Takeshi virou-se rapidamente, instintivamente tentando reagir. Mas antes mesmo de pensar em fugir, um fio de seu cabelo caiu no chão, cortado com precisão assustadora.

    Uma presença fria se impôs atrás dele, e uma voz feminina, carregada de superioridade e controle, ecoou logo em seguida:

    — Não faça nenhum movimento… ou você vai morrer.

    Seu corpo enrijeceu. Ele não conseguia se mover, não por medo, mas por algo que tomou conta de sua mente de repente. Como um disparo, memórias invadiram sua consciência — violentas, profundas, reais demais.

    Uma dor lancinante atravessou sua cabeça. Era como se agulhas estivessem perfurando seu cérebro. A primeira memória emergiu das trevas, tomando forma.

    Ele sentiu. Sentiu tudo como se fosse ele.

    A dor de um jovem. O desespero. O terror.

    Veio primeiro pelas flores… cada espinho entrando lentamente em sua pele como se tivessem vida própria, se enroscando, perfurando músculos e nervos. A agonia era sufocante. Ele gritava, mas a dor era tão intensa que sua própria voz parecia desaparecer.

    E então, veio o instante final.

    Takeshi viu a si mesmo… devorando o jovem. Sentiu a carne, o gosto amargo da dor, o desespero impregnado no corpo que ele mastigava. Cada mordida trazia não só o corpo, mas o passado, os sentimentos, os últimos pensamentos do garoto.

    Takeshi sem aguentar apertou seu coração com força até acabar as memórias mas antes de reagir a segunda aconteceu.

    A mente de Takeshi ainda estava mergulhada nas memórias devoradas.

    Ele viu… viu a si mesmo. Ou pelo menos, uma silhueta vermelha, intensa, com olhos afiados e profundos, como se cortassem tudo o que observavam. Aquela imagem — sua imagem — parecia distorcida, monstruosa, faminta. Era ele, mas também… não era.

    No instante seguinte, sentiu novamente a dor do velho. Assim como com o jovem, as flores retornaram. Os espinhos cravando, os músculos retorcendo, os ossos sendo esmagados de dentro para fora. E as mordidas — as dele. Como se estivesse vivendo cada fragmento da dor, cada memória tragada pelo seu próprio corpo.

    Quando finalmente foi arrastado de volta à realidade, seus olhos estavam fracos, turvos. Sua respiração era irregular. Mas, mesmo assim, ele ouviu.

    O sistema brilhou diante dele, e uma voz mecânica, quase indiferente, anunciou:

    『A primeira torre foi destruída.』

    A informação ecoou em sua mente entorpecida, mas ele mal teve tempo de processá-la. Com esforço, mesmo com a visão comprometida, ele virou o rosto e olhou para a mulher que o ameaçava.

    Ela estava parada ali, imponente, como se o mundo ao redor não a afetasse.

    Seus cabelos eram longos e roxos, caindo em ondas lisas até a cintura. Sob a luz, refletiam com um brilho discreto, como fios de ametista polida.

    Ela tinha cerca de 1,89 metros de altura, com uma postura firme e controlada. Seu olhar era intenso, quase hipnótico — os olhos vermelhos possuíam círculos concêntricos que giravam lentamente, como espirais silenciosas e misteriosas.

    Sua pele era branca como porcelana, mas sua presença não inspirava fragilidade. Havia nela uma autoridade silenciosa, como alguém acostumada a comandar em meio ao caos.

    Seu corpo mantinha proporções equilibradas, com porte atlético e postura disciplinada, revelando preparo físico e experiência de combate.

    Vestia uma camisa térmica preta de alta resistência, feita com tecido técnico que se ajustava ao corpo sem ser colado, pensada para proteção e liberdade de movimento.

    A gola alta e os reforços nas costuras deixavam claro que a peça era voltada para funcionalidade em campo, e não para estética.

    As calças, em tons sóbrios de azul escuro com detalhes em laranja queimado nas laterais, lembravam o estilo de uniformes táticos. O corte era reto, firme nas pernas, com bolsos utilitários discretamente integrados ao design.

    Por cima, um manto branco de tecido leve, resistente à água e poeira, balançava suavemente com o vento.

    Ele tinha um corte assimétrico e mangas largas, que podiam ser ajustadas para situações diferentes — como um traje de missão feito sob medida.

    A mulher estreitou os olhos, seu olhar firme e penetrante. Com um gesto direto, apontou o dedo indicador para Takeshi.

    — Você é humano… ou não? — sua voz soou fria, carregada de julgamento.

    Takeshi, ainda sentindo os resquícios da dor e com a mente embaralhada pelas memórias e pela restrição, vacilou. Sua respiração estava pesada, e seu corpo quase cedeu ao peso da exaustão. Mesmo assim, murmurou:

    — Sim… eu sou…

    A mulher franziu o cenho, como se não acreditasse. Seu olhar carregava desprezo.

    — Não parece — ela desviou os olhos por um momento, observando os corpos destroçados ao redor. — Sua boca está suja de sangue… e esses cadáveres… — seus lábios se contraíram em repulsa, enquanto um pensamento sombrio cruzava sua mente. “Ele é um canibal?”

    Takeshi permaneceu em silêncio. Não havia o que dizer. Nem ele sabia quem era naquele instante.

    Foi então que uma nova voz surgiu — não no ar, mas dentro da mente dele. Uma voz masculina, grave e calma, que se manifestou como um sussurro poderoso:

    — 20% da mentalidade do corpo foi assimilada.

    A dor que veio em seguida foi aguda e lancinante. Takeshi levou a mão à cabeça, cambaleando. Palavras desconexas começaram a girar em sua mente, como se o mundo estivesse sendo reescrito dentro dele. Sentimentos, ideias, memórias — tudo era caos.

    Mas então… uma palavra se destacou, brilhando como um farol em meio à confusão:

    Negociação.

    No instante em que ela se formou completamente, uma torrente de informações inundou sua mente: estratégias, táticas de persuasão e dominar uma conversa.

    Para Takeshi, foi uma sensação completamente nova — como se o conhecimento estivesse escancarado diante de si, mas ele nunca tivesse conseguido tocá-lo até agora.

    Era como assistir a uma aula sem ver o professor ou ouvir sua voz… e, mesmo assim, aprender. A dor que acompanhava as informações no início era aguda, mas, gradualmente, foi se dissipando, como se seu corpo começasse a aceitar aquilo como algo natural.

    Ele voltou a olhar para a mulher à sua frente. Seu semblante ainda carregava desconfiança, mas Takeshi, agora mais calmo e consciente, analisou sua postura, sua entonação, e então respondeu, de forma direta:

    — Sobre isso… eu não tenho muito o que dizer. — Seus olhos deslizaram até o sistema parado, flutuando no ar. — Resumindo: esses caras tentaram me matar… e eu só queria me defender.

    Sem prolongar a explicação, ele se levantou do chão. Seus músculos ainda estavam tensos, mas sua mente se tornava cada vez mais clara. Foi então que a voz familiar da mulher misteriosa em sua mente sussurrou novamente:

    — Desvie para esquentar… ou pule.

    Sem hesitar, Takeshi agiu por instinto e saltou.

    O salto foi surpreendentemente alto — muito mais do que ele imaginava ser capaz. Por um instante, ele se assustou com a força recém-descoberta.

    Logo abaixo, algo passou em altíssima velocidade: uma esfera mágica azul-brilhante, envolta por pequenos colares de luz branca, cruzou o espaço onde sua cabeça havia estado segundos antes. O impacto teria sido fatal.

    Takeshi sentiu um arrepio — um calor gélido percorreu sua espinha ao ver o rastro da esfera. Ele caiu no chão com força, ofegante, o corpo pesado, sem conseguir controlar totalmente sua própria força.

    Foi então que, por trás da mulher de cabelos roxos, surgiu outra figura.

    Ela era mais baixa, com cerca de 1,60m, e exalava uma presença delicada. Seu cabelo era de um azul escuro profundo, quase como uma tinta brilhante, e cintilava à luz de forma hipnotizante. Os olhos, de um azul intenso como lápis-lazúli, capturavam a atenção de imediato.

    Seu rosto era delicado, mas definido o suficiente para carregar uma beleza serena. O corpo era esguio, levemente curvado, com traços que expressavam fragilidade — quase como uma boneca — mas os braços ainda brilhavam com a mesma aura que havia liberado a esfera mágica segundos antes. Era dali que o poder se manifestava.

    Ela era encantadora, mas perigosa. Seu corpo, embora delicado, escondia um poder impressionante.

    O cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo alto, com alguns fios soltos dançando ao redor do rosto. Era um estilo simples, prático, pensado para não atrapalhar em movimento.

    Sua roupa tinha um ar austero, mas ainda assim carregava personalidade. Vestia um sobretudo preto de tecido pesado, com ombreiras reforçadas e cortes retos.

    O manto era levemente surrado nas pontas, mostrando sinais de uso constante, mas ainda assim mantinha sua imponência.

    Por baixo, usava uma camisa de laranja apagado — o tecido leve contrastava com o peso do sobretudo, sendo mais adequado para camadas internas. A gola era levemente aberta, sem adornos, focando no conforto e mobilidade.

    A calça azul que vestia era visivelmente um número maior, folgada nas pernas e ajustada na cintura com um cinto de fivela larga. O tecido era resistente, com costuras duplas nas laterais, algo feito para durar.

    Nos pés, usava sapatos simples de couro, típicos de épocas medievais. Eles não pareciam novos, mas estavam bem cuidados — ideais para longas caminhadas ou terrenos instávei

    A mulher de cabelos azul-escuro deu um passo à frente, com expressão tensa. Sua voz soou firme, mas carregada de culpa:

    — Me desculpe, mestra… por não ter eliminado ele antes — apontou o dedo mínimo da mão direita diretamente para Takeshi, que ainda estava no chão.

    Instintivamente, Takeshi se jogou com força para o lado direito.

    O disparo que veio logo em seguida atingiu o local onde ele estava há segundos. O impacto foi tão intenso que o chão carbonizou, fazendo a neve derreter instantaneamente, formando uma poça quente e fumegante.

    Takeshi sentiu o coração acelerar. Havia medo. Um medo real. Ele tentou se levantar com pressa — mas antes que pudesse reagir, a mulher de cabelos roxos surgiu na sua frente com velocidade surpreendente.

    Sem aviso, ela desferiu um chute direto em seu abdômen.

    O golpe foi seco, brutal. Takeshi foi lançado para trás, rolando pela neve enquanto sentia a dor atravessar suas costelas. Ele cerrou os dentes, tentando aguentar o impacto.

    “Merda… Eu nem tive tempo pra respirar”, pensou, tossindo e cuspindo sangue.

    Mesmo assim, forçou o corpo a se levantar. Cambaleou um pouco, apoiando uma das mãos na barriga latejante, e encarou as duas mulheres.

    — Por que estão me atacando? — perguntou com a respiração pesada.

    A garota de cabelos azul-escuro respondeu com frieza, as mãos já começando a brilhar com uma nova carga de energia:

    — Você está coberto de sangue, com o olhar perdido… e ainda se moveu sem permissão.

    Takeshi recuou um passo, frustrado:

    — Como eu já disse, eles tentaram me matar. E sim, eu me mexi. Mal acordei e já me jogaram no meio disso tudo!

    O sistema, ao lado dele, apenas observava em silêncio. Frio, neutro. Inútil.

    Takeshi soltou um leve suspiro, tentando ignorar a dor crescente no abdômen. Mas, assim que relaxou por um instante, a mulher de cabelos roxos se aproximou em silêncio. Havia algo ameaçador em sua aura agora — quase como um aviso.

    Sem hesitar, ela desferiu um soco direto no rosto de Takeshi.

    Ele cambaleou para o lado, quase indo ao chão. Mas antes de cair, o sangue subiu. Raiva queimou seus pensamentos. Ele firmou os pés, girou o corpo, e com o punho direito, devolveu o golpe.

    O impacto fez a mulher recuar, surpresa.

    Com os olhos acesos de fúria, Takeshi rosnou:

    — Não pense que eu não vou revidar. A gente não tá mais no século 20.

    Ele flexionou os joelhos, pronto para correr ou contra-atacar.

    A mulher se defendeu com os antebraços e estreitou os olhos, confusa:

    — Século 20? Do que diabos você está falando?

    Takeshi se lançou para trás em um movimento ágil, tão rápido que a mulher de cabelos roxos mal teve tempo de reagir. Seus olhos estavam semicerrados, e a expressão no rosto agora era de completo desprezo.

    — Esquece isso… — murmurou com nojo, e então completou com escárnio. — Mas que coisa repulsiva…

    Ele estalou os dedos do pé como se estivesse limpando uma sujeira invisível, mantendo a postura defensiva.

    Nesse instante, o sistema brilhou mais uma vez ao lado dele, frio e direto como sempre:

    『A segunda torre foi destruída.』

    O aviso mal havia terminado quando um forte tremor sacudiu o solo sob seus pés. Todos instintivamente olharam na direção de onde o abalo veio.

    Ao longe, viram a silhueta da torre — construída no formato de uma gigantesca árvore negra — começar a desabar. Seus galhos retorcidos se partiram com estalos grotescos, e o tronco maciço colidiu com o solo, levantando uma nuvem de poeira e energia corrompida.

    O impacto foi tão violento que fez o chão inteiro estremecer. Nenhum deles conseguiu se manter de pé — todos foram lançados ao chão pelo tremor repentino.

    Enquanto se levantavam com dificuldade, puderam ver as barreiras ao redor do castelo começarem a se desfazer. As luzes que circulavam as muralhas se apagaram lentamente, como se a energia que sustentava tudo tivesse sido drenada. As duas torres de contenção estavam agora completamente inertes.

    E então, algo muito pior começou.

    No topo do castelo, onde antes havia apenas uma torre silenciosa, massas pulsantes de carne começaram a emergir, se contorcendo como vermes famintos. Elas se juntavam, pedaço por pedaço, como se estivessem sendo atraídas por um núcleo invisível.

    Diante dos olhos estarrecidos de Takeshi e das mulheres, essas massas se fundiram e começaram a formar um gigantesco coração vivo, grotesco e pulsante. A carne se grudava nas paredes do castelo como raízes, tomando conta da estrutura como uma praga orgânica.

    O chão sob os pés deles começou a ficar vermelho — não apenas tingido, mas como se algo por baixo estivesse subindo… algo vivo.

    Takeshi estreitou os olhos, se levantando com dificuldade. O calor da luta anterior ainda ardia em seu corpo, mas agora era diferente. Agora, ele sentia um frio vindo de dentro da terra.

    Um arrepio percorreu sua espinha.

    E então, uma nova mensagem surgiu no sistema — mas essa, diferente das outras, apareceu em vermelho:

    『A Fase Dois foi iniciada. Prepare-se.』

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