Capítulo 12 - Laços de Esquadrão.
Os estilhaços de vidro voaram quando as janelas se quebraram com o impacto da entrada do esquadrão no apartamento sujo.
A esperança arrombou as janelas daquele apartamento, e os anjos desceram até mim em uma entrada triunfal, livrando-me daquele sofrimento e agonia.
O toque suave de Aiko Takahashi em meu rosto fez a dor diminuir, assim como Satoshi utilizando sua energia fez anteriormente.
— Obrigado… — sussurrei.
— Caramba, que ideia foi essa? Você é tão burro…! — disse James.
— Foi uma péssima ideia, Ken… — disse Aiko.
O apartamento era sujo e bagunçado, com móveis tão velhos que mal suportariam o peso de uma pessoa sobre eles.
A atmosfera do lugar era tão densa que mal podia se manter concentrado com aquele cheiro forte de mofo e sangue que invadia as narinas e as faziam queimar.
Semicerrei os olhos, forçando-os para enxergar melhor a cena que estava em minha frente.
Hanran estava com seu olhar furioso, como uma fera indomável, de pé, se recusando a cair, sendo agarrado e incapacitado pelo líder Yüjin e por Morgan enquanto Yuna observava atenta para suporte.
Senno era como um animal feroz, pronto para atacar, com movimentos violentos e uma fúria que queimava seus pensamentos, impedindo-o de pensar racionalmente.
— Esse cara é um monstro, Kenji… — disse Satoshi mentalmente.
— Me soltem! Filhos da puta… Malditos, toda a culpa é de vocês… Vocês humanos, vocês que caçam… — gritou Hanran.
— Vamos com calma, grandão. Não precisa disso tudo. — disse Yüjin, o líder do esquadrão.
Yuna se virou para mim, olhando em meus olhos, de cima para baixo, com seu olhar entediado de sempre.
Seu olhar daquele ângulo me fez parecer um inseto, minúsculo perante ela. A olhar de baixo, fez com que ela parecesse superior.
— Você podia ter morrido, Kenji.
Vi Yuna ir até as costas de Senno, tocando sua nuca e pescoço, o fazendo desmaiar.
O derrubou com apenas pressão nos pontos certos, fazendo-o parecer fraco e irrelevante. O que não era verdade…
Toda essa imponência do esquadrão realça minha fraqueza, porém faz com que eu me sinta seguro.
— Você tem bons companheiros, garoto. — disse Satoshi.
— Acabei de notar isso… — respondi sussurrando.
Aiko olhou para mim com uma expressão confusa e preocupada após me ouvir falar “sozinho”, e então indagou.
— Está alucinando, Ken? Deve ser a dor…
— Estou bem, Aiko. — respondi.
Morgan e Yüjin o seguraram, não o deixando cair. O líder me olhou, com uma expressão acolhedora.
— Se sente melhor, garoto?
— Sim… Me sinto melhor, senhor.
Yuna olhou ao redor e observou o apartamento.
— Vou averiguar o lugar, senhor.
— Não precisam me chamar de senhor. Por que tanta formalidade, galera?
Levantei meu braço trêmulo, apontando na direção do banheiro do apartamento.
— O banheiro… Tem um refém ali. — avisei Yuna.
Olhei para Aiko, que passava pomada em meus ferimentos e os tratava.
— Se doer você pode me dizer, Ken. — disse Aiko.
— Obrigado.
Eu me sentia mais conectado com Aiko, mesmo que não interagisse com o esquadrão e com ela, ela me parecia mais frágil, assim como eu…
Morgan soltava o corpo de Senno, deixando Yüjin o segurando. Caminhou até mim e se agachou.
— Não morra agora, Kenji. Você precisa viver para perder mais vezes pra mim, heh. — disse Morgan, sorrindo.
— Cala a boca, seu otário. Eu amassei ele… Só perdi por detalhe. Quando eu levantar, eu vou quebrar você.
— Um grande detalhe… Hahaha, eu duvido.
O ambiente estava mais acolhedor com a presença dessas pessoas que mal conheço, mas que fazem parte da minha equipe. Aquele chão frio estava se tornando confortável, e a sensação aconchegante.
Yuna chega, carregando um homem maltrapilho em suas costas, ainda com aquele seu olhar.
Suas roupas pareciam panos de chão, rasgadas e sujas assim como aquela casa e seus carpetes. Seu corpo estava ferido, com hematomas e cortes espalhados.
O homem estava abatido, com uma aparência tão maltratada que me fez lembrar de mim mesmo minutos atrás.
Se não fosse o esquadrão, eu já teria partido dessa para melhor… Eu sou grato.
— Yüjin, encontrei o refém. É aquele cara que desapareceu… — disse Yuna.
— Caramba… Ele ta acabado. — respondeu Yüjin.
Aiko se levantou, se afastando um pouco de mim e foi até Yuna, que carregava o homem em suas costas.
— Espere um pouco, Ken. Preciso cuidar dele. — disse Aiko.
— Certo, Aiko… — respondi.
Meus ferimentos doíam menos, e o sangramento diminui. Meu corpo já não parecia tão pesado.
Senti como se estivesse deitado na minha cama, confortável e quente… Diferente daquele chão frio e duro.
Aiko pegou o homem desacordado no colo, o trazendo para deitar-se próximo de mim, ao meu lado.
Yüjin se aproximou, caminhando até mim.
O líder tinha uma feição séria, me encarando com seu olhar enquanto se aproximava, aparentemente em desaprovação. Senti que ele me puniria, ou me daria um sermão pelo meu ato imprudente de investigar e lutar sozinho contra um indivíduo tão perigoso.
— Kenji… Seu ato foi totalmente imprudente e perigoso. — disse Yüjin.
— Eu sei, senh- — respondi.
— E passível de punição…
Eu sabia das consequências desse ato imprudente, e que eu podia ser punido ou até mesmo expulso do esquadrão, porém era minha chance de provar meu valor e assumir o setor que eu quero nessa equipe.
Eu não podia ficar parado e perder essa oportunidade. Não podia ficar estagnado no mesmo lugar e acabar perdendo tempo, não podia deixar a vítima esperando.
— Mas eu admiro sua atitude, sua coragem e capacidade para enfrentar um oponente desse nível, mesmo sendo designado para um setor que não lida com esses problemas diretamente. E até mesmo conseguiu enfraquecer o alvo e se manter vivo até nossa chegada. — Yüjin continuou.
— Obrigado, senhor… — respondi.
— Você é apto para o setor de segurança, é capaz disso. Porém pelo seu ato de imprudência, como líder do seu esquadrão, devo lhe aplicar uma punição. Seu salário dessa investigação e mês será cortado pela metade. E até fazer a retratação, você não poderá receber mais salários, além do dinheiro desse mês e missão.
— Sinto muito, Kenji… Você vai conseguir pagar sua dívida? — disse Satoshi mentalmente.
— Não sei…
— O que? — Yüjin perguntou, confuso.
— Não é nada, apenas reorganizando meus pensamentos…
— Certo, mas para isso você deverá fazer uma retratação ao capitão da divisão pessoalmente, dentro de uma semana… Caso contrário, serei obrigado a removê-lo da equipe. A retratação vai lhe dar a chance de permanecer, caso ele aceite.
O capitão da divisão…? Que droga eu fiz… Merda.
Olhei para o teto, ainda deitado no chão, sentindo medo da reunião com o capitão, alguém de alto cargo na organização.
— Fica tranquilo, Kenji. — disse Satoshi.
— Sim senhor.
— Certo.
Yüjin se levantou, se afastando e indo até Aiko e o homem desacordado.
Me senti desamparado novamente por um segundo, deitado naquele chão frio, sentindo aquele cheiro ruim do apartamento.
— Ele está melhor, Aiko? — disse Yamamoto.
— Acho que sim, Yüjin. — Aiko respondeu.
— Yuna, encontrou mais algo?
— Apenas o celular do carinha aí.
— Certo. É o suficiente, podemos ir…
Me levantei devagar, ficando de pé com dificuldade, sentindo uma leve dor no corpo e também cansaço.
— Vamos.
— Morgan, ajude o Kenji a caminhar, por gentileza. — disse Yüjin.
— Sério? Ok… — Morgan respondeu.
Morgan veio até mim, me apoiando sobre si. Caminhou junto comigo, saindo daquele apartamento.
Um veículo preto nos buscou e levou todos nós do esquadrão de volta para a base dos Inquisidores.
Se eu conseguir a aprovação do capitão da divisão, eu finalmente vou ter me provado. Vai valer à pena… Eu vou conseguir.
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