Arco 3: Capítulo 82 - Ilusão
Dante avançou pelo porão, que era um corredor estreito com paredes de madeiras, e tochas encravadas nela, além disso, com uma estrada de terra. Nem dava para chamar aquilo se porão, e sim, um túnel de fuga.
Correu, achando uma escada no caminho. A subindo, abriu uma pequeno alçapão à cima, o levando para um lugar comum ambiente rochoso e tochas iluminando o local. Era uma caverna, e não tinha mais nada lá além disso.
“Espero que o Nett tenha ficado bem.”, ele ouviu um som vindo de Sophie. Foi como se ele quisesse dizer algo, mas exitou de última hora. Isso genuinamente preocupou o jovem, mas ele não esperava o pior.
[Aquele bom homem disse que você tem que ir para o Sul. Saia dessa caverna para podermos nos localizar melhor primeiro.]
Assim, o jovem fez, concordando completamente com o que a ex-deusa disse, e a obedecendo.
Felizmente para sair daquele lugar não era complicado, já que a saída para fora da caverna estava à frente.
Saindo do lugar, ele viu uma grande iluminação vindo lá embaixo. Era a população.
— Eles ainda devem estar me procurando…
[Mas, infelizmente, se você tem que chegar até a casa de Bill, você precisa passar por essa aldeia.]
— …Merda.
Então, o garoto seguiu para baixo, descendo a montanha por um caminho reto. Não seria algo demorado.
— Como será que estão os orcs com toda aquela situação do Cavaleiro de Pedra?
[Você não deve se preocupar com isso agora. Primeiro, foque em sair daí.]
Ela tinha razão, afinal, o jovem estava em uma situação crítica. Completamente molhado, isolado em um lugar que desconhecia e com pessoas o perseguindo.
— Você tá certa.
Após descer a montanha, se aproximou da aldeia, se escondendo entre as árvores. Incrivelmente, não avistava ninguém no local. O fato de não ver ninguém o deixava completamente preocupado, pois, quem sabe poderiam estar bolando uma armadilha para pegá-lo de surpresa? Por fim, pulou a cerca e adentrou dentro da aldeia.
Andava agachado, a fim de esconder o máximo a sua presença. Acabou ouvindo sons altos de passos pela terra.
“Merda!”, olhou ao redor, procurando um lugar para se esconder. Viu a janela da casa ao seu lado. Olhando por dentro, viu que não tinha ninguém naquela residência que possuía apenas um cômodo, contendo apenas uma cama, alguns quadros na parede e um armário. Então, deslizou a janela para cima, a abrindo e pulou dentro do lugar.
Já dentro do local, fechou a janela atrás de si, e se sentou no chão, suspirando alto.
— Isso vai ser difícil…
[Não se preocupe, Dante. Estou aqui para te dar apoio moral. Não desista, você consegue!]
— Valeu… mas não estou planejando desistir.
Colocou a mão no bolso, puxando o celular.
“Será que ainda funciona?”, para seu espanto: sim.
[Ótimo! Esse lugar é bem escuro. Se você precisar de uma fonte de iluminação, o celular vai ser perfeito.]
— Eu estava pensando a mesma coi…
A porta ao lado foi aberta. Um homem segurando um facão andou até o armário, o abrindo.
Enquanto aquele senhor não percebia sua presença, Dante aproveitou para tentar fugir, no entanto, o chão de madeira rangeu.
“Merda!”, sem hesitar, saiu correndo para fora da casa.
— Volte aqui, seu filho da puta! — Ouviu aquele homem gritando. Olhou para trás, o avistando correndo, segurando o facão.
“Merda! Merda!”
Na frente do garoto, uma multidão repentina apareceu, bloqueando o caminho. Sem pensar, o jovem entrou em uma outra casa ao lado, abrindo a porta com violência, e acordando uma pessoa que dormia ali tranquilamente.
O jovem viu mais uma janela que o levaria para fora daquela casa, e podendo passar por aquela multidão. Rapidamente, a abriu e pulou para fora.
Piscou os olhos, e de repente, não estava mais naquela cidade subterrânea, e sim em um lugar bastante familiar.
— Minha casa? — Uma hora sendo perseguido por loucos segurando armas brancas, outra hora, estava em sua casa do Planeta Terra, com ela completamente intacta. — Que merda está acontecendo aqui?
Olhou para trás, apenas vendo uma janela fechada, mostrando uma rua completamente escura e isolada.
— Sophie, o que está acontecendo?
— Ela não pode te ouvir aqui, garoto. — Uma voz familiar ecoou por aquele espaço.
— Essa voz… — Dante arrepiou-se, ao perceber de quem era o dono daquela grossa voz.
— Você se lembra desse lugar, não é mesmo? E afinal, como esquecer do lar doce lar? Aah, mas conhecendo você Dante, não ficaria surpreso caso tivesse esquecido mesmo.
— O que você quer, Rei Demônio? Onde é que estou?
— Ah, então você não reconhece mesmo sua casa.
— Impossível essa ser a minha casa porque ela pegou fogo!
Enquanto tentava entender toda aquela situação, ele sentiu uma respiração pesada vindo de trás. Quando se virou, avistou um demônio. Mas não era qualquer um, e sim o mesmo que foi responsável por atear fogo em sua casa, e também o responsável pela sua primeira morte.
Tomou um susto, caindo para trás.
— Ah, eu me lembro bem disso — O Rei Demônio apareceu de trás daquele demônio, que se seguia completamente imóvel, como se fosse um show de ilusionismo. Metade do seu musculoso corpo aparecia, e a outra metade não. — Afinal, foi eu que mandei esse carinha brincar de incendiário no seu doce lar.
Antes confuso, agora surpreso, Dante franziu as sobrancelhas, sem acreditar no que acabara de ouvir.
— O quê? — De forma repentina, as luzes do local entraram em ciclo de acender e apagar rapidamente, e aquele demônio pareceu crescer, e moldar seu corpo de uma forma bizarra. Agora com dentes sobre dentes, com o corpo mostrando mais de um esqueleto humano deformado e pontiagudo, e a altura que aumentou bastante.
O demônio o socou, o fazendo-lhe gemer de dor. Apesar do soco ter atingido uma área maior do seu corpo, por causa do crescimento daquela criatura, a dor era muito estridente. Aquilo parecia mais com a dor de um esfaqueamento do que a de um soco.
Sentiu seu corpo sendo levado para baixo, e quando menos havia percebido, estava caindo em um vazio com um cheiro forte de carne podre e fezes.
— Sabe, Dante. Dizem que eu sou um lixo. Dizem que eu mereço a morte pelas coisas que eu fiz. Então, acho que podemos concordar que, com isso, somos iguais. Afinal, você também é um lixo, não é? — Deu uma sincera risada. — E você se juntando com aquela vagabunda para me extinguir da realidade, não é mesmo, hipócrita?
O corpo do garoto se chocou com uma superfície sólida violentamente. Era como um chão invisível, não havia nada, mas ainda assim, tinha algo ali.. Ao sentir o impacto e a dor, ficou em posição fetal, segurando fortemente a sua cabeça.
— Quando sua irmã mais velha cuidava de você, enquanto, pateticamente, você ficava no quarto jogando videogame e assistindo anime. A ignorando e evitando sua família enquanto todos davam o melhor de si por você. Patético.
Apesar da tentativa do Rei Demônio impor os atos passados do jovem para atacá-lo, o garoto achou aquilo tudo muito exagerado.
— Você quer realmente me comparar com você? Você é um psicopata! E, no mínimo, retardado por achar que evitar a família e matar pessoas é algo do mesmo nível — falou, ainda com dor.
— Não se importe tanto com detalhes. Não sei se você percebeu, mas estou querendo fazer você se sentir mal! Assim como você deve se sentir ao saber que nunca foi ao enterro de seus pais, e nunca visitou seus túmulos!
— Que túmulos?! — disse, completamente confuso. — Meus pais foram incinerados e espalhamos as cinzas deles!
— Esses.
Acabou por sentir a superfície mudar. Agora, com a sensação de estar deitado em grama. Dante rapidamente se virou pra frente, vendo um túmulo com o seguinte nome: Kazumi Katanabe.
— Pai? — Estava completamente confuso, mas entendeu o que o Rei Demônio estava tentando fazer: criar mentiras para que ele sentisse que aquilo tudo era verdade. Mas, como ele realmente esperava que aquilo você funcionar? Dante sabia que seu pai não estava dentro de um caixão. Será que aquele ser tão temido era apenas um idiota? Ou estava preparando algo maior, e usando coisas infundadas apenas para própria diversão? Bem, o garoto não se sentiu tão afetado como seria se tivesse visto um túmulo verdadeiro.
— O que você tá querendo com isso? Eu sei que isso não é real! Eu sei que as cinzas dele foram espalhadas!
— Você age como se não ligasse. Mas eu sei que, no fundo, fazer você ver um túmulo faz sentir falta dele, né? Deles, de todos eles. Sua família adotiva inteira, que é representada pelo chefe de sua casa.
Dante começou a sentir saudades deles, mas isso ainda não era o suficiente para fazê-lo sentir-se mal, já que sabia que aquilo não era real.
— Que tal dar um “adeus” para seu pai?
De forma repentina, um cadáver ambulante pulou para fora, e começou a se arrastar até Dante, enquanto ele se afastava sentado na grama. O cadáver estava com as roupas completamente rasgadas, coberto de sangue e alguns órgãos de seu corpo caíam pelo chão, manchando aquela grama verde. A coisa que mais o destacava era a sua cara completamente amassada e destruída.
— Mas que porra?!!
Dante reconhecia aquele cadáver. Ele sabia de quem era aquele corpo. O garoto viu essa pessoa ser morta bem na sua frente. E apesar de não ser uma surpresa, já que tinha o nome escrito, aquele homem morto ter aparecido do nada o deixou completamente alterado. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Todo o seu corpo tremia, até a boca. Ver aquilo o deixava enjoado, o deixava triste, o fazia lembrar de quando viu isso ao vivo. Do dia que seu pai morreu.
— Eu disse que ia te deixar mal, não disse? — Completou o Rei Demônio, indo da situação no final. Aquilo realmente tinha funcionado. A visão doentia de ver seu pai morto se arrastando até você.
Dante se levantou e correu. Avistando uma porta no meio daquele lugar vazio, nem pensou duas vezes e a abriu. E o que apareceu em sua frente foi um homem velho, extremamente magro e completamente irritado.
Aparentemente, o garoto já havia saído daquela alucinação feita pelo Rei Demônio. E isso o deixaria bem feliz, se não fosse por esse homem ter pego um facão e colocado em seu pescoço.
Dante segurou o braço dele com força, não deixando que seu pescoço fosse cortado. Então, aquele homem teve uma outra ideia. Ao invés de cortar o seu pescoço, mirou em seu braço esquerdo, o perfurando várias vezes, rasgando a sua carne e fazendo o seu quente sangue derramar pelo piso de madeira. O garoto gritou de dor.
— Forasteiro! — Segurou seus ombros com força, o levando para trás. Os pés do garoto estavam pela metade do piso, e ele não sentia a outra metade. — Vou fazer você queimar no inferno! — O homem o empurrou para trás, e foi aí que Dante percebeu que tinha sido empurrado escada abaixo.
Rolou pelos degraus, até chegar no fim.
Sentia tanta dor que nem conseguia pensar em xingar toda aquela situação. Só queria sair dali. E mesmo com o braço quase mutilado e nem ao menos conseguindo movê-lo.
O jovem usou todas as suas forças para escapar daquele lugar.
Levantou-se e correu, sem um rumo específico, apenas com o objetivo de sair daquele lugar. Avistou uma outra porta, que o levou para fora.
Se deparou novamente com habitantes daquele lugar, furiosos com a sua presença, segurando armas brancas para fazê-lo morrer. O jovem desviou o caminho e seguiu, indo em direção à uma estrutura abandonada. Era tão grande quanto um hospital, mas não dava para saber o que exatamente era aquele local.
Chegando na porta da frente, a abriu, levando-a para dentro, porém, acabou sendo bloqueada por uma barricada. Se espremeu e entrou dentro do lugar, pulando a barricada.
Sem mais forças para correr, apenas deitou no chão, ainda sentindo a insuportável dor em seu braço.
Enquanto estava no chão, pôde ouvir as pessoas lá fora falando coisas como “Na próxima a gente te pega!”, ou “Merda, ele entrou na antiga base de experimentos. Não irei entrar aí!”. Por ora, ele estava seguro dos assassinos lá fora, mas ainda tinha um grande problema.
— M-merda! Estancar… o sangramento! Eu… preciso… estancar!
O ferimento em seu braço era profundo, e sangue não parava de escorrer. O garoto ficou impressionado consigo mesmo, por ter conseguido fugir com o braço nesse estado.
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