Capítulo 106: Continuidade

O som das metralhadoras e os canos piscando preencheram o ar quando a loja foi banhada em balas. Cápsulas alaranjadas caíram do carro como chuva.

Em mera fração de segundos, a lavanderia se tornou um alvoroço, e o guarda-costa negro em frente a ela foi rasgado em pedaços, tornando-se uma pilha de carne carbonizada.

Quando ambas as metralhadoras esgotaram a munição, os atacantes não saíram do carro. Ao invés disso, eles sacaram duas granadas e as lançaram em direção ao beco atrás da lavanderia.

Kieran tinha visto tudo. A velocidade do carro tinha capturado sua atenção quando ele havia passado por ele, e ele havia naturalmente analisado o carro por curiosidade.

Embora Kieran tivesse por pouco sido capaz de olhar dentro do carro, sua [Intuição] C- o permitiu ver claramente o que havia dentro.

Metralhadoras e granadas.

Aqueles homens não pareciam estar ali para tratar de negócios.

Kieran parou e se virou rapidamente, voltando de volta para o beco.

Embora ele não se importasse realmente com a vida de Larry, a possibilidade de desbloquear uma Sub Missão o fez retornar e tentar evitar o incidente.

Como Kieran tinha esperado, as pessoas no carro não estavam lá para dialogar. Os atacantes pareciam bem familiar com o lugar de Larry.

Eles sabiam que suas metralhadoras não atravessam a parede frontal da lavanderia, então eles seguiram jogando granadas dentro da loja.

Boom! Boom!

As duas explosões causaram ainda mais dano a lavanderia, que já estava meio demolida e coberta com fumaça depois dos tiros. As granadas tornaram a loja em ruínas depois de duas explosões.

Quando a lavanderia foi reduzida a pedaços, os atacantes abriram as portas do carro e saíram.

Bang! Bang!

Quando eles saíram do carro, suas cabeças foram explodidas por dois tiros, e seus corpos caíram no chão.

O homem restante saiu do lado do motorista e olhou ao redor em pânico depois de seus companheiros terem sido mortos.

As granadas que os atacantes tinham lançado tinham produzido uma onda espessa de fumaça. A fumaça bloqueou a visão do atacante restante, o impedindo de localizar a pessoa que havia assassinado com seus camaradas.

Quando um cano duro e gelado foi empurrado contra a parte de trás de sua cabeça, o homem gelou em pânico.

— Coloque a sua arma no chão e não se mova! Se você valoriza sua vida, você não tentará nenhum truque! — Kieran disse friamente pelas costas do atacante.

Considerando que seus dois camaradas estavam mortos e ele tinha uma arma pressionada contra sua cabeça, o homem sabia que Kieran não estava brincando.

Ele seguiu as ordens de Kieran, colocando a sua arma no chão e suspendendo as mãos.

— Eu…

Antes que as palavras pudessem se formar na boca do homem, Kieran recompensou ele por seu espírito cooperativo com uma coronhada no pescoço. O atacante caiu no chão, desacordado.

Depois de confirmar que o homem havia desmaiado, Kieran voltou sua atenção para a lavanderia.

— Larry, se você ainda está vivo, faça algum barulho, por favor! — Kieran gritou em direção à loja.

— Eu ainda não estou morto! Mas eu também não estou muito longe disso! Que desgrama, Kieran! Você tem certeza que isso não é coisa sua?

A voz de Larry veio dos destroços da lavanderia. Depois de um ataque como esse, ele não ousava mostrar seu rosto. Ele apenas continuou se escondendo.

— Coisa minha? Pelo que? Os 10.000 que eu acabei de apagar, ou os 100.000 que eu paguei antes? Não me faça rir, Larry. Contratar esses caras teria me custado mais que isso! — Kieran respondeu com uma risada alta de zombaria.

— Se você não está disposto a mostrar seu rosto ressecado, vou te deixar em paz! No entanto, a polícia não vai ignorar uma comoção como essa, mesmo que sua loja seja considerada terra de ninguém! — Kieran continuou num tom levemente impaciente.

— Não, não, não! Calma! Somos amigos! Como você pode me deixar num momento como esse?

Larry mancou para fora das ruínas, assustado que Kieran realmente fosse embora.

— Amigos? Você mancha o significado de amizade, Larry.

Kieran olhou de perto as feridas de Larry. Tanto seus braços e suas pernas estavam feridos e havia sangue em seu lado esquerdo. Não era nada sério, ainda que ele parecesse machucado e pisoteado.

Suas feridas eram apenas superficiais, então Larry ainda era capaz de ir em direção aos corpos mortos dos atacantes e dar uma olhada.

— Meu Deus, são os irmãos Marrocos! Mas que porra! Quem contratou eles para me matar? — Ele perguntou num tom bravo depois de reconhecer o rosto do último homem, que estava sendo mantido cativo por Kieran.

Ele ligeiramente recolheu seus pensamentos e se acalmou. 

— Kieran, preciso que você me faça um favor. Me leve até meu esconderijo e me trás esse desgraçado! Eu vou descobrir quem está por trás disso!

Larry implorou a Kieran com os olhos.

A única razão pela qual Kieran havia voltado para ajudar Larry havia sido desbloquear uma Sub Missão em potencial, então ele aceitou a oferta de Larry de bom grado.

— Tudo bem, mas apenas por que você me ajudou antes! — Kieran acenou em concordância.

— Relaxa, colega, você não vai se arrepender de ajudar Larry! A partir de agora, se você quiser qualquer informação, eu vou te dar 10 por cento de desconto! — Larry sorriu enquanto abria a porta do carro dos atacantes.

— Me pergunto quão barata sua vida é. — Kieran acertou o cativo uma segunda vez e o lançou no banco de trás.

Kieran entrou no banco do motorista apesar de não ter experiência em dirigir carros. Ele sabia o procedimento padrão de dirigir um carro, mas como um órfão, ele havia sido destinado a nunca se aproximar de um.

Ele tinha apenas ouvido sobre dirigir de seu colega de trabalho quando ele estava trabalhando na ferraria.

No entanto, a situação diante dele o forçou a se tornar um motorista. Não havia ninguém que pudesse fazer isso no lugar dele.

Quando o motor do carro ligou, um barulho começou a sair do capô.

Embora Kieran tivesse começado cuidadosamente, o carro só se moveu alguns poucos metros antes de frear bruscamente.

Boom!

A súbita freada de emergência fez Larry bater a cabeça contra o painel do banco de passageiro e gritar em dor enquanto falava sobre as habilidades de direção de Kieran.

— Você dirige pior do que luta! — disse ele, zombando de Kieran num tom similar ao que Anárquico usava. — Suas habilidades de luta são realmente incomuns para um repórter! Você estava pensando em se tornar um soldado antes disso? Não, deixa quieto. Esqueça que eu perguntei. Todos têm seus segredos!

Comparado a Anárquico, Larry era muito mais observador. Ele rapidamente se calou ao ver a expressão fria de Kieran.

O esconderijo de Larry era a 20 quilômetros da Rua Falcão. Assim que Kieran se familiarizou com a sensação de dirigir um carro, os dois chegaram no esconderijo na periferia da área comercial e residencial. 

O esconderijo de Larry era uma fábrica abandonada que parecia bastante similar com a sala de espera de Kieran do lado de fora. Havia uma cerca extra de arame rodeando o local. Embora a cerca estivesse toda oxidada e amassada, parecia que ninguém havia estado ali a um bom tempo.

—  Já é bem velho, mas é bem seguro! Só segue! — disse Larry com o máximo de confiança enquanto saía do carro.

Larry não foi para frente da fábrica trancada. Ao invés, ele foi para trás da instalação, direto para uma tampa de esgoto.

Ele suspendeu a tampa com toda sua força e entrou. Parecia que o esconderijo pelo qual ele tinha tanto orgulho não estava na superfície.

Kieran o seguiu, instintivamente analisando seus arredores em busca de perigo. Quando ele teve certeza que o local estava limpo, ele agarrou o cativo e começou a descer a escada de ferro.

Depois de descer cerca de três ou quatro metros, uma sala subterrânea apareceu diante dele.

A sala guardava toneladas de comida, remédio e armas, cumprindo todos os critérios de um esconderijo.

Kieran voltou sua atenção para as armas e percebeu que elas eram suficientes para armar pelo menos 10 homens.

Embora fossem apenas pistolas, o fato de que as armas existiam era a prova de que Larry estava mentindo ao dizer que nunca havia se envolvido em outros tipos de negócios.

Kieran não havia comprado as palavras de Larry desde o ínicio, mas ele ainda analisou todo o local antes de eventualmente olhar para ele.

Larry puxou um celular de aparência pesada de uma gaveta e ligou. Julgando pelo seu modelo volumoso, tinha de ser um telefone encomendado.

— Bem, parece que você chegou ao seu destino. Qualquer coisa que aconteça a partir de agora não é problema meu. Tô indo! —  Kieran disse depois de jogar o cativo no chão.

Ele só tinha ido até lá pela Sub Missão, ele não tinha intenção de participar das atividade ilegais de Larry, a não ser que essas constituíssem uma nova Sub Missão.

As chances eram mínimas, no entanto, considerando que Larry parecia preparado para isso. Ele tinha tanto armas quanto mão de obra, e um celular reserva se ele quisesse vingança.

— Claro, claro! Você fez o que amigos fazem. Obrigado de novo por salvar a minha vida! — Larry disse enquanto fazia uma ligação.

Kieran estava se sentindo muito bem em relação a finalizar sua primeira Sub Missão com tanta facilidade. Acenando para Larry, ele se virou para subir novamente.

Contudo, antes de conseguir alcançar a superfície, uma presença fria e congelante investiu contra ele vinda de cima. Quando ele olhou, não havia nada em frente a ele.

Kieran sentiu uma sensação enorme de perigo. Sem pensar duas vezes, ele pulou da escada para baixo.

Bang!

Assim que Kieran pulou para baixo, um grande pedaço de concreto foi explodido por uma força imensa, e um grande buraco foi feito do lado da entrada.

Era um sniper!