Capítulo 27 - Pétala celeste pt 2.
Meu olhar se voltou para a primeira figura. Uma mulher… Era baixa, magra e seu corpo possuía curvas sedutoras. Seu rosto era atrante, esculpido para atrair a atenção. A cor dos seus cabelos era azulada com tonalidades de violeta, e abaixo dos seus olhos afiados havia uma lágrima tatuada.
— Kafka. — disse Satoshi quando apontou, ao meu lado no espaço mental.
Desviei o olhar para outra figura. Um garoto…? Possui baixa estatura, e os traços de seu rosto são frágeis como os de uma criança, porém sua expressão é séria. Reparei em seus olhos novamente e notei que…ele não possui o olho direito e o buraco vazio apenas possui uma tatuagem vermelha ao redor. Se parece com alguma flor…
— Kenshi.
Uma outra figura se apresentou, tal como um leão que impôs sua presença dominante naquele local. O indivíduo se apresentou por conta própria, de forma rápida e direta.
— Sora. — disse com voz grave.
O homem possuía cabelos negros penteados para cima, levemente bagunçados, e algumas mechas brancas tingidas se destacavam entre sua cabeça. Ele era alto, maior que todos ali presentes, e seu porte físico era robusto, superior aos demais. Suas roupas eram extravagantes e mostravam um pouco demais de seus músculos. Acho que ele gosta de se mostrar…
— Apenas três pessoas? — perguntei, confuso.
— Quatro, burro. Eu sou um também, esqueceu? — respondeu Satoshi.
Kafka tampou a boca com a mão e deu um leve riso. A moça olhou para Satoshi e para mim, e a cada vez que seu olhar transitava entre nós, ela soltava mais alguns risos.
Sora, o homem extravagante, fechou os olhos com um leve sorriso de canto. O homem abaixou sua cabeça e balançou ela como se negasse algo.
— Você vai apanhar, Sato. — Sora e Kafka falaram em uníssono.
Uma presença forte surgiu de repente no lugar e fez com que meu corpo tremesse com a pressão. Observei e vi Kenshi, o mais baixo presente se levantar lentamente, com a cabeça baixa e não era possível ver seu rosto.
Kenshi se levantou e caminhou lentamente até mim e Satoshi, ainda de cabeça baixa. O jovem parou na frente do meu parceiro, e então ergueu sua cabeça e sua feição estava séria, com a raiva que emergia em seu semblante.
O garoto claramente ficou irritado, e rapidamente desferiu um soco na região do estômago de Satoshi, que se curvou após sentir o impacto do golpe. Meu parceiro gemeu baixo de dor e colocou as mãos no estômago.
— Que desrespeito! Você simplesmente se esqueceu dela…? — disse Kenshi, irritado.
Satoshi murmurou algo baixo, ainda se contorcia, curvado e com uma feição de dor nítida em seu rosto.
— Eu não ouvi. Repete! — disse Kenshi para Satoshi.
— Desculpa… Eu não esqueci…. Só… Só me referi aos que estão aqui. Kenshi, se acalma por favor. — respondeu Satoshi.
Kenshi havia entendido, sua feição indicava isso, com a expressão de raiva que suavizou lentamente, porém novamente ele se fez de irritado, virou o rosto e fez bico.
— Não sabe admitir o erro… Se bem que imaginei que ele era criança. — sussurrei.
Kenshi ouviu e virou seu rosto para mim, com uma expressão de: “foi isso mesmo que ouvi?”. Logo em seguida, recebi um soco em meu estômago e me curvei também, assim como Satoshi.
Uma criança bem forte…
Kenshi se virou para Satoshi novamente e irritado esbravejou.
— Amaterasu sempre pensaria em você, mesmo que não estivesse presente.
— Desculpa… — respondeu Satoshi.
Kenshi se virou para mim e levantou a sobrancelha, como se me perguntasse algo apenas com o olhar. A dor me impedia de responder de imediato.
— E você, nada a dizer?
— Desculpe também, senhor…
Olhei para Satoshi discretamente, e mesmo que estivéssemos em um espaço mental criado por alguma conexão estranha, eu ainda podia me comunicar com meu parceiro via telepatia.
— Ele tem a mão pesada… Mas afinal, quem é Amaterasu? — perguntei confuso.
— É a nossa líder… A fundadora do nosso grupo. — respondeu Satoshi, com um tom levemente cabisbaixo.
— O que foi?
— Ela sumiu já fazem meses. Sem deixar rastros.
— O pequeno é bem apegado nela, não é?
— Todos somos, mas Kenshi tem uma conexão especial com ela… O sumiço dela abalou todos nós. Tudo começou a dar errado desde que ela se foi. — respondeu Satoshi.
— Sabem se tem algum motivo? Ela disse algo antes? — perguntei.
— Nada.
— Eu sinto muito por isso, Sato…
— Tudo bem.
Kenshi se virou de costas, se virou e se sentou, irritado, ao lado dos outros membros do grupo.
— É… Qual o motivo de nos contatarem pelo broche de flor? — indaguei.
Kafka gesticulou, moveu suas mãos e respirou fundo para explicar a situação em que nos encontrávamos.
— Sabe, os Inquisidores são um pé no saco… Como pôde ver, seus amigos estão na nossa cola por um mero detalhe, e nós precisamos do nosso parceiro. Nos encontrar pessoalmente talvez deixasse algum rastro, e esse espaço mental criado pelo broche torna tudo mais seguro. Tem um homem do seu esquadrão que é um perigo para nós. Não podemos correr esse risco.
— Posso saber o motivo de precisarem dele com tanta urgência? Acho que isso foi cedo demais… — respondi.
Kenshi virou seu olhar para mim. Sua feição pareceu ficar mais irritada. Vi seu maxilar se contrair, como se quisesse falar algo para mim, mas Kafka colocou a mão em sua cabeça e deu uns tapinhas.
— Se acalma, Ken. Não precisa disso. Já vimos que ele é confiável, Sato pode afirmar. — disse Kafka.
— Ele é confiável, Kenshi. O Yoshida não é como os outros. Tá tudo bem. — disse Satoshi, que tentou convencer Kenshi.
— Vocês ficaram moles. Como um humano qualquer, um humano, pode entrar no nosso espaço, saber as nossas informações e ele ainda está nos Inquisidores… Esqueceram quem são os Inquisidores? — exclamou Kenshi.
Todos ficaram de cabeça baixa, quietos depois dessa fala. Alguns olhares foram lançados para mim e Satoshi, e outros para Kenshi. O silêncio ecoou naquele local.
— Você age exatamente como eles. — disparou Satoshi, como uma sentença para Kenshi.

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