Índice de Capítulo

    A brisa noturna acariciou as chamas das velas.

    A luz tremeu e brilhou conforme as línguas da chama ondulavam.

    O rosto diante de Kieran esmaeceu e reluziu da mesma forma.

    O rosto estava preenchido com cicatrizes entrelaçadas. Era como um quebra-cabeça. Alguém dificilmente podia dizer como o rosto original havia sido.

    Uma cicatriz enorme se estendia da têmpora direita até o canto esquerdo de sua boca, intocável pelas outras.

    O rosto sem vida olhava para Kieran com olhos mortos e sem graça, seu olhar assustador descascava seus nervos.

    As cicatrizes o faziam parecer cruel e enviavam calafrios pela espinha de Kieran.

    Kieran deu uma olhada cuidadosa antes de passar através da porta.

    Quando a porta foi aberta, o rosto desapareceu na escuridão em um instante.

    As chamas da vela se extinguiram, as velas caíram no chão quando o rosto desapareceu.

    Todo  corredor e a parede frontal foram instantaneamente cobertos pela escuridão.

    Sussurros foram subitamente escutados da sala de estar, mas a voz, mas a voz confusa era pesada demais para a intuição C- de Kieran decifrá-la.

    Quando Kieran pegou uma vela do chão e a acendeu, os sussurros se foram como se tivessem medo da luz.

    Conforme os sussurros desapareciam, um som de respiração preenchia a sala inteira.

    Antes que Kieran conseguisse fazer um movimento, alguns poucos fogos-fátuos1 da cor esmeralda apareceram diante dele.

    Os fogos-fátuos voaram ao redor sem rumo, passando diante de seus olhos.

    Kieran os ignorou e pegou a vela em sua mão, se aventurando em direção a sala de estar.

    A sala não era tão grande. Havia alguns poucos sofás dentro, e o calor do local estava vindo de uma falsa lareira que não era nada mais que um aquecedor.

    Kieran escolheu um sofá e se sentou, posicionando a vela próxima ao seu pé.

    Com exceção das faíscas que a vela produzia de tempos em tempos, tudo estava em total silêncio.

    Depois de dez minutos completos, uma voz diplomática foi escutada de um lado do corredor.

    — Tudo bem, tudo bem, a vitória é sua!

    Quando as palavras foram ditas, uma garota em roupas ordinárias com aspectos delicados entrou na sala de estar, segurando um candelabro. Seu rosto era bastante atraente, mas o brilho sombrio da vela que ela estava segurando fez seus olhos parecerem astutos.

    O candelabro em sua mão iluminou a sala de estar.

    Ela escolheu o sofá próximo ao de Kieran e se sentou, olhando para ele em contentamento.

    — Não está assustado? — Ela questionou.

    — Assustado? Do que? A máscara? Os balões cobertos em fósforo? Ou talvez do gravador que você colocou ao lado da lareira falsa? — Kieran disse à garota enquanto se virava.

    — Você viu através de tudo? Haha, parece que você é digno de ser um de meus competidores! Prazer em conhecê-lo! Elli, Elli Jones!

    Surpresa pela descoberta de Kieran, Elli estendeu sua mão em excitação para um aperto de mãos.

    Kieran não tinha a intenção de apertar a mão dela, no entanto.

    Quando ele inspecionou a palma da garota, ele percebeu um anel em seu longo e delicado dedo indicador. A parte interna do anel refletia um brilho incomum produzido pela claridade da chama da vela. Parecia molhado.

    — Isso é supercola?

    — Eita, que olhos afiados!

    Elli não parecia envergonhada ou desconfortável. Ao invés disso, ela sorriu radiante e energética, inspecionando Kieran como se tentasse ver através dele.

    Kieran não estava incomodado com sua intensa inspeção. Ele apenas se levantou e prosseguiu com seu plano original, que era inspecionar a casa.

    Todo o edifício era constituído por um térreo e um primeiro andar.

    As escadas na sala de estar conectavam os dois pisos.

    Havia corredores, uma sala de estar, uma cozinha, um estúdio, e uma porta no térreo que levava para o quintal. Kieran tentou abrir a porta que levava ao quintal, mas a maçaneta estava muito enferrujada.

    Quando ele foi para o primeiro andar, ele descobriu um quarto principal, três quartos de visitas e uma sacada.

    A sacada estava acessível, e dava para ver o quintal dali. Havia um pequeno jardim no quintal com uma dúzia de vasos de flores e um canteiro. As plantas no jardim tinham embranquecido a muito tempo, já que não havia ninguém ali para cuidar delas. O jardim estava cercado por uma cerca de metal, e as plantas mortas e mofadas faziam a cena parecer uma prisão da morte sem nenhum sinal de vida.

    Kieran percebeu uma entrada que parecia levar ao subterrâneo.

    Era do lado do edifício principal, então se Kieran não tivesse olhando o jardim do topo da sacada, ele nunca teria descoberto aquilo.

    Kieran voltou para o térreo e foi em direção a entrada subterrânea.

    Enquanto ele caminhava, Elli falou a ele. — Não há nada lá, nenhuma mensagem de Nikorei.  Sem nenhum outro competidor também. Eu ainda não sei o que o teste é! Sabe de alguma coisa? — Elli perguntou com uma expressão confusa, esperando por uma resposta.

    Kieran, é claro, sabia sobre o que o teste se tratava. Ele já tinha descoberto algumas pistas importantes desde que entrou, mas ele nunca diria o que havia percebido.

    Aquela era a chave para completar a Missão Principal e se tornar o assistente de Nikorei.

    Kieran não daria muita atenção se não estivesse relacionado à Missão Principal. Contudo, pegar a posição era a própria missão, e a penalidade seria muito pesada se ele falhasse.

    Kieran nunca confiaria completamente em Elli.

    Ele não diminuiu o ritmo para respondê-la. Ele apenas foi em direção a entrada do subterrâneo. Ele abriu a porta, que era ao lado do prédio principal, e um lance de escadas apareceu.

    Kieran pegou sua vela e desceu cuidadosamente as escadas com extra vigilância. Ele não precisava estar atento apenas com as coisas que ia encontrar, como também com Elli.

    Elli agiu normalmente até ele alcançar a sala subterrânea.

    A sala era exatamente como ela tinha dito. Estava vazia, e não existiam portas que levassem ao prédio principal. Não havia nada de estranho nisso.

    — Você deveria confiar mais nas pessoas! — Elli disse a Kieran quando viu ele emergir do subterrâneo mais uma vez.

    — Hmmm! 

    Kieran acenou com a cabeça sem nenhum comentário adicional. Seu olhar apenas passou varrido por Elli.

    Seu jeito rude fez a garota franzir o cenho, mas de repente houve outra batida na porta.

    — Outra pessoa chegou!

    Um sorriso ardiloso se formou no rosto de Elli. A brincalhona que existia dentro dela se sobressaia conforme ela corria para o edifício principal e esperava pela porta.

    Assim que ela entrou, um grito alto escapou de sua boca.

    Quando Kieran foi em sua direção, ela encontrou Elli pressionada contra o chão, seu braço torcido para trás por um homem de meia idade.

    Elli viu Kieran entrar e naturalmente tentou pedir por ajuda. Contudo, as palavras permaneceram na ponta de sua língua enquanto ela percebia que não sabia o nome de Kieran ainda. No entanto, a dor indicava a urgência de gritar por ajuda antes que seu braço quebrasse.

    Logo quando Elli estava prestes a gritar novamente, a dor desapareceu e o homem de meia idade que a pressionava no chão correu em direção a Kieran.

    Antes que o homem pudesse se mover, no entanto, Kieran apontou um revólver de prata para ele.

    — Quem é você? — Kieran perguntou.

    — Debosky! Eu recebi um convite de Nikorei, o Xamã. Eu não pretendia machucar a dama. Ela demonstrou má intenção primeiro!

    Debosky era bastante cooperativo. Ele levantou as mãos assim que viu o revólver.

    — Era uma brincadeira!

    Elli, que estava esfregando seu braço para aliviar a dor, olhou para Debosky com raiva.

    — Brincadeiras também escondem má intenção! — Debosky pontuou enquanto olhava para Kieran.

    O homem, que vestia um tuxedo, se sentiu desconfortável ao redor dos ombros e do colarinho quando suspendeu suas mãos, mas não ousou baixá-las antes de confirmar que Kieran não iria atirar.

    Ele sabia que Kieran não era alguém para mexer. Ele estava suando muito sob a pressão de seu revólver.

    Afortunadamente, Kieran desviou a arma, e Debosky deixou escapar um longo suspiro de alívio.

    — Vocês também receberam convites de Nikorei? Estão aqui para o teste? — Debosky perguntou.

    — Nós somos seus competidores! Não se preocupe, com a gente no jogo, você nunca vai se tornar o assistente do xamã! — Elli disse num tom agressivo.

    Por instinto, ela tinha rotulado Kieran como um aliado e começado a agir como uma raposa com o poder de um tigre.

    — Eu não teria tanta certeza quanto a isso. Eu sou bastante habilidoso em lidar com atividades paranormais! — Debosky disse, confiante, depois de lançar um olhar assustado para Kieran.

    — Sua confiança vai te levar à derrota! — Elli zombou.

    — O mesmo pode ser dito para você se superestimando! — Desbosky respondeu com um sorriso.

    Kieran não estava interessado na briga deles.

    Ele voltou sua atenção para o lado de fora. Ele tinha sentido uma outra pessoa passando em frente ao portão.

    A pessoa estava em um sobretudo, e sob a parte superior preta, havia um rosto coberto por bandagens. Apenas seus olhos, narinas e queixos estavam descobertos.

    Conforme a figura se aproximava, Elli e Debosky prestaram atenção também.

    — Perdoem minha aparência. Eu sofri esses ferimentos depois de um grande disparo. Eu fui convidado por Nikorei, o Xamã. Vocês são?

    A voz áspera do homem carregava um senso de simpatia.

    — Também fomos convidados! — Elli disse enquanto olhava para o quarto competidor, curiosamente.

    — Podem se dirigir a mim como Raul! — O homem se introduziu.

    Depois de Raul, todos começaram a se introduzir também. Kieran satisfez a curiosidade de Elli dando o codinome “2567”. Ninguém parecia surpreso com seu apelido, nem mesmo Elli.

    Parecia bastante normal para pessoas que lidavam com o paranormal.

    Em outras palavras, cada um dos nomes ditos podiam ser codinomes, embora não tão esquisitos quanto o de Kieran, que era claramente um codinome.

    Debosky e Raul andaram por toda a casa, até mesmo a sala subterrânea, apesar do fato de Elli ter dito a todos eles exatamente a mesma coisa que ela tinha dito a Kieran.

    Isso a deixou louca.

    — Seus insignificantes!! Vocês nunca aprenderam a confiar nas pessoas? — Elli disse num tom furioso.

    Quando ele falou, um grito repentino foi ouvido nas escadas para o andar de cima, seguido por alguma coisa caindo no chão.

    De repente, outra batida na porta e um barulho de algo quebrando.

    1. Luzes fantasmagóricas que aparecem em locais úmidos como pântanos e brejos.[]

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