Kieran ficou atordoado enquanto assistia ela sair correndo.

    Quando ela tinha sugerido distração e ataque como estratégia, Kieran tinha secretamente pensado que ela pediria a ele que fosse a isca.

    Contra suas expectativas, foi ela quem pegou a parte arriscada do plano e saiu correndo bravamente.

    — Hahaha… olha o que temos aqui!

    O grito da moça e o riso do atirador tiraram Kieran de seus pensamentos.

    Sua forte moral não permitiu que ele tentasse escapar, mas isso não significava que ele deixaria essa oportunidade passar.

    Kieran saltou de seu esconderijo, segurando uma adaga firmemente em sua mão.

    Os dois atiradores entraram em sua linha de visão.

    Os dois estavam organizados de frente para trás. O que estava na frente parecia completamente distraído pelo grito da moça, mas o que estava no fundo mantinha um olhar ao seu redor.

    Kieran pulou do seu esconderijo, o que estava no fundo viu e apontou uma arma para ele, pronto para atirar.

    “Merda!”

    Na mira da arma, Kieran sentiu seu coração congelar.

    Ele sabia muito bem que ele não era a prova de balas, e o homem estava a menos de três metros de distância dele. A distância era pequena, mas ainda era longa o suficiente para fazer com que fosse impossível para Kieran impedi-lo de atirar.

    Isso era um xeque-mate.

    Kieran podia sentir seu próprio medo.

    O frio enviando calafrios pela espinha, mas ele sentiu uma sensação quente queimando no seu corpo, aumentando como água borbulhante.

    Essa era sua vontade de sobreviver.

    Isso era o que o mantinha vivo no mundo real, trabalhando duro para pagar suas contas no hospital, e não desistir diante da realidade rigorosa.

    Ele também não desistiria agora.

    Kieran não parou. Ele arregalou seus olhos e olhou para os dois homens armados.

    Seu coração batendo mais rápido e mais rápido, lutando para dar a ela uma chance de sobrevivência.

    Um dos homens riu.

    Seu riso estava cheio de contentamento e ironia.

    Ele tinha visto muitas pessoas lutando por suas vidas, e até mesmo matado um punhado delas.

    O número estava começando a ficar tão grande que ele perdeu a conta de quantas pessoas exatamente ele matou.

    Mas ele nunca se importou com isso. Ele estava para adicionar esse cara a sua frente a este número.

    O homem pôs a língua para fora e lambeu seus lábios de excitação, parecendo completamente nojento enquanto se preparava para puxar o gatilho.

    No entanto, naquele momento, Kieran deu um grande salto para direita.

    O bandido instintivamente seguiu seu movimento, mas seu parceiro estava bloqueando a sua linha de visão.

    O bandido foi pego de guarda baixa.

    — AGORA!

    Kieran fugiu numa velocidade explosiva, ele investiu em direção ao primeiro bandido, cuja atenção estava focada na moça.

    A adaga em sua mão voou, ignorando os ossos da costela do alvo e esfaqueando ele direto no coração.

    [Esfaquear: Ataque Letal, Inflige 100 de Dano ao HP (Arma Afiada 50 (Adaga) (Básica) x2) Alvo morre…]

    Phew…

    Quando ele removeu a adaga, o sangue vermelho e brilhante fluiu.

    O sangue respingou em sua cara mais uma vez, mas diferente da experiência anterior, ele foi inteligente o suficiente para fechar seus olhos enquanto removia a adaga.

    Kieran não parou quando o homem caiu.

    Ele sabia bem que o verdadeiro inimigo era o que estava atrás dele.

    — Arggggh!

    Kieran deixou escapar um grito alto e usou toda a sua força para pegar o corpo do homem morto em frente a ele. Usando-o como um escudo humano, ele o elevou e seguiu em frente ao inimigo que restava.

    Bam!

    Com um som ensurdecedor, Kieran, seu escudo humano e o bandido restante caíram no chão.

    O escudo humano pousou no bandido e o pressionou embaixo dele, enquanto Kieran caiu ao lado.

    Kieran rapidamente levantou e seguiu em direção a seu inimigo.

    Quando o bandido sentiu o perigo se aproximando, ele lutou para levantar.

    No entanto, o corpo morto em cima dele era mais pesado do que o esperado, e Kieran já tinha alcançado ele antes que pudesse tirá-lo.

    Kieran não mostrou piedade. Ele adicionou seu próprio peso em cima do corpo morto, pressionando o bandido ainda mais e fazendo ele ter um esforço ainda maior. Ele usou a adaga em sua palma para esfaquear a mão direita do bandido.

    A arma.

    A arma do bandido e também a maior preocupação de Kieran.

    Bam!

    O topo da lâmina penetrou a pulso direito do bandido, enfiando por inteira.

    — Arggggh!

    Enquanto ele gritava, o bandido soltou sua arma e a deslizou para o lado. Kieran não parou, no entanto. Ele voltou e mirou sua adaga em direção a parte superior do corpo e o pescoço do homem.

    Considerando que seu peito estava totalmente coberto pelo corpo morto, seu pescoço era a única outra opção viável.

    Bam!

    A adaga perfurou a garganta do homem, silenciando-o no possesso.

    [Esfaquear: Inflige 2 de Dano ao HP, atordoa por 1 segundo…]

    [Esfaquear: Inflige 12 de Dano ao HP, aleija o alvo…]

    [Esfaquear: Ataque Letal, Inflige 86 de Dano ao HP (Arma Afiada 43 (Adaga) (Básica) x2) Alvo morre…]

    Quando o registro de batalha apareceu, Kieran agachou-se e respirou profundamente.

    Toda a batalha não durou mais que cinco segundos, mas tinha consumido uma boa quantidade de energia e de concentração de Kieran.

    Ele tinha obtido vantagem da formação deles e matado ambos, um após o outro. Kieran havia dado seu melhor, e como resultado, os dois bandidos estavam mortos.

    Kieran começou a ver estrelas, e sua visão escureceu. Uma sensação de desmaio veio até ele e fez com que ele se deitasse no chão.

    Apesar do cheiro ardente de sangue, ele não se moveu.

    Afinal ele estava começando a ficar acostumado com o cheiro.

    “É uma coisa assustadora para se acostumar.”

    Kieran riu ironicamente

    Ele não tinha escolha. Era uma situação de vida ou morte.

    Ele continuou sorrindo enquanto olhava para janela de atributos.

    [Energia: 20]

    Sua energia tinha ido de cem a vinte durante a batalha.

    No entanto, enquanto ele respirava profundamente, ele estava recuperando um ponto de porcentagem por segundo.

    Depois de um curto descanso, Kieran foi capaz de se levantar novamente.

    Ele ligeiramente inspecionou o corpo à sua frente procurando por equipamentos.

    [Nome: M1905]

    [Tipo: Pistola]

    [Raridade: Danificada]

    [Ataque: Normal]

    [Armazena: 6 cartuchos]

    [Atributos: Nenhum]

    [Efeito: Nenhum]

    [Capaz de trazer para fora da dungeon: Sim]

    [Observação: esta é uma pistola de mão de 11mm que não foi bem preservada. Cuidado com as balas emperradas!]


    [Nome: Balas]

    [Tipo: Munição]

    [Raridade: Comum]

    [Atributo: Nenhum]

    [Efeito: Nenhum]

    [Capaz de trazer para fora da dungeon: Sim]

    [Observação: Cartuchos de arma de 11mm. Balas potentes.]


    Duas armas M1905 e seis cartuchos de balas foram as melhores coisas que Kieran poderia encontrar.

    Tirando isso, não havia nada que valesse a pena carregar.

    Segurando a M1905 em sua mão, Kieran sentiu sua segurança aumentar.

    Ele virou e olhou para trás.

    — Está limpo! — ele disse.

    Ele correu em direção a moça, que não estava muito longe dele, para deixá-la sabendo que estava tudo bem.

    A moça, no entanto, não foi em sua direção para encontrá-lo.

    Sobrevivendo por quatro meses em uma guerra não a tinha feito apenas vigilante, mas também muito esperta.

    Quando ela havia pego a tarefa de distrair o inimigo, ela tinha mais motivos do que os que havia compartilhado com ele. Ela estava consciente que se tivesse que pedir para Kieran criar uma distração, a aliança por pouco formada entre eles teria se quebrado e ambos teriam sido mortos pelos bandidos. 

    Kieran entendeu seu raciocínio.

    Este era o por que ele queria conversar com ela e, se possível, trabalhar com ela como um time.

    Ele gostava de trabalhar com pessoas inteligentes.

    Claro, ele teria que ser honesto a fim de persuadi-la.

    — Você sabe, nós nos encontramos duas vezes, e nos unimos as duas vezes. Eu acho que podemos trabalhar juntos para sobreviver aos dias sombrios que estão por vir!

    Quando a moça hesitou em abaixar a sua guarda, Kieran colocou suas armas na cintura e levantou suas mãos.

    Ele queria mostrar a ela que ele não significava uma ameaça.

    Suas palavras também ajudaram a movê-la um pouco.

    Depois de alguns segundos, ela concordou.

    — Eu também fiz minha parte. Eu quero uma parte do saque! — Ela disse.

    — Com certeza, claro. — Kieran acenou com a cabeça, reconhecendo sua contribuição.

    Ela merecia boa parte do crédito afinal. Se não fosse por sua distração, que havia capturado a atenção de um dos bandidos, não importava o quão duro Kieran tentasse, ele não teria sido capaz de escapar dos dois homens.

    Portanto, Kieran não se importou em dividir os saques com ela.

    Ele estava planejando dar uma das armas M1905 quando, do nada, ela correu para o corpo sem cabeça.

    Kieran estava assustado, mas rapidamente voltou a seus sentidos.

    Este confronto definitivamente não havia sido uma coincidência.

    Deve ter havido uma razão por trás disso.

    Kieran afugentou sua curiosidade. Ele tinha prometido que ele dividiria o saque com ela, e ele manteria sua promessa.

    Ficando no lugar, ele manteve um olhar atento ao perigo enquanto esperava que a moça terminasse sua procura.

    Depois de um tempo, ela voltou com uma mochila.

    — Eu acho que nós precisamos de um esconderijo, não é seguro aqui! — Kieran disse.

    Os tiros certamente devem ter atraído atenção indesejada.

    Para ser honesto, Kieran já sentia olhos voltados para ele e seus pertences.

    Apesar dos tiros, as pessoas ainda viriam conferir, e definitivamente não seriam cidadãos indefesos.

    Ele podia ter duas pistolas com ele, mas tinha apenas seis cartuchos de balas, e ele não se sentia bem enfrentando um número desconhecido de inimigos ainda.

    — Me segue! — a moça disse, sinalizando para Kieran.

    Considerando que ele tinha vivido ao redor da cidade por quatro meses, ela estava muito mais familiarizada com o terreno do que ele estava, e ela sabia muito mais sobre o que eles estavam enfrentando.

    As batalhas em si não eram tão assustadoras, mas a ideia da indesejada, contínua, e interminável luta parecia absolutamente aterrorizante.

    A fim de ignorar isso, ele teria que acabar cada batalha o mais rápido possível, e deixar o cenário uma vez que a luta tivesse acabado.

    Seguindo atrás da moça, Kieran correu em ziguezague para despistar as pedras em seu sapato. Ele não parou por um segundo.

    Depois de correr por cerca de vinte minutos, eles encontraram outra pilha de ruínas.

    Como a dama parou, Kieran instintivamente olhou ao seu redor.

    Ele não conseguia ver nada que o deixasse em alarme.

    As ruínas diante deles pareciam quase idênticas às que eles tinham deixado para trás,

    Paredes colapsadas, destroços de pedra, madeira quebrada…

    Mas Kieran estava certo de uma coisa.

    Enquanto eles estavam correndo, os sons que os seguia foram sumindo pouco a pouco. Eles tinham despistado as pessoas que estavam assistindo.

    Ele estava seguro.

    Por agora.

    Nota