Índice de Capítulo

    As flores começaram a revelar sua verdadeira forma. Suas pétalas, alvas como a neve recém-caída, exalavam uma serenidade quase enganosa. O cálice, de um verde profundo, movia-se suavemente, lembrando o balé das ondas do mar ao amanhecer.

    A foice nas mãos da criatura refletia um brilho pálido e cortante. Uma imagem fantasmagórica surgia em sua lâmina — uma flor adornada por espinhos, tendo no centro uma espiral que parecia girar lentamente, como se respirasse.

    “Droga… talvez este mundo não seja tão comum quanto imaginei. Isso não é como nos jogos. Aqui, quando algo parece normal… na verdade, é só um disfarce. Tudo tem outra função oculta.” analisou Takeshi, com o olhar agudo e a mente em alerta.

    A criatura ergueu o dedo esquerdo em direção a ele. O gesto tremia, carregado de frustração e impotência por não ter conseguido matá-lo. O manto que cobria sua forma oscilava com o vento, e por um instante, imagens dançaram em sua superfície — figuras distorcidas de pessoas, monstros ou talvez animais. Era como se todas as formas conhecidas se fundissem ali… e ao mesmo tempo, como se não fosse nenhuma delas.

    As flores ao redor começaram a se multiplicar silenciosamente, brotando como um vírus invisível. Logo, o ambiente estava tomado por setenta delas, espalhadas ao redor da criatura, cercando o espaço com uma beleza sinistra.

    Takeshi recuou, correndo em ziguezague, afastando-se da ameaça.

    “Se minha ideia não funcionar… talvez eu morra de novo. E, sinceramente, essa sensação de retorno após a morte… não é algo legal.”

    A foice havia desaparecido. Takeshi, agora em total concentração, fechou os olhos e passou a forçar os ouvidos, tentando captar qualquer som ao redor com precisão.

    “Espero que isso funcione… Se realmente for uma forma de sair daqui, eu não vou hesitar em usar.”

    Na palma de sua mão direita, um fragmento começou a se formar — uma pequena joia brilhante que pulsava com todas as cores possíveis, como se condensasse algo essencial e vivo.

    Antes que pudesse concluir o processo, um som seco e metálico ecoou pelo ar — click!

    Imediatamente, Takeshi se abaixou com um reflexo preciso e, ao abrir os olhos, viu o rastro de um corte massivo rasgando o espaço à sua frente. O ar pareceu se partir em silêncio, exceto pelo som que o precedia.

    “Então é isso… Essa coisa é rápida demais pra ser vista, mas faz um som antes de se aproximar. Finalmente uma brecha clara para desviar. Agora, só preciso fazer com que o fragmento cresça até o ponto certo.”

    Seu plano era claro: usar o fragmento criado a partir de alguém que devorou. Havia se lembrado das palavras do homem da lamparina, que afirmava ser possível usar tal fragmento para escapar daquele ambiente.

    Takeshi pretendia fazer exatamente isso. Fugir. Mas, no fundo, uma dúvida persistia, como uma sombra fria em sua mente:

    “Será que eu realmente consigo sair daqui? Esse lugar não é aquele onde eu apareci depois que morri.”

    A dúvida crescia cada vez mais em sua mente, consumindo pequenos espaços de pensamento, mas antes que pudesse se aprofundar nela, concentrou-se no fragmento de história à sua frente.

    A imagem daquele homem velho — no instante em que foi morto e o tipo mental foi escolhido — ressurgia com nitidez inquietante

    Foi então que ouviu um som seco vindo de trás.

    Click!

    Alto, direto, ameaçador.

    — Merda… me ferrei.

    Antes que pudesse reagir, uma dor aguda cortou seu abdômen. O impacto o lançou para frente, girando no ar. Ele viu, por um breve instante, o fragmento escapando de suas mãos, rodopiando lentamente enquanto uma criatura se aproximava dele.

    — Ei! Afaste-se disso…! — Takeshi gritou, mesmo com a respiração falhando. Seu corpo ardia, e a dor era tão real que o fez acreditar que fora ferido gravemente.

    Mas ao olhar para si mesmo, percebeu algo estranho.

    Não havia corte algum.

    Mesmo assim, a dor persistia — intensa, lancinante — como se sua pele houvesse sido rasgada de verdade. Um ferimento ilusório… ou algo mais profundo do que apenas físico?

    A criatura estendeu lentamente o braço direito em direção ao chão, os movimentos duros como os de um cadáver em vida. Suas veias envelhecidas se destacavam sob a pele desgastada, de um tom entre o azul pálido e roxo esmaecido, como se o tempo tivesse drenado a vitalidade daquele corpo.

    Takeshi observava com atenção, os olhos varrendo os arredores à procura de algo útil. Então a viu: a foice. Estava repousando no lado esquerdo da criatura, parcialmente coberta por uma sombra tênue.

    “Acho que consigo pegar… Mas por que sempre preciso enfrentar gente tão forte?” pensou, enquanto um arrepio subia pela espinha.

    O medo travou-lhe as pernas por um breve momento. Sua respiração acelerou, os músculos hesitantes. Mas então, em um impulso de coragem, Takeshi saltou para trás. No mesmo instante, a lâmina da foice cortou o ar, passando perigosamente perto de seu rosto.

    O silêncio daquele ataque o surpreendeu mais do que qualquer coisa.

    “Aquilo estava perto… e nem fez barulho. Agora sim, me ferrei de vez…” refletiu, suando frio.

    O coração pulsava com uma intensidade quase ensurdecedora, como se ecoasse dentro do peito de todos que presenciavam a cena. Bum. Bum. Bum. Cada batida parecia sincronizar-se com a tensão do momento. O olhar de Takeshi estava fixo no inimigo à frente — firme, decidido, ardente.

    Ele se aproximou da foice cravada no chão como se estivesse indo ao encontro de seu destino. Suas mãos, trêmulas não de medo, mas de adrenalina, agarraram o longo cabo escuro da arma. No instante em que tocou o metal frio, um calafrio percorreu sua espinha.

    Os músculos dos braços de Takeshi se contraíram, suas veias saltaram sob a pele pálida, e com um grito contido entre os dentes cerrados, ele começou a erguer a foice.

    Mas ela não se limitou a sair do chão — ela o puxou para cima.

    Seu corpo foi elevado junto com a arma. Por um breve instante, pairou no ar com a foice ao lado do corpo, como se o tempo tivesse parado apenas para observá-lo.

    “Esse cara pensa que vai conseguir? Tá ferrado agora.”

    Ele girou o corpo para os lados — uma, duas vezes — ganhando velocidade. O peso da foice se transformava em força centrífuga, e o movimento começou a criar uma espiral em torno de si.

    Então, como um furacão em forma humana, ele se lançou contra a criatura.

    O ar explodiu ao redor dele. A pressão do movimento deixou um rastro distorcido atrás de seu corpo, e o som do corte iminente ecoou antes mesmo de a lâmina descer.

    — Seja o que for agora… — murmurou entre os dentes, a voz carregada de desafio.

    Takeshi se aproximou da criatura em silêncio, atento a cada passo… até ouvir um som metálico seco:

    Click!

    — Droga… essa foice… — murmurou com os dentes cerrados, percebendo o perigo iminente.

    Abaixou rapidamente a cabeça e avistou, na mão da criatura, um fragmento brilhante. Sem hesitar, firmou os pés no chão e impulsionou o corpo para frente. Correu com tudo, esticando o braço, e agarrou o fragmento.

    No instante seguinte, a criatura ergueu o olhar para ele — e, por um breve momento, os dois se encararam, como se o tempo tivesse parado.

    Ambos seguravam o fragmento, mas Takeshi foi mais rápido. Um brilho intenso percorreu seu corpo, tornando-o transparente, até que desapareceu diante dos olhos da criatura.

    — Até mais. Da próxima vez, nem vou querer conversa — disse com um leve sorriso, a voz sumindo no ar.

    Takeshi abriu os olhos de súbito, como quem desperta de um pesadelo. Arfou e se sentou de uma vez, o corpo suado e os batimentos acelerados.

    — O que… foi isso? — sussurrou, tentando entender onde estava agora.

    Ele levou a mão direita até a cabeça, sentindo uma dor intensa latejar.

    “Funcionou… então aquele método realmente era eficaz. Mas… perdi tudo o que havia lá dentro. Ainda assim… por que continuo me lembrando das informações do fragmento?”

    Enquanto refletia, as memórias contidas naquele fragmento voltaram com clareza desconcertante. No entanto, ele ainda não tinha certeza se havia perdido o fragmento por completo.

    “Aquela criatura… o que exatamente era? Parece que tudo só está piorando.”

    Ele soltou um longo suspiro e levantou lentamente, sentindo o peso das dúvidas se acumular sobre os ombros.

    “Quanto mais eu penso, menos entendo! Esse mundo só fica mais confuso.”

    Enquanto murmurava para si mesmo, Takeshi percebeu que sua visão estava se ajustando por completo. Agora ele conseguia enxergar o ambiente ao redor com nitidez.

    As algemas em seus pulsos apresentavam rachaduras sutis, como se algo já tivesse começado a rompê-las.

    “Melhor quebrar isso primeiro… depois eu vejo se os outros ainda estão vivos.”

    Ele começou a forçar as algemas com determinação, tentando rompê-las. Tentou uma, duas, três vezes… cinco ao todo — todas sem sucesso.

    — Tá bom, tá bom, já entendi… ainda sou fraco — resmungou, frustrado, com um olhar irritado, mas ainda determinado.

    Ele ergueu o olhar e percebeu que o ambiente já não estava tão escuro quanto antes. Ao observar melhor, notou que estava em um grande salão.

    “Acho que consegui entrar no castelo… mas como?” pensou, ainda confuso.

    Takeshi deu alguns passos à frente, sentindo algo macio sob os pés. Quando olhou para baixo, viu que estava pisando sobre um extenso tapete aveludado, decorado com padrões de estrelas prateadas.

    No tapete havia uma imagem de escadaria. A primeira escada chamava atenção: sobre ela, três estrelas estavam gravadas, mas a estrela do meio possuía um brilho sutil e um ponto amarelo em destaque.

    Takeshi se aproximou e observou por alguns segundos, mas ao notar que parecia apenas uma ornamentação, decidiu não perder tempo com aquilo.

    “Às vezes, penso que isso tudo nem é um castelo de verdade. As informações que tenho não se encaixam com o que qualquer castelo comum teria.”

    Enquanto esse pensamento passava por sua mente, ele observava o ambiente com atenção. As paredes ao redor eram pintadas em padrões de branco e preto, lembrando um enorme tabuleiro de xadrez. Grandes pilares vermelhos sustentavam o teto acima, criando um contraste visual que o deixava ainda mais desconfortável com o lugar.

    Subitamente, o som de passos pesados ecoou pelo chão, interrompendo seus pensamentos.

    Instintivamente, ele correu para se esconder atrás de um dos pilares próximos. Enquanto respirava fundo, tentando entender o que estava prestes a acontecer, percebeu uma luz se acendendo vinda de uma porta à sua esquerda — uma porta que ele jurava não ter notado até aquele momento.

    Daquela abertura, dois vultos começaram a surgir à distância, vindo pelo corredor do lado esquerdo. Ele se manteve em silêncio, observando atento, sem saber se deveria se preparar para fugir… ou enfrentar.

    — Quem será agora? Ainda acho que todo mundo quer minha morte, porque só vêm atrás de mim — murmurou Takeshi, num tom cansado, quase resignado.

    Ele estreitou os olhos e, com um movimento sutil da cabeça, tentou olhar de canto, curioso e atento ao que se aproximava.

    Os passos que ecoavam na distância estavam ficando mais próximos, e o ar ao redor parecia pesar com a presença de algo… ou alguém.

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