Os olhos flutuantes começaram a orbitar ao redor do mascarado, acelerando a cada segundo. O movimento era caótico e imprevisível — como se cada olho tivesse vontade própria, analisando Takeshi de todos os ângulos possíveis.

    O ar ficou mais pesado, e uma tensão sufocante tomou conta do lugar. A água ao redor tremulava, respingando em direções aleatórias, enquanto as folhas caídas eram arrastadas pela corrente invisível daquela energia.

    Takeshi respirou fundo, ajustando a postura. Seus dedos apertaram o cabo da espada com firmeza, sentindo o metal frio e sólido contra a palma da mão. Seu olhar estava afiado, focado.

    — Já vai apelar de cara, é? — ele provocou, um leve sorriso desafiador surgindo em seu rosto.

    O mascarado não respondeu.

    Os olhos giravam mais rápido, o som de algo cortando o vento preenchia o silêncio.

    Era impossível prever o próximo movimento. Cada olhar flutuante parecia captar um fragmento da alma de Takeshi, estudando suas fraquezas, seus medos.

    O ambiente parecia prestes a explodir.

    Takeshi sentiu o coração acelerar. Adrenalina pura correndo em suas veias.

     Mas ele não podia recuar. Não agora.

    O mascarado finalmente deu um passo à frente. Os olhos pararam abruptamente, todos mirando diretamente em Takeshi.

    Mark observava tudo com tensão crescente. O suor escorria por seu rosto enquanto segurava Layos.

    A ideia de ver Takeshi morrer diante dele fazia seu sangue ferver. Por um instante, quase soltou Layos para correr em auxílio de seu amigo, mas Takeshi fez um sinal rápido com a mão — um gesto firme para que ele ficasse onde estava.

    O mascarado, com seu rosto desfigurado e aquela fúria incontrolável, focou Takeshi com um de seus olhos flutuantes. O olho à esquerda brilhou intensamente, um tom vermelho profundo que parecia pulsar.

    Uma rajada de laser foi disparada.

    O feixe cortou o ar com um som estridente, carregado de pura destruição. O calor irradiado fez o ar vibrar, e o chão onde Takeshi estava segundos atrás explodiu em fragmentos queimados.

    Mas Takeshi reagiu no último instante. Pulou com agilidade, o corpo girando no ar enquanto o laser passava abaixo de seus pés. O rastro deixado pelo feixe era uma linha negra e fumegante — capaz de derreter qualquer coisa que tocasse.

    O coração de Mark acelerou, quase pulando pela garganta. Ele apertou os dentes, frustrado por não poder ajudar. Layos ainda estava inconsciente em seus braços, enquanto a luta diante dele parecia crescer em intensidade.

    Takeshi aterrissou com firmeza, a expressão séria, mas os olhos brilhando com a mesma determinação desafiadora de antes.

    Takeshi não hesitou. Sem dar tempo para o mascarado reagir, ele disparou em sua direção, os passos firmes reverberando pelo chão destruído. 

    O mascarado, percebendo a aproximação agressiva, rapidamente invocou suas correntes, que se entrelaçaram ao seu redor como um escudo vivo.

    Mas Takeshi já havia previsto aquilo. Com um impulso certeiro, saltou alto, o corpo girando no ar enquanto brandia a espada com precisão.

    A lâmina cortou o olho flutuante que havia disparado o laser.

    O impacto foi brutal — o olho despencou no chão, pulsando e se debatendo como um ser vivo. Um líquido viscoso e escarlate escorreu, tingindo a água ao redor de vermelho. A superfície antes calma agora parecia um lago de sangue perturbador.

    O mascarado ficou paralisado por um instante. Seu corpo tenso refletia a surpresa e a fúria crescente. O outro olho flutuante, agora agitado e temeroso, recuou para longe, mantendo uma distância segura de Takeshi.

    O silêncio momentâneo foi cortado apenas pelo som do olho dilacerado debatendo-se na água tingida de vermelho. Takeshi manteve a postura firme, olhos fixos no inimigo, enquanto o mascarado assimilava a perda.

    O olho restante, flutuando distante e inquieto, começou a brilhar intensamente antes de expelir uma torrente de lama densa com partículas verdes brilhantes. A substância caía como uma avalanche tóxica, prometendo destruir qualquer coisa em seu caminho.

    Takeshi viu o ataque e recuou rapidamente, escapando da lama pegajosa que se espalhou pelo chão, corroendo tudo o que tocava. Porém, naquele instante de distração, o mascarado aproveitou para lançar uma de suas correntes diretamente no abdômen de Takeshi.

    O impacto foi brutal. O golpe tirou o ar dos pulmões de Takeshi, que tropeçou para trás, a dor atravessando seu corpo como uma lâmina. Ele tossiu várias vezes, tentando recobrar o fôlego enquanto seu olhar se tornava pesado e focado. 

    Mark, observando tudo de longe, preparou-se para avançar, a raiva pulsando nas veias, mas Takeshi o impediu com um gesto firme.

    A espada de Takeshi caiu ao chão com um estrondo metálico, ressoando na água tingida de vermelho. Seu olhar mudou — firme e inabalável. 

    A corrente do mascarado veio novamente, veloz e certeira, mirando seu corpo vulnerável. Mas Takeshi não recuou.

    Num movimento calculado, ele desviou para a direita e agarrou a corrente com os dois braços. O peso era esmagador, os músculos de Takeshi tremiam sob a pressão, mas ele resistiu. Com um giro habilidoso, Takeshi enrolou a corrente ao redor do pescoço do mascarado, puxando com força.

    O mascarado começou a se debater, o ar escapando de seus pulmões. Seus dedos arranharam a corrente na tentativa desesperada de se libertar. O olho flutuante, percebendo o perigo iminente, se preparou para lançar mais uma rajada de lama corrosiva.

    Takeshi olhou diretamente para ele, os olhos afiados como lâminas, e disse com um sorriso de canto:

    — Vai mesmo arriscar matar seu próprio mestre? 

    O olho hesitou, os brilhos verdes oscilando como se processasse aquelas palavras. A tensão dominava o lugar — o mascarado sufocando, o olho flutuante vibrando em dúvida, e Takeshi mantendo a corrente firme, determinado a não ceder.

    Takeshi olhou rapidamente para Mark e gritou:

    — Agora, Mark! Acabe com o olho! 

    Mark pousou o corpo de Layos no chão com cuidado e, em um piscar de olhos, avançou. Sua lâmina cortou o ar com precisão cirúrgica, atravessando o olho flutuante ao meio. 

    O corte foi limpo, exato, e o olho se partiu em duas metades, caindo pesadamente no chão. A substância verde dentro dele se espalhou, evaporando rapidamente.

    O mascarado, vendo seu último recurso destruído, se debateu com ainda mais desespero, uma mistura de fúria e desespero queimando em seu olhar. Mas Takeshi manteve seu controle firme.

    Aproveitando a confusão do mascarado, Takeshi agarrou outra corrente caída ao lado e a enrolou com firmeza ao redor do corpo do inimigo. As correntes se apertaram, prendendo seus braços e pernas, imobilizando-o por completo.

    Só então Takeshi soltou a corrente do pescoço do mascarado, permitindo que ele respirasse. O mascarado arfou, tentando preencher os pulmões de ar, seu peito subindo e descendo em desespero, mas o aperto das correntes ao redor de seu corpo o mantinha preso como uma fera enjaulada.

    O campo de batalha, antes caótico, agora estava tomado por um silêncio tenso. As águas manchadas de vermelho e os fragmentos das correntes quebradas testemunhavam o confronto intenso. 

    Mark suspirou de alívio ao ver que Takeshi estava bem e havia conseguido vencer a luta. Sem perder tempo, ele se aproximou de Layos, que estava caído, e o colocou cuidadosamente nas costas. 

    Com passos rápidos, foi até Takeshi e perguntou:

    — E agora? O que você vai fazer?

    Takeshi pressionou a mão contra o abdômen, ainda sentindo o calor da pancada e o inchaço crescente. Respirando fundo, respondeu:

    — Agora você vai explicar o que está acontecendo aqui — ele apontou para o mascarado preso nas correntes.

    O mascarado, com um olhar surpreso, respondeu de forma arrogante e raivosa:

    — Eu não vou responder a um animal! Você merece a morte! — ele se debateu contra as correntes, tentando se libertar.

    O olhar de Takeshi se estreitou, a raiva evidente em seu rosto. Ele ergueu a corrente que havia usado antes e ameaçou:

    — Quer que eu coloque isso na sua garganta de novo? 

    O mascarado hesitou, o medo transparecendo em seus olhos. Sua voz tremeu enquanto recuava inutilmente:

    — N-não… não, eu não quero. 

    Takeshi mostrou um sorriso e respondeu:

    — Então vamos, você vai me responder agora. 

    O mascarado engoliu seco antes de responder:

    —… Ok. 

    Mark se aproximou de Takeshi, que manteve o olhar firme no mascarado e continuou:

    — Primeiro, quero saber por que vocês vendem pessoas ou as matam. Segundo, o que é exatamente o Complexo da Energia — ele fez uma breve pausa, o olhar sério e penetrante. — E terceiro, o que é esse ‘Deus’ de quem você falou. 

    O mascarado permaneceu em silêncio por alguns segundos, os dedos inquietos se movendo nervosamente. Finalmente, perguntou, a voz trêmula:

    — Você vai me deixar vivo, né? Se eu falar, você vai me deixar ir? — seu peito subia e descia rapidamente, o medo evidente.

    Takeshi se afastou um pouco, pegou sua espada caída no chão e, mantendo a distância, respondeu:

    — Bem… se você me responder, talvez eu deixe — o tom era calmo, mas havia uma tensão perceptível. Era claro que a raiva de Takeshi tornava improvável qualquer clemência.

    O mascarado lançou um olhar nervoso para Mark, que fez um gesto de ameaça com a mão, simulando um corte no pescoço. Um arrepio percorreu o mascarado, e sua voz tremeu ao falar:

    — E-Eh, eh, eh… A gente faz isso por causa das dívidas… 

    Takeshi estreitou os olhos, a curiosidade se acendendo.

    — Dívidas? Do que você tá falando? 

    O mascarado engoliu em seco, seus olhos inquietos.

    — Temos dívidas com a Segunda Camada. Eles exigem muito da gente… Se não cumprirmos, morremos — seu tom era desesperado, como se falar aquilo fosse um risco.

    A menção à Segunda Camada fez Takeshi franzir o cenho. Até aquele momento, não havia ouvido falar dela de forma tão direta. Um pedaço a mais daquele mundo sombrio começava a se revelar.

    — Segunda Camada, hein? E como eles são? 

    O mascarado parecia nervoso, hesitante.

    — A Camada Zero, onde estamos, é marcada pela pobreza. Somos tratados como lixo pelas outras camadas. Eles usam isso pra nos ferrar… — sua voz saía acelerada, as palavras tropeçando umas nas outras.

    Mark, que ouvia tudo com atenção, não conteve a frustração.

    — E por que vocês não matam eles, então? 

    O mascarado suou frio, os olhos arregalados.

    — Porque nas outras camadas existem pessoas muito mais fortes do que qualquer coisa daqui! Se vocês acham que isso aqui já é um inferno, nem imaginam o que tem lá! — ele se mexia inquieto, como um animal encurralado.

    O silêncio se instalou por um momento. Takeshi assimilava as informações enquanto olhava para o mascarado aprisionado. A perspectiva daquele mundo se expandia, mostrando o peso das camadas acima deles. O que mais estaria escondido ali?

    Um brilho repentino surgiu próximo a Mark, revelando a janela roxa flutuante. Uma voz ecoou de dentro dela, firme e serena:

    『Pode confiar nele. Ele está dizendo a verdade.』

    Mark olhou para a janela e assentiu.

    — Se ela falou, eu acredito. Ela já me ajudou muito. 

    Takeshi se aproximou, seu olhar sério focado no mascarado.

    — Certo. Continua falando — ele apontou para o mascarado, indicando que ele explicasse melhor.

    O mascarado se ajeitou no chão, claramente desconfortável, mas sem escolha.

    — O Complexo de Energia é… onde colocamos os corpos das pessoas — sua voz vacilou, mas ele continuou. — Todo mundo tem um núcleo de mana dentro de si. Esse núcleo contém uma energia valiosa. Chamamos isso de ‘energia pura’. Nós pegamos as pessoas, extraímos o núcleo delas e tentamos vender. Assim, conseguimos dinheiro para pagar nossas dívidas com a Segunda Camada. 

    Um silêncio pesado caiu sobre o lugar. As palavras dele carregavam um peso sombrio — o destino cruel de quem vivia na Camada Zero. Takeshi refletia sobre aquilo, seu olhar frio analisando o mascarado, enquanto Mark apertava os punhos, claramente incomodado.

    — Vocês vendem vidas para sobreviver… — Takeshi murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.

    Mark, ainda confuso, perguntou:

    — Eu ainda não entendi muito bem… o que exatamente é a mana? 

    Takeshi apontou para o próprio abdômen com o dedo indicador.

    — Imagina que a mana está aqui, no meu abdômen. Ela é a fonte de energia que nos permite usar magia. Sem mana, ninguém consegue lançar feitiços ou usar habilidades especiais. 

    O mascarado, ainda preso e com a respiração pesada, completou:

    — Além disso, a mana é o que mantém o corpo funcionando. Se alguém perde todo o núcleo de mana… morre. 

    A revelação deixou Takeshi surpreso. Ele não esperava que a mana fosse tão essencial — não apenas para lutar, mas para sobreviver.

    De repente, a janela azul de Takeshi brilhou, sua voz ecoando de forma quase casual:

    『Sem querer atrapalhar muito, mas nós, janelas, também precisamos de dinheiro. Quanto mais dinheiro temos, mais informações conseguimos acessar.』

    As peças começaram a se encaixar na mente de Takeshi. As janelas não eram apenas guias ou ferramentas; eram parte desse mundo complexo, com regras próprias. Fazia sentido agora por que cada janela sabia tanto e tinha informações diferentes — tudo tinha um preço.

    Ele respirou fundo, absorvendo tudo. Esse mundo, com suas camadas e mecânicas estranhas, lembrava um RPG, mas com nuances mais cruéis e imprevisíveis.

    As informações que ele conhecia de jogos poderiam ser úteis aqui, mas precisaria ter cuidado. Uma coisa era jogar, outra era sobreviver em um mundo real onde perder mana significava perder a vida.

    Takeshi olhou para a janela azul, intrigado, e perguntou:

    — Mas como vocês, sistemas, conseguem dinheiro? 

    A janela azul piscou algumas vezes antes de responder:

    『Ganhamos através das tarefas que vocês completam ou das doações dos modificadores.』

    Takeshi não perdeu tempo. A curiosidade era maior que qualquer cautela.

    — Modificadores? O que exatamente são eles? 

    Dessa vez, todas as janelas — azul, roxa e laranja — responderam em uníssono:

    『São os deuses. As doações deles são muito importantes.』

    As peças começaram a se encaixar na mente de Takeshi. Ele já suspeitava que os modificadores fossem algo além de simples entidades, mas confirmar que eram deuses tornava tudo mais intenso. Até agora, ele só conhecia o deus de Layos. Mas por que ele mesmo não tinha nenhuma conexão divina?

    Ajustando a espada ao lado do corpo, Takeshi insistiu:

    — E por que nenhum deus está mandando doações para vocês agora? 

    O sistema roxo e o laranja permaneceram em silêncio, como se não soubessem como responder. Mas a janela azul continuou:

    『Eles só poderão fazer isso a partir da quinta tarefa. Até lá, estamos limitados.』

    A resposta deixou um peso no ar. Takeshi entendeu que as tarefas do mundo não eram apenas divisões físicas, mas limites para o poder dos deuses. Ele precisaria avançar mais fundo nesse mundo para compreender completamente a influência dos modificadores.

    Ele respirou fundo, sentindo a tensão no ar. Esse mundo era mais complexo do que parecia — regras invisíveis guiavam tudo, e ele precisaria entender essas regras para sobreviver.

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