Índice de Capítulo

    Sebastian jogou a pequena bolinha para o alto e a pegou de volta com um estalar preciso dos dedos. Seu olhar estava afiado, penetrante.

    — Escuta aqui… você realmente acha que eu vou cair nessa? Está bem na cara que está mentindo — disse, com os olhos estreitos como lâminas.

    Takeshi sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Uma súbita ansiedade tomou conta de seu peito; seu coração acelerou, e por um momento, as palavras lhe faltaram.

    — Por sua causa, a tarefa demorou tempo demais… sem contar os muitos que morreram — Sebastian deu um passo à frente, sua presença se tornando cada vez mais opressiva.

    — Calma, Sebastian… — disse Lucius, levantando as mãos num gesto pacificador, tentando impedir que algo pior acontecesse com Takeshi.

    Mas Sebastian não se deixou dissuadir. Virou-se para Lucius com um olhar sombrio e intenso.

    — Esse desgraçado quase fez a gente morrer… — sua voz perdeu força por um instante, revelando uma fragilidade rara. — Você tem noção de que ela morreu por causa dele?

    A lembrança o atingiu como uma lâmina. Ele respirou fundo, tentando se recompor, mas sua dor transbordava em cada palavra.

    — E mesmo assim… você quer dar uma chance a ele?

    Houve uma breve pausa. Sua garganta travou, como se as palavras seguintes lutassem contra um bloqueio profundo.

    — Isso aqui… isso aqui não é um mundo de fantasia ou alegrias… — sua voz vacilou, mas a dor o obrigou a continuar. — Ela… ela morreu por causa daquelas criaturas… e nós… nós precisamos fazer com que a morte dela tenha algum valor.

    Lucius estava com o olhar apagado, completamente perdido enquanto fitava o chão. Sua mão trêmula quase tocou a camisa de Sebastian, mas ele recuou, dando um passo para trás. Em seguida, manteve os olhos fixos no vazio à frente, como se não conseguisse reagir.

    — Eu sei que você não gosta de ver esse tipo de coisa… então apenas feche os olhos — disse Sebastian, com um tom nervoso, embora tentasse se manter focado na missão.

    Com hesitação, Lucius fechou os olhos. Suas pernas tremiam levemente, denunciando o abalo que sentia.

    Takeshi observou aquela cena com um aperto no peito. Sentiu uma pontada de culpa ao ver o estado de Lucius, mas não permitiu que isso o distraísse por muito tempo. Seu olhar logo voltou a se fixar em Sebastian.

    — Vamos.

    Sem esperar resposta, ele disparou em direção a Takeshi, decidido.

    Takeshi correu para a direita, o coração acelerado, os passos ecoando pelo solo irregular. Precisava escapar. Precisava pensar. Mas, ao lançar um rápido olhar para o lado — paralisou.

    Havia algo ali.

    Uma silhueta branca.

    Estática. Ligeiramente curvada para frente, como se observasse… como se estivesse à espera. A figura estava a apenas alguns metros, e mesmo envolta na penumbra, irradiava algo antinatural. Aquilo não parecia humano. Nem completamente real.

    “O que… é isso?”

    Takeshi sequer teve tempo de completar o raciocínio.

    BAK!

    Um impacto seco e profundo retumbou por todo o ambiente.

    Um punho atingiu suas costas com brutalidade. A força foi tão absurda que seus músculos cederam por um instante, e os ossos pareceram prestes a trincar. A dor irradiou em ondas, dominando tudo.

    Ele foi arremessado como uma boneca de pano, voando vários metros antes de colidir violentamente contra um pilar de pedra.

    CRAK.

    O som do impacto foi alto, ecoando pelas paredes como um trovão contido. Uma fissura discreta apareceu no pilar, enquanto Takeshi escorregava para o chão, deixando uma fina linha de sangue no caminho.

    Seu corpo tremia. A visão embaçada. O mundo parecia girar devagar, como se a realidade tivesse sido distorcida por aquele único golpe.

    Aquilo…
    Aquilo foi diferente de qualquer coisa que já havia sentido. Nenhum soco, nem mesmo nos momentos mais desesperadores de sua jornada, se comparava àquilo.

    Takeshi respirava de forma ofegante, o peito subindo e descendo com dificuldade enquanto uma ardência tomava conta de seu corpo.

    — Já está nesse estado? — Sebastian comentou com um sorriso torto, aproximando-se lentamente. — Achei que aguentaria mais.

    Takeshi tentou, com esforço, erguer a cabeça para encará-lo, mas não tinha mais forças. Seus músculos tremiam, e sua visão começava a oscilar.

    —… Po-de… pode… acabar comigo — murmurou, a voz rouca, como se rasgasse a garganta apenas para pronunciar aquelas palavras.

    Sebastian arregalou os olhos, surpreso com a resposta, mas não demonstrou empatia. Sem hesitar, agarrou os cabelos de Takeshi e o forçou a manter o rosto erguido.

    Takeshi sentiu a dor aguda percorrer o couro cabeludo, mas permaneceu imóvel. Não gritou. Não reagiu.

    — Me diga… — disse Sebastian, olhando-o nos olhos. — Por que fez aquilo? O que você ganha com isso? Matando os outros…
    Takeshi ficou sem reação.

    Foi como se o tempo ao redor tivesse congelado. O som desapareceu, as cores perderam a força, e sua mente mergulhou em um completo apagão.

    A pergunta ecoava como um trovão dentro dele, reverberando por cada canto de sua consciência.

    — Vamos, me diz! — a voz que o confrontava era carregada de uma raiva profunda, quase palpável, uma essência que queimava como fogo antigo.

    Takeshi sentia o peso do mundo esmagando seus ombros. Palavras? Nenhuma se formava. Pensamentos? Todos embaralhados. Ele não conseguia respirar direito. Apenas aquelas perguntas se repetiam, cortando como lâminas invisíveis:

    “Por que eu matei eles…?”

    “Eu realmente fiz isso…?”

    “O que eu fiz de tão horrível…?”

    Cada pergunta vinha como uma facada direta em seu peito, abrindo feridas que ele tentou esquecer. O coração pulsava mais forte — não por vida, mas por culpa. Um tremor correu por seus dedos. O passado começava a retornar, como ecos de um pesadelo mal resolvido.

    Um calafrio percorreu a espinha de Takeshi.

    O ar ao redor parecia pesar sobre seus ombros, e o silêncio era esmagador. Um nó se formou em sua garganta, seu coração batia de forma irregular, como se quisesse fugir dali antes mesmo de seu corpo reagir.

    Ele sentia medo. Medo real. Medo bruto. Desespero puro. E, no meio daquela pressão invisível, suas palavras escaparam num sussurro rouco, quase irreconhecível:

    — Sobrevivência… é isso…

    Sebastian o encarou. Por um instante, seus olhos revelaram um choque silencioso — como se algo profundo tivesse acabado de se encaixar dentro dele.

    Sebastian o encarou. Por um instante, seus olhos revelaram um choque silencioso — como se algo profundo tivesse acabado de se encaixar dentro dele.

    Mas antes que qualquer palavra fosse dita, Takeshi, mesmo com a voz fraca e a garganta arranhando como se cada sílaba fosse uma lâmina, se pronunciou.

    — Você também… é igual a mim, não é? — sua respiração estava pesada, mas seus olhos ainda carregavam firmeza. — Aquilo que estamos procurando… É só nossa sobrevivência. Nossa liberdade…

    Sebastian retirou lentamente a mão dos cabelos de Takeshi. Seus olhos tremiam, visivelmente abalados. Em silêncio, recuou alguns passos, como se estivesse tentando processar algo dentro de si.

    Takeshi mantinha a cabeça erguida, mesmo enquanto seu braço esquerdo era pressionado contra o chão, e sua perna estava sendo esmagada pelo peso brutal de Sebastian.

    — Isso não muda o fato de você ter matado tantas pessoas! Você é um desgraçado! — gritou Sebastian, a voz carregada de ódio.

    Takeshi sentiu o peso aumentar e, junto a ele, uma queimadura intensa percorrendo sua mão.

    “Conversar não adianta mais… droga! Isso vai doer demais agora!”

    O suor escorria pelo seu rosto, pingando no chão frio. Seus braços tremiam, hesitantes, como se implorassem para que ele encontrasse outra saída. Mas não havia outra.

    Ele engoliu em seco, reunindo cada pedaço de coragem que restava. A respiração ficou pesada, o coração batendo como um tambor.

    “Não tenho escolha…”

    Então, com os dentes cerrados e o olhar afiado, ele murmurou:

    “Visão da Noite!”

    Sebastian sentiu o corpo pesar de repente, como se uma força invisível o puxasse para o chão. Um arrepio gélido percorreu-lhe a espinha, fazendo cada fio de cabelo se arrepiar. Sua visão se turvou em uma névoa densa, e no centro dela apenas uma figura permanecia nítida: Takeshi.

    O corpo de Takeshi estava envolto por uma névoa escura que ondulava como fumaça viva. Seus olhos, agora tingidos de um vermelho intenso, brilhavam com um fulgor ameaçador. No olho esquerdo, linhas se formavam como uma rota infinita, girando em movimento contínuo, hipnótico e aterrador.

    Seu olho direito não mostrava mais nada além daquele vermelho intenso, marcado por linhas que pareciam pulsar com vida própria.

    De repente, uma onda visível, distorcida por tons impuros de vermelho e amarelo, se propagou à sua frente, atravessando o ar como um relâmpago e quase atingindo um dos pilares distantes.

    “Que diabos foi isso?!” disse Sebastian.

    Takeshi começou a tossir intensamente, o corpo estremecendo com a força do impacto interno. Sua visão do lado esquerdo oscilava entre a escuridão e a claridade, mergulhando-o em um turbilhão de instabilidade.

    Takeshi se levantou com dificuldade, sentindo as pernas latejarem de dor. O braço ainda formigava após a pressão intensa que sofrera.

    — Ah… que dor… — murmurou, a voz fraca, quase um sussurro.

    Virou-se para os lados, procurando a estranha silhueta que vira antes, mas não encontrou nada. Então voltou o olhar para Sebastian. Foi nesse momento que percebeu algo perturbador: cinco olhos enormes, rubros, girando em uma espiral dentro daquele vermelho profundo.

    Sua visão começou a turvar. Uma vertigem súbita subiu pela cabeça, deixando-o à beira do colapso.

    Depois, tudo se apagou em sua mente. O som desapareceu, mergulhando-o em um silêncio absoluto. Seu olho esquerdo ficou completamente cego — algo que ele já esperava, consequência da penalidade da habilidade.

    O corpo de Sebastian começou a tremer, cada músculo estremecendo de forma incontrolável. Isso durou cerca de doze segundos, até que uma estranha sensação percorreu seu corpo. Seus olhos se abriram lentamente, e, ao olhar para frente, ele viu Takeshi.

    — …Isso… — Sebastian ficou em choque, as palavras mal saindo de sua boca.

    Takeshi avançou um passo e ergueu as mãos, posicionando-se para a luta. Um suspiro pesado escapou de seus lábios, junto com uma pontada aguda no pulmão.

    Lucius, que até então se mantinha imóvel, não resistiu mais. Abriu os olhos devagar, apenas para se deparar com aquela cena carregada de tensão. Um arrepio percorreu sua espinha, e as pernas começaram a tremer descontroladamente.

    — Gente… vamos parar de brigar. Isso já está passando… — a voz dele soou fraca, quase um pedido desesperado.

    Antes que pudesse concluir a frase, Sebastian o cortou, gritando com uma raiva contida:

    — Eu disse para não abrir os olhos! — ele fechou os punhos com força, o olhar cravado em Takeshi. — E não vou aceitar que ele saia daqui vivo.

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