Arco 3: Capítulo 87 - Amiga
Eles estavam enrolando demais vendo a “história triste da vilã psicopata dessa história de terror”.
Dante, apesar de ter tido alguma certa emoção com isso, ainda não podia esquecer o que aquela mulher o fez passar. Apesar da loucura ao estado de não conseguir mais definir o que era certo ou errado, ainda sentia ódio pelo que ela fez o passar, um ódio mortal.
Ele queria matá-la, a todo custo. Encher as suas mãos com a carne do seu pescoço, e apertá-lo tanto ao ponto de sentir que ela estava sufocando. E, no final, quando ver o seu corpo morto no chão, sentir uma alegria tremenda, por saber que sua missão foi completa.
…Espera, desde quando Dante pensava nesse tipo de coisa? Essa foi a primeira vez que algo do tipo passou pela sua cabeça. Nunca quis matar ninguém, muito pelo contrário, em boa parte da sua vida foi um pacifista, apenas atacando quando era para autodefesa ou defender alguém. Por que pensamentos desse tipo estariam sequer passando em sua mente? Como que chegou a isso, em primeiro lugar?
— Merda… — Quando teve essa claridade em sua mente, sentia que sua mente estava chegando a um local sem volta.
Encostou na parede, sentindo a gélida temperatura tocar o vestido em seu corpo. Sentou em posição fetal, e deixou seu rosto colado com as pernas.
— O que você tá fazendo? Tá querendo desistir? — Quando não recebeu uma resposta, Yuri se preocupou.
Dante estava imaginando o que aquele local estava fazendo com a sua cabeça. Ele não estava apenas ficando cada vez mais traumatizado, mas também com pensamentos ruins, que não desejava que se aflorasse mais.
Se isso acontecesse, e ele matar Allana, o que será que vai acontecer? Ele vai se arrepender logo em seguida? Ele vai tomar gosto por aquilo? As vezes só desejava apenas está morto. Desejava que nada daquilo estivesse acontecendo. Se perguntava do porquê ter sido um teimoso idiota e se recusado ir para o além quando teve chance. Dessa forma, nunca teria que estar nesta situação, e sua mente nunca estaria tão obscura como está.
Aquele lugar era horrível, as pessoas eram horríveis, o cheiro era horrível, o ar era horrível, tudo era uma merda. E o jovem se sentia uma merda das mais fedidas por acabar se deixando levar e pensar em cometer um ato desumano.
O que seus pais iriam pensar se ele realmente fizesse? “Olha que pena, a decepção adotiva que chamamos de filho acabou matando uma pessoa. Passamos uma década de nossa vida para criar esse merdinha miserável para ser alguém maior, e não para ser um assassino”.
Verdade! Isso não importava de qualquer forma, seus pais estavam mortos, e o único filho que sobrou foi uma pessoa que nem conseguia se defender sozinho, e ficava nos cantos pedindo ajuda dos falecidos papai e da mamãe, enquanto chorava pelos cantos.
E ele nem podia fazer mais isso, afinal, sem olhos, como choraria?
Tudo isso se passava pela sua cabeça, e quando percebeu no que estava pensando, se sentiu patético por essa autodepreciação. Tudo estava uma bagunça.
Coçou fortemente a sua cabeça, e mordeu seus lábios forte o suficiente para sangrar, mas estava imerso em seus próprios pensamentos o suficiente para não perceber a dor do corte.
— Dante!
Tomou um susto com o repentino grito. Reconheceu a voz, era Yuri.
— Olha só, eu sei que você está com medo e traumatizado. Mas por favor, não fique no chão se contorcendo de forma desesperada. Eu já tive em momentos assim, e nunca ajudou em nada! O melhor que podemos fazer agora é seguir em frente antes que toda a situação piore.
Yuri vendo toda aquela situação, só soube de duas coisas: Dante era instável; ela gritou alto o suficiente para Allana chegar ali a qualquer minuto.
Antes de qualquer coisa, um som extremamente alto de uma porta indo de encontro com a parede ressoou por aquele metro quadrado. Allana havia chegado ao local, pronto para pegar o que “era seu”.
— Janet! Por que fugiu de mim? Não éramos amigas? Você está sendo maldosa, sua bobona!
Ainda no chão, o garoto usou todas as forças nos pés para poder se afastar. Não sabia muito o que fazer naquela situação. Falou que ia matá-la, mas não sabia como executar, e nem sabia se queria isso. Estava com uma visão completamente diferente, e com isso, não seria fácil fugir correndo dali.
Porém, o que escutou logo o deixou, de certa forma, esperançoso.
— Deixa ela comigo!
Yuri, com toda a sua bravura de raposa e habilidades de combate de um demônio, correu até a mulher, dando um grande salto e mordendo o seu braço. No entanto, ela apenas não reagiu, e pegou Yuri pela cabeça.
— Tá atrapalhando — disse Allana.
Sem muito esforço, esmagou a cabeça da pequena Yuri, deixando seu sangue e carne moída caírem sobre o piso, enquanto alguns pedaços ainda escorriam pela sua mão.
O som do corpo da raposa caindo no chão perturbou Dante, que pôde ver uma versão mais leve que a habilidade Visor o permitia, não que isso fosse uma coisa com o que se aliviar.
Por um momento, o garoto realmente botou fé de que Yuri poderia ter feito alguma coisa, até porque, ela era filha do Rei Demônio, mas ela conseguiu ser tão inútil nesta situação quanto ele. E tudo que sobrou foi apenas o corpo de um animal caído no chão, e a autora desse crime apenas via aquele corpo como se fosse bosta. Um grande pedaço de bosta que seu cachorro cagou, e você tinha que limpar.
Bem, não é nem como se isso fosse o pior. Dante estava começando a ter pensamentos não convencionais, e agora sem Yuri ao seu lado, ele não teria nenhuma companhia pacífica naquele local para se manter sã.
Então, o que fazer agora nesta situação? Tem uma maluca psicopata que mata animaizinhos a sangue frio na sua frente, querendo fazer se sabe lá o quê com a sua pessoa. Para Dante, nada praticamente. Não vai conseguir fugir com a visão atual. Allana literalmente quebrou um crânio com a mão, então, enfrentar ela estava fora de questão. Se fingir de morto não funcionaria, ela não era estúpida. O que restou foi aceitar o destino que vinha por aí.
— Allana, você não é a minha amiga? Por que fugiu?
Dante estava chocado demais para pensar em cooperar com a garota, e responder o que ela queria para, ao menos, salvar um pouco de tempo de vida que lhe resta.
— N-não somos a-amigos!
Isso deixou Allana surpresa.
— Mas… por quê?
— Você me machucou… Amigos não fazem isso com os outros…
Isso parece ter surpreendido Allana, a deixando com medo do rumo que essa conversa poderia tomar.
— M-mas eu fiz aquilo por amor à nossa amizade, Janet! Eu te amo! Eu amo o tempo que passamos juntas e que vamos passar! Eu amo brincar com você! Você é a minha melhor amiga! — disse, com uma voz um pouco trêmula e cheia de esperanças que sua “amiga” pudesse a perdoar, depois de escutar os motivos que, em sua cabeça, faziam todo sentido do mundo. Porém, aquela voz também tinha o seu receio e medo da resposta que escutaria.
— E eu te odeio. N-nunca fomos amigos e nunca seremos.
Com a resposta definitiva, contra tudo o que o garoto achou, Allana não ficou irritada ou tentou imediatamente o matar. Na real, isso parece ter destabilizado a mulher, já que ela o olhou por alguns segundos.
O jovem não conseguia ver suas expressões, mas o seu rosto estava completamente pálido, enquanto ela tentava manter um sorriso falso, mas não aguentou. Caiu de joelhos no chão, e começou a chorar e soluçar.
Dante com certeza sentiria alguma pena, caso ela não fosse uma psicopata que tentou o matar. Nesse caso, ele estava mais assustado do que sentido da choradeira. Ela era uma mulher adulta, mas chorava igual uma criança depois de terem tomado o seu brinquedo.
Enquanto ela chorava, o jovem se levantou, e aproveitou esse momento para sair do local. Com as mãos cruzadas e andando com suas pernas tremendo.
Passou pela mulher, que chorava extremamente alto, como se seu mundo tivesse sido destruído.
Essa foi a parte que o deixou mais nervoso: passar do lado da assassina. No entanto, conseguiu fazer isso, e Allana não reagiu agressivamente.
Continuou andando para fora daquela área, apoiando a mão na parede para ter certeza de que não iria cair.
— Se eu não posso ser a sua amiga, por que você precisaria de outras?
Dante realmente não queria ter ouvido aquilo. Estava esperando, desejando que aquilo não acontecesse, mas as coisas na sua vida não podiam ser simples, aparentemente.
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