Capítulo 9: Nas terras além!

    Na imensidão amarela do deserto, minha cabeça girava de dor. O corpo seco, sem suor para me hidratar, titubeava pelas dunas sem fim!

    Eu estava decidida a deixar tudo para trás. Nem que isso se tratasse de minha própria morte.

    Valthas já estava distante o suficiente para não existir o pensamento de voltar.  E Vermarren não devia estar tão longe.

    Depois que fomos atacados em nosso refúgio nas areias de Ahbath. Não pude chegar muito perto de nenhuma cidade, sei que um caçador deve estar por lá me procurando. Então tenho seguido por caminhos aleatórios. Me pergunto se Samira sobreviveu? Ela ficou para que eu, Bonami, Akin e Inami fugissemos. Um sacrifício digno de minha irmã! Que os Moak a tenham como guerreira de Martago em sua nova vida!

    Já eu! Aquilo não era pra mim, eu não nasci para ser guerreira. Mas não iria ser escrava, não como a mamãe e a Samira. Eu via as coisas que eles faziam com elas. Eu não ia fazer! Nem se me batessem!

    Eu estava fugindo. De tudo. De todos!

    Mamãe sempre falava sobre as terras livres ao Sul! Onde nós, os Moak Ghanaa éramos livres para viver nossa vida. Nada de correntes, nada de chicotes! Eu tinha que chegar lá! Mas eu precisava saber se os outros estavam bem.

    Na fuga eu vi Bonami voltar, talvez para um sacrifício puro na tentativa de atrasar o homem que havia nos perseguido. Mas o homem apenas o ignorou e seguiu me perseguindo de longe.

    Akin e Inami foram para outro lado, não os vídeos depois da primeira duna que desci escorregando para tentar sair da vista do homem vestido com a túnica de Al-Hael.

    Por algum motivo, parecia que o assassino que me perseguia não queria me machucar, mas isso só ficou claro quando um outro caçador surgiu de outra duna, avançando em minha direção com um sorriso pavoroso.

    O caçador Al-Hael atirou nele uma lança, o acertando no peito e o fazendo cair imediatamente de seu cavalo.

    Eu imediatamente congelei. Porque eles estavam se matando? Porque o caçador de Al-Hael matou o caçador sob seu comando?

    Coisas pra pensar depois! Como um choque, meus sentidos retornaram. Me virei e corri o mais rápido o possível.

    O assassino misterioso ficou lá, me observando. Até que finalmente desapareceu por entre as dunas que eu deixava para trás.

    Foram duas tortuosos depois disso. E hoje, estou aqui. Em frente a principal cidade escravista de Riverdeep! Aqui aconteciam as compras e vendas de meu povo. Trazidos do sul por caravanas de invasores!

    A violência era descrita nos corpos de homens e mulheres Moak. Feridas, cortes e luxações eram como tatuagens tribais em todos os homens, escravos ou não, que entravam e saíam da cidade.

    Daqui, de alto de uma duna fervente como o inferno. Eu era uma parte da miragem causada pelo sol. Estava indetectável. Mas os via muito bem. Eu teria que passar por ali, mas mesmo que tudo desse certo. O próximo passo seria o pior.

    Analisei minuciosamente as caravanas que entravam e saiam. Uma delas tinha homens Moak com desenhos brancos pelo corpo. Tinham q ser eles.

    Minha mãe sempre me contava histórias sobre os Guerreiros Maasai. Homens Moak nascidos para a guerra. Suas tribos se aglomeravam nas bordas de Batuu como forma de defender a cidade ancestral. Eles tatuavam o corpo com o leite da semente de Jigaaba, um cacto comum no sul, que dava a tonalidade branca aos desenhos.

    Uma tatuagem por batalha vencida.

    Os mais de quinze homens presos e acorrentados no interior de jaulas de junco tinham tatuagens por todo o corpo. Eram formas e tipos variados, todos na coloração branca.

    Algumas das carroças que vinham seguindo a caravana trazia homens brancos feridos, com suas barbas cheias de sangue ou as vezes cortadas de forma irregular. Eram muitos, muito mais que os quinze homens presos. Duas carroças mais atrás traziam corpos de invasores abatidos. Alguns com roupas mais simples, outros com a túnica branca de Al-Hael.

    Aqueles homens me ajudariam a libertar os escravos da cidade e fugir pro sul. Porém, tinha uma empecilho. Eu não falava Moak.

    Eu nasci aqui, em Riverdeep. Sou uma Riveriana. Ou como eles dizem, nascida do barro.

    Nós, nascidos do barro, somos na verdade os Moak. Pessoas do extremo sul.

    A cor de nossa pele de alguma forma define que somos animais perante os senhores barbudos de Riverdeep. Minha mãe era livre quando foi capturada. Eu nunca conheci a liberdade. Não até agora.

    Minha irmã, Samira, sempre dizia que eu seria livre, que ela lutaria para isso. E ela cumpriu. Agora, eu precisava usar essa liberdade ao meu favor.

    Mas, eu sabia umas poucas palavras em Moak. Minha mãe me ensinou. Lembro de Samira me cobrando estudar o Moak enquanto eu ainda tinha tempo. Não imaginei que esse tempo iria acabar tão cedo.  Eu Falava o Riverianos muito melhor que mamãe e Samira, mas não entendia bem o Moak.

    Me sentei e esperei o tempo passar.

    Minha barriga tava roncando e eu sentia muita sede. A dor na cabeça aumentava, mas eu iria esperar o cair da noite.

    Me distrai brincando com a areia e desenhando coisas que eu desenhava pra mamãe.

    — Liah! Seja forte! — Falei pra mim mesma antes de limpar uma lágrima que escorria sorrateira em minha bochecha.

    O calor insuportável se tornavam frio congelante com o passar das horas. E eu ainda estava lá. Observando e pensando.

    Uma idéia nascia em minha mente enquanto meu corpo tremia como se respondesse ao meu estômago faminto.

    Inami e Akin sempre me falaram de como eram levados por túneis abaixo da cidade. Algum tipo de sumidouro para os dejetos e escrementos dos invasores. E as vezes, para restos mortais de Nascidos do barro desobedientes.

    Bem. Eu estava muito perto de ser uma entre os mulheres de almas que vagavam aqueles túneis.

    Mas eu iria realizar minha passagem como guerreira. Igual a Samira! E então, poderia encontrar com ela Em Martago. A terra dos dos grandes guerreiros.

    Eu precisava daqueles guerreiros, e eles precisavam de mim.

    A noite jhavia atingido seu ápice quando a lua maior se centralizou no majestoso céu de Nabad.

    A cidade majestosa brilhava com suas abobadas em ouro e altas torres. Sua muralha intransponível parecia um dos castelos que os “Àwọn olùgbóguntì”, como minha mãe chamava os invasores, contavam em suas conversas intrigantes e quase mágicas.

    Rastejei pelas areias como um lagarto de penumbra tentando se esquentar nas areias ainda quentes no interior das dunas. Não sei muito bem de onde vinha aquele vigor. Mas mesmo com ele. Eu me sentia fraca.

    Talvez eu tenha esperado tempo de mais. A lua já queimava minha visão com seu brilho ofuscante.

    Aqui tudo se acabava…

    Desmaiei.

    PoV: Ullus Marretavelha

     O mundo se desintegrou em uma única e ensurdecedora onda de choque. O clarão da pólvora engoliu a escuridão do fosso, seguido por um rugido que não era apenas som, mas uma força bruta que me atingiu no peito, me lançando contra a parede de pedra.

    O calor era como uma língua escaldante lambendo minha pele, e a pressão roubou o ar de meus pulmões, transformando meu grito em um gemido oco.

    O fedor de enxofre e rocha pulverizada era a última coisa que eu sentiria. Enquanto a escuridão total retornava, chovia sobre mum uma avalanche de terra, cascalho e pedaços de madeira.

    Eu senti o peso da caverna desabando e, em meio ao zumbido violento em meus ouvidos, um único pensamento pairou, claro e frio. “A passagem está selada. Você está livre, meu irmão”.

    Em minha frente, uma criatura subia aos poucos o fosso que eu mal podia ver. Seus tentáculos se ficavam e suspendam o pesado corpo pelos metros abaixo.

    Eu daria tudo por uma cerveja. Nada como uma Goraltheir pra morrer bem.

    Eu nunca fui o tipo corajoso. Nunca fui o tipo heróico. Mas entendia sobre lealdade. E se eu tinha isso por alguém. Era pelo meu primeiro e melhor amigo.

    – Dia maldito – Reclamei escutando aquela coisa subir com estrondos de rocha se partindo e grunhidos titânicos.

    Tudo começou naquela reunião de merda. Eu estava empolgado. Finalmente conheceria o chefe. O segredo por trás da companhia.

    Nunca pensei que fosse tão profundo.

    Bem, profundo ou não, eu não deixaria o plano acontecer… E aqui estou eu, observando esse seja lá o quê for rastejar para a superfície.

    – Maldito seja toda a sua prole Lava Fria! – Bravejei expressando minha raiva – Traidor!

    Meu grito se misturou com o ranger da montanha, quando uma pedra se soltou do teto bem acima de mim.

    Rolei rapidamente para me salvar, mas não fui rápido o suficiente.

    A pedra esmagou minha perna como martelo batendo na água.

    Sem dor instantânea, sem lamento. Apenas a surpresa ocupava meu pensamento. Sendo rapidamente substituída por um desespero primal.

    Meus olhos doíam de tanta pressão subconsciente para deixa-los o mais abertos o possível. Eu queria gritar, mas não tinha voz, e nem espaço entre minhas respirações apressadas.

    Ao mesmo tempo, aquilo que parecia ser um focinho começava a aparecer no fosso.

    – Puta merda! – gemi de forma fraca ao observar aquela mandíbula dentada aparecer diante de minha pessoa sendo erguida por seus tentáculos.

    Não parecia nada com o que as lendas diziam. Mas…

    Era um dragão. Eu tinha certeza disso.

    O monstro continuava a surgir quando algo tentava me puxar ao mesmo tempo em que eu quase perdia a consciência.

    Olhei de relance para trás e vi o velho Luin de pe, roupas totalmente rasgadas e escoriações por todo o corpo.

    Aparentemente o velho está vivo por sorte.

    – Mecha sua bunda daí Ullus! – dizia o velho com o braço direito aparentemente quebrado. – você precisa avisar a ele!

    – Luin, não vamos sair daqui velho tolo! – Sorri ao lamentar nosso fim – Eu selei a passagem para a vila.

    – Esse fosse é foi meu lar por muito tempo Marreta Velha! – Disse o velho pegando um machado no chão com seu braço bom – Tem um túnel que vai te tirar daqui, só preciso distrair a besta enquanto você foge.

    – Claramente! – Zombei observando o dragão que agora já tinha toda a cabeça enorme pra fora do fosso… – Assim que eu tirar essa pedra de cimento de mim!

    A dor já era forte o suficiente, eu não tinha nenhuma esperança do plano de Luin. Mas sabia que eu tinha feito o meu melhor. Os planos de Marduk Lava Fria haviam falhado! E seu mandante, o elfo negro, não teria êxito aqui.

    Em um flashe de bravura, vi quando Luin avançou contra a besta! Apesar de apenas um braço, Luin glpoeava e balançava seu machado com maestria. Nesse ponto, pelomenos metade do corpo réptil da criatura já estava para fora. Assim como seis ou oito tentáculos que balançavam de suas costas.

    A cada ataque da besta, Luin desceria um golpe com o machado. Afastando a ofensiva da criatura.

    Seus tentáculos balançavam e furavam em direção ao velho anão, que evitava a todos como um guerreiro santo!

    O som do martelo batendo contra os tentáculos era quase metálico, devido a grande carapaça de escamas que o dragão ostentava.

    E derrepente, como quando a noite chega para tapar com sua escuridão as entradas de luz da caverna. Um tentáculo atravessou o peito de Luin.

    Era incompreensível a elasticidade do membro dracoinico. O mesmo arpão roxo enegrecido que atravessou meu velho amigo se propagou até que atingisse a entrada desmoronada da zona do fosso.

    Luin tentou se debater e golpear com o pouco de força que lhe restava! Mas foi inútil. Um péssimo final para meu amigo, e também pra mim. Que tiver de assistir tudo bem na minha frente…

    Numa atitude de furor total. Consegui puxar minha perna da pedra. A dor me fez gritar com se a mesma houvesse sido arrancada.

    Quando tentei correr descobri que realmente. Um de minhas pernas faltavam!

    “Que bosta, morrer fugindo e de boca seca!”

    Foi meu último pensamento antes de sentir meu peito se abrir em um estalo.

    Engasguei sem saber o que estava acontecendo.

    O gosto metálico na boca só podia ser uma coisa. Sangue.

    Vi Arathor em minha frente, aquele sorriso bobo e burro.

    – Espero que seu fim seja melhor que o meu – Balbuciei antes de receber um novo impacto no tórax.

    O frio me atacou enquanto a luz se esvaía.

    Sorri quando vi que um de seus tentáculos estava cortado! Provavelmente Luin ainda foi útil! Muito mais que eu.

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