Capítulo 1 - Flagelo.
Pude sentir o sangue fresco em minha face, ao mesmo tempo que arregalei meus olhos diante da cena e permaneci estático. Foi minha única reação. Me perguntei o porquê daquele homem ter sido baleado na minha frente.
Eu senti aquele toque suave em minha testa, era em uma situação tão assustadora, até para mim. Seus dedos ensanguentados deslizaram pelo meu rosto até sua mão despencar junto do seu corpo pálido, caindo de bruços em uma poça de lama à minha frente.
— O que foi isso…?
Três homens com vestimentas táticas e escuras se moveram rapidamente até mim, e enquanto um deles conversou comigo, os outros dois averiguaram o corpo caído aos meus pés.
— Você está bem? — ele perguntou com sua voz abafada pelo capacete.
— Estou… — respondi após permanecer alguns segundos em completo silêncio.
O homem em minha frente agarrou em meu braço e me levou para longe do cadáver, e os outros dois levantaram o homem morto em uma maca dobrável, levando-o até uma van preta equipada que acabara de chegar. Na lateral do veículo estava escrito “Força Tática dos Inquisidores” logo abaixo do desenho de três nuvens se encontrando em uma espécie de forma espiral.
— Podemos ir! — ele disse, então se moveu até a van e foi embora junto de seus companheiros.
Finalmente saí do lugar por conta própria, caminhando até onde estava anteriormente, notando que eles nem mesmo limparam o sangue ali. Me perguntei o porquê me mudei pra essa cidade, mesmo sabendo o motivo. Talvez esse lugar não seja o que eu pensava…
Já faziam quatro dias desde que vim do interior para essa cidade grande, pensei que pelas leis e avanço na sociedade esse lugar seria mais seguro e civilizado. Eu estava errado. Acabei de ver alguém sendo morto tão friamente, e me deu calafrios em lembrar que o último rosto que ele viu antes de ser assassinado foi o meu…
Voltei pra casa assustado, cenas como aquela não são comuns pra um “caipira”, mas acho que as pessoas por aqui estão acostumadas com esse tipo de acontecimento. Decidi pesquisar e descobri algo que me deixou intrigado. Durante os 17 anos da minha vida, tive poucos contatos com a magia, porém nessa cidade isso era comum. Vi passar na TV que aquele homem era um criminoso procurado e também tinha sangue impuro, ele não era tão inocente quanto eu pensava. Vim pra cidade grande buscando ficar longe dos problemas que tinha no interior, mas agora vou ter que me preocupar com mais coisas ainda, que saco…
Bom, achei melhor eu ir dormir, talvez uma boa noite de sono me ajude a relaxar. Deitei na cama e fechei meus olhos, apenas tentando dormir o mais rápido possível, o dia foi cansativo.
— Acorda, moleque. — uma voz levemente grave ecoou em minha mente.Eu acabei de ouvir uma voz na minha cabeça, eu só posso estar ficando louco…
Então, rapidamente abri meus olhos e olhei ao redor, ficando sentado sobre a cama, observando o quarto e averiguando se algum invasor não entrou na minha casa, mas felizmente ou não, não havia ninguém em meu quarto. Fiquei confuso e então respondi.
— Oi…? — disse.
— Finalmente consegui projetar minha voz. Consegue me ouvir bem? — aquela voz ecoou novamente na minha cabeça.
O que foi isso? Devo estar paranoico por causa do que aconteceu hoje, preciso realocar meus pensamentos…
— Sei o que deve estar pensando. Não, isso não é paranóia.
— Quem é você? Como ta na minha cabeça? O que você quer? — respondi.
Preciso achar uma forma de intimidar esse intruso. Não sei como, mas esse cara ta falando na minha cabeça e eu preciso desfazer isso.
— Vai com calma, garoto. Vamos ser justos aqui, que tal? Eu respondo uma pergunta e você responde uma pergunta que eu fizer. — a voz ecoou na minha mente.
— Cara, você ta na minha cabeça, invadindo minha propriedade e quer que eu responda suas perguntas? Que folgado! Você vai responder o que eu perguntar e acabou rapá’!
— Certo, se é assim que deseja.. Então passe sua vida inteira achando que está louco.
Droga, ele é esperto.. O que eu deveria fazer? Tô confuso, não sei se deveria seguir algo que um estranho que ta na minha cabeça falou.
— Certo, certo… Vamos fazer do seu jeito. Eu começo! A cabeça é minha, afinal. Hmm, quem é você?
— Sou o homem que você encontrou mais cedo, naquele incidente, lembra?Calma, ele era mesmo aquele homem… Como ele tá na minha cabeça, é invenção do governo?
— Você é… — disse.
— Sim. — a voz respondeu.
— Você é aquele soldado?! Um agiota?! O que ta fazendo na minha cabeça? Isso é um experimento do governo? — disse, surpreso.
— O que? Você é mais burro do que eu pensava… Idiota! Sou o cara que morreu na sua frente. Você não pensa? Agora responda uma pergunta minha… Qual seu nome?
O cara que morreu, como? Isso não faz sentido, ele morreu na minha frente, eu vi! Só pode ser algum tipo de pegadinha, mas se não for…?
— Calma… Meu nome? Que simples! Meu nome é Kenji, me chamo Kenji Yoshida. — respondi a voz.
— Certo… Não é um nome tão feio, menos mal. — a voz respondeu.
— Ei, meu nome é lindo! Agora minha vez. Qual seu nome?
— Ao menos você tem amor-próprio… Me chamo Satoshi. Quantos anos você tem? Parece um moleque pra mim…
— Não sou um moleque, babaca. Tenho 17 anos, sou praticamente adulto, falta um mês pra chegar meu aniversário. Agora responde, como ta na minha cabeça?
— Magia, é bem simples essa resposta na realidade… Você é realmente burro. Não sabe as extensões da magia?
Agora que parei pra reparar, já era tarde da noite, eu tô cansado… Será que esse cara não pode esperar pra me assombrar amanhã…?
— Ah sim, entendi… Olha, eu tô com sono, poderia me contar o resto amanhã? Meu dia foi realmente cansativo. Sei que é muito importante falar com o intruso na minha cabeça mas é melhor eu dormir logo, melhor que desmaiar durante a conversa, sacou? — disse.
— O que? Simples assim? Você é bem despreocupado, pensei que seria um paranóico maluco depois daquele surto quando achou que eu era o soldado ou um agiota. Sabe, eu não estou com sono, ainda estou me recuperando, eu morri há algumas horas atrás, então deixe-me ao menos me explicar. — ele respondeu.
— Eu simplesmente transferi minha consciência pra você antes da minha morte, sabe… — ele seguiu falando.
— Hm, entendi… Ta bom, senh- — disse, antes de cair no sono.
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