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    Com a ameaça iminente poucos passos atrás, a única opção que se passou pela cabeça do garoto era correr. Fez aquilo. Usou toda a energia e a força em suas pernas para correr o mais rápido possível. Ele era rápido. Conseguiu escapar de várias pessoas antes, então poderia conseguir escapar de Allana também. Mesmo tendo uma versão inferior de sua visão tradicional.

    Para garantir que não batesse de cara em nada pela frente de forma acidental, colocou seus braços em frente, garantindo que poderia encostar em alguma coisa com a palma da mão antes que seu rosto fizesse isso primeiro.

    Correu como se não houvesse amanhã, sem olhar para trás, e seguindo um caminho completamente aleatório com a mínima esperança de que pudesse escapar.

    Ele estava na frente e Allana logo atrás. Ele podia correr rápido, mas estava em um espaço específico que não tinha nenhum conhecimento. Ao contrário daquela mulher, que vivia ali, e que sabia de cada metro quadrado.

    — Janet!!!

    Ouviu o grito furioso da mulher, e sentiu que ela estava se aproximando mais rápido do que gostaria.

    Medo é o que sentia naquele momento. Medo de ser pego. Medo de como ela iria o machucar. Medo de morrer.

    Para piorar, Dante se sentia mais lento do que as últimas vezes em que correu. Isso fez o lembrar que não comia nada há muitas horas. Ainda havia energia, porém, além de não ser tanto quanto antes, o que ainda restava em algum momento iria acabar.

    — Janet!!!

    Mais um grito furioso. Agora sentia ela bem mais perto. Quase sentia sua respiração tocando sua nuca. “Poderia isso ser só impressão? Ou ela realmente estava muito próxima?”, foi que passou pela sua cabeça, enquanto usava tudo de si para correr.

    No entanto, percebeu que seu esforço foi inútil, assim como o seu gasto de energia, já que sentiu uma força abrupta acertando as suas costas, fazendo ser arremessado até uma parede. Seu rosto bateu com tudo no revestimento de porcelanato, o quebrando em alguns pedaços.

    Caiu no chão. Sentia uma dor imensurável em toda a sua cabeça. Colocou a mão na testa, sentindo um líquido quente e viscoso: sangue.

    — Se eu não posso ser a sua amiga! Ninguém mais pode!

    Sentiu as mãos quentes de Allana em volta de seu pescoço, o apertando fortemente e o levantando para cima, para apenas ser arremessado no chão, causando mais dores pelo seu corpo.

    Para deixá-lo ainda mais sufocado, Allana subiu em seu corpo, o sufocando ainda mais.

    Dente tentou socá-la, dar tapas em seu rosto, sufocá-la de volta, tudo que pudesse impedi-la.

    [Dante, tem um pedaço de porcelanato afiado ao seu lado.]

    Com o recado dado, o garoto aceitou a sugestão de Sophie, sem pensar duas vezes. Com o Visor, olhou em volta, conseguindo achar o pedaço de porcelanato. Esticou a sua mão para pegá-lo, antes que perdesse o ar de vez. No entanto, Allana o impediu, pisoteando a sua mão.

    Aplicou força na perna, pisoteando fortemente, mas não ao ponto de quebrar a mão do garoto. Dante tentou gritar de dor, mas apenas uma tentativa com sua voz fraca saiu.

    De repente, sentiu algumas gotas molhadas pingarem em seu rosto, e a força nas mãos de Allana na hora de sufocá-lo acabou por diminuir.

    — E-eu, só queria… s-ser sua amiga.

    Ela se descuidou. Sem perder tempo, o jovem pegou o pedaço de porcelanato, o enfiando no pescoço dela rapidamente, e com força o suficiente para jogá-la no chão. Os papéis inverteram: agora Dante quem estava por cima, atacando com tudo que podia.

    — Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!!! — gritou com tudo, ao ponto de machucar um pouco da garganta, enquanto perfurava o corpo da mulher com o porcelanato. Aquele grito não era de ódio ou medo, e sim de alívio.

    Vários golpes foram desferidos — mais do que o necessário. Mais golpes no pescoço, no peito, no estômago, direto no coração. A cada golpe que dava, mais o sangue da garota encharcou a sua mão, espirrando sangue pelas suas roupas, seu rosto, e até sujando a outra mão.

    Cada vez que continuava, mais difícil isso se tornava. O sangue deixava sua mão escorregadia, então, tirar o porcelanato do corpo já morto de Allana se tornava, aos poucos, uma tarefa mais difícil, ao ponto de acabar cortando a sua própria mão no processo.

    Até que ele cansou. Não precisava mais disso, ela já estava morta… O seu primeiro assasinato. Bem, ela não era a vítima, Dante era, então, ele não cometeu algo repugnante, né? Afinal, era apenas autodefesa.

    Bem, sim. Matar uma pessoa não era algo bom, mas ele apenas fez por autodefesa. O garoto não tinha escolha.

    Apesar disso, só viu o peso daquilo depois de enxergar as suas mãos completamente ensanguentadas. Com a sua visão atual apenas via uma mancha preta escorrendo pelas suas mão. Mesmo não vendo com nitidez, ele poderia apenas fingir que aquilo não era o que realmente era? Ignorar o fato e seguir em frente sem o peso da consciência…? Não, Dante não era ignorante a esse ponto. Ele matou alguém, perfurou o seu corpo por várias vezes. Rasgou o seu pescoço e coração.

    Logo, logo aquele corpo perderia a temperatura comum, ficando gelado. Depois aconteceria o rigor mortis, onde aquele corpo ficaria rígido após algumas horas. Um tempo depois, ele começaria a apodrecer lentamente, até virar apenas um esqueleto.

    Ele se sentia mais pesado. Nunca esqueceria isso. Essa foi a primeira vez que Dante Katanabe matou, e isso não o deixava feliz.

    — Merda… — disse, vendo aquele caos. — Por que isso está acontecendo?

    Um gosto amargo atingiu a sua boca e começou a suar frio. O cheiro de sangue impregnava as suas narinas. Ao menos, não conseguiria ver de forma nítida o rosto da pessoa morta embaixo de si.

    — Uou, você realmente matou essa vagabunda? — Uma voz familiar ressoou por aquele corredor, vindo de trás do jovem.

    Olhou para trás, e ficou ainda mais surpreso quando reconheceu a silhueta.

    — Yuri? — Dante ficou alegre, surpreso e assustado com a presença da raposa à sua frente. Uma hora, ela havia morrido na sua frente. Na outra, ela estava atrás dele, completamente bem. — Você não tava morta?

    — Herdei a habilidade de regeneração do meu progenitor. Meus poderes em relação a combate estão selados, mas isso, isso não.

    — A-a-ah… q-que bom! — Com a voz trêmula, falou. Estava feliz que não teria que enfrentar o que estaria por vir sozinho.

    Yuri tinha conhecimento disso, e isso só a deixou ainda mais determinada de sair daquele local com Dante, de preferência, os dois inteiros.

    — Parabéns, minha querida filha, realmente impressionante. — Uma voz ecoou pelo corredor de forma repentina. Junto dela, sons de palmas.

    Aqueles dois sabiam quem estava presente naquele local, e isso não os deixava nem um pouco alegres.

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