Arco 3: Capítulo 83 - Boneca
— Puta… que o pariu! Que dor! — O garoto tentava se levantar, mas dessa vez não conseguia. Parecia que já havia esgotado todas as suas forças, e, pra ele, isso era frustrante. Conseguiu se salvar de loucos equipados com armas brancas, mesmo sangrando e com o braço queimando de tanta dor, iria acabar morrendo por falta de sangue? Mesmo que pudesse ressuscitar, isso ainda sim era frustrante. Como se o esforço que fez agora fosse pra nada.
— Estancar… o… sangramento… eu… Porra! — Mesmo que quisesse procurar algo para isso, nem conseguia mexer o seu braço. E pra completar, parecia que a dor estava gradualmente piorando, como se o fato de conseguir ter corrido fosse por causa da adrenalina em seu corpo, e, com o efeito passando, a dor verdadeira estava por vir.
— Oh! Uma nova amiga!
Ouviu passos, que se seguiram de forma rápida. Tentou levantar, mas, dessa vez, sem sucesso. De repente, sentiu seu corpo sendo levantado, e posto em uma situação em que parecia uma criança sendo levantada por um adulto. De frente com a pessoa, que o reconheceu de imediato.
— É você! É você! Estou tão animada!
Dante se lembrava dela. Era Allana, a primeira pessoa que viu quando acordou nesse lugar. Ela se vestia como uma completa gótica, tinha o rosto completamente pálido, lábios pretos e olhos azuis.
Rapidamente, a mulher o colocou em uma cadeira hospitalar com rodinhas. A forma que o colocou, fez a dor em seu braço aumentar, e o garoto não conseguiu esconder o impulso de gritar.
— Ah, não! Está machucada, Janet! Bonecas lindas não podem machucar. Vamos tratar desse seu ferimento.
Antes de caminhar com o jovem, ela o prendeu dentro daquela cadeira, com um compartimento de ferro que prendia suas mãos e pés, e só podia ser aberto com uma chave. Depois disso, começou a andar com ele pelo local.
— Ah, você deve estar se perguntando do porquê “Janet”, certo? Esse é o seu novo nome agora. Foi o nome da minha primeira boneca, então, alegre-se! Você é especial. Minha querida nova amiga! Minha Janet!
Continuou o levando. Aquele lugar era grande, mas tinha muitas coisas bagunçadas e jogadas pelo chão. Ao ponto que não dava para saber o que era aquele local antes de toda essa bagunça. Dante percebeu um elevador no fim do corredor. Viraram a direita e seguiram por um outro corredor, dessa vez, iluminado. E essa luz vinha do teto, por uma lâmpada, ou seja, havia energia naquele lugar.
Passando por aquele local, o jovem viu a logo da Boreal Corporation. Se lembrando do que Nett havia dito antes, deduziu que estava onde operavam mais firmemente. Agora, parecia ser a base Allana.
— Sabe, quando eu era criança, nunca me dei bem com as outras crianças. Então, meu pai fez várias bonecas. E eu tive amigas pela primeira vez. Mas as outras meninas me zoavam por isso, diziam que eu era velha demais para brincar de bonequinha. Então, elas roubaram minhas amigas, pegaram uma faca e passaram pelo pescoço delas, o rasgando… Foi a primeira que presenciei a morte de entes queridos. Isso foi péssimo. Eu sinto tanta saudades das minhas bonecas. Saudades do meu pai. Mas agora, eu tenho você, Janet! E você tem a mim, não é?
Ela olhou para o garoto, sorrindo de orelha a orelha, esperando que ele a respondesse, mesmo que Dante demonstrasse explicitamente que estava agonizando de dor, ao ponto que mal conseguia deixar seus olhos abertos. Até que percebeu…
— Ah, é mesmo. Acabei esquecendo. Você está agonizando de dor. Não consegue nem me responder. Meninas fofas não podem sofrer dor.
Allana abriu uma porta, o levando à mais um corredor. Era um corredor completamente ensanguentado e nojento. Havia carne humana podre pelas paredes, dutos de ventilação. Sangue seco por toda a parte. A cabeça de alguns homens e mulheres com olhos trocados por botões. De revirar o estômago.
Os dois chegaram à uma sala escura. A mulher apertou o interruptor, acendendo a luz. Fechando a porta, ela coloca o garoto na frente de um espelho. Enquanto abria algumas gavetas na parede. Dante a observava, curioso com o que ela podia trazer, e também com medo do que poderia ser essa coisa. Para sua felicidade, era apenas gaze, e nada tão perigoso quanto um facão, ou uma tesoura de jardim usada por um médico louco a fim de cortar seus dedos.
Ela levantou a manga de seu moletom e enfaixou seu braço.
— Tudo pronto, minha querida amiga. Agora, vamos começar o seu processo de “bonificação”. — A garota foi até a um armário dessa vez.
— O quê? — perguntou, não entendendo onde ela queria chegar com isso.
— Janet, Janet. Uma boneca não é uma boneca completa sem olhos de botão, não é mesmo? Além de que você tem um órgão genital masculino. — Pegou olhos de botões, junto com agulha e linha, e em sua outra mão possuía um bisturi. — Portanto, substituirei seus olhos por botões e depois cortarei o seu pau.
— Quê? Pera? Porra! O quê?!
Dante tentou se soltar, mas era impossível. Suas mãos e pés estavam firmemente presos naquela cadeira.
— Oh, Janet, não é delicado uma boneca falar palavrão.
Allana chegava mais perto, deixando o garoto cada vez mais ansioso. “Medo” era eufemismo pro que estava sentido. Sentia que poderia desmaiar em qualquer momento, só de ver aquela garota se aproximando, querendo costurar olhos de botões no seu rosto e cortar seu pinto.
— E-ei! Ei! Por favor, não faz isso!
— Não se preocupe, Janet. Você será perfeita.
Ela colocou os botões e a agulha junto da linha em cima da pia debaixo do espelho. Então, com o bisturi em mãos, se aproximou do jovem.
— E-espera! — Agarrou sua cabeça com força não deixando que a se movesse. — Por favor, não faz isso! — Mesmo com os protestos, os gritos de medo, nada adiantou. Allana estava determinada a fazer isso.
Então, ela fez. Usou o bisturi para afundá-lo por cima do globo ocular direito do garoto, e embaixo da pele. Começou a cortar por dentro até romper a ligação entre o globo ocular e o resto da cabeça.
Dante gritou, gritou tanto que sentiu sua garganta queimar.
O seu olho esquerdo caiu no chão. Allana o pegou e colocou em cima da pia.
— Esse vai pra coleção.
Sem perder tempo, ela partiu para o próximo olho. Repetindo o mesmo processo
— Ai, Janet, para de se mexer! — Mesmo que pedisse algo assim, era fisicamente impossível para o jovem. A dor o assolava. Era uma sensação tão estridente, insuportável e infernal que, se não fosse pelo fato de estar preso naquela cadeira, estaria se debatendo no chão.
Por fim, fez o seu globo ocular esquerdo saltar para fora do corpo. No entanto, diferente do anterior, a ligação entre esse e o outro não rompeu. Então, a mulher fez isso com os dedos.
Antes de colocar seu outro olho na pia, ela decidiu lamber o que acabara de arrancar.
— Salgado — falou, colocando o olho esquerdo ao lado do direito. — Minha coleção está ficando cada vez maior. Yeah! — Deu pequenos pulos e aplaudiu a si mesma.
— Agora, Janet, só falta costuramos os botões nesse buraco onde costumavam ficar seus olhos. Depois disso, cortarei o seu pinto. Afinal, bonecas não tem genitais! Ah! E depois vou trocar a sua roupa! Isso é demais, não é?
Dante nem estava mais a ouvindo. Tudo que sentia era a dor insuportável em seu rosto e cheiro de sangue. A situação estava tão intensa, que acabou vomitando por toda a sua roupa.
— Que nojo, Janet! — Quase vomitou junto ao ver “a sua boneca” toda vomitada.
No fim, o garoto estava sentindo a sua mente se esvair. Sentia pouca força em todo o seu corpo. Até que acabou por desmaiar.
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