Takeshi cruzou os braços, observando atentamente o sistema à sua frente. Sua expressão era de pura incredulidade quando finalmente perguntou:

    — Como assim? Você morreu também? — sua boca se abriu em choque.

    A janela permaneceu em silêncio, sem emitir qualquer resposta. Takeshi continuou encarando-a, esperando alguma explicação, até que, por fim, uma resposta surgiu:

    『Isso não é possível. Disseram que, depois da morte, estaríamos livres… mas por que tudo ficou escuro?』

    O brilho da janela começou a piscar com mais frequência, cada vez mais intenso. Takeshi franziu a testa e fechou os olhos por reflexo quando pequenos raios começaram a surgir ao redor dela. 

    Então, de repente, a janela caiu no chão, enquanto relâmpagos brancos se espalhavam pelo ambiente.

    Um aperto inesperado tomou conta do peito de Takeshi. Ele abriu os olhos imediatamente e viu a cena à sua frente.

    “Espera… A restrição pega nelas também?!”

    Ele deu alguns passos para trás, mantendo distância enquanto os raios aumentavam de intensidade. O brilho oscilava de forma instável, até que, por fim, cessou. O sistema agora estava imóvel no chão, sem emitir qualquer som.

    Takeshi se aproximou com cautela, sua voz hesitante:

    — Você… ainda está aí?

    Por um momento, tudo permaneceu em silêncio. Então, uma pequena luz azul emergiu da janela.

    『Eh… Então era tudo mentira…』

    Takeshi não soube como reagir. Seu olhar permaneceu fixo na tela por alguns instantes, tentando compreender o que aquilo significava. Mas, sem respostas claras, ele desviou a atenção para o jovem desmaiado ao seu lado.

    Aproximando-se, encontrou uma espada frágil presa ao cinto do homem. Ele pegou a arma e caminhou até o velho caído, analisando-o por um instante. Então, sem perder tempo, arrastou seu corpo até o outro e os colocou lado a lado.

    Virando-se para a janela, perguntou:

    — Tem uma corda para mim?

    A princípio, não houve resposta. Mas logo a voz familiar surgiu novamente:

     『Sim.』

    Takeshi suspirou, ainda cheio de perguntas, mas preferiu não insistir.

    — Só preciso de uma. Que seja barata.

    Uma névoa azul surgiu no chão, materializando uma corda diante dele quase instantaneamente. 

    Ele a pegou e rapidamente amarrou os dois homens juntos, certificando-se de que não poderiam escapar.

    — Quanto custou? — perguntou, sem muito ânimo.

     『2 moedas.』

    Takeshi apenas assentiu, ainda perdido em seus próprios pensamentos.

    Takeshi caminhou até os túmulos, onde dezenas de corpos estavam espalhados. Com um olhar rápido, ele estimou que havia pelo menos trinta cadáveres ali — e sabia que sua visão normal não captava tudo. Havia mais.

    Ele respirou fundo, sentindo o peso daquela cena. Seu olhar se tornou mais sério quando falou:

    — Ei! Agora você vai me explicar isso direitinho, sistema. Vamos — sua voz carregava uma firmeza inegável.

    A janela flutuou até ele, brilhando de forma instável antes de responder, sua voz carregada de frustração:

    『Eu não vou responder tudo que você quer! Miserável!』

    Takeshi cerrou os punhos, a irritação crescendo em seu peito.

    — Olha aqui. Agora estamos ferrados. Eu não sei onde Mark e Layos estão, ainda tenho outras coisas para resolver, e agora você descobre que alguém estava mentindo — ele esboçou um sorriso afiado. — E aí? Você acha que consegue resolver isso sozinha?

    Seu olhar ficou ainda mais penetrante, desafiador. O sistema hesitou. Ele percebeu algo estranho em Takeshi — a forma como seu humor oscilava rapidamente, como se algo estivesse escondido por trás de suas palavras.

    A janela brilhou intensamente por um segundo antes de, de repente, exibir um rosto choroso e distorcido.

     『AAAAAAAH!』

    Ela começou a girar de forma descontrolada, ziguezagueando no ar como se estivesse prestes a explodir.

    Takeshi franziu o cenho, sentindo um misto de irritação e repulsa.

    — Levanta logo! Para com isso! — ele disse, com desprezo na voz.

    Sem perder tempo, caminhou até um dos túmulos, mas foi imediatamente atingido pelo cheiro metálico e pesado de sangue misturado à carne em decomposição. O odor era tão forte que seu estômago revirou. Ele deu um passo para trás, tentando evitar o pior.

    A janela, agora mais calma, flutuou até seu lado e perguntou, sua voz carregada de incerteza:

     『O que aconteceu aqui?』

    Takeshi apertou os punhos, sua paciência já se esgotando.

    — É claro que eu não sei! — ele retrucou, sua expressão carregada de raiva. — Por isso mesmo eu quero entender o que diabos está acontecendo aqui!

    Takeshi suspirou, tentando organizar os próprios pensamentos.

    A janela flutuou até um dos túmulos, analisando-o brevemente antes de responder:

    『Eu não faço ideia… Depois que você morreu, eu fiquei… acabado. Não consegui entrar em contato com as outras janelas. Então, não sei de nada.』

    Takeshi continuou caminhando entre os túmulos, observando os corpos com uma expressão fechada.

    — Então somos só nós dois aqui… — murmurou. — Mas tem algo que eu quero saber.

    A janela permaneceu em silêncio, aguardando.
    Takeshi cruzou os braços, sua expressão ficando ainda mais séria.

    — Ouvi falar sobre algo chamado Étervia e também sobre o caminho da erva, especificamente a seleção 10. O que isso significa?

    Takeshi permaneceu em silêncio, esperando por uma resposta.

    A janela hesitou por um momento antes de responder:

    『Não sei como você conseguiu essa informação… Mas já que perguntou, eu vou te explicar. Étervia são caminhos que se conectam diretamente à sua alma. Cada uma delas tem níveis, e para conseguir despertar uma, é necessário um Modificador que a proteja.』

    Takeshi suspirou, cruzando os braços com uma expressão entediada. Pelo que parecia, ele não poderia sequer usar uma Étervia sem um Modificador. Mas então, o sistema continuou:

    『Cada Étervia começa como uma taça vazio e fraco. Porém, ela pode ser fortalecida com um líquido especial. Os Modificadores são responsáveis por cuidar desse processo e direcioná-lo para sua Galáxia.』

    Ouvindo aquilo, Takeshi franziu o cenho, interrompendo:

    — Espera… Galáxia? Como assim? O que isso significa exatamente?

    Ele deu alguns passos, observando o acampamento à distância, enquanto a janela piscava antes de responder:

    『As Galáxias são como grandes grupos. Cada uma delas reúne Modificadores que compartilham características semelhantes. Quando uma pessoa recebe um Modificador, ela automaticamente passa a fazer parte de uma dessas Galáxias.』

    Takeshi manteve o olhar fixo na janela, absorvendo as informações.

    『Por exemplo… Imagine que um Modificador esteja relacionado ao fogo. Qualquer pessoa que escolher esse Modificador fará parte da Galáxia associada ao fogo. Dentro dessa Galáxia, outros Modificadores similares também estarão lá. Assim, eles irão moldar a Étervia da pessoa para que ela desenvolva algo ligado ao fogo.』

    Takeshi estreitou os olhos, assimilando tudo aquilo.

    — Então, no fim das contas… o Modificador que alguém escolhe define não só seu poder, mas também a qual lado dela pertence… Interessante.

    Takeshi colocou a mão direita no queixo e, com uma expressão pensativa, falou:

    — Tá, e o que exatamente é a tal da Seleção 10 do Caminho da Erva?

    Ele tentou juntar as peças do quebra-cabeça, pensando rapidamente que, se erva tinha algo a ver com natureza ou plantas, então provavelmente o modificador teria algo relacionado. O sistema respondeu de forma abrupta:

    『Isso eu não sei. Não tenho informações sobre as galáxias das pessoas. Eu só saberia se você estivesse em uma, mas, infelizmente, você é um inútil e não conseguiu entrar em nenhuma.』

    Takeshi se irritou instantaneamente, mexendo os braços como se tentasse se livrar de algo irritante.

    — Vai à merda! Não é culpa minha, ok? — ele bufou, claramente agitado.

    『Tome cuidado com isso. A única coisa que sei é que, para passar para o próximo caminho, precisa de algo. Mas para isso, a pessoa tem que entender qual é a sua habilidade principal para ir adiante.』

    Takeshi tocou a cabeça, sentindo um leve formigamento de dor, mas tentou se concentrar:

    — Como assim, habilidade principal?

    O sistema, com toda sua paciência, respondeu:

    『Ah, você não sabe, né? Bem, vamos lá. Habilidade principal é aquela habilidade que um corpo possui naturalmente, sem precisar de modificador para ajudar. Como você sabe, todos, menos você, têm duas habilidades. Uma dessas habilidades é a principal. A principal é algo que, em algum ponto da vida da pessoa, foi marcada — pode ser algo bom ou ruim. A partir disso, ela vira a habilidade principal. A habilidade privada, por outro lado, vem com os modificadores. Cada modificador tem uma habilidade especial que o outro não tem, e essa habilidade é implantada no corpo da pessoa, formando uma habilidade privada, que vem da junção entre a pessoa e o modificador.』

    Takeshi ainda sentia a dor de cabeça latejando, mas, tentando entender tudo aquilo, soltou um comentário que o sistema provavelmente não esperava:

    — Ah… então é como fazer um bebê, né? Faz sentido.

    A janela ficou em silêncio por um momento. Não havia reação, apenas a sensação de que o sistema estava processando o que ele acabara de ouvir. Se Takeshi tivesse olhado de perto, poderia até imaginar o que seria um facepalm digital.

    Takeshi olhou para os homens amarrados e, enquanto processava as informações, murmurou:

    — Eu entendi agora. Mas e quanto à minha habilidade? Se ela é principal, então isso significa que não posso evoluir meu caminho porque não estou em uma galáxia?

    A janela respondeu com um tom impessoal, como sempre:

    『Era isso que eu queria dizer, mas que bom que você finalmente entendeu. Enfim, o que você planeja fazer agora?』

    A dor na cabeça de Takeshi piorou, e ele esfregou a testa com força, tentando aliviar a pressão.

    — Bem… eu vou tentar descobrir o que o chefe deles está fazendo para evoluir para o próximo caminho. Ah… minha cabeça está doendo demais.

    Ele parou por um momento, sentindo uma sensação estranha em sua cabeça, como se algo estivesse se mexendo ali. Mesmo tentando ignorar, uma sensação de desconforto crescente o fez se contorcer. Ele continuou, agora com uma voz mais fraca:

    — Ei… e sobre aquele negócio de liberdade, como assim? Tipo, quem falou aquilo?

    A janela, com um toque de frustração, respondeu:

    『Aqueles desgraçados… Eles disseram que quando alguém com um sistema morresse, nós ficaríamos livres. Mas agora, finalmente, entendi. Eu morro quando você morre. Espera, falando nisso… como você voltou à vida?』

    Takeshi sentiu um arrepio ao lembrar da primeira vez que ele morreu, mas o que o deixou mais curioso foi a estranha sensação de que seus sentimentos estavam… apagados. Ele não sentia medo, nem qualquer outra emoção. Ele olhou para o chão, desconcertado, e respondeu com um sorriso sem graça:

    — Sobre isso… eu não faço ideia. Só aconteceu.

    Ele escondeu o real motivo, sem querer mergulhar mais fundo naquela questão. Mas a dor na cabeça se intensificou, e sua visão ficou turva. A dor era quase insuportável. De repente, uma voz elegante e calma cortou o silêncio.

    — Oi, estamos com problemas aqui. Alguns morreram na luta. Eu já vou começar a fazer.

    Era a voz do homem de cabelo azul esverdeado, mas Takeshi não sabia exatamente quem ele era. 

    No entanto, antes que pudesse processar, uma dor imensa atravessou sua cabeça, e uma pequena flor vermelha surgiu de sua testa. Ele caiu no chão, surpreso com a visão.

    No mesmo momento, pequenas plantas vermelhas começaram a surgir ao redor dos túmulos. 

    As folhas vermelhas também saíram dos corpos dos homens amarrados. Takeshi sentiu uma dor aguda, como se a flor estivesse crescendo dentro de sua cabeça, e se contorceu no chão, desesperado. A janela, ao seu lado, começou a se agitar, sem saber o que fazer para ajudar.

    A dor esmagadora que Takeshi sentia parecia atravessar sua cabeça, como se algo estivesse se rasgando de dentro para fora. Ele se contorceu, sentindo as ondas de pânico invadirem seu corpo. 

    Sua visão embaçada focava na flor vermelha que surgira em sua testa, pulsando com uma energia estranha e desconcertante. A pressão era intensa, cada respiração um esforço. O medo de morrer definitivamente o dominava. 

    Sua respiração estava descompassada, e seu peito subia e descia com rapidez. As pernas tremiam de forma incontrolável. Ele mal conseguia pensar claramente, apenas sentia a dor cravando fundo, como se todo o seu ser estivesse sendo consumido.

    Foi então que a voz arrogante, cheia de desdém, cortou o silêncio.

    — Ah. Me desculpe por fazer isso com vocês dois. Mas sabe, tudo é pela sobrevivência — a risada da voz ecoava, uma risada fria e sem remorso.

    As palavras pareciam fazer a dor piorar. Takeshi estava à beira de um colapso, sua visão turva e o pânico o consumindo, mas então, um cheiro doce e envolvente invadiu suas narinas. 

    Era um aroma inebriante, algo que ele nunca havia sentido antes, mas que agora o dominava. 

    Ele olhou para cima, os olhos fixos na flor vermelha que ainda pulsava em sua testa. O cheiro se intensificava à medida que uma cor verde vibrante começava a emanar da flor.

    A aura verde forte e vibrante preenchia o ar, misturando-se com o aroma doce. Takeshi sentiu o cheiro crescendo ao seu redor, tornando-se insuportavelmente forte. 

    Quando olhou em volta, viu que os túmulos próximos também estavam emanando a mesma aura verde, e o cheiro se espalhava por toda a área. Era como se a terra estivesse reagindo à flor, como se algo muito maior estivesse acontecendo.

    Ele olhou para os homens amarrados no chão, agora debatendo-se e gritando de medo. Eles estavam também sendo envoltos pela mesma aura verde, suas expressões de pavor se transformando em confusão e espanto. 

    O ar estava carregado de uma energia nova e desconhecida, mas algo dentro de Takeshi se acendeu. A dor ainda o dilacerava, mas havia algo mais agora. Um alívio crescente, como se, finalmente, ele estivesse começando a entender.

    Ele sorriu, ainda com a dor cortando sua cabeça, mas agora, o sorriso era diferente. Era um sorriso de reconhecimento, de aceitação.

    “É finalmente você apareceu de novo, Verme dos Aspectos…”

    As palavras ecoaram em sua mente, e ele sabia, naquele momento, que tinha algo poderoso dentro de si. O que antes parecia ser um pesadelo sem fim, agora parecia uma oportunidade. Sua habilidade estava emergindo, e com ela, uma nova força começava a se formar.

    O verdadeiro desafio, no entanto, ainda estava à frente. O homem de cabelos azul esverdeado, com sua risada debochada, era o próximo obstáculo. Takeshi sabia que agora estava mais preparado para enfrentá-lo, mas ele também sabia que a verdadeira batalha estava apenas começando.

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