Arco 3: Capítulo 81 - Um Homem Simpático
Dante e Nett seguiam por uma vasta estrada de terra no meio da floresta. Pisando na terra molhada, da chuva que cessou, em direção a um morro.
— Então, você é um deles, né? — Nett disse, chamando a atenção do garoto. — Um viajante de outro mundo.
O jovem ficou perplexo. Como aquele velho poderia saber que não era daquele mundo?
— Como você…
— Havia vários. Há 10 anos, eles sumiram, e deixaram este lugar como ele é hoje. Sujo, sem vida e insano. Era um grupo de pessoas, que fizeram experiências em nós, nossas mulheres e filhos. Implantaram suas crenças. Nos vigiaram. Nos torturaram — falou em um tom sério, enquanto subiam o morro. — Os viajantes de outro mundo estavam fazendo da nossa vida um inferno. Se chamavam de Boreal Corporation.
— Espera, o quê? — Dante correu até a frente de Nett, completamente perplexo com o que acabara de dizer. — Você tá falando que uma das empresas mais famosas do meu mundo criou essa cidade subterrânea no seu?
— Os conhece?
— É uma das empresas mais famosas do meu mundo. Tão famosa que são dono de várias outras empresas. Se um dia a Terra virar alguma espécie de lugar cyberpunk, é por culpa deles.
Nett realmente não entendeu o que ele quis dizer com “cyberpunk”, mas entendia que isso não podia ser coisa boa, se essa Boreal Corporation realmente tivesse a influência que Dante estava dizendo. Uma influência alta o bastante para moldar a sociedade. Ele desejou um futuro próspero para o mundo natal de Dante.
— Mas por que eles estavam aqui?
— Diziam que estavam fazendo experimentos. No entanto, é só mais fácil de acreditar que eram lunáticos. Sádicos viciados em torturas e fazerem da nossa vida um inferno. Nós não vivíamos aqui, e sim na superfície. Eles trouxeram-nos para cá, fizeram lavagem cerebral em todos. E os cidadãos de minha antiga aldeia esqueceram de onde vieram, e se tornaram psicopatas odiosos.
Com isso, Dante se perguntava o porquê dessa empresa querer fazer isso. Por dinheiro? E que tipo de benefício uma empresa que é quase dona do mundo teria como isso. Além do mais, o garoto achava que era uma das poucas pessoas que conseguiu ir para esse outro mundo sem morrer. A expectativa de ir para esse lugar com vida era baixa. Será que isso era uma mentira? E quantas coisas mais podiam ser mentiras e manipulações que a Boreal poderia ter criado?
— Eu tive uma filha. Eu e minha falecida esposa não queríamos que ela vivesse mais algum segundo naquele local, então, bolamos um plano para ela fugir, pela antiga caverna de mineração. Infelizmente não podíamos ir com ela. Tínhamos que distrair os guardas. Quando descobriram, usaram a minha esposa para me punir. A chefe de equipe a estuprou e a matou na minha frente. Eu estava impotente, não podia fazer nada.
— Eu… sinto muito. — Ele sentiu um certo desgosto ao ouvir isso, e bastante pena daquele homem. Ele não era apenas uma pessoa que vivia ali. Era um cara completamente traumatizado.
Após esse tempo de caminhada, eles haviam chegado à uma casa. O lar de Nett. Antes de abrir a porta, ele desabafou:
— Sinto saudades dela, especialmente da minha filha. Sinto saudades de ver seus cabelos azuis e ler histórias pra ela. Ela adorava livros…
— Emi… — A primeira imagem que veio à cabeça era sua colega de trabalho. Foi algo espontâneo, Dante nem pensou direito, só percebeu as semelhança entre as duas e pensou alto demais.
— Perdão? — Nett franziu a testa com o nome dito.
— Ah, me desculpe. Emi é apenas uma colega de trabalho. É que ela e sua filha são um pouco parecidas, e eu pensei alto.
— Emily… Emi… — falou o homem, andando até Dante.
— O quê?
— “Emi” é o apelido da minha filha, Emily. — Nett agarrou com força os ombros do jovem, demonstrando uma expressão esperançosa em seu rosto. — Por algum motivo, essa sua amiga já contou sobre a história da Astaroth, a menina imortal?
— B-bem, sim, mas…
— É minha filha! Eu contava várias histórias pra ela, inclusive essa! Não tem como não ser ela! É realmente a minha menina! — Nett deu pequenos pulos de alegria, e seu rosto que antes estava sério, agora estava empolgadamente feliz.
Dante realmente estava incrédulo com Nett acreditar nisso com pouca informação. Ao menos, ele não acreditava. Afinal, Emi não era a única garota de cabelo azul que gosta de leitura que está espalhada pelo mundo, né? O jovem não sabia se o homem era o tipo de pessoa que acredita a nas coisas muito fáceis, ou apenas queria acreditar que sua colega de trabalho, de alguma forma, pudesse ser sua filha.
— Por favor, meu garoto. Me diga como ela está?
Apesar de ser cético enquanto a isso, Dante decidiu não dizer o que pensa, e apenas deixar aquele homem em seu momento de alegria genuína.
— Ela está muito bem. Trabalhamos em uma mansão com um bom patrão.
Lágrimas escorreram dos olhos do senhor, molhando suas bochechas. Lágrimas de felicidade.
Ele puxou Dante para dentro de sua casa o mais rápido possível, o largando no meio de sua sala para mexer no armário de madeira.
Em si, a estrutura da casa inteira era feita de madeira. Tinha poucas janelas e uma varanda na frente. Além de ficar no meio de uma floresta. Além disso, por dentro não tinha muita coisa, apenas sua cama, armário, mesa e um caldeirão pendurado sobre o resto de madeira queimada. Além disso, tinha um alçapão no chão, levando ao porão.
Enquanto o homem mexia no armário, o jovem foi até a porta e olhou ao redor. Não havia ninguém por perto. Depois disso, a fechou.
— Meu jovem! — O homem correu até Dante, colocando uma carta em suas mãos. — Quando você sair desse lugar Infernal, e você vai, por favor, entregue isso à minha filha.
O jovem apenas acenou de forma positiva. Colocando a carta em seu bolso. Ao colocar a mão no bolso da calça, ele sentiu um material sólido lá dentro.
“Nem ferrando, meu celular?! Ele ainda está comigo?!”, tanta coisa havia acontecido em tão pouco tempo que ele havia esquecido a existência de seu celular dentro do bolso. Ficando completamente perplexo.
De forma repentina, um som alto de batida na porta. Alguém estava lá.
Dante ficou apreensivo, mas, de repente, Nett pegou em seus ombros, o levando até um alçapão, que levava à um alçapão no chão, e começou a sussurrar.
— Você precisa sair daqui imediatamente! Tem um alçapão no chão, você pode fugir por lá.
— Mas eu não sei pra onde ir! — sussurrou o garoto.
— Na casa de Bill. Fica ao sul daqui. Ele pode ser o novo chefe daqui, mas é só uma cadelinha na coleira da Kelly. Na casa dele deve ter informações de como sair desse lugar.
— Espera, e o que houve com a fuga pela caverna?
— Bloquearam a passagem no dia que descobriram que minha filha fugiu. Agora, vai! Vai! Eu distraio seja lá quem estiver na porta.
O homem empurrou Dante para dentro, o fazendo descer nas escadas de mão. Porém, antes de descer no porão, o garoto apenas olhou para o homem e disse:
— Obrigado. — Acabara de conhecer aquele homem, mas estava extremamente grato. Em um lugar cheio de loucos assassinos, ele foi o único que não tentou o matar. Ainda mais, estava o ajudando a fugir.
— Eu que agradeço. Graças a você, agora sei que minha filha está viva. — Apesar das informações sobre a garota serem vagas, ele sentia que era a sua filha, e esperava estar certo.
Por fim, o garoto desceu as escadas, fechando a portinha do alçapão. Ele viu que dava para se trancar por dentro, por meio de uma tábua giratória pregada na portinha de madeira. Por garantia, ele fez isso.
Por fim, Nett respirou fundo, e abriu a porta… ou ao menos tentou. Antes que pudesse de fato abrir, sua porta foi arrombada pela pessoa do outro lado, caindo no chão. A pessoa, em questão, era um dos ajudantes de Bill apareceu dentro da casa, sendo o homem completamente trajado de preto.
— Onde ele está? — perguntou enfurecidamente.
— Ele quem, Scargard?
— O forasteiro. Eu sei que o escondeu aqui. — Scargard olhou para o lado, vendo o alçapão. — Parece que você não sabe esconder bem as pessoas.
— Infelizmente para você, Scargard, o porão é um túnel que leva ao Norte daqui. O garoto já deve estar bem longe. Afinal, ele saiu daqui faz meia ho… — Nett parou de falar quando sentiu seu pescoço sendo fortemente pressionado, e seu corpo inteiro completamente levantado.
— Seu velho desgraçado. — Aquele homem apertava cada vez mais a garganta de Nett, o deixando sem fôlego. — Morra e queime no inferno, imundo!
Scargard quebrou o pescoço do homem, o matando na hora. Delicadamente, colocou o corpo dele no chão. Ajoelhou-se e começou a orar:
— Meu senhor, mais uma alma impura foi mandada ao seu devido lugar. Sei que meus métodos são pecaminosos, mas, tudo vale para fazer o bem. Eu juro, senhor, na próxima eu pegarei o forasteiro.
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