Índice de Capítulo

    Takeshi sentiu o ar pesado e abafado pressionando sua pele como se estivesse preso dentro de uma fornalha. O suor já descia lentamente pela lateral de seu rosto, cada gota trazendo a lembrança desconfortável de como aquele ambiente drenava suas forças sem precisar de combate algum. O cheiro no ar era metálico e o calor sufocava até a respiração.

    Foi quando uma voz soou, entediada e sem qualquer sinal de urgência.

    — Tá, tá, tá… que coisa chata. Enfim, só precisamos do corpo e cair fora — disse um jovem em tom despreocupado, quase preguiçoso.

    Takeshi forçou o pescoço, virando a cabeça com esforço para conseguir enxergar de onde vinha aquela voz. Seus olhos se fixaram na figura que se aproximava.

    O garoto diante da sua visão tinha uma aparência jovem e despreocupada, um contraste bizarro com a tensão do ambiente. Sua altura não passava de 1,67 metros. Os olhos, grandes e atentos, tinham uma tonalidade marrom clara, quase âmbar sob a iluminação instável daquele lugar. Os cílios eram discretos, mas destacavam ainda mais o olhar curioso e analítico.

    Vestia uma camisa branca folgada, claramente escolhida mais pelo conforto do que pela estética. Não moldava o corpo pequeno do jovem, mas permitia movimentos livres e leves. Um casaco preto estava amarrado de maneira displicente à sua cintura, as mangas balançando suavemente a cada passo.

    Sua calça chamava atenção: um tecido robusto, verde militar, com três bolsos bem visíveis — dois nas laterais e um traseiro. Parecia prática e funcional, algo típico de alguém acostumado a carregar objetos importantes sempre à mão. Nos pés, usava uma sandália cinza simples, o tipo de calçado que passaria despercebido não fosse o contraste com o restante do traje.

    A pele do jovem era de um tom alaranjado suave, algo incomum o bastante para deixar Takeshi mais atento. Apesar disso, o garoto não parecia nem um pouco ameaçador fisicamente: seus músculos eram discretos, quase inexistentes. Mas havia algo no olhar dele — uma mistura de desprezo e curiosidade — que dizia que o perigo não vinha da força física.

    O jovem caminhou até o centro, observando atentamente o ambiente ao redor antes de se virar abruptamente e dizer, com a voz elevada:

    — Onde está aquele cara?! — ele levou a mão à boca, percebendo que havia falado alto demais.

    — Ei, não grita! Se descobrirem que ele sumiu do nada, a gente pode se dar mal — disse alguém à esquerda dela, em tom mais contido, olhando de um lado para o outro com certa preocupação.

    Takeshi voltou o olhar em direção à pessoa que acabou de falar.

    A segunda pessoa tinha cerca de 1,70 metro de altura, com uma presença discreta, mas marcante. O que mais chamava atenção era o cabelo — uma mistura singular de marrom com preto, caindo em mechas longas sobre o rosto, escondendo completamente os olhos e dando-lhe um ar misterioso e introspectivo.

    No pulso esquerdo, uma pulseira simples, mas simbólica, exibia o pingente de um urso em pé — pequeno, metálico e silenciosamente ameaçador. Sobre o corpo, usava um casaco leve e desabotoado, que se movia com o vento, revelando por baixo uma camisa estampada com o desenho de uma rota traçada em linhas vermelhas. Bem no centro da estampa, um ponto em tom de rosa parecia marcar um destino importante — ou talvez um ponto de partida.

    A calça azul era leve, solta e confortável, com tecido que permitia movimento livre. Mesmo com a roupa folgada, os músculos bem definidos sobressaíam discretamente, assim como algumas veias salientes nos braços, denunciando uma força oculta por trás da aparência serena.

    — Ok… ah, desculpa, Lucius. Tudo isso está sendo um caos para mim. Desde que esse novo desafio começou, parece que as coisas só pioram… ainda temos que arrumar dinheiro e comprar comida — disse o jovem, tentando manter a calma enquanto encarava Lucius.

    Lucius sorriu de forma leve e fez um gesto tranquilizador com a mão.

    — Fica tranquilo, Sebastian. Vamos apenas focar em encontrar ele. Quanto ao dinheiro… deixa comigo. Vou dar um jeito — disse com confiança. — Usarei minha força para conseguirmos o que for necessário

    Sebastian esfregou as mãos nos cabelos com rapidez, como se tentasse reorganizar seus pensamentos em meio ao caos. Após alguns segundos, ele congelou, e seus olhos se arregalaram com um brilho súbito de esperança.

    — Espera… — murmurou, olhando ao redor com atenção renovada. — Ah, agora tudo faz sentido. Esse cara está aqui, nesse lugar… então isso só pode significar que ele está esperando a gente virar as costas para poder agir.

    Disse inicialmente como um pensamento interno, mas, sem perceber, acabou falando em voz alta.

    Logo atrás deles, Takeshi deslizava silenciosamente entre os pilares, com os passos leves e precisos, já se aproximando da saída do grande salão. Seu olhar atento vasculhava o caminho adiante, enquanto seu corpo permanecia em constante movimento, como se dançasse entre as sombras.

    Mais atrás, Sebastian fechou os olhos por um breve instante. Seu semblante ficou sério, e ele começou a forçar os ouvidos, concentrando-se. Aos poucos, captou o som sutil de metais tilintando — o leve eco de algo se movendo, algo que não deveria estar ali.

    Lucius, que observava o companheiro sem compreender, franziu o cenho e cruzou os braços.

    — Rapaz… acho que você tá viajando — comentou em tom leve, apenas para provocar e ver a reação de Sebastian.

    Mas, antes que a provocação surtisse qualquer efeito, Sebastian se moveu. Num giro ágil, com a precisão de quem já treinou incontáveis vezes, correu até um dos pilares mais próximos. Seu olhar vasculhou rapidamente a lateral da coluna… e então parou.

    — Achei! Espera… — murmurou, apenas para se deparar com o vazio. Seus olhos se arregalaram.

    Não havia ninguém ali.

    Takeshi já havia deixado aquele pilar minutos antes, avançando de forma furtiva e silenciosa. Agora, estava dois pilares à frente, fora do alcance imediato de qualquer perseguição.

    Enquanto se esgueirava com cautela, o jovem soltou um suspiro silencioso, tentando não deixar transparecer a tensão em seus olhos.

    “Ainda bem que fui embora a tempo… Aquele cara é mesmo ágil e inteligente. E o pior de tudo… conseguiu prever o que eu faria. Tô ferrado demais se ele me pegar.”

    Enquanto os olhos de Sebastian se moviam rapidamente, percorrendo o ambiente em busca de algo, Lucius aproximou-se com passos lentos e relaxados, como se nada estivesse acontecendo.

    — Que foi, mano? Percebeu alguma coisa? Você me deu um susto aqui — perguntou Lucius, exibindo um sorriso despreocupado, enquanto ajeitava o casaco.

    — Sim, eu escutei as algemas se mexendo — respondeu Sebastian, ainda atento, vasculhando os arredores com os olhos semicerrados.

    — Tú é brabo. Nem consegui ouvir nada direito com toda essa confusão — comentou Lucius, rindo de leve enquanto coçava a nuca, claramente impressionado.

    Takeshi, que se dirigia a outro pilar, parou por um instante, interessado na conversa.

    Sebastian então soltou um suspiro pesado, tentando se acalmar. Ele cruzou os braços, buscando foco.

    — É… o problema é que precisamos encontrar ele. Você se lembra do que ele disse, né? — disse Sebastian, num tom mais firme, como se quisesse puxar Lucius de volta ao assunto.

    — Claro que sim… esse desafio está difícil mesmo — murmurou Lucius, que agora encarava o chão, pensativo, batendo de leve o pé.

    — Realmente… aquele desgraçado ainda estava ajudando um guardião. Várias pessoas iam morrer, inclusive a gente. Ainda bem que encontraram os dois e conseguiram eliminar o guardião… — Sebastian apertou os punhos, demonstrando irritação contida.

    Lucius apenas assentiu, desviando o olhar. O clima entre os dois havia mudado, ficando mais sério.

    “Mas que diabos… Então o Ethan realmente morreu…” Takeshi levou a mão à cabeça, pressionando as têmporas enquanto tentava processar a situação.“Merda… E agora, como me encontraram? Não consigo me lembrar de nada… E o desafio terminou? Por que aquele maldito sistema não me avisou? Desgraçado.” Seu semblante se fechou, visivelmente frustrado.

    — Mas eu ainda vou encontrar aquele miserável… Sei que ele está por aqui — disse Sebastian, avançando um passo à frente, sua voz carregada de tensão. — Você vai morrer se não aparecer… e se não se render!

    O tom ameaçador e a raiva contida revelavam que a paciência de Sebastian estava por um fio. Seu olhar fulminava Takeshi, como se quisesse forçá-lo a reagir ali mesmo.

    — Calma Sebastian… Vai acabar assustando o garoto desse jeito — disse Lucius, quase rindo. — Ei, cara! Apareça logo! A gente pode fazer um trato, ninguém precisa morrer aqui.

    Takeshi, no entanto, apenas se encostou em um dos pilares. Seus olhos estavam afiados como lâminas — não era do tipo que confiava tão facilmente em palavras vazias.

    O ambiente mergulhou em um silêncio tenso. Segundos se passaram, pesados como minutos. Sebastian, vendo que suas palavras não surtiram efeito, suspirou fundo.

    — Ele realmente quer morrer — murmurou, agora com um tom sério.

    Sem hesitar, começou a caminhar para frente, acompanhado de Lucius.

    — Parece que não temos escolha, então — Lucius, ainda com aquele tom brincalhão, mesmo sabendo que o cheiro da morte já rondava o campo.

    Sebastian levou calmamente a mão direita ao bolso e retirou uma pequena esfera enfeitada com estrelas vermelhas cintilantes.

    Sem pressa, começou a lançá-la levemente para o alto e pegá-la no ar com facilidade. Repetiu o gesto diversas vezes, cerca de dez, enquanto caminhava, como se aquilo fosse um hábito tranquilo — ou talvez uma forma de se concentrar.

    — Vamos, cara. Aparece logo. Vamos resolver isso de uma vez… ou está com medo? — provocou Lucius, com um sorriso de desprezo no rosto.

    Takeshi apenas respirou fundo, mantendo os olhos fixos nos dois à sua frente.

    “Acho que eles esquecem que são dois… e eu sou só um!” pensou, franzindo levemente a testa, sem deixar transparecer insegurança.

    Eles caminharam até a porta, fechando-a com firmeza. Em seguida, posicionaram-se à frente dela, como guardiões determinados a não permitir fuga alguma.

    — Agora ele não vai escapar tão facilmente — murmurou Sebastian, com um leve sorriso confiante.

    “Droga… Agora acabou. Não há mais escapatória… só me resta uma única opção.”

    Takeshi deu um passo à frente. Seu corpo tremia levemente, não pelo frio, mas pela tensão crescente. Agora estava completamente à vista deles. Mesmo hesitando internamente, lutando contra seus próprios pensamentos, decidiu seguir adiante.

    Lucius arregalou os olhos, surpreso.

    — É ele… — disse, em choque.

    Takeshi respirou fundo e encarou todos com firmeza.

    — Vocês estão atrás de mim, certo? Então escutem bem. Tenho informações valiosas… algo que pode realmente ajudar vocês. Mas se decidirem me matar agora… vão se arrepender profundamente..

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