Capítulo 2: Facada Nas Costas

A mochila nas mãos de Kieran não era tão grande.

Se fosse, não seria capaz de estar tão bem escondida no torso do cadáver.

A mochila tinha apenas o tamanho de uma mochila escolar comum feita com dois zíperes e dois bolsos, dividida em frente e verso.

Incapaz de se segurar, Kieran abriu os zípers.

O conteúdo foi desapontador.

Três latas, uma garrafa de água destilada, e um livro antigo. Isso definitivamente não ia de acordo com as expectativas de Kieran sobre dinheiro e equipamentos.

Mas então novamente ele percebeu uma coisa.

Embora ele estivesse em um jogo clandestino cem por cento realista, algumas regras de jogo ainda se aplicavam, e ele estava atualmente em sua primeira masmorra, que de acordo com o padrão de seguimento de jogos normais, basicamente significava que ele estava em uma vila de começo.

Obviamente, não é possível pegar bons equipamentos na vila de começo.

Ele exalou e foi checar o que havia adquirido.

Como o dedo de Kieran tocou a lata e a garrafa de água destilada, todas essas informações surgiram em sua visão. Isso não fez muita diferença desde que ele já sabia disso.

Ele voltou sua atenção para o livro velho

Quando ele tocou, a janela de mensagem surgiu.

Kieran subconscientemente abriu o livro velho. O manuscrito era áspero e bagunçado, e várias das páginas estavam cobertas de sujeira, o que basicamente tornava-o ilegível.

O diário parou ali abruptamente.

Obviamente, o cara não tinha tanta sorte quanto ele pensava que tinha.

Kieran olhou para o cadáver novamente.

Apesar de ser difícil, ele não desviou o olhar.

Esse diário desorganizado e bagunçado forneceu informação básica para Kieran, e também havia dado uma dica: tinha de haver uma arma dentro do corpo em frente a ele.

Para alguém desarmado como Kieran, uma arma era necessária para sobreviver.

Pelo menos isso daria a ele algum senso de segurança e uma chance de sobrevivência.

Julgando pela forma como ele havia escrito no diário, não era seguro ao redor desta área.

Não seria uma tarefa fácil sobreviver por sete dias.

“Ainda resta esperança”

Mantendo esses pensamentos em sua mente, ele estendeu suas mãos novamente, procurando ao redor do corpo mais uma vez.

Desta vez, ele foi mais cuidadoso, ainda mais que na vez anterior.

O pegajoso sangue seco estava todo em suas mãos. Isso fez Kieran ficar mal do estômago, mas se ele fosse capaz de encontrar alguma coisa, então tudo valeria a pena.

A adaga foi bem escondida ao redor da área da cintura, coberto pela camisa do cadáver, e se não fosse pelo pensamento de procura de Kieran, ela nunca seria encontrada.

Quanto ao isqueiro, foi encontrado dentro dos bolsos da calça.

Ele suspendeu a adaga enferrujada e então rolou o disco do isqueiro. Depois de algumas tentativas, uma fagulha apareceu.

Graças a fagulha do isqueiro, Kieran poderia ver claramente o que estava na ferrugem da adaga. Não era apenas ferrugem. Também estava coberto com uma substância vermelha.

O que era isso?

Tendo lido o diário, Kieran sabia perfeitamente bem o que aquilo era.

As pessoas que estavam presas nesta cidade, lidando com a fome depois de ter perdido a ordem, se tornaram perigosos. Ao lidar com os rebeldes, eles eram civis que não podiam retaliar, mas lidando uns com os outros, eles se transformavam em bandidos e invasores

Exatamente como o cadáver em frente a Kieran.

Ele olhou para o cadáver de novo, virou para a comida enlatada e a garrafa de água, então voltou a olhar para dentro da mochila antes de colocá-la nas costas. Ele manteve o isqueiro dentro do bolso de sua camisa. Antes de entrar na masmorra, suas roupas já tinham começado a parecer com as roupas dos civis vivendo na cidade. Sujas, mas não danificadas.

Adaga em mãos, Kieran se preparou para partir.

A sala vazia não deixou nenhuma razão para que ele ficasse.

Através da fresta da janela, a luz do sol que atravessava lentamente desapareceu, fazendo os passos de retirada de Kieran acelerarem.

Quando a noite caisse, os bandidos viriam.

Kieran não planejava encarar um grupo de bandidos de frente, então ele não ficaria nessa sala, anunciando a sua presença 

Qualquer casa eventualmente se tornaria um alvo de invasão.

“O esgoto seria muito melhor como um esconderijo!”

Kieran estava pensando onde ele deveria parar.

Não tinha que ser um lugar confortável, apenas grande o suficiente para escondê-lo.

O subterrâneo poderia protegê-lo dos olhares das pessoas, então essa parecia ser a melhor das opções.

Com certeza alguém mais poderia estar se escondendo lá.

No entanto, comparado com os ataques dos bandidos do lado de fora, do ponto de vista de Kieran, seria bem mais seguro ficar com as pessoas se escondendo no subsolo. 

Abrindo a porta, Kieran achou um corredor, e no final do corredor, outra sala aberta que estava completamente vazia. Alguém já tinha pego tudo que estava dentro.

Ele andou através do espaço vazio e amplo que levava para fora da casa.

Apenas quando Kieran pensou em sair…

Bang!

A porta que levava a saída foi aberta à força. Uma sombra caiu no chão e uma segunda sombra emergiu, rindo profundamente.

Como a porta foi aberta à força, Kieran recuou para dentro da casa rapidamente, segurando a adaga firmemente em sua mão e escutando com cuidado.

— Ha ha, olhe pra isso! Quem teria pensado que seria uma mulher!

Era clara a excitação, acompanhada por uma risada cruel.

— Desapareça!

Uma voz rouca e atraente, seguida de um estremecer.

Kieran imaginou a figura usando ambos seus braços e seu corpo para cair novamente no chão e se afastar da ameaça 

De repente, a face de Kieran estremeceu. As vozes foram ficando claras e mais claras como se as figuras estivessem se aproximando dele enquanto conversavam.

No final do corredor, havia um segundo cômodo ao lado do qual Kieran estava se escondendo. Uma vez que eles chegassem ao fim, eles teriam de entrar em um dos cômodos, ou o que Kieran estava, ou o que estava vazio do outro lado.

Havia cinquenta por cento de chance.

Kieran segurou sua adaga tão firmemente que começou a suar.

Eles estavam perto.

Mais perto.

Kieran engoliu em seco ansiosamente.

Seu desconforto não poderia mudar a realidade diante dele

Quando a figura caída recuou e alcançou o cômodo onde Kieran estava, ele não conseguia sequer respirar.

A figura caída, que estava recuando usando ambas as mãos, parecia atordoada. Até por que, quem teria pensado que haveria outra pessoa no cômodo?

Mas no momento seguinte, a figura recobrou os sentidos.

Ela continuou recuando, seus olhos não se mantiveram em Kieran, nem mesmo pediu por ajuda.

Isso assustou Kieran um pouquinho.

Como os passos continuavam chegando mais perto, Kieran rapidamente ficou sóbrio. 

A pessoa em frente a ele poderia não ser perigosa, mas aquela que a seguia certamente era.

Se aquela pessoa o descobrisse, eles definitivamente terminariam em uma luta.

E uma luta como essa eventualmente terminaria em uma tragédia.

Kieran sabia completamente bem do que não era capaz.

Ele não era forte o suficiente, ele nem tinha nenhuma habilidade de luta comparado a um bandido que tinha sobrevivido quatro meses em uma guerra.

Mas ainda havia uma chance.

Kieran olhou para a senhorita caída que estava recuando.

Ela olhou calma mas havia uma forte intenção em seus olhos, o que fez Kieran entender. Ele segurou sua respiração e se misturou com as sombras.

Os sapatos de couro pisando no chão faziam um barulho claro e forte. Soava como uma besta caçando sua presa enquanto tentava ao mesmo tempo exibir sua dominância.

— Não chegue mais perto!

A senhorita no chão escolheu-se em direção ao canto, sua voz áspera mostrando uma pitada de desespero.

Isso parecia excitar o perseguidor ainda mais.

Ele não tinha notado que havia outra pessoa no cômodo, porque seus olhos estavam focados na mulher.

Quando o perseguidor inspecionou seu alvo, suas costas ficaram totalmente expostas para Kieran.

Kieran vinha segurando sua respiração enquanto o homem se aproximava. Ele não hesitou. Ele lentamente pegou a adaga.

E esfaqueou o homem ferozmente.