Capítulo 24 - Competente pt 2.
Quase todos na sala, inclusive eu, ficamos estáticos por alguns segundos, surpreendidos com a notícia da enfermeira.
— O que será que o capitão está fazendo aqui? — indaguei mentalmente para Satoshi.
— Devemos pensar positivo… Talvez ele tenha vindo lhe parabenizar, Ken. — respondeu Satoshi.
— Eu não sei, Satoshi…
Voltei meu olhar para Yüjin, e notei sua feição se distorcer levemente para uma expressão discreta de medo. Um pouco de suor descia pela sua testa, e era perceptível sua mandíbula levemente trêmula.
Yüjin, aquele homem forte e inspirador, o líder de nosso esquadrão, parecia frágil naquele momento, como uma formiga diante de um gigante que estava prestes a esmagá-lo.
— Me sinto mal… Eu coloquei o líder nessa situação. Ele pode acabar se prejudicando por minha culpa. Droga! — falei mentalmente.
— Reclamar não vai resolver nada, Kenji. Você deve ser forte, e honrar a tentativa e o risco dele por você. Ele mal te conhece, e mesmo assim correu esse perigo. — respondeu Satoshi.
— Eu não posso… Não vou decepcionar ele! O capitão Takashi vai me aceitar, eu vou convencer ele, preciso disso.
Olhei para Morgan, que parecia tranquilo, com uma postura relaxada na poltrona em que estava sentado. Como ele não se assusta? Nem mesmo diante de uma presença esmagadora que se aproxima, esse instinto de fera não se apaga. Que cara irritante…
— Qual é! O que aconteceu com vocês? O papo tava bom. — disse Morgan com um leve sorriso em seu rosto.
— Acho que ficaram com medo, já que o capitão está na porta. — disse Koda, com sua tranquilidade sombria como sempre, assim como Morgan.
É assustador como esses dois monstros conseguem se manter bem nessa situação. Talvez seja por que o deles não está na reta…
Vi Yüjin se recompor, engolindo em seco para logo depois se reerguer. Alinhou sua coluna e ergueu sua cabeça, tentando demonstrar coragem diante de todos. Era o dever de um líder.
Yuna não parecia tão assustada quanto os outros, porém ainda era notável o seu temor já que parecia mais rígida na poltrona, com o corpo mais tenso.
— Obrigado. — uma voz grave soou do lado de fora, era o capitão.
A porta do quarto se abriu devagar, e era possível ver a silhueta grande do capitão Takashi através do vidro. Sua sombra se projetou no chão como uma tempestade, o que tornou a tensão no ambiente ainda maior.
A figura imponente do capitão se apresentou naquele quarto de hospital. Seus passos ainda eram firmes, e seu olhar afiado e observador. O homem olhou calmamente para todos ali, para os meus…amigos? É, para os meus amigos do esquadrão.
Ele era um urso polar, isso, um urso polar. Uma criatura grande e imponente, com uma presença fria e um olhar afiado. Um senso rígido da natureza, esse era o capitão Takashi.
— Bom dia. — sua voz grave soou, em um cumprimento para todos.
— Seja firme, Kenji, seja firme. — disse Satoshi mentalmente.
Todos responderam em tons diferentes, porém ainda de forma educada. Morgan e Koda foram os únicos que agiram de forma um pouco diferente, não demonstrando tanta preocupação quanto os outros.
— Bom dia senhor. — respondi com firmeza.
Takashi levou seus olhos aos meus e me encarou por alguns longos segundos. Observou o modo como eu estava, meus ferimentos e minha clara tentativa de permanecer firme diante da sua presença.
— Gostaria de pedir um momento sozinho com seu agente, Yüjin. — disse o capitão de forma educada.
Yüjin ergueu o rosto e me encarou por alguns instantes, e logo depois virou seu olhar para o capitão, então assentiu.
— Sim senhor. Sem problemas.
O líder do esquadrão se levantou da poltrona, manteve sua postura ereta e então sinalizou para todos presentes ali para que saíssem.
— Vamos. — disse Yüjin.
Todos se levantaram de suas poltronas e seguiram o chamado do líder para sair do quarto ao pedido do capitão. Morgan, Yuna e Aiko me olharam por alguns instantes e disseram juntos.
— Melhoras.
Yuri Suzuki passou pela minha cama, seguiu os outros para sair, porém antes se dirigiu a mim de forma encorajadora.
— Vai ficar tudo bem, cara. Você é capaz. — disse o homem.
Koda foi o único que se manteve calado, apenas seguiu os outros sem olhar para mim, com sua presença sombria que me causava calafrios. Acho que ele não gosta de mim.
A porta do quarto se fechou e me causou um sentimento de medo e impotência, de uma presa em uma sala com o predador, que tinha em suas mãos a minha sentença.
— Como se sente, Kenji? — disse o capitão com sua voz grave.
Takashi se moveu pela sala, se aproximou de uma poltrona e sentou. Acomodado no assento, me encarou esperando minha resposta.
— Me sinto um pouco melhor… As dores diminuíram, mas ainda estão lá. — respondi.
— Entendo… — assentiu o capitão.
Fui puxado para o espaço em minha mente de forma repentina, e pude enxergar a imagem de Satoshi em minha frente.
Satoshi me encarava com um olhar levemente sério, enquanto estava sentado em sua cadeira “imaginária”. Era estranho pensar que ele tinha esse certo domínio do meu espaço mental.
— Presta atenção. Você precisa se mostrar firme, não frágil. Ele viu sua garra e força de vontade, e parecer frágil agora pode fazer ele pensar que seus ideais não eram tão fortes como aparentavam. Continue com sua personalidade forte diante dele, eu sei que você consegue, entendeu? — disse Satoshi.
— Se ele me achar desrespeitoso? Ele pode desistir de mim se eu agir com insolência. — respondi.
— Não é insolência, é firmeza. Mantenha a calma e o respeito, não precisa ser bruto, mas não volte atrás nas suas palavras. Entendeu? — indagou Satoshi.
— Certo. Eu vou tentar. — respondi firmemente e então acordei daquele lapso em que me encontrava.
Voltei a atenção para o capitão, que olhava aos arredores, averiguava o quarto de hospital em que eu estava. Após alguns segundos, ele me encarou e me dirigou outra pergunta.
— Você tem certeza do que quer seguir, mesmo depois de todo esse ocorrido? — indagou Takashi.
— Sim, eu tenho certeza. — respondi com o brilho nos olhos e um calor no peito, com uma presença que podia emanar os sentimentos no meu coração.
Takashi deu um leve suspiro, e após isso pude notar um leve riso discreto se formar em sua feição. Ele me encarou novamente.
— Você é chato né garoto? — disse o capitão em um tom mais descontraído.
Me surpreendi com o ocorrido. O capitão rindo? Como assim? Eu sinto esperança. Vai ficar tudo bem!
— Eu não vou mentir que foi surpreendente a sua ousadia. Você teve capacidade e coragem para me enfrentar, mesmo sabendo a discrepância entre nós dois. Eu admiro isso. — disse o capitão.
— Isso! Eu disse. Confia em mim, Ken. — disse Satoshi.
— Lembra minha juventude… Eu já fui assim um dia, porém com o tempo entendi que as regras existem para ser seguidas, e se elas foram criadas existem diversos motivos para sua existência.
Permaneci quieto, ouvindo com atenção as palavras que saíam da boca do capitão Takashi Oshiro, que agora aparentemente me parabenizava pela minha atitude.
— Você é competente, Kenji Yoshida. Eu confio no seu trabalho, porém…
— Porém…? — perguntei, confuso.
— Porém como expliquei, regras são regras… Só que dessa vez, apenas dessa vez, eu irei tolerar uma atitude que viole essas normas. Eu quero que siga as regras, que seja fiel as normas dessa organização. Se você discorda delas, comece de baixo e as mude, eu vou te dar meu apoio, porém enquanto ainda não possui essa capacidade, ande na linha, por favor garoto. — completou Takashi.
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