizeram o mesmo.
— Aquelas crianças parecem ser legais.
Angel falou mostrando um grande sorriso.
— Cê acha?
— Me lembra de você, quando era mais novo.
Dante foi pego de surpresa com essa afirmação, mas não se importou, na verdade, ignorou completamente o que ela disse. Pareceu que seu anjo percebeu essa sua atitude, então ela levou seu braço até seu pescoço, o deixando sem uma escapatória fácil.
Com sua mão ligada ao outro braço, ela o fechou e começou a esfregar rapidamente na cabeça do jovem, enquanto omitia a sua força.
“Isso é beeeem desagradável…”
Isso ocasionou uma pequena dor em Dante, fazendo ele recuar, tirando o braço de Angel do seu pescoço, usando sua força bruta.
A mulher riu ao ver o garoto se soltando dela de uma forma desesperada.
“Caraca… isso realmente doeu…!”
O garoto reclamou internamente, enquanto passava a mão em sua cabeça.
Após essa desagradavel situação, um silêncio desconfortável surgiu entre os dois.
A mulher não gostou muito disso, e queria continuar com uma boa conversa.
— Bem, o que você vai fazer agora? — Com curiosidade sobre o que o garoto ia fazer em diante, Angel decidiu mudar o assunto da conversa — Pretende voltar a dormir?
— Não. Eu vou na mansão e retomar ao meu cargo como mordomo.
— Oh, vai voltar ao trabalho!?
A garota parecia surpresa com essa resposta. Ela também logo deduziu que o garoto não iria passar muito tempo na recém casa que adquiriram.
Bem, já que ele havia confirmado presença, não tinha como voltar atrás. E também Dante queria voltar a trabalhar como um mordomo. Era um bom emprego para o jovem.
— Exato.
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