Acordei com o som do meu celular tocando. Meu sono fora interrompido, que irritante…

    Levantei, ficando sentado sobre a cama. Estiquei meu braço para alcançar meu celular acima do criado-mudo ao lado da cama. A ligação já tinha sido desligada. Era um número desconhecido, quem poderia ser? Podia ser cobrança, esquece.

    — Bom dia. — A voz em minha cabeça disse.

    — Bom dia… — respondi.

    Droga, mais um pra atormentar minha manhã. Quanto tempo ele vai continuar na minha cabeça?

    — Não ia retornar a ligação?

    — Pra que? Não sei quem é.

    — Exatamente por isso, não está curioso pra saber quem é?

    — Não. Eu só quero dormir, cara.

    Estiquei o braço para deixar o celular em cima do criado-mudo novamente, e então ele tocou mais uma vez. Que saco…

    — Alô… — Disse, atendendo a ligação.

    — Olá, Yoshida. — uma voz familiar saiu do celular.

    — Calma… Como conseguiu meu número? — disse, levemente assustado.

    — Tenho meus contatos. Mas me diga, como vai?— a voz respondeu.

    — Vou b- — antes de terminar a frase, fui interrompido.

    — Bem, não importa. Sabe que eu não liguei apenas pra dizer olá, né?

    — A dívida, eu sei… Vim pra cidade grande pra arrumar o dinheiro. Eu vou pagar, prometo.

    — Você já está me enrolando faz um bom tempo. Acho melhor você se apressar, Yoshida.

    — Certo… — respondi.

    — Você tem dez dias.

    — O que?! Como vou conseguir dinheiro nesse tempo? — disse, irritado.

    — Dê seu jeito. Ou quer que eu vá pegar o pagamento de você? Sabe, tenho uma sugestão. Na cidade onde você está morando, a força militar possui presença. Por que não tenta ingressar? Devem pagar bem, você sabe brigar. Bom, eu não sou tão mal quanto pensava. Bom dia. — a voz do celular disse, antes de encerrar a ligação.

    Droga, maldito!!! Isso me irrita. Mesmo fugindo pra cá, ele insistiu em me perseguir. Que irritante. Como vou arrumar dinheiro em uma semana, aqui? Força militar? Que ideia de maluco… Porra!

    Levantei o braço, segurando o celular em mãos, prestes a jogá-lo na parede, mas então parei quando lembrei o quanto custou e desisti.

    — Se acalme, garoto. — Disse Satoshi, em minha mente.

    — Como ele acha que vou ingressar na força militar dessa cidade? Eles lidam com impuros e gente que tem magia, saber brigar não é o suficiente pra sobreviver.

    — Impuros? Uh… — respondeu Satoshi, com uma voz de arrependimento em minha mente.

    — Perdão… É assim que são chamados. Lembrei agora. Você é um, né…? Não entendo bem o motivo de serem chamados assim.

    — Tudo bem.

    — Eu não vou me alistar, esquece.

    Já faziam cinco horas que eu estava em busca de algum emprego, mas ninguém me aceitou. Sempre disseram que meu currículo não era bom o suficiente. Que droga, eu estava ficando sem opções… Me odiei por ter feito escolhas ruins. Eu mesmo me coloquei nessa situação.

    Eu estava pensando comigo mesmo no que fazer quando senti alguém esbarrando em mim. Notei que uma mulher passou por mim, e a ouvi dizer.

    — Culpar a si mesmo sem agir, não o leva a lugar nenhum.

    Fiquei confuso com a frase, pensei que era apenas um estranho falando coisas aleatórias para um desconhecido. Porém, aquelas palavras não eram uma mentira. Era patético ficar sentado choramingando sem agir. Se eu tinha uma oportunidade, eu devia abraçá-la. Mas, oque me restava era… É, o “exército”.

    Eu estava em frente ao grande edifício que era o quartel mais próximo da minha casa já fazia meia-hora e nada aconteceu, achei que não era tão simples quanto eu pensava. Logo, a mesma mulher que encontrei anteriormente apareceu.

    — O alistamento é só amanhã, garoto. Será feito um exame de admissão durante a tarde. — Ela disse.

    — Certo, obrigado. Certamente virei amanhã! — respondi.

    Que droga, as coisas nunca saem como esperado… Seria bem mais fácil se fosse hoje. Tudo bem, não vou ficar me lamentando.

    Saí do local. Retornei para casa.

    — Eaí, garotão! — Disse a voz saindo do beco.

    — Que? — disse, confuso.

    — Eu conheço essa voz… Kafka? — disse Satoshi em minha mente.

    — Quem ta aí? — disse.

    — Kafka! Seu amigo imaginário deve me conhecer, não é? Nem tenta esconder, eu sei de tudo, garotinho. — disse a voz do beco.

    — Eu a conheço, Kenji. É uma amiga… — disse Satoshi, mentalmente.

    — Ela é uma criminosa também? — respondi Satoshi.

    — Ela não é uma criminosa… Nem ela, nem eu. — disse Satoshi.

    — Eu sou apenas uma conhecida do seu amiguinho imaginário, sabe? Vim apenas pra dar um oizinho e te fazer uma proposta. Você tem algo importante pra nós, moleque. O “Sato”. Nós sabemos as condições dele, portanto, estou te chamando pra vir conversar com a gente qualquer dia desses. Estamos te dando uma escolha, mas esse privilégio não é pra sempre. — disse “Kafka”, me entregando um cartão e rapidamente sumindo dali.

    Era tarde, era melhor eu voltar pra casa. Eu precisava dormir, eu estava cansado.

    Cheguei em casa e apenas tive energia para entrar, trancar a porta e ir pro quarto, me jogando na cama e finalmente dormindo…

    — Ei, Kenji. — a voz de Satoshi ecoou em minha mente.

    — Oi…? Bom dia…. — respondi, confuso e cansado.

    — Ainda não é dia, garoto. Você ainda está dormindo…

    — Como assim…?

    — Seu corpo está cansado demais, você não acordou ainda. Estamos na sua mente.

    — Minha mente? Mas só ouço sua voz, não consigo ver nada. É vazio…

    — É sua mente, esperava que ela fosse mesmo interessante?

    — Vai se ferrar, cara.

    — Desculpe haha. — disse Satoshi, dando leves risos.

    — Se concentra garoto, pensa um pouco. É a sua primeira vez na sua própria mente, por isso ainda não foi desenvolvido um espaço. Fica tranquilo.

    — Certo…

    Que estranho. Nunca ouvi falar disso… Talvez fosse porque tive pouco contato com a magia. Não custa tentar.

    Minha noção de tempo estava confusa aqui, mas depois de um período não tão longo, as coisas começaram a fluir. O ambiente começou a clarear e se formar aos poucos, materializando-se em um espaço branco e vazio.

    Gradualmente pude sentir o toque, com a sensação dos meus pés pisando em algo sem temperatura, nem quente nem frio. Minha noção de tempo lentamente se estabilizou, junto da minha audição quando ouvi a voz de Satoshi ecoar pelo ambiente como num quarto vazio.

    — É assim que se faz… Agora, permita-me, me apresentar melhor. — disse Satoshi.

    — Tudo bem…

    Então, como um lapso, pude enxergar uma figura se materializando de baixo para cima, inicialmente como uma silhueta branca mas logo depois se formando a figura completa. Se tratava de um homem de cabelos loiros lisos até seus ombros, uma cicatriz subindo de seu pescoço até sua bochecha, olhos esverdeados, utilizava um moletom liso azul escuro com detalhes azul claro, além de um semblante descontraído.

    — Bom, esse sou eu.

    — O quê? Você não é o mesmo cara que eu vi morrer. Como assim?

    — É simples, assim como me transferi pra sua mente, foi o mesmo com ele. Minha habilidade funcionou perfeitamente e ele estava sobre meu domínio.

    — Vamos nos sentar, é melhor para conversar. — disse Satoshi.

    — Certo. — disse, me sentando de frente para ele.

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