Senti o sangue quente que escorreu pela minha barriga no momento que a lâmina fria atravessou meu corpo.

    — Kenji! Saia daí rápido!!! — disse Satoshi mentalmente.

    — Não posso…

    A lâmina foi retirada do meu corpo, permitindo que eu me virasse o mais rápido possível e me afastasse da ameaça.

    O homem possuía cabelos longos e brancos até seu pescoço, olhos furiosos laranjas, uma pequena barba e bigode, e o mais marcante, duas linhas pintadas em seu rosto descendo da sua testa e passando por seus olhos. Seu olhar era furioso, me encarou enquanto empunhava uma espada ensanguentada em mãos.

    O sangue escorria e a dor percorria meu corpo, mas eu apenas permanecia imóvel, com uma das mãos no ferimento, ao mesmo tempo que encarava e prestava atenção na ameaça em minha frente.

    — Foge, Kenji! — disse Satoshi.

    Uma aura repentinamente cobriu a região do ferimento, irradiando energia e fazendo com que eu sentisse poder. A dor diminuiu, o sangramento também, agora me sinto capaz.

    Satoshi quer que eu fuja, porém com esse auxílio eu posso lutar… Eu devo lutar, tem um refém, uma vida que depende de mim. Eu vou lutar!

    Entrei em guarda, atentando meus sentidos ao alvo em minha frente, que ainda me encarava, segurando fortemente a espada que portava. Analisei suas vestes, fisionomia e arma e revisei as informações que possuía sobre ele.

    Hanran Senno, o inimigo, disparou até mim, rapidamente se deslocando em minha direção. Trouxe sua espada de forma ligeira, a balançando verticalmente de baixo para cima, efetuando um corte poderoso.

    Dei um pequeno salto para trás, sem perder a guarda. Sentindo uma pequena dor, notei que o corte havia me atingido de raspão, gerando um ferimento superficial. Tive noção do perigo, senti medo, porém era tarde demais para correr, eu não podia desistir agora.

    O agressor se moveu novamente, rapidamente projetando seu corpo para frente, estendendo seu braço com a espada até mim, em uma estocada rápida.

    — Vocês são tão arrogantes… — dizia Hanran enquanto atacava.

    Analisei seu movimento, e antecipando-o, esquivei de última hora. Dei passos rápidos para o lado, saindo da trajetória do golpe e me posicionando ao lado do oponente. Ao me aproximar, Hanran estava no meu alcance e sem postura após efetuar seu ataque. Me aproveitei do momento, projetando meu braço recuado à frente, utilizando minha força e da alavanca do movimento para desferir um poderoso soco na lateral do rosto do alvo.

    Hanran recebeu o golpe, e com o impacto ficou desorientado, recuando levemente para trás e abaixando a guarda por alguns segundos.

    Observei aqui, e novamente me aproveitei, corri até ele e soquei seu ombro e rapidamente me virei e desferi um chute de direita em seu pulso, mesmo com dor em meu tornozelo esquerdo e com dificuldade em assumir uma base sólida.

    A espada caiu da mão de Senno, indo ao chão após o chute. Ele retomou a consciência rapidamente, saltando para trás e se afastando, porém ficando contra a parede da sala.

    Corri até ele com velocidade, mesmo sentindo dor no tornozelo e nos outros ferimentos em meu corpo, tentei agarrá-lo antes que saísse dali, com o objetivo de o imobilizar.

    Falhei na minha tentativa quando Senno rapidamente esquivou para o lado, saindo da trajetória e me agarrando pela cabeça, a batendo contra aquela parede repetidamente. A dor permeou meu corpo e senti minha consciência se esvair aos poucos.

    — Se acham superiores, se acham melhores… Acham que tem o direito de nos caçar… Humanos malditos, caçadores malditos!!! — exclamou Hanran Senno.

    — Kenji, aguenta! Acorda!!! — disse Satoshi em minha mente.

    A dor expande, a visão turva, o corpo fica fraco, apenas consigo sentir o sangue escorrer por meu corpo. Ouço Satoshi gritar em minha mente, me pedindo para acordar. Ouço Hanran me insultar, ao mesmo tempo dos sons de impacto da minha cabeça contra a parede.

    Eu sou fraco. Por que tão fraco? Que escolhas eu fiz para estar aqui mesmo? Onde eu me meti? Acabou..

    Não.

    Despertei de meus devaneios, com um forte sendo de justiça em meu coração. Retomei a consciência, com uma força de vontade em meu coração. Abri meus olhos, com uma vontade de lutar em meu coração.

    Dependem de mim, eu não tenho o direito de perder. Eu não posso, eu não vou perder.

    Fiz força contra a mão de Hanran, impedindo que batesse minha cabeça na parede novamente. Joguei meu corpo para trás, batendo minhas costas contra o peito do agressor, o afastando e permitindo com que eu me virasse.

    Após me virar, observei o oponente cautelosamente, buscando aberturas em sua postura. Corri na direção de Senno e fingi movimentos violentos e desordenados, manipulando-o para se afastar.

    A espada.

    Preciso pegar a espada.

    Rapidamente me abaixei, segurei a espada e retomando a postura defensiva de combate empunhuei a lâmina com força.

    — Desista logo… Qual seu problema? — disse Hanran.

    Avanço, rapidamente me aproximando de Senno. Chego apenas próximo o suficiente para que a lâmina o alcance. Balanço a lâmina em um corte horizontal, sentindo atingir sua carne e vendo o sangue na espada.

    — Já chega! — Hanran gritou.

    Ele se aproximou, mesmo após receber o corte. Entrou rapidamente no meu alcance e projetou seu punho contra meu estômago, desferindo um poderoso soco que me fez recuar.

    — Kenji, posso concentrar energia apenas em alguns pontos… Você prefere que eu foque a energia para o ataque ou continue na defesa? — disse Satoshi mentalmente.

    — Ataque. Tudo no ataque… — respondi.

    A energia fluiu, se intensificou nos meus músculos e fortaleceu meu corpo. Me senti forte e empunhei a espada com força. Os ferimentos voltaram a sangrar mais, a dor aumentou, porém agora era tudo ou nada.

    — Está alucinando, moleque? — disse Hanran.

    Senno avançou novamente, disparando com toda velocidade em minha direção, preparando um soco poderoso em meu rosto.

    Senti o punho atingir meu rosto e minha consciência aos poucos se esvair. Senti a resistência da lâmina contra o corpo de Hanran, penetrando sua carne e a rasgando em um corte diagonal descendente. O sangue voou até meu rosto e o de Senno, e eu caí após o golpe.

    — Filho da puta!!! — Hanran gritou.

    O agressor gemia de dor, porém caminhou até mim com suas forças restantes e pegou a espada de minhas mãos.

    — Você não foi tão ruim. — disse Hanran.

    Ergueu a espada, encarou-me com seu olhar furioso, e então perfurou…

    — Kenji!!! — gritou Satoshi.

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