Pisei na estrada de terra do meu velho vilarejo, avistei as casas e lugares que ainda se pareciam como antes.

    O sol estava se pondo no horizonte, o clima era frio e a aparência do dia ajudava a trazer memórias daquele lugar que passei toda a minha infância.

    — A boa e velha nostalgia, né garoto? — disse Daichi.

    — Nada de bom aqui além da minha família. — respondi secamente.

    Daichi deu uma leve riso, e então se moveu. Caminhou pela estreita estrada de terra do vilarejo enquanto olhava aos arredores, para as casas dos “caipiras” e em maioria seus trabalhadores.

    — Onde ela está? — indaguei.

    — Se acalme, garoto… Logo logo você vai vê-la. — respondeu Daichi.

    Watanabe puxou um cigarro e um isqueiro de seu bolso. Ele deu um sorriso e então acendeu o cigarro e guardou o isqueiro no bolso novamente.

    Kiryū estava atrás de nós, com uma feição séria e calado o caminho inteiro. Ele não tirava seus olhos de mim, estava atento caso eu tentasse atacar seu chefe. Carregava uma bolsa mediana, parecida com a que eu entreguei o dinheiro no dia anterior.

    — Está tudo bem, Kenji? — disse Satoshi mentalmente.

    — Está sim, apenas estou ansioso… — respondi mentalmente.

    Suspirei e olhei para os arredores, retomando memórias do vilarejo que pensei que havia esquecido.

    Caminhamos por mais alguns segundos enquanto observamos os lugares daquele pequeno vilarejo: as casas, o pequeno mercado e a praça com sua velha fonte. Então, chegamos até a frente de minha antiga casa, onde morei com meu pai… E minha mãe.

    — Chegamos, Kenji. — disse Daichi, após dar um trago e soprar a fumaça para baixo.

    Dei um passo à frente, já decidido a passar por Daichi e ir ver minha mãe imediatamente.

    Antes que eu pudesse seguir em frente, Daichi me segurou pelo ombro, me impedindo de passar.

    — Se acalme, garoto. Não precisa disso tudo haha. Ela está bem. — disse o velho.

    Daichi se pôs na minha frente, seguiu e entrou na minha casa. Ele olhou para trás, e nos chamou com um sinal de mão.

    Kiryū permanecia sério, apenas me observando e obedecendo seu chefe. Caminhou atrás de mim, e entrou em minha casa também.

    — Sei que ela não está bem, Daichi. Ela está doente, e eu vim aqui para curá-la. — disse.

    — Tudo bem, garoto. Fica tranquilo, vai ficar tudo bem. — disse Daichi, com um leve sorriso cínico.

    Daichi caminhou lentamente até o quarto de minha antiga casa, onde agora vivia minha mãe doente.

    Seguimos ele e também entramos no quarto, e meus olhos se fixaram na figura de minha mãe, que se encontrava deitada na cama, com uma feição triste e deprimida.

    Eu senti tanto sua falta… Eu precisava vê-la, e quando chego, ela permanece nesse estado. Por que os bons também sofrem?

    — Mãe! — exclamei.

    — Trouxe seu filho de volta, para te ver, senhora Yoshida… — disse Daichi, que fingia quase perfeitamente para minha mãe.

    Notei minha mãe tentar se levantar. Se apoiou com seus braços trêmulos na cama, porém não teve capacidade de se erguer.

    Ela sempre foi tão boa… Vê-la nesse estado me dói tanto. Ela não merece isso, nunca mereceu.

    — Ela não merece isso, Sato. — disse mentalmente para Satoshi.

    — Eu sei… Vai ficar tudo bem, Kenji. — respondeu Satoshi.

    Me aproximei da cama onde ela estava deitada, e me abaixei ao seu lado. A encarei por alguns segundos, com as memórias tomando minha mente.

    — Meu garoto… — disse ela, com um leve sorriso em seu rosto.

    — Eu estou aqui agora, mãe. Eu vou cuidar de você. Nada de ruim vai acontecer…

    Aproximei meu rosto do seu, e segurei sua cabeça levemente. Beijei sua testa e então segurei sua mão firmemente.

    — Eu estou aqui.

    — Que saudade… Meu pequeno. — disse minha mãe, em meio a algumas tosses.

    — Eu te amo muito, mãe.

    Eu vou protegê-la. Nada de ruim vai acontecer mais. Eu estou aqui agora. Vou proteger minha família.

    — Eu também te amo… Meu bebê. Muito. — respondeu minha mãe.

    Daichi e Kiryū estavam atrás de mim. Me encaravam, sentados em cadeiras que haviam no quarto. Daichi ainda fumava, no quarto de minha mãe doente…

    Desgraçado.

    Me levantei. Fui até Daichi, no canto do quarto e o encarei furioso por alguns instantes. Apontei para o cigarro e disse.

    — Por favor, aqui não.

    Daichi ergueu as sobrancelhas levemente, surpreso com minhas atitudes ousadas diante dele e seu guarda-costas. Kiryū apenas me encarava, com sua feição de sempre.

    — Tudo certo. Desculpe. — disse Daichi de forma cínica, com um leve sorriso de canto.

    O velho apagou o cigarro, o amassando e então o jogou pela janela.

    — Obrigado. — disse, e logo após me virei e fui até minha mãe novamente.

    Esse desgraçado ama fingir… Ama essa imagem que ele cria de benfeitor e o medo que vem depois. Eu o odeio. Odeio suas mentiras e tudo que o rodeia.

    — Eu vim lhe curar, mãe… Eu comprei o remédio. Você vai ficar bem, confie em mim. — disse, enquanto estava sentado na cama, ao seu lado.

    — Meu anjo… Como conseguiu isso? Com que dinheiro? Você não está devendo o senhor Watanabe, está? — disse minha mãe enquanto tossia algumas vezes.

    Olhei para trás, para Daichi. Ele estava com um leve sorriso de deboche, mas tentava disfarçar.

    Me enchi de ódio. Aquele desgraçado adora ver a situação que ele deixa as pessoas… Ele sente prazer nisso.

    — Eu trabalhei, mãe. Trabalhei muito. Juntei dinheiro e comprei seu remédio com Daichi. Falta pouco para pagar ele, e logo vou te levar pra cidade. A senhora vai morar comigo. — respondi minha mãe.

    — Meu filho… Isso é verdade? — disse ela, com uma feição feliz em seu rosto.

    Ao ouvir a notícia, minha mãe tentou se erguer novamente, porém não teve força e começou a tossir muito.

    Meu coração imediatamente se entristeceu ao ver aquela cena, e tudo piorou quando vi ela tossir fortemente e cuspir sangue… Era grave. Precisava agir logo.

    — O remédio, rápido, por favor! — exclamei para Daichi.

    Peguei um pequeno pedaço de pano e limpei a boca e a mão de minha mãe que estava suja de sangue.

    Daichi fez um sinal com a mão para Kiryū, era um sinal para que pegasse o remédio dentro da bolsa preta que carregava.

    Kiryū abriu a bolsa, e procurou por algum tempo, então puxou um pequeno frasco de vidro, com uma pequena tampa que se assemelhava com uma rolha. O líquido que estava dentro do frasco era amarelado e tinha um leve brilho. Sua consistência parecia um pouco densa, conforme se mexia dentro do recipiente.

    O guarda-costas entregou o remédio para Daichi, que o observou por alguns instantes e então estendeu a mão em minha direção. O frasco estava em sua palma.

    Rapidamente fui até Daichi e estendi a mão. Peguei o frasco de sua palma, e logo me virei para minha mãe, mas fui interrompido de seguir. A mão de Watanabe estava em meu pulso, e ele me olhava.

    — Vá com calma, Kenji. Não faça ela beber todo o remédio de uma vez assim. Essa substância é forte. — disse Daichi.

    — Certo…

    Caminhei calmamente até minha mão e me sentei ao seu lado. Abri o frasco com cuidado, e deixei sua tampa em uma cômoda ao lado da cama de minha mãe. Coloquei minha mão atrás de sua cabeça e a ergui com cuidado.

    — Aqui, mãe. Bebe um pouco, bem devagar. — disse, calmamente.

    — Obrigada, meu filho… — disse minha mãe, com um sorriso levemente apagado em seu rosto.

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