Capítulo 16 - Os dois lados da moeda pt 2.
Yuri encarou Koda por alguns segundos antes de caminhar até a vítima deitada na cama de hospital.
Yachi abria os olhos devagar, com suas retinas se adaptando aos poucos a claridade do local.
— Olá, Yachi… — Yuri disse, baixo.
O homem demorou um pouco para responder, se contorcendo levemente, alongando seu corpo dolorido, e só depois de abrir completamente seus olhos, respondeu
— Oi… Quem é você?
Yachi olhou ao redor, averiguando melhor o quarto em que estava, nos avistando e então reformulando sua pergunta.
— Ou melhor… Quem são vocês?
— Somos membros dos Inquisidores, a organização que te resgatou das mãos de Hanran Senno.
— Mesmo? Muito obrigado mesmo… Vocês salvaram a minha vida das garras daquele monstro, eu agradeço de todo coração.
— Não precisa agradecer, fizemos apenas nosso trabalho.
Yachi parecia realmente agradecido, feliz por nos ver ali, mas ao mesmo tempo confuso.
Sua aparência estava abatida por causa do ocorrido, mas era perceptível que era um homem jovem, e aparentava ser apenas um pouco mais velho que eu.
— Onde está minha família? Eles estavam aqui de manhã…
Os outros membros do esquadrão se olharam, e depois voltaram sua atenção novamente para Yuri e sua conversa com a vítima. Todos pareciam sem confiança o suficiente para participar da conversa e interrogátorio, deixando apenas para que Yuri e Koda cuidassem da situação.
Koda estava sentado em um canto da sala, ouvindo e aparentemente prestando atenção na conversa que se desenrolava ali.
— Nós precisávamos que sua família se retirasse do quarto, então eles saíram educadamente para que pudéssemos conversar aqui. — disse Yuri.
Todos podiam ouvir o senhor e a senhora Honda do lado de fora do quarto, discutindo e reclamando com Yüjin sobre a forma que Koda os tratou e como aquela situação era desagradável para eles.
Me senti mal por ter insultado Satoshi de alguma forma, já que após nossa conversa e minha fala, ele não havia dito mais nada, porém eu não podia iniciar um longo diálogo logo ali na sala com muitas pessoas. Iriam me chamar de louco por conversar “sozinho”.
— Certo… E o que precisam conversar comigo? — disse Yachi.
— Nós precisamos saber mais detalhes sobre os motivos de Hanran, sua relação com ele e outras informações do agressor. — respondeu Yuri.
— Também precisamos saber o que era aquela casa, se significava algo para ele ou para você. Precisamos descobrir se sabe mais informações dele, como se conhece amigos ou outros que possam ter participado de sua tortura e sequestro. — complementou Koda.
— Você sabe de algo? — perguntei, me aproximando mais deles.
Yachi fez uma expressão confusa, me encarou por alguns segundos e respondeu.
— Como assim? Como eu teria essas informações? Eu que fui capturado e estava incosciente. E não existe outro motivo para aquele monstro ter feito o que fez comigo, essas criaturas fazem maldade por instinto. — disse ele, gaguejando.
— Apenas nos responda. Não será benéfico para você se mentir pra nós, senhor Yachi Honda. — disse Koda, quando se levantou e foi até a cama de hospital onde estava Yachi.
— Yachi, será apenas uma rápida conversa. Se puder colaborar… — falei, olhando para o homem na cama.
— Nós lidamos com os Impuros, Yachi. Apenas precisamos de informações para ajudar na investigação. — Yuri complementou.
— Certo… — respondeu Yachi.
— Como você o conheceu? — disse Yuri.
— Anotem as perguntas e respostas. — disse Koda, olhando para os outros membros do esquadrão.
Todos puxaram de seus bolsos pequenos cadernos e canetas ou celulares para anotar a conversa que se desenrolaria ali.
— Eu o conheci através de seu irmão, que era nosso jardineiro. Tínhamos o contratado não fazia muito tempo. Não sabíamos que eles eram Impuros, sabiam disfarçar bem e mantinham distância para não notarmos que absorviam nossa vida secretamente…
Vi que os outros anotaram, tanto em seus celulares e caderninhos, prestando atenção em cada detalhe naquela conversa.
— Ele nos pediu para que chamássemos Hanran para trabalhar em nossa casa também, já que ele estava precisando de uma ajuda nos trabalhos em nosso grande jardim. — Yachi continuou.
— Como era sua relação com o irmão de Hanran? — Yuri indagou.
— Minha relação com ele era comum… — disse Yachi, gaguejando levemente e com um olhar baixo, quando Koda o interrompeu.
— Não minta, senhor Honda.
Koda ordenou, com autoridade e voz suave, e logo Yachi estremeceu.
A feição do jovem mudou, se tornando levemente assutada quando olhou para Koda que o encarava friamente.
— Eu não ia muito com a cara dele. Ele era estranho, sua presença me causava calafrios… Sempre que eu me aproximava por muito tempo, sentia um mal-estar. Ele gostava de se manter afastado, e mesmo com esse sentimento, eu não entendia, como se eu fosse alguém inferior e ele não gostasse de ficar perto de mim.
— Ele já fez algo para você? — Koda indagou.
— Não…
— Como Hanran foi apresentado para vocês? — indagou Yuri.
— Eu já disse, como ajudante do irmão nos trabalhos em nosso jardim… Ele receberia o valor de 50% do salário do irmão.
— Como descobriram que eles eram Impuros? — Koda perguntou.
Yachi olhou para Koda e logo desviou seu olhar para a janela. Ele parecia assustado, com medo de Koda.
— Eu sabia que eles não tinham muitas condições, porém por curiosidade sobre a vida deles os segui quando voltaram pra casa…
Yachi se assemelhava com um animal indefeso, tremendo assustado perante uma fera que era Koda e seu olhar frio e arrepiante.
— Cheguei na porta da casa deles, a mesma casa onde fui levado. Prestei atenção e ouvi a conversa deles, e então olhei pela janela… Vi uma aura e magia, vindo dos dois irmãos, e imediatamente entrei em alerta. O mais novo disse para Hanran que sentia medo de perder o emprego, que tentava se manter afastado, porém eu continuava me aproximando e aumentando os riscos.
— Certo, prossiga. — Koda disse.
— Me enfureci assim que ouvi aquilo. Era inaceitável estarem nos enganando, principalmente esses monstros…
O encarei atentamente, observando a firmeza em suas palavras quando falou dos “Impuros” e da raiva que sentiu no momento.
— O que fez depois disso, senhor Honda? — disse Koda, ainda com seu olhar frio e assustador fixado em Yachi.
— Nada… — disse o jovem, porém era nítido que mentia.
— Tem certeza? — perguntei.
— Que bizarro, cara. Eu sou a vítima e vocês me interrogam?! Isso é maluquice!!! — disse ele, irritado com a situação de pressão que se encontrava.
— Senhor Honda… — disse Yuri, sentado ao lado de Yachi.
Koda se levantou da poltrona que estava sentado na ponta da sala, atravessou aquele quarto e foi até Yachi na cama.
— Continue respondendo. — disse Koda.
— O que fez depois da descoberta? — indagou Yuri.
Yachi abaixou a cabeça, desviou seu olhar e se curvou assim como uma presa diante do caçador.
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