— Você mencionou o eclipse, não é Kenshi? — perguntou Kafka ao relembrar a informação que o jovem havia contado anteriormente.

    — Sim, era eclipse no momento em que nos encontramos. — Kenshi respondeu, ligeiramente confuso com a pergunta.

    No espaço vazio que era o salão branco se materializou um quadro e uma mesa, e o local se reformulou para reorganizar as cadeiras em frente a lousa que surgiu. Kafka manifestou um óculos em seu rosto e pegou uma caneta em mãos quando ficou em frente ao quadro.

    Por que ela está fantasiada de professora…? Essa mulher é um pouco estranha…

    — Vamos iniciar o plano. Eu preciso explicar para vocês algumas teorias minhas e traçar uma rota para encontrar Amaterasu. — disse Kafka que gesticulava e balançava a caneta em suas mãos.

    — Certo, professora Kafka, haha. — disse Sora com um leve tom de deboche.

    — Sentem-se, rápido. Vamos agilizar! — disse Kafka, ansiosa e apressada.

    Todos nós puxamos as cadeiras e nos sentamos, acomodados e preparados para ouvir o que Kafka tinha para falar.

    — Amaterasu é o sol, e obviamente o eclipse tem alguma ligação com ela. E o disco solar pode ser uma chave para algo no Deserto dos Cem Espíritos. — iniciou Kafka.

    Como assim “é o sol”? A líder deles é literalmente o astro…?

    — Com licença, Kafka! Gostaria de entender melhor isso… Como assim Amaterasu “é o sol”? Eu não entendo nada sobre esse mundo ainda. Satoshi não teve tempo de explicar… — falei após levantar a mão e ter a permissão para falar concedida por Kafka.

    Kafka suspirou e então tirou a tampa da caneta, virou de costas e passou a escrever no quadro branco em nossa frente.

    — Nós, somos principados. — iniciou Kafka enquanto escrevia a palavra no quadro branco com sua caneta preta.

    — No início de tudo, Izanami e Izanagi, os deuses primordiais, tiveram um filho chamado Kagutsuchi. Izanagi teve desgosto de seu filho, pois o mesmo nasceu “impuro”, com sua aparência deformada e uma energia revolta dentro de si, e por isso matou seu filho e o despedaçou. Izanami, a mãe, derramou lágrimas sobre os restos de seu filho, e com essas partes encantadas nasceram os primeiros do nosso povo. — explicou enquanto desenhava no quadro branco para ilustrar a história que contava.

    — Amaterasu é filha de Izanagi apenas, e representa o sol, e nós, os principados, somos os descendentes de Kagutsuchi. Depois, Izanami foi até o submundo na tentativa de ver o espírito morto de seu filho, porém em sua estadia comeu um fruto do reino e por isso não pôde mais sair. Izanagi se assustou com a transformação da aparência de sua esposa, e a abandonou no submundo… É tudo o que sabemos.

    Demorei alguns minutos para assimilar as informações e me mantive em silêncio durante esse tempo de absorção. Era coisa demais para minha cabeça de girino…

    — Faltam alguns dias para o eclipse mais perto da data em que estamos. Nós precisamos fazer um teste, precisamos buscar Amaterasu. — disse Kafka.

    O assunto prosseguiu por algum tempo, e um plano foi traçado. Eu estava decidido e eles também. No próximo eclipse devemos nos encontrar no deserto… Vamos em busca da filha de deus, Amaterasu.

    Retornei para casa depois de bastante tempo longe. Eu precisava descansar um pouco… Essas últimas semanas foram bem cansativas. Minha cabeça estava um furacão, e uma boa noite de sono resolveria a minha situação.

    ——————

    Estava no prédio dos Inquisidores, em mais um dia de trabalho. Casos esporádicos ocorriam, porém nada demais, até que Koda Ishikawa vem até minha mesa.

    — Yuri me pediu para te chamar. Me juntei a investigação da invasão do armazém de arroz. Yuri e Aiko se intrigaram e convenceram Yüjin a realizar uma reunião. Estão nos esperando. — Koda falou rapidamente.

    Segui Koda até a sala de reuniões, e sua presença permanecia sombria como sempre. Esse cara é muito estranho…

    Satoshi estava quieto, talvez estivesse raciocinando sobre o plano e todo o ocorrido dentro do espaço mental mais cedo.

    De repente, ouvi sua voz ecoar em minha mente:

    — O espaço mental no broche da pétala faz você entrar em transe. Diferente da nossa telepatia, o broche te deixa totalmente imerso e imóvel. Tome cuidado ao entrar lá, você não pode ser descoberto, entendeu?

    — Claro… Principalmente agora que o esquadrão está mais atento. Que saco! — respondi Satoshi.

    — A situação é apertada agora, mas apenas seja cauteloso, vamos conseguir sair dessa… — disse Satoshi.

    Assenti e segui a caminhada pelos corredores do prédio até que chegamos na sala de reuniões onde todo o esquadrão estava reunido.

    — Que bom que chegou, Kenji. Podemos começar? — disse Yuri enquanto arrumava um óculos que utilizava em seu rosto.

    — Claro… — respondi nervoso enquanto me sentava em uma cadeira da sala.

    É sério? Já chega de palestrinhas, eu não aguento mais! Eu preciso de uma folga de dois dias, apenas dois dias… Preciso ver isso com o Yüjin.

    — Essa flor, essa rosa branca surgiu em alguns casos antigos dos Inquisidores, porém nunca houve uma ligação, suspeitos nem conclusão. — disse Yuri Suzuki que mostrava slides no quadro para demostrar suas explicações.

    — Em nosso último caso, o mesmo símbolo foi desenhado, dessa vez com arroz, e alguns grãos eram diferentes dos outros, mas por qual motivo…?

    — Cinco, foram cinco grãos de quinoa encontrados em meio ao desenho formado por arroz. Cinco grãos e cinco casos da flor branca.

    A velocidade com que Yuri assimilava as informações era assustadora, e isso fazia com que minha situação se tornasse mais perigosa. Não sei o quão longe ele pode chegar…

    — Com toda certeza uma grande organização está por trás desses casos, e eu acredito que eles preparam algo maior e provavelmente perigoso presumindo que seja um grupo formado por impuros. Foram cinco casos nos últimos cinco anos, um em cada ano, e talvez isso seja uma preparação…

    Eu também não sei o motivo de tudo isso… Devido as datas, Amaterasu não havia desaparecido ainda, então não faz sentido que seja por seu desaparecimento, ela ainda estava junto deles. Será que apenas queriam chamar a atenção ou era algo maior? Eu preciso perguntar a eles… Se eu não sei, duvido que Yuri alcance um palpite próximo.

    — Por que uma organização, e não um indivíduo sozinho? — perguntei.

    Era essencial desviar meus amigos do caminho. Precisava que eles se mantivessem bem longe da realidade das coisas. Me desculpem… Mas preciso retribuir um amigo importante.

    — É… Você tem um bom ponto, porém o pequeno detalhe do número cinco estar presente em todos os casos chama a minha atenção. Acho improvável pensar que seja apenas um alvo sozinho que seja obcecado no número. É mais improvável que um grupo criminoso, dado a quantidade de organizações secretas e grupos criminosos que vem surgindo nos últimos tempos. — respondeu Yuri após raciocinar por alguns instantes.

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