Capítulo 25: O que eles estão fazendo aqui?
Takeshi ainda estava ajoelhado no chão, com a flor vermelha cravada bem no centro de sua testa. A dor era insuportável, latejante, como se algo estivesse enraizando dentro de seu crânio. Mesmo assim, ele apertava a flor com a mão trêmula, tentando conter o instinto de arrancá-la.
O aroma doce invadia suas narinas, contrastando com o horror da situação — era um perfume quase sedutor, como se a flor zombasse da dor que causava.
Um sorriso torto, quase insano, se formou em seus lábios.
Ao seu redor, os homens caídos começaram a se contorcer. Marcas de raízes verdes brotavam por seus corpos como tatuagens vivas.
Gritos de desespero ecoaram por todo o local, rasgando o silêncio gélido da floresta. Mas Takeshi não desviou o olhar, nem por um segundo.
Ele não podia esperar mais.
Grakkkkl!
Num movimento brusco e desesperado, ele arrancou a flor da própria testa. O sangue jorrou como uma fonte, tingindo a neve de carmesim. A dor o atingiu como uma lâmina quente, mas ele ignorou.
Sem hesitar, levou a flor à boca.
A primeira mordida foi um tormento. Os espinhos perfuraram sua língua e céu da boca como agulhas venenosas. O gosto era agridoce, e o cheiro enjoativo misturava-se ao gosto metálico do próprio sangue.
Mas ele continuou. Mordida após mordida, mesmo sentindo a carne da boca rasgar, mesmo engasgando com os espinhos. Ele engoliu.
Clak!
Um estalo seco ecoou em sua garganta. Algo se rompeu.
Takeshi caiu de joelhos, os olhos arregalados. As mãos no pescoço. A dor agora era sufocante, interna, como se algo estivesse explodindo por dentro. Ele não conseguia respirar direito. Sangue escorria pelo canto da boca.
“Não… não… por que minha habilidade precisa disso…? Eu… não aguento…”
Ele pensou, sentindo a consciência oscilar. Mas mesmo enquanto seu corpo falhava, mesmo diante da dor absurda — algo dentro dele começava a mudar. Algo que não era apenas físico…
Ele já havia aceitado a morte. Depois de ter morrido uma vez, o medo havia deixado de ser um obstáculo — ele não esperava mais nada. O sangue escorria livremente pela garganta ferida, e cada tentativa de respirar era um esforço em vão.
O coração batia acelerado, em pânico silencioso, enquanto o calor tomava conta do corpo, queimando por dentro. A neve ao redor parecia desaparecer, irrelevante diante da febre infernal que consumia cada célula sua.
Tudo ficou devagar.
O som cessou. O vento parou. O mundo congelou.
Um raio de sol atravessou o céu nublado, tocando seu corpo ensanguentado. E, então… algo inesperado.
Ele sentiu uma mão. Suave. Fria como porcelana, mas confortável como o toque de um lençol quente. Ela roçou com delicadeza o lado de seu rosto.
Por um instante, o tempo parecia hesitar — e no meio desse silêncio, uma voz familiar ecoou, doce e ao mesmo tempo estranhamente assustadora:
— Eu disse, eu disse, eu disse… Você realmente fez tudo isso só para me ver de novo?
A voz sorria. Havia alegria ali, mas também algo de profundo e antigo, como se o próprio universo sussurrasse.
— É tão bom ver você de novo…
A mão desceu, do rosto à garganta, onde o sangue escorria. E então, como mágica, Takeshi sentiu um alívio súbito. O calor desapareceu. A dor se dissipou. Seu corpo, antes à beira do colapso, começou a se recompor, lentamente, como se estivesse sendo refeito a partir da própria essência.
A mulher continuou, agora com um tom mais divertido:
— Você foi maluco nessa… mas gostei de ver isso.
Ela retirou a mão e completou, com uma serenidade arrepiante:
— O Verme dos Aspectos foi concluído. Deseja qual deles agora?
Um calafrio percorreu a espinha de Takeshi. Ele sentiu o medo ressurgir — não da morte, mas do que aquilo significava. Ele engoliu em seco, a garganta já quase curada, e com a voz hesitante, respondeu:
— Eu… eu… eu escolho… energia.
A mulher soltou uma risada baixa, quase maternal, mas cheia de enigmas:
— Eu não sei se você foi inteligente… ou apenas bom em deduzir.
Nesse momento, o corpo de Takeshi começou a se erguer sozinho, como puxado por forças invisíveis. Uma aura amarela suave escapou da flor caída ao lado e fluiu até ele, penetrando lentamente seu peito.
A energia correu como luz líquida até o centro do seu abdômen. Lá, bem no meio de sua barriga, algo brilhou: uma esfera minúscula, colorida e pulsante — sua essência e mana.
A energia amarela envolveu a esfera, que começou a brilhar mais forte, expandindo-se pouco a pouco.
Takeshi piscou.
A dor havia desaparecido.
Sua garganta estava regenerada. A ferida na testa sumira. Seu corpo estava inteiro novamente. Mas algo nele… era diferente agora. Como se não fosse mais apenas carne e osso. Como se fosse… mais.
Ele olhou para a própria barriga.
A esfera… havia sumido.
Como se nunca tivesse estado ali. Seu brilho, sua presença, aquela sensação de energia viva — tudo desaparecera diante de seus olhos.
Takeshi ficou em silêncio, sem palavras, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Mas antes mesmo de conseguir pensar, uma voz irrompeu no ar, estrondosa e desesperada:
『Como… você está vivo?!』
O sistema girava freneticamente ao redor dele, um anel de luzes vermelhas e símbolos caóticos, repetindo a mesma pergunta em um tom cada vez mais agressivo. Takeshi mal conseguia respirar.
Seus olhos tremiam sem parar. A respiração pesava como se arrastasse uma montanha. Seus dentes batiam uns nos outros, incontroláveis.
Ele queria responder. Gritar. Ou talvez… se calar para sempre.
“Quero morrer de verdade…”, pensou, o coração afundando em um vazio que nem a dor preenchia mais.
Seu corpo tremia, mas, de repente, como se algo quebrasse por dentro, um sorriso estranho surgiu em seu rosto. Um sorriso torto. Quase insano. Um reflexo de alguém que não sabia mais se estava rindo ou chorando.
O sistema, confuso, hesitou. Piscou, e sua voz vacilou.
『Você está me escutando?! Ah…』
Takeshi não respondeu.
Simplesmente começou a caminhar.
Ele se aproximou dos homens que ainda se contorciam no chão, com os corpos tomados por raízes e dores insuportáveis. Eles gritavam, imploravam… mas Takeshi os olhava com aquele mesmo sorriso inabalável.
Ele ergueu a mão direita.
Colocou-a lentamente sobre o rosto de um deles.
O calor da palma contrastava com o frio da pele do homem, mas o que realmente chamou atenção foi o olhar de Takeshi — não havia raiva, nem pena, apenas uma ausência inquietante… e algo novo.
Ele observou o homem gritar de dor.
Mas algo dentro de Takeshi havia mudado.
Sem hesitar, ele abriu a boca.
E então…
Crank! Crank! Crank! Crank! Crank!
O som era horrível. Como ossos sendo quebrados e reconstruídos. Como engrenagens sendo esmagadas e forçadas a girar em direções opostas. Cada crank parecia ecoar dentro de sua alma.
O ar ficou pesado. A luz tremeu.
E o sistema, pela primeira vez… ficou em silêncio.
O silêncio de algo que testemunha o nascimento de um monstro — ou de alguém que finalmente deixou de fugir de si mesmo.
Agora, Takeshi não era mais apenas um sobrevivente.
O sistema observava em silêncio. A cena diante dele era perturbadora — uma mistura de fome, caos e algo… além da compreensão.
『Você ficou descontrolado por usar a habilidade… Espera… você nem sequer a ativou. Como isso aconteceu?』
A voz vacilou, então cessou, como se fosse engolida pelo mistério.
Takeshi estava ali, de pé. A boca ainda tingida de vermelho. O rosto marcado pelo cansaço, os olhos vazios. A respiração pesada saía em nuvens quentes no frio. Seus pés mal se sustentavam, tremendo a cada passo — mas ele sentia alívio.
Um alívio silencioso e estranho.
Ele se sentou no chão, exausto.
E então… ela retornou.
Aquela voz.
— Você foi rápido dessa vez. Meu pequeno ficou com bastante fome… Agora você pode escolher quatro de uma vez. Mas depende, é claro… Vamos começar com o jovem. Vai escolher qual nele?
A voz era doce como veneno, acalmava o coração de Takeshi — mesmo que cada palavra carregasse algo sombrio.
Ele olhou para o corpo do jovem à sua frente. Sem vida. O rosto irreconhecível. Sem pensar muito, apenas deitou-se no chão gelado e murmurou:
— Corporal…
Uma energia pulsou dentro dele.
Uma aura multicolorida envolveu seu corpo, girando como chamas em espiral. Uma voz profunda e grave ecoou em sua mente:
— 10% do corpo…
A aura desapareceu.
— Um! Que ótimo, ótimo, ótimo — disse a mulher, animada. — Agora vamos com o velho. Não vamos perder tempo.
— Mental… — respondeu Takeshi, quase em transe.
De imediato, sua cabeça explodiu em dor. Uma pressão esmagadora. A realidade começou a rachar à sua volta. Ele já não sabia onde estava.
Uma névoa espessa cobriu sua visão.
Pequenos raios brancos cortavam o ar, entrando por seus olhos, sua pele, sua mente. A dor era constante… mas ele aguentava. Ele sempre aguentava.
A névoa não era apenas física — ela invadia a mente de Takeshi, como se o fizesse assistir.
Lá, na névoa, surgiram silhuetas.
Duas.
Uma delas era um velho sentado numa cadeira dourada. A outra, de pé, permanecia oculta — apenas o contorno visível.
O velho falou, com a voz rouca e séria:
— Bem, já temos as bombas preparadas. Os homens que o senhor pediu… morreram ontem mesmo.
A silhueta respondeu com uma calma assustadora. Sua voz era elegante, controlada.
— Muito bem. E quanto aos guardas da missão?
— Ainda não os encontramos, senhor — o velho hesitou. — Perdão. Mas… eu tenho uma dúvida, se me permite.
A figura se moveu um pouco. A névoa impedia de ver seu rosto, mas era possível sentir… beleza e ameaça em equilíbrio. Ele respondeu:
— Pode perguntar.
O velho respirou fundo.
— É sobre o ritual. Sei que não devia perguntar, mas… como ele funciona exatamente?
O homem sorriu, quase com orgulho. Ao seu redor, a escuridão se moldou numa cadeira onde ele se sentou.
— Primeiro, trinta corpos humanos. Precisam estar intactos. Depois, espera-se um ciclo completo do sol. Às 05:00 da manhã, são oferecidas pequenas plantas, dispostas em círculos. Em seguida, uma poção feita com ervas venenosas é derramada sobre meu corpo. E então…
Ele estalou os dedos.
— …Recito: Entre os mortos estão os puros, molhados pela mãe natureza. Diante do sol, estou aqui para ver sua presença. Receberei sua bênção dos céus. Serei o puro na sociedade, Limparei as coisas horríveis do mundo. Estou aqui para transcender. Peço sua permissão.
O velho se levantou, impressionado, e respondeu com entusiasmo:
— É um processo e tanto… Mas sei que você vai conseguir. E então… transcendência nível 10?
— Não exatamente.
O tom dele mudou. E, junto dele, a névoa ao redor se tornou mais densa.
— Como assim? — o velho perguntou, surpreso. — O que pode acontecer?
A resposta veio fria:
— Existe uma chance de fracasso. E, se for recusado… Posso perder minha vida.
Takeshi tentava ver o rosto do homem, suas expressões, qualquer pista… mas era impossível. O nevoeiro se mantinha espesso, impenetrável. E, a cada segundo ali, sua cabeça latejava com mais força — como se sua mente estivesse prestes a se romper.
O velho que estava sentado quebrou o silêncio:
— Qual é mesmo o nome do seu caminho?
O homem, ainda envolto pela névoa, levantou-se lentamente da cadeira. Sua presença parecia dobrar o peso do ar ao redor. Então, com voz firme, respondeu:
— Faço parte da Galáxia da Pureza… sou do Caminho da Beleza Quebrada.
Aquelas palavras — Beleza Quebrada — se fixaram na mente de Takeshi.
O velho arregalou os olhos, surpreso. Houve um instante de silêncio antes de responder:
— Vindo do senhor… isso deve ser incrivelmente poderoso. Eu… percebi que você carrega muitos segredos. Não irei perguntar mais. Mas ainda me pergunto… por que exatamente estamos aqui?
O homem colocou a mão no queixo, pensativo, e então respondeu com naturalidade:
— Estamos aqui para realizar o ritual com segurança. E, além disso, precisamos estar preparados… para o futuro.
O velho assentiu lentamente, absorvendo as palavras.
— Faz sentido… — disse, reflexivo.
Então, tudo mudou.
A névoa ao redor se intensificou, turbilhonando como uma tempestade silenciosa. O chão tremeu. O ar pareceu congelar.
E então o homem disse, com uma calma arrepiante:
— Afinal… somos da Camada 1.
No mesmo instante, o mundo se despedaçou diante de Takeshi. A névoa desapareceu como um golpe de vento.
Ele foi arremessado de volta à realidade.
Seu corpo inteiro tremeu quando a informação se fixou. A restrição percorreu cada célula, como um choque de mil verdades.
Takeshi levou a mão à testa, os dedos trêmulos escorregando pelo suor frio que cobria sua pele. O ar entrava com dificuldade em seus pulmões, como se o próprio mundo estivesse pressionando seu peito.
A dor da restrição ainda pulsava em seu corpo, cada nervo gritando, mas nada era pior do que o que ele havia acabado de descobrir.
Seu olhar estava perdido, mas sua mente corria.
“Estamos ferrados…”
E então, algo se moveu atrás dele.
Uma presença.
Pesada.
Uma voz feminina ecoou da névoa, suave e firme, carregada de julgamento.
— Então… você é um monstro de tudo.
Takeshi congelou. O calor subiu por sua espinha, espalhando-se pelo peito como se algo antigo estivesse despertando. Sua respiração falhou por um instante. Aquela voz… não era qualquer uma. Havia poder nela. E conhecimento.
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