Índice de Capítulo

    Já se passaram 1 ano desde aquele fatídico dia. Conseguimos escapar do Ceifador, mas isso ocasionou em perdas. A mansão foi destruída. Chap e seus filhos morreram. Tudo isso foi minha culpa, eu deveria ter reencarnado quando tive a chance, assim as mortes poderiam  ter sido evitadas… Mortes… Morrer e renascer era uma espécie de tabu, né? A igreja me perseguiu por isso… a mim e meus amigos… Meus olhos viviam caídos, não era como se estivesse com sono, ou cansado. Não sei explicar… Acho melhor levantar logo dessa cama.


    Acordando em uma cama luxuosa, em um quarto que mantinha os padrões de riqueza. O garoto levantou-se de sua cama. Andou até o banheiro do quarto para a sua higiene pessoal. Enquanto escovava os dentes, sentiu um peso subindo pelo seu corpo. Com suas pequenas garras auxiliando na escalada. Até que chegou a seu ombro. Um pequeno, fofo e peludo animal, uma raposa. O menino acariciou o animal e permitiu que ficasse sobre seu ombro esquerdo. Após isso, ele entrou numa banheira com água quente.

    “…Essas pedras de magia são incríveis. Elas deixam a água quentinha…”

    Após o banho, o garoto vestiu um terno preto com detalhes em dourado. E amarrou o seu longo e esbelto cabelo em uma trança na parte de trás. Era tanto cabelo, que sobrava bastante na parte de frente. Saindo do quarto, ele se encontrou com uma pequena garota, vestindo um lindo vestido branco.

    — Bom dia, Dante!

    Após tudo o que aconteceu, o Ceifador ficou com tanta raiva, que matou e devorou a alma de todos no vilarejo. Assim, matando os pais de Saphir e quebrando seu contrato com as deusas da época. Dante, como o único garoto mais velho que ela conhecia, e que estava vivo, decidiu adotá-la como sua irmãzinha. Ele até tentou achar os parentes da garotinha, mas sem sucesso.

    — …Bom dia. O que está fazendo acordada tão cedo…?

    — Você esqueceu…? Você prometeu que íamos num encon… num passeio! — seu rosto corou.

    — …Não, não esqueci. Porém nós vamos passear só mais tarde. Não precisava acordar agora…

    — Eu não pude segurar a emoção!

    — …Você é só uma criança mesmo…! — Ele levou a sua mão até os longos cabelos da garota, e fez um leve cafuné. Saphir gostava dos cafunés que recebia do garoto, e nunca reclamava.

    — …Agradeceria se não me tratasse como criança. Já sou uma mulher adulta, poxa!

    — …Você está no meio da puberdade…! Mas, concordo que você é madura. Esses anos de experiência te mudaram…

    Passaram-se 1 ano desde os acontecimentos na mansão. Saphir estava com 14 anos agora, e era bastante madura para sua idade. Inclusive, Dante Katanabe estava com os seus 17 anos.

    — …Enfim… vamos comer algo…?

    — O quê?! Você vai finalmente comer alguma coisa? Já faz trinta e cinco dias!

    — …Você contou…?!

    — É claro! Eu me preocupo com seu bem estar!

    — …Perdão…

    Apesar de passar esse grande tempo sem comer, por nenhum motivo especial. Por algum motivo, Dante não parecia estar desnutrido. Ele estava magro, mas não de uma forma preocupante, e o porquê disso era um grande mistério, o garoto também nunca reclamava de fome.

    Uma coisa perceptível nele, era os seus olhos que estavam sem nenhum brilho, como se ele estivesse morto por dentro. Dante também estava bem sério, diferente do seu eu do passado, que era menos sério.

    Uma outra coisa, era o seu longo e esbelto cabelo. Em comparação há um ano, seu cabelo estava muito grande, chegando até a sua cintura caso não prendesse. Não era um problema para o garoto, já que ele podia cuidar rapidamente, mesmo com um grande couro cabeludo.

    — …Por acaso, a mestra finalmente voltou…?

    — Infelizmente não. Não espero que a missão dela acabe tão cedo.

    — …Tem toda razão, tenho que parar de me apressar…

    A “mestra” foi alguém que o garoto conheceu há um bom tempo, alguém que ele passou a admirar.

    — …Chloe vai tirar biscoitos da lareira, e vai servir para nós dois…

    — O olho, né?

    — …Sim… Felizmente, tô conseguindo controlá-lo…

    — Que bom!

    Oráculo, olho da ganância, olho da previsão ganancioso, ou o olho da previsão da ganância é uma habilidade que Dante recebeu ao longo do tempo. Ele não sabe como, e não sente vontade de descobrir como recebeu esse poder. Como o próprio nome dizia, essa habilidade permite que o usuário saiba das coisas que acontecerão no futuro. O problema era que, no início, esse poder manifestava-se de forma involuntária, o garoto não tinha controle sobre esse poder. Porém, atualmente ele esteve conseguindo o controle.

    — Nem imagino como deve ser ver o futuro…!

    — …Eu não consigo ver muita coisa, só alguns minutos no futuro…

    — Mesmo assim, é incrível!

    Seria basicamente levar um spoiler de sua própria vida voluntariamente, anteriormente ele levou alguns sem ter a intenção, e isso lhe salvou de alguns perigos, tipo a igreja, que neste momento não era um problema.

    O corredor que andavam, era lindo e extremamente limpo. A beleza daquele corredor, se comparava às mansões de vários nobres.

    Abrindo a porta do final do corredor, eles se deparam com o salão principal. O salão principal era uma parte da residência onde eles recebiam pessoas, davam festas e outras coisas.

    — …Amber…? Bom dia…

    — Bom dia, senhorita Amber!

    Eles por acidente se encontraram com a sua antiga veterana de trabalho, andando pelo salão sem um rumo aparente.

    — …Ah…? Bom… dia…! — A garota estava com os olhos caídos, falando lentamente e lutava para se manter em pé, ou seja, sonolenta.

    — …Da-Dante… você irá comer alguma coisa hoje… certo?

    — …Você também…? Não se preocupe, irei voltar a comer…

    — Que… bom… finalmente…!

    — …Não dormiu bem a noite…?

    — …Sim…

    — …O mesmo pesadelo…?

    — …Infelizmente…

    O pesadelo em questão, era o dia em que o Ceifador matou: Chap, Vergil, Larry, os filhos de Chap e o pessoal do vilarejo. Ela se sentia culpada, pois não fez nada para ajudar, a garota sentia que poderia ser melhor.

    — …Entendo. Enfim, vá lavar seu rosto e venha comer algo…

    — Tudo… bem…!

    Amber andou novamente ao seu quarto. Ela decidiu finalmente “acordar” e tomar um banho. Enquanto isso, Dante e Saphir seguiram rumo à cozinha.

    — Me sinto mal pela Amber, todos nós vimos coisas horríveis naquele dia, e parece que ela foi a mais afetada — Saphir falou com uma voz que transmitia pena.

    — …Talvez ela enxergasse o Chap com outros olhos… — Dante comentou.

    — O-O quê?! Vo-Você acha mesmo isso?! — A garota ficou bastante inquieta com isso.

    — …É só uma teo…

    Dante percebeu que Saphir havia parado por algum motivo. Olhando para trás, ele viu que ela estava bastante inquieta com o que disse. Na verdade, dizer “bastante inquieta” era meio vago, seu corpo e sua alma estavam transbordando inquietude. Seu rosto estava extremamente corado, como um pimentão, e a garota mal conseguia pronunciar alguma coisa.

    — Ma-Ma-Ma-Mas e-e-e-e… Co-Co-Como…

    O garoto suspirou quando percebeu que tocou em um assunto que deixou a garotinha com um parafuso a menos, ou algo do tipo. Ele comparou como um bug engraçado de um jogo, ou como aqueles robôs em filmes de animações, que quando acabam tendo um contato com a água, ficam com uma espécie de efeito retardado, e depois morrem.

    “…Acho que ela não lida bem quando o assunto é romance… Anotado, tenho que tomar cuidado na próxima…!”

    Eles finalmente chegaram na cozinha. Como na previsão do garoto, Chloe havia acabado de tirar alguns biscoitos assados da lareira.

    — Bom dia, querido… digo, Dante!

    Essa frase de Chloe deixou Saphir extremamente incomodada, e com ciúmes.

    — …Ei…! — Dante exclama — O que está fazendo…?! — Simplificando, Saphir havia pisoteado o pé do garoto, enquanto fazia uma cara emburrada.

    — Seu bobo!

    — …O quê…?!

    Chloe botou os biscoitos e um tabuleiro, apontou as suas mãos em direção aos alimentos, e prosseguiu dizendo:

    — Oro dromcatok!

    Um leve e gélido vento saiu de suas mãos, e foram até os biscoitos, os esfriando ao ponto certo para comer. Essa habilidade com ventos que Chloe usou era uma magia de vento. A garota tinha afinidade com o tipo vento.

    O motivo dela ter usado esse poder mágico mesmo não tendo nascido no país de magia, era porque os demi-humanos tinham uma ligação há anos com a nação de Alfrey. Possivelmente, todos os demi-humanos do mundo podiam usar magia.

    — Eu peço que comam…! — Ela ergueu uma bandeja onde os biscoitos estavam. Por fora, eles estavam com uma cara boa, pareciam bem assados.

    — Ei, Dante… Seu olho da previsão previu o gosto desse lanche…? — Saphir murmurou.

    — …Infelizmente ele não fez essa proeza…

    — …Chloe não é tão boa na cozinha, né?

    — …Bem… olha, dessa vez algo que ela fez está com uma cara comestível…

    — A última vez que algo estava “comestível” por dentro estava cru.

    — …Sei… Quer tentar comer primeiro?

    — Quê?! Por quê eu?

    — Seja forte…

    — Foi você que derrotou o Oldun, não fui eu!

    — Faz esse sacrifício pro irmãozão, vai…?

    Em meio aos murmúrios dos dois, Chloe estava esperançosa e com grandes brilhos em seus olhos. Dante e Saphir decidiram comer ao mesmo tempo os biscoitos da mulher. Não esperançosos com o gosto do biscoito, eles botaram na boca e comeram. Porém…

    — Que gostoso! — Dante e Saphir exclamaram.

    — Isso está muito bom, finalmente você fez algo comestível que seja agradável! — Saphir pegou mais um biscoito, e comeu.

    — Devo me orgulhar disto. Depois de um tempo, pelo visto me aperfeiçoei na cozinha…

    Chloe ficou bastante feliz com a aprovação de Dante. Chegando perto do garoto, a garota disse:

    — Agora poderei cozinhar para você sempre que quiser!

    Depois dessa frase, foi possível ouvir Saphir bufar. Terminando de comer o biscoito, Dante respondeu:

    — …Precisa não, eu sei cozi… — Antes que pudesse completar a sua frase, ele levou um golpe em sua cabeça — Po-Por que fez isso, irmãzona?! — A pessoa em questão, era Aiko, que havia chegado com Amber.

    — Isso não foi uma coisa legal de se dizer… Enfim, bom dia para vocês.

    Todos responderam igualmente de acordo. Alguns minutos se passaram, e o café da manhã foi servido.

    — …Ei, a Emi está na biblioteca, né…? — o garoto perguntou.

    — Sim, ela sempre está lendo lá — Saphir respondeu.

    — …Vou dar um oizinho pra ela…

    — Vou com você.

    Eles saíram da cozinha, e partiram rumo à biblioteca. Nisso, Amber fez um comentário inocente.

    — Esses dois estão ultimamente bastante grudados, não?

    Ouvindo isso, uma chama de determinação se acendeu em Chloe, e ela decidiu aprender novas receitas.

    — Vou voltar a cozinhar…!

    Enquanto isso, Dante e Saphir continuaram andando em direção à biblioteca.

    “Faltam trinta minutos para a rainha do país de magia, Alfrey chegar.”

    “…Entendo. Obrigado, Sabedoria!”

    A Sabedoria era uma ex-deusa que decidiu servir Dante Katanabe, e ajudá-lo em sua nova vida, em troca de um favor. “Sabedoria” era um nome provisório, que referenciava o seu antigo cargo: deusa da sabedoria. O garoto queria dar um nome oficial para ela.

    Dante ergueu a sua mão no ar. Sobre sua mão, algo parecido com um buraco negro, perfeitamente quadro e fino, com uma especie de fumaça, ou nevoeiro saindo dela, surgiu. Esse era mais um poder que o garoto ganhou desde o ataque do Ceifador, chamado de: “caixa celestial”. Como o “olho da ganância”, essa habilidade não era apta para um combate. Esse poder servia como uma mochila que você não precisava carregar, dava para comparar a jogos que tinham a mecânica do “inventário”.

    Esse poder recebeu um novo nome pelo garoto, como a habilidade “oráculo”. O nome para esse novo poder era inventory of shadows.

    Da inventory of shadows, o garoto tirou uma máscara, e colocou sobre a lateral de sua cabeça, uma parte que não tampava o seu rosto, mas que o objeto em questão ainda ficasse sobre sua cabeça. A máscara era branca com alguns detalhes em preto. Ele também tirou um manto com capuz. Um manto branco com detalhes em roxo. Esse manto era de Angel, seu anjo da guarda, uma mulher forte e habilidosa com a espada.

    Eles finalmente chegaram na biblioteca, onde estava a última sobrevivente do ataque do Ceifador.

    — …Bom dia, Emi… — O garoto deu início a conversa.

    — …Bom dia…

    — Bom dia, Emi! — A garotinha também cumprimentou-lá.

    — …Bom dia…

    Emi estava igual a Dante, mentalmente triste com o que aconteceu, e ambos não comiam direito. Os dois acabaram sendo os mais afetados dos ex-empregados.

    — …Chegou uma nova remessa de livros…? — Dante perguntou.

    — …Sim… — Ela jogou um livro histórico de capa dura no garoto que, em contrapartida, pegou sem problemas. Em seguida, ele guardou no inventory of shadows — …Acho que você vai gostar, Dante… Esse livro conta sobre a guerra dos pelicanos…

    — …Certo, irei ler…

    Dante andou em direção à Emi, e lhe deu um forte abraço. A garota retribuiu com o mesmo. Vendo aquela cena, Saphir ficou vermelha de vergonha, e com ciúmes.

    — …Volto mais tarde…

    — …Certo…

    Após isso, eles saíram da biblioteca. Andando pelos corredores, Dante falou:

    — Saphir, pode chegar na sala de reuniões primeiro, se quiser. — Ele colocou a máscara em seu rosto, o tampando completamente e vestiu o manto de Angel. Logo em seguida, levantou o capuz — Tenho que fazer uma coisa.

    — Ah, tudo bem.

    Após a confirmação da garota, Dante andou em direção contrária a dela.

    Passaram-se 1 ano, e muita coisa mudou. Dante Katanabe virou o imperador da nação Schalvalt. Ele derrubou a realeza anterior, e decidiu gerenciar um país sem discriminação. Para chegar onde chegou, o garoto morreu 129 vezes, de todas as formas possíveis.

    Sendo um imperador, ele conseguiu manter boas relações com as outras nações, até parecia que os outros países gostaram dessa troca de autoridade. Todas as suas amigas que sobreviveram, ajudaram nessa missão, por tanto, todos moram juntos.

    O garoto saiu da sua mansão em que morava, e foi para os fundos. Em uma parte do gramado, havia uma lápide com um nome escrito. Dante ativou o seu inventory of shadows, e retirou um buquê de flores. Depois, deixou ao lado da lápide.

    — Eu não pude te proteger como você me protegeu todos esses anos. Porém, posso vingá-la… Tenha um bom dia, minha amiga e anjo da guarda, Angel.

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