Capítulo 14 - Motivos do Passado pt2.
— Mãe, está tudo bem? — disse, preocupado.
Me aproximei, a segurando e apoiando seu corpo sobre o meu, a impedindo de cair.
— Estou sim, querido… — respondeu, em meio a tosses.
Auxiliei minha mãe, a apoiei e levei a mesma até uma cadeira que estava ali na sala.
— Tem certeza, mãe? Não parece nada bem…
— Sim, Ken, está tudo bem… Só estou um pouco cansada mesmo.
— Esse trabalho está te matando… Você precisa parar. Eu vou conseguir um emprego, estou buscando todos os dias.
Minha mãe tossiu, e então se recostou na cadeira de madeira em que estava sentada.
— Fica tranquilo, meu anjo… Eu estou bem, não precisa ficar tão desesperado. Sei que as pessoas não querem contratar você, é novo, é normal a falta de experiência…
— Mãe, eles não querem me contratar pois não gostam de mim… Eu criei uma má reputação desde pequeno, é minha culpa. Nunca foram com a nossa cara, principalmente a do meu pai.
— Você era uma criança, filho, ainda é novo demais… Você apenas devolvia a forma que era tratado, não se culpe dessa forma… — respondeu em meio a tosses.
Me abaixei e me sentei no chão. Relaxei as costas na parede atrás de mim, e estiquei as pernas sobre o chão.
— Não importa, mãe… Só sei que preciso arrumar um emprego, imediatamente.
— Tudo bem. Obrigado por se preocupar comigo, filho…
— Fiquei sabendo que um fazendeiro veio morar no vilarejo faz alguns dias…
Minha mãe me olhou. Vi que ela queria falar, porém deixou que eu continuasse.
— Ouvi que ele tem muito dinheiro, terras e recursos. Também fiquei sabendo que ele estava precisando de funcionários e trabalhadores na fazenda… É uma oportunidade, porém agora vou ter que passar o dia inteiro fora provavelmente, então você vai ter que se cuidar aqui até de noite.
— Você tem certeza, meu filho? — indagou minha mãe.
— Sim, mãe. Me preocupo que você vá ficar sozinha, assim doente, mas eu preciso trabalhar para nos sustentar e deixar que você descanse… Vai ficar tudo bem.
— Doente? Não estou doente, filho. É apenas um pouco de cansaço…
— Eu sei que não é, mãe. Não é apenas cansaço.
Me levantei, fiquei de pé novamente e me alonguei um pouco.
— Vá se deitar, mãe. A senhora precisa descansar. Hoje à noite vou fazer uma faxina nessa casa. Vou deixar ela um brinco pra você, e com você sozinha boa parte do tempo, sei que a casa vai permanecer arrumada.
— Faxina de noite, Ken? Não é hora… Eu agradeço, mas se for fazer isso, por que não faz amanhã de manhã?
— Amanhã de manhã vou me encontrar com o fazendeiro e ver como vai funcionar o trabalho. Então pra começar o dia de amanhã bem, vou deixar a casa perfeita pra você, tudo bem?
— Certo… Obrigada filho.
O horário de almoço ainda não havia acabado, então eu segui conversando com Satoshi e contando minha história.
— Esse fazendeiro é o homem que você deve, Ken? — disse Satoshi.
— Sim, é… É ele. — respondi.
Me lembrei do meu primeiro dia de trabalho, e também do meu encontro com Daichi, meu empregador.
— Bom dia, senhor. Me chamo Kenji Yoshida, sou um jovem morador do vilarejo que está em busca de um trabalho e uma renda.
O homem parecia uma figura simpática, porém também passava seriedade. Possuía cabelos grisalhos curtos, onde uma pequena mecha descia sobre sua testa, e um bigode elegante que se afina nas extremidades. Era alto e magro, com um olhar cansado mas amigável.
Sua altura era bem maior que a minha e sua presença era até que arrepiante. Ele se parecia como a sombra de uma tempestade — assustador em silêncio, mas estranhamente acolhedorpara quem prestasse atenção em seu sorriso e no esforço que fazia para parecer mais amigável.
Seu olhar carregava o peso da noite que se aproximava, denso e frio, porém havia algo naquele sorriso que contrariava o seu olhar sombrio.
— Olá, jovem. Bom dia. Como soube que eu precisava de trabalhadores na fazenda? — respondeu, sorrindo levemente.
— Soube que havia chego no vilarejo não faz muito tempo, então presumi que ainda não tivesse trabalhadores o suficiente para sua fazenda, e também soube que ela não é muito distante daqui.
— Entendi… Faz muito tempo que busca por um emprego?
— Sim, bastante tempo…
— Hm… Quantos anos você tem, jovem? — indagou.
— Tenho 17 anos, senhor. Quase 18 anos. — respondi.
— Entendido. Bom, me chamo Daichi Watanabe. Vou lhe mostrar a fazenda para me dizer se é capaz de trabalhar lá, tudo bem?
Me recostei na cadeira e estiquei minhas pernas, fazendo uma leve pausa na história para beber uma garrafa de água que havia pego.
— A fazenda era grande, espaçosa. Tinha uma boa atmosfera, era bonita e aquele ar fresco cheirava bem. Ele foi receptivo, e alguns outros funcionários também foram.
— E como tudo mudou? — indagou Satoshi.
— Minha mãe ficava cada vez mais doente, e eu me afundava cada vez mais no trabalho, buscando conseguir mais dinheiro. Eu solicitei pagamentos adiantados algumas vezes, mas não era nada demais. — respondi.
— Sim…
— Daichi era gentil, mas sua presença ainda permanecia estranha, sombria, porém eu relevava. Era meu patrão e eu precisava do dinheiro. Alguns funcionários passaram a agir de forma estranha, e outros se mudaram para a cidade.
— Que droga. Consigo prever… — disse Satoshi.
— Acumulei uma dívida não tão grande, era possível pagar, porém Daichi adicionou cláusulas no contrato de trabalho, e juros aumentaram esse meu débito com ele.
Daichi Watanabe, meu empregador. Era um homem mais velho, porém não parecia que estava sofrendo com as consequências da idade, estava em boa forma.
Ele estava em minha frente, sentado em uma cadeira de balanço feita de madeira, na varanda de sua casa no meio da grande fazenda.
Era noite, e estava frio, o que tornava a presença de Daichi ainda mais sombria.
— Sua mãe está muito doente, certo? — disse Daichi.
— Sim senhor, uma doença de pulmão… — respondi.
— Meu sobrinho morreu dessa forma… Eu conheço essa doença. Sei como funciona o tratamento, porém é tudo muito caro…
— Droga… — sussurrei comigo mesmo.
— Eu posso te ajudar com isso. Gosto de você, é um funcionário prestativo, porém não posso sair com as mãos vazias desse acordo… — disse Daichi, com um leve sorriso sombrio em seu rosto.
— Que merda! Esse pilantra… — disse Saotshi.
Suspirei e me inclinei para frente, apoiando o queixo nos braços, que estavam sobre a mesa.
— Então ele me cobrou muitos juros das dívidas e agora só ele pode conseguir o tratamento pra minha mãe… Ele me mandou pra cá, pra conseguir dinheiro e pagar ele, além de conseguir pagar o tratamento, já que a doença que ela possui é algo mais grave, e com ele o tratamento sairá mais barato. Seu jeito mudou comigo, e ele desistiu de tentar disfarçar sua maldade.
Então, ouvi meu celular apitar, o que indicou que meu horário de almoço havia acabado. Com isso, levantei e fui até a minha mesa do escritório.
Vi Yüjin, o líder do esquadrão vir até minha mesa, se aproximando e colocando suas mãos sobre.
Ele estava sério, o que fez com que eu não esperasse boas notícias vindas dele com aquela expressão.
— Kenji, vem comigo. O refém acordou e está bem. Temos perguntas pra fazer a ele. — disse Yüjin.
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