Capítulo 1: Um novo mundo
O sangue quente escorria pelo meu peito. Meu corpo tremia. O ar queimava dentro dos pulmões, como se cada respiração fosse um último esforço desesperado. Eu não podia mais me mover. Meus membros pesavam como chumbo. O mundo ao meu redor se desfazia em sombras turvas.
Passos ecoavam ao longe, se misturando ao gosto metálico do sangue na minha boca.
Isso é um sonho? Ou finalmente acabou?
Meu corpo foi engolido pela escuridão. A dor se dissolveu no vazio. Antes que tudo se apagasse, uma voz cortou a escuridão — fria, impiedosa, quase divertida.
『Parabéns. Você falhou.』
『Jogo encerrado.』
—————
Algumas pessoas nascem com tudo: uma vida segura, dinheiro, conforto. Outros… simplesmente nascem para perder. Eu sempre soube qual era o meu destino.
Mas nunca imaginei que perder seria apenas o começo.
— Meu nome é Kairu Takeshi.
Naquele dia, eu estava pronto para começar em uma grande empresa. Achei que finalmente tinha conquistado algo importante — que meu esforço valeria a pena e que, enfim, meu bolso ia sentir a diferença. Mas a realidade me atingiu como um soco: mal dava pra bancar uma refeição decente.
— Eu, Kairu Takeshi, prometo trabalhar duro para a empresa!
— Parabéns, Kairu Takeshi. Bem-vindo à equipe.
Naquele instante, eu ainda acreditava que meu chefe era um cara bacana e que meus colegas seriam gente boa. Grande ilusão. Passei anos da minha vida estudando para chegar até ali, convicto de que tinha feito a escolha certa.
— Obrigado, chefe! Farei o meu melhor.
Eu realmente tinha estudado muito. Tudo para conquistar um emprego que me desse estabilidade, que me permitisse seguir em frente sem precisar me preocupar com o básico. No dia em que entrei naquela empresa, acreditei que tinha vencido na vida.
— Mas, chefe… qual vai ser minha função?
— Você vai cuidar da papelada.
Dois anos se passaram. Aos 19 anos, eu havia conseguido um apartamento, mas não podia afirmar que estava bem. No trabalho, meus colegas sequer se importavam em socializar comigo. Para piorar, descobri que meu chefe me enxergava apenas como um peão descartável.
— Eu prometo trabalhar duro para a empresa.
Essas palavras, que eu mesmo havia dito no início, tornaram-se uma corrente em meu pescoço. Eu poderia sair dali? Em teoria, sim. Mas, sem dinheiro para pagar comida e aluguel, a verdade era que estava preso.
— Parabéns, Kairu Takeshi. Bem-vindo à equipe.
Engoli insultos. Engoli empurrões nos corredores. Fingi que não ouvia as risadas às minhas costas.
— Takeshi, trabalha mais.
Era Akira. Sempre ele. Eu odiava aquele cara.
— Você é um completo incompetente, Takeshi — ele ria, inclinando-se sobre minha mesa. — Ainda me pergunto como conseguiu esse emprego.
Akira já havia me batido mais de uma vez. Eu queria muito socar a cara dele, mas sabia que isso não mudaria nada. Às vezes, eu aparecia na empresa com marcas roxas visíveis por causa dele, e ninguém se importava. Ninguém nunca fazia nada. No fim das contas, usar e pisar nos outros já havia se tornado algo normal naquela sociedade.
Kairu Takeshi abriu os olhos devagar. O teto do quarto surgiu diante dele, e o peso do sonho ainda lhe pressionava a mente.
— De novo esse sonho… — murmurou, fechando os olhos por um instante antes de finalmente se levantar.
Sonho com isso repetidamente. Um pesadelo. Mas, diferente dos comuns, esse não desaparece ao acordar.
Takeshi se levantou da cama, esfregando os olhos pesados pela exaustão do trabalho.
Seu quarto era pequeno e simples. À esquerda, a cama de qualidade duvidosa que, embora desconfortável, ainda cumpria sua função. À direita, uma mesa de madeira com uma cadeira gasta, onde fazia anotações sobre o serviço, tentando manter alguma ordem em meio ao caos.
Seu expediente começava às 11h e se arrastava até as 2h da manhã. Nos dias piores, ainda se estendia com horas extras. O cansaço acumulado pesava como chumbo em cada gesto.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, como se pudesse afastar o desânimo.
— Preciso me arrumar… se eu me atrasar, vai ser um inferno.
Takeshi tinha um rosto angular e bem definido, com maçãs do rosto proeminentes e um olhar intenso. Seus olhos escuros carregavam uma introspecção enigmática, como se sempre estivesse avaliando algo além da superfície.
O cabelo negro, liso e levemente ondulado, caía sobre a testa de maneira natural — elegante, ainda que ele jamais tivesse se preocupado em arrumá-lo.
Bocejou, alongando os ombros tensos, e decidiu tomar um banho. Talvez a água fria fosse suficiente para afastar a sonolência que ainda o dominava.
O banheiro ficava no canto direito do pequeno corredor do apartamento. O lugar era apertado e sem luxo algum, mas servia. A porta de madeira desgastada rangeu um pouco quando ele a abriu.
Depois do banho, vestiu seu terno escuro. Simples, mas bem alinhado. Ajustou a gravata sem muita paciência, já sabendo que, na empresa, aquilo seria só mais um motivo para zombarem dele.
Os funcionários de classe alta usavam ternos feitos com tecidos sofisticados, perfeitamente ajustados aos corpos. O dele? Barato, de segunda mão, fácil de reconhecer à primeira vista.
Respirou fundo.
— Nossa… essa é a roupa que eu mais gosto. Que pena que ninguém na empresa gosta dela… — murmurou, a voz carregada de tristeza. Seu olhar caiu para o chão, enquanto as sobrancelhas se franziram.
Não era apenas uma roupa. Além de bela, carregava um significado profundo. Fora um presente de seu tio paterno, a única lembrança concreta que lhe restara dele.
Quando recebeu a notícia de sua morte, vítima de problemas cardíacos, chorou como nunca antes. Até hoje, aquela dor permanecia silenciosa dentro de si, latejando como uma ferida que o tempo se recusava a cicatrizar.
Ele se aproximou do pequeno espelho no apartamento e se observou por um instante.
— Pronto… Agora posso sair — forçou um sorriso seco, como se quisesse convencer a si mesmo, mas o esforço se perdeu no vazio da expressão.
Respirou fundo e abriu a porta do apartamento.
Enquanto caminhava para o trabalho, observava as ruas cheias de vida. Crianças brincando, adolescentes conversando animados, adultos apressados indo para seus afazeres, até mesmo alguns animais de rua pareciam estar curtindo o dia melhor do que ele.
“Como eu queria ter uma vida normal… Onde eu não precisasse me preocupar com dívidas.”
Ao passar por uma mãe e seu filho, Takeshi ouviu o menino perguntar, empolgado:
— Mamãe, mamãe! A senhora vai comprar aquele brinquedo pra mim?
— Claro, meu amor — respondeu a mãe com um sorriso caloroso.
A cena poderia parecer banal para qualquer um, mas para Takeshi foi como uma fisgada no peito. Em um instante, lembrou-se da dívida de 100.000 ienes que carregava. Sempre dizia a si mesmo que conseguiria pagar, mas com um salário tão baixo, isso nunca acontecia. O peso só aumentava, como uma sombra que crescia a cada dia.
Ele suspirou, acelerando o passo.
Chegou em frente à empresa. O lugar, à primeira vista, era impressionante: cinco altares cercavam o prédio, e flores vermelhas enfeitavam a entrada, exalando um aroma suave que parecia acolher quem passava por ali. Do lado de fora, transmitia sofisticação e elegância. Mas por dentro… a realidade era bem diferente.
— Cheguei… não demorou tanto. Nem queria estar aqui, mas preciso desse trabalho pra sobreviver… — murmurou, coçando a cabeça, já sentindo o peso do dia antes mesmo de começar.
No início, sua função parecia simples: cuidar de documentos e contratos. Imaginava que seria um trabalho monótono, mas relativamente tranquilo. Porém, com o passar dos meses, seu chefe começou a transferir outras responsabilidades para ele. Primeiro, pequenas tarefas. Depois, cada vez mais: varrer o chão, cuidar das flores… até limpar o banheiro.
“Será que hoje vai ser um dia tranquilo?” pensou, enquanto seu estômago roncava baixinho.
Quase sempre era cansativo demais. Quase sempre passava fome. Quase nunca tinha paz.
Mas ele não sabia que aquele dia… seria diferente.
A fachada de vidro refletia a luz do sol com um brilho frio, quase zombando da minha miséria. Era irônico—um lugar tão luxuoso por fora escondia um inferno por dentro.
Meus pés hesitaram por um segundo antes de atravessar as portas automáticas. Elas se abriram com um chiado mecânico, como se estivessem me engolindo, sugando qualquer resquício de humanidade que eu ainda carregava. Lá dentro, o ar era abafado e pesado, preenchido pelo som incessante de teclas sendo pressionadas e pelo vazio dos olhares ao redor.
Respirei fundo e segui para meu posto de trabalho.
— O que será o trabalho de hoje? — murmurou, já esperando o pior.
Minha mesa era simples, de madeira, acompanhada por uma cadeira azul e um computador. Pelo menos tinha uma janela ao lado, que deixava a luz natural entrar e me permitia olhar para fora quando precisava escapar, nem que fosse por alguns segundos.
Sentei-me e esperei.
Não demorou muito até alguém aparecer.
— Olá, Takeshi — disse a voz conhecida, enquanto a garrafa tilintava discretamente em sua mão.
— Olá — respondi, sem ânimo, a palavra escorrendo como algo que preferia engolir a soltar.
Não queria ser educado. Mas sabia que precisava. A resposta polida saiu como uma obrigação, enquanto, na minha mente, ecoavam as verdadeiras versões que eu gostaria de cuspir:
“Olá, pessoa de merda.”
“Olá, espero que você queime no inferno.”
“O que foi? De novo precisa de alguém para fazer o que o filhinho de mamãe não consegue?”
Só de imaginar, quase ri.
O dono daquela voz era Akira Mika, 25 anos, um dos funcionários mais populares — e mais bem pagos — da empresa.
Com seus dois metros de altura e físico atlético, Akira fazia questão de deixar claro que vivia no topo da cadeia. Sua postura ereta e impecável sustentava a imagem de alguém inabalável. O rosto angular, os cabelos escuros perfeitamente alinhados e os olhos profundos — sempre com aquele brilho confiante que beirava a arrogância — compunham a figura de um predador elegante.
E, para minha desgraça, ele parecia ter feito da minha vida seu passatempo favorito.
Akira vestia-se como se fosse desfilar todos os dias. Ternos sob medida, de tecidos finos e cortes modernos, em tons de preto, azul-marinho ou cinza. Camisas de colarinho alinhado e gravatas que exalavam elegância completavam seu arsenal visual. Cada detalhe de sua aparência era calculado para transmitir profissionalismo e poder absoluto.
Mas, por trás dessa fachada refinada, havia pura crueldade.
Sem aviso, Akira agarrou a cabeça de Takeshi e a esmagou contra a mesa. O estrondo seco reverberou pelo ambiente, e a visão de Takeshi oscilou por um instante. Uma dor latejante se espalhou pela testa, enquanto a madeira fria sob sua pele parecia zombar de sua impotência.
O choque percorreu seu crânio, tornando a respiração irregular.
— Ai… isso dói… — murmurou, num fio de voz que soava mais como súplica do que reclamação.
Para Akira, aquela humilhação era quase um passatempo.
“Ele é mesmo um fracasso. Nem sei por que ainda está aqui.”
Um sorriso torto surgiu em seu rosto, os dentes reluzindo como se brilhassem com malícia.
— Você precisa ser forte, Takeshi. Não um peso morto — a risada que se seguiu carregava escárnio, como se a derrota do outro fosse seu maior entretenimento.
Ele retirou a mão da cabeça do colega, não por compaixão, mas para saborear mais um instante daquela covardia silenciosa. No fundo, Akira sabia que Takeshi não reagiria. Nunca reagia. Para todos na empresa, ele não passava de alguém fraco demais até para se defender.
Takeshi franziu as sobrancelhas e cerrou os dentes, tentando conter a raiva que fervia dentro dele.
— O que você quer? — conseguiu perguntar, apesar do nó apertando sua garganta.
A resposta veio sem pressa. Akira o observava com as sobrancelhas abaixadas, seu olhar carregando um desprezo quase entediado.
“É tão fácil deixá-lo com medo. Nem precisei me esforçar.”
Então, com um gesto despreocupado, jogou uma pilha de documentos sobre a mesa.
— Aqui estão mais alguns papéis para você.
Takeshi olhou para os documentos, seus olhos se arregalando. Pelo menos 200 folhas.
— Espera… você está brincando, não está? — pegou os papéis, sua mente se recusando a acreditar no que via.
Akira sorriu ainda mais.
— Sabe, Takeshi, estou extremamente cansado… então faça todo o trabalho para mim.
A pilha de papéis parecia mais pesada que o normal.
Takeshi trabalhava duro, mas nunca era o suficiente. E, para piorar, ainda tinha que lidar com Akira.
Takeshi suspirou, tentando se convencer de que o melhor era ceder.
“Melhor aceitar logo. Quem sabe ele me deixa em paz…”
Ele sempre xingava Akira em silêncio, mas nunca tinha coragem de dizer nada em voz alta. O medo o segurava como correntes invisíveis.
Endireitou a postura e suavizou a expressão.
— Tudo bem, eu farei — disse, soltando um longo suspiro.
Pegou os documentos e começou a trabalhar. A pilha era enorme. Ele sabia que levaria horas para concluir tudo.
“Eu me esforço tanto, mas parece que meu trabalho nunca é reconhecido pela empresa… Espero ao menos conseguir pagar uma refeição hoje. Trabalhar aqui é realmente desgastante. Ter que manter a formalidade com todos o tempo inteiro… é exaustivo.”
Essa era uma das coisas que ele mais irritava: a necessidade de sempre manter uma postura educada. Nunca podia expressar como queria. Tudo tinha que ser calculado, polido.
Do outro lado da sala, Akira observava por um instante antes de sair.
“Melhor deixar ele quieto, assim trabalha mais focado… Mas continua um lixo, como sempre.”
Havia algo estranho em Akira. Seu comportamento era imprevisível. Às vezes, parecia furioso com Takeshi, e, em outros momentos, algo diferente surgia em sua mente.
Takeshi, por outro lado, sentia-se vazio. Toda a sua vida havia sido assim—sempre usado por outras pessoas. Ele não passava de um fantoche para os outros manipularem.
Seus olhos tremiam de raiva.
— Parece que nunca vou terminar esses documentos! Que droga! — exclamou, apertando as folhas entre os dedos, frustrado.
Não era a primeira vez que Takeshi sentia aquela sensação de ser usado. Seus pais, que também o haviam explorado, o deixaram com a crença de que viver sozinho poderia mudar sua vida e, finalmente, afastá-lo da exploração alheia.
“Já está ficando tarde… não sei se vou conseguir uma refeição hoje…” pensou, olhando pela janela e notando que o sol já estava baixo, fraco.
Enquanto pensava sobre sua próxima refeição, seus olhos se fixaram em um documento roxo, de tecido grosso.
“Espera, por que um documento roxo? O que será que está escrito aqui?” se questionou, curioso.
Takeshi virou o papel com lentidão, e um arrepio percorreu sua espinha no instante em que o tocou. O suor frio escorria em sua pele, refletindo a dúvida que o corroía: deveria ou não abrir aquele documento? A cada segundo, a tensão crescia, como se estivesse prestes a desvendar algo que mudaria tudo.
A textura do papel não era comum. Pesado demais, áspero ao toque, parecia carregar uma intenção própria, como se não tivesse sido feito apenas para ser papel. Quando o desdobrou, seus olhos se depararam com uma caligrafia simétrica e elegante, tão precisa que quase parecia viva. Havia nela uma energia estranha, pulsante, que escapava à sua compreensão.
“O que é isso?” pensou, sentindo o suor escorrer por suas têmporas.
[____________]
2022/04/09
Os desejos movem as pessoas.
Riqueza, poder, autoridade.
Todos lutam por aquilo que é precioso para eles.
Mas sonhos e desejos também podem ser a ruína.
Em um mundo diferente, a sobrevivência é a única lei.
Lutar. Manipular. Trair.
E, acima de tudo…
Esconder-se será impossível.
Você acha que está preparado?
Então me diga…
Qual é o seu desejo?
[____________]
Takeshi olhou para o papel por um momento, depois soltou uma gargalhada alta e inesperada.
— Hahahahaha! — riu, sem conseguir se controlar.
“Sério, será que alguém achou que estávamos lendo poemas aqui?”
Ele amassou o documento e o atirou na lixeira, mas, no instante seguinte, um arrepio o percorreu — como se tivesse acabado de cometer um erro.
Takeshi foi até a janela. Pássaros voavam livres, flores pintavam o horizonte. A cena era bela demais para alguém preso em correntes invisíveis.
“Se ao menos existisse um novo mundo… onde eu pudesse recomeçar.”
Takeshi permaneceu alguns minutos contemplando a paisagem, deixando-se envolver pelo silêncio que o cercava. Quando decidiu procurar algo para comer, seguiu em direção a um beco afastado da empresa.
O local era iluminado apenas por uma lâmpada solitária, cuja luz intensa rasgava a escuridão ao redor. Apesar do isolamento, Takeshi não se sentia ameaçado; havia, naquele silêncio, uma estranha sensação de conforto.
Ao chegar à loja, ele abriu a porta e foi recebido por uma voz simpática, que quebrou o silêncio do ambiente.
— Olá novamente, Takeshi.
O local era simples, com diversas mesas dispostas de maneira ordenada, criando um ambiente funcional. Embora estivesse quase vazio, exceto por ele e o homem que parecia ser o proprietário, o espaço tinha um design acolhedor e agradável. As cadeiras ergonômicas complementavam o espaço, enquanto a iluminação suave contribuía para uma atmosfera tranquila.
As paredes de tom neutro transmitiam serenidade, tornando o ambiente ideal para uma pausa.
Koda Iori, com seu sorriso caloroso, cumprimentou Takeshi como se recebesse um velho conhecido.
Takeshi retribuiu o gesto, mas seu estômago, impaciente, se fez ouvir em um ronco alto e constrangedor.
— Parece que alguém está realmente precisando de uma boa refeição — disse Koda, rindo baixo, enquanto já se aproximava do balcão.
O aroma que começava a se espalhar pelo ar só confirmava que Takeshi havia feito a escolha certa ao entrar ali.
— Olá, Koda — disse, sua voz um pouco abafada pela necessidade de comer.
Koda, aos 23 anos, era o dono daquele pequeno restaurante. O lugar não recebia muitos clientes, mas sua comida tinha um sabor inesquecível. Sempre que Takeshi não tinha como pagar, Koda lhe oferecia uma refeição de graça, sem nunca cobrar nada em troca.
De aparência simples e simpatia natural, tinha um rosto oval, olhos calorosos e um sorriso tranquilo. O cabelo castanho escuro, um pouco desgrenhado, combinava com as roupas casuais — camisa de algodão e calças confortáveis — que refletiam bem sua natureza modesta e acolhedora.
Ele mexia a colher na panela com destreza, preparando o ramen para Takeshi.
— Hoje estou preparando um ramen — disse Koda, com um sorriso.
Takeshi observava a cena, sentindo o aroma reconfortante da comida se espalhar pelo ambiente.
Koda, sempre atento, olhou para Takeshi e, com um sorriso generoso, disse:
— Não precisa pagar nada hoje, Kairu Takeshi.
Takeshi ficou atônito com o gesto de Koda. Mais uma vez, ele receberia a refeição gratuitamente. Embora desejasse poder pagar por sua comida, a falta de dinheiro o impedia, e ele aceitou o presente com gratidão.
— Muito obrigado, Koda — disse Takeshi, inclinando a cabeça em sinal de gratidão.
Koda sorriu de forma calorosa.
— Fico feliz que vá comer. Espero que goste da minha comida.
Takeshi o observou em silêncio, com um olhar pensativo.
“Deve ser difícil para ele não ter os pais por perto… e pela aparência, parece que também não anda se alimentando direito.”
Quando o prato chegou, um aroma irresistível tomou o ar. Ao dar a primeira garfada, Takeshi sentiu um sabor tão intenso que parecia ser a primeira vez que provava algo tão delicioso. Era como estar no paraíso.
Ele devorava a refeição com entusiasmo, cada pedaço trazendo aquela sensação única que só a comida de Koda tinha. Para Takeshi, aquele sabor era digno de cinco estrelas — ou mais. E, no fundo, ele via em Koda algo além de um cozinheiro: era como a figura de um pai que nunca tivera.
A tigela fumegante de ramen parecia um milagre. O caldo rico em especiarias enchia o ar, trazendo um alívio que quase fez Takeshi chorar.
— Está maravilhoso, você realmente sabe como preparar isso — ele continuou a comer, sem conseguir se conter.
Koda apenas sorriu, satisfeito ao vê-lo comer tão rápido.
— Que bom que gostou.
Takeshi sentiu uma onda de gratidão por Koda, pensando.
“Koda é uma pessoa muito simpática e legal. Desejo, com todo meu coração, poder retribuir um dia.”
Ele terminou a refeição e sentiu-se satisfeito, grato pela generosidade de Koda.
A barriga cheia e o coração leve. Por um instante, deixou de lado a lembrança incômoda do estranho documento roxo entregue a Akira.
— Muito obrigado pela comida — disse, encostando o prato vazio e passando a mão sobre a barriga, satisfeito.
O homem sorriu satisfeito ao ver a gratidão de Takeshi. Após a refeição, Koda pegou o prato e o levou até o local onde limpava os utensílios.
“Takeshi se esforça tanto às vezes. Já até dormiu aqui… mas ele é um bom garoto.”
“Koda Iori é a pessoa em quem mais confio. Se o mundo estivesse à beira da destruição, ele seria a primeira pessoa em quem eu confiaria.”
Depois de terminar a refeição, Takeshi se levantou e disse que precisava voltar ao trabalho.
Saiu do restaurante e seguiu para a empresa. Quando chegou, encontrou o prédio vazio, exceto por Akira, que estava sozinho.
O silêncio no ambiente fez Takeshi suar frio, suas pernas tremiam e seus olhos estavam agitados, tentando não mostrar nervosismo.
Akira, ao ouvir os passos, virou-se lentamente.
— Só você, Takeshi — a voz era fria, quase desdenhosa.
Ele se aproximou com passos pesados, cheios de fúria, e agarrou Takeshi pela camisa com tanta força que quase a rasgou.
“Por que ele age assim? Eu não entendo… Por que isso está acontecendo comigo? Eu não fiz nada de errado agora…”
Takeshi tremia, sua camisa apertada na mão de Akira, sem que ele parecesse querer soltar.
Akira olhou para Takeshi, rindo da situação. Seus olhos brilhavam com uma satisfação cruel.
— Você é realmente fraco… está até tremendo de medo diante de mim — disse ele, divertindo-se com o pavor estampado em Takeshi.
“Eu desejo um mundo onde pudesse ser alguém diferente… onde eu pudesse, enfim, ser eu mesmo.”
Naquele instante, o coração de Takeshi ardia em anseio por um novo mundo — um lugar onde pudesse recomeçar, longe das correntes invisíveis que lhe roubavam a dignidade, longe das pessoas que se alimentavam de sua dor.
Akira estava prestes a desferir o golpe com toda a sua fúria contra Takeshi, quando algo inesperado ocorreu. De súbito, um sistema azul surgiu diante deles, veloz e imponente, interrompendo o instante no exato limite.
『A simulação do novo mundo foi concluída.』
『Humanos de todos os lugares,』
『Isso não é uma brincadeira.』
Takeshi sentiu seu corpo tremer, as palavras piscando diante dele como um aviso do destino. Ele tentou respirar fundo, mas as palavras seguintes o deixaram sem ar.
『Este é agora o novo mundo.』
『Vamos fazer vocês provarem que são capazes de viver aqui.』
『Iniciando a primeira tarefa.』
O ambiente congelou. O ar foi sugado da sala, e uma luz azul se espalhou, devorando tudo ao redor. Letras flutuaram no espaço, cintilando como estrelas — mas seu conteúdo era mais aterrador que qualquer pesadelo que Takeshi já ousara imaginar
『Tarefa Principal #1 – Prove que você pode viver.』
Dificuldade: F.
Objetivo: Mate um ser humano ou mais.
Prazo: 30 minutos.
Recompensa: 500 moedas.
Falha: Morte.
Enquanto a mensagem azul se dissipava, um silêncio mortal tomou conta da sala. Akira me fitava, não com desprezo desta vez, mas com algo que eu não conseguia decifrar. Seus olhos permaneciam presos aos meus, como se buscassem compreender o impossível que acabara de acontecer.
Meu coração batia em descompasso. Uma única pergunta ecoava dentro de mim: “Será que isso é real?”
Naquele instante, Kairu Takeshi sentiu um temor profundo — não apenas pelo momento, mas pela certeza inquietante de que algo maior se aproximava. Não sabia o que era, mas podia pressentir: sua vida estava prestes a mudar de um modo que jamais ousara imaginar.
Enquanto o ar na sala se tornava denso e sufocante, algo extraordinário acontecia do lado de fora. No céu noturno, dez estrelas surgiram de repente, cintilando com um brilho que ultrapassava qualquer fenômeno natural.
Não estavam ali apenas para iluminar. Pairavam, imóveis, como se observassem em silêncio. Era um olhar distante, mas atento, acompanhando cada instante que se desenrolava entre Takeshi e Akira, ainda alheios àquelas presenças.
Cada estrela pulsava como se pressentisse o peso do momento. Não eram apenas luzes no céu — eram testemunhas de algo que estava prestes a marcar o destino.
O que acontecerá com Takeshi agora? O que significam as estrelas no céu? As respostas, provavelmente, surgiriam mais tarde… ou não.
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