— Depois de descobrir aquilo, eu fui embora pra casa… — disse Yachi, passando uma mão sobre a outra em movimento ansioso.

    — Meus pais foram os primeiros a saber, pois contei a eles logo que cheguei. — continuou.

    — O que vocês fizeram com essa informação? — perguntou Yuri.

    — Nós imediatamente contratamos um caçador especializado e esperamos um dia que Hanran não havia vindo, pois era muito perigoso lidar com duas criaturas ao mesmo tempo… Lidaríamos com ele sozinho, em sua casa. Quando o Senno chegou para o trabalho sozinho, preparamos uma armadilha e o capturamos. Nós… o batemos, e ele morreu.

    — Mais detalhes, senhor Honda. — disse Koda.

    — Nós torturamos ele. Ele não resistiu e morreu. — disse Yachi, e friamente contou como haviam assassinado alguém.

    Me espantei com a frase que saiu da boca de Yachi. Tão direta e crua. Uma confissão tão seca e cruel…

    Arregalei os olhos quando ouvi, e meu corpo recuou levemente para trás na poltrona quando ouvi aquela frase.

    Todos no quarto haviam se sentado em poltronas espalhadas confortavelmente pelo local, e seguiram anotando em seus cadernos.

    Koda estava sentado ao lado de Yuri, próximos de Yachi que se deitava na cama de hospital, com apenas um tubo de soro que conectava em seu pulso esquerdo.

    Ouvimos uma batida na porta, e então Yüjin a abriu, e avistamos uma figura feminina adentrar o quarto.

    Era apenas uma enfermeira que estava ali para regular os aparelhos e avaliar a situação de Yachi Honda.

    O jovem até pareceu mais feliz com a presença de outra pessoa que não fosse nós naquele quarto.

    Resolvi me levantar da poltrona que estava sentado, pois me incomodei com a escuridão e clima pesado que estava se intensificando ali.

    Caminhei até as janelas e então abri as cortinas, permitindo a luz solar adentrar mais o local que antes.

    A luz forte irradiou dentro do quarto e fez com que quase todos no quarto apertassem os olhos com a claridade.

    Koda me encarou por alguns segundos, e depois deu um sorriso gentil.

    — Muito obrigado, Kenji. — falou, em tom calmo e suave. Por um segundo seus olhos não foram assustadores.

    — Podemos continuar, senhor Honda? — disse Yuri.

    — Claro… — Yachi respondeu.

    — Como foi quando Hanran descobriu o assassinato do irmão? — perguntou Yuri.

    — Nada bom… Ele se enfureceu, e parecia ser mais poderoso que o outro. Ele havia ido atrás do irmão depois que demorou demais para voltar do trabalho.

    — O que ele fez? — perguntei, curioso.

    — Depois que encontrou o irmão no porão… Ele surtou.

    Quem diria né? Ao ter seu irmão assassinado dessa forma, quem não surtaria? Era óbvio… Esperava outra coisa?

    — Destruiu toda a casa, quebrou tudo que havia lá dentro, porém não estávamos em casa e vimos apenas quando chegamos, era um monstro. — Yachi prosseguiu.

    Os outros membros do esquadrão seguiram com suas anotações.

    Com a luz do sol entrando, o clima já não estava mais tão pesado, porém resolvi deixar ainda melhor.

    Me levantei, caminhei até as janelas e as abri, para que pudesse entrar uma brisa ali e melhorar a ventilação do quarto.

    — Bem melhor. — falei.

    Os que estavam anotando deram um leve sorriso, agradeceram e se acomodaram mais em seus assentos.

    — Obrigado, Kenji. — disse Yuri, gentilmente.

    — Prossiga, Yachi. — disse Koda.

    — Algumas semanas depois, ele atacou meu irmão em um encontro na rua. O capturou e o torturou… Desgraçado. Meu irmão apanhou muito, e ele não tinha nada a ver com aquilo tudo, ele nem estava em casa. — Yachi continuou.

    Ele apenas devolveu na mesma moeda, mesmo que isso também não seja o certo. A culpa foi sua disso acontecer com sua família… A culpa foi de vocês.

    — Pelos registros, ele apenas bateu um pouco em seu irmão, que logo foi resgatado quando Hanran fugiu na presença dos Inquisidores. — disse Koda.

    É nítido que ele manipula as informações pra se favorecer… Mentiroso!

    — Ele não tinha o direito de encostar nele! Depois de mais algumas semanas ele me encontrou, me capturou e me torturou, meus guarda-costas eram fracos para ele… — disse Yachi.

    Eu salvei esse cara…?

    Eu lutei e quase morri pra salvar esse homem…?

    — Valeu à pena? — disse Satoshi mentalmente.

    — Ele mencionou algum companheiro? — perguntou Yuri.

    — Algumas vezes enquanto me mantinha em cativeiro, falou sobre a chegada breve de uns amigos que ajudariam ele a nos destruir por completo como vingança. — Yachi respondeu.

    — Sabe mais alguma informação sobre esse tal amigo? — disse Yuri.

    — Apenas que ele é um Impuro… E também sei que ele tem algum cristal. — respondeu Yachi.

    Durante toda aquela conversa, me perdi nos meus pensamentos sobre valores e ideais, e se o lado que eu defendia era o certo.

    Sempre achei que os Impuros eram naturalmente ruins, e isso se intensificou com meu confronto com Hanran. Entrei nos Inquisidores, que lidam com esses casos e com essas criaturas, porém será mesmo que eles são o mal desse mundo…?

    Yachi, por exemplo, é um humano, e ele que causou o conflito com Hanran…

    A família Honda, Yachi mais especificamente, instigou e incendiou todo esse ódio no peito de Senno. Eles causaram essa situação pra si.

    Mesmo com o sangue em suas mãos, eles não são capazes de aceitar e admitir o erro, muito menos enxergá-lo, eles se recusam a enxergar.

    Eles gostam disso… E eu não posso fazer nada.

    Koda virou o olhar pra mim e me encarou alguns segundos enquanto eu me perdia em meus devaneios.

    Quando retomei a plena consciência, o encarei de volta e ele desviou o olhar e se voltou para Yachi novamente.

    — Um cristal… Que tipo de cristal? — indagou Koda.

    — Ele disse que ia conseguir um cristal e junto desse amigo dele iam destruir nossa família… Falou que iam subir mais alto e iam destruir esse sistema. — respondeu Yachi.

    — Que droga… Eles tem posse de um. — disse Yuri.

    — Sabe mais desse amigo? — indagou Koda.

    — Não sei mais nada… — disse Yachi.

    Koda se levantou da poltrona que estava sentado, olhou para nós e disse.

    — Bom, parece que terminamos por aqui.

    Todos olharam para ele e se olharam, então levantaram também.

    — Boa recuperação, senhor Honda. — disse Koda.

    Saímos todos da sala, caminhando para fora enquanto Yüjin e Yuna nos escoltavam caso algo acontecesse conosco.

    Entramos no elevador apertado e ficamos em silêncio por alguns segundos até que Yüjin falou.

    — Tome mais cuidado ao conversar com a família da vítima, Koda.

    — Foi necessário, desculpe. — respondeu Koda.

    — Tudo bem! Eles até que mereciam isso haha.

    O elevador abriu, e chegamos até o térreo do prédio, então saímos do edifício.

    Caminhamos até o carro e entramos, com Yüjin no volante.

    — E aí, conseguiram algo? — indagou Yüjin.

    — Yuri e Koda fizeram um ótimo interrogatório. — respondi.

    — Que ótimo! Me passem todos os relatórios depois. — Yüjin respondeu com um grande sorriso, feliz.

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